Monday, July 7, 2014

Xilindró


Desculpe-me por interrompê-los em plena Copa do Mundo para tratar de banalidades, mas não poderia deixar de falar de uma das personalidades mais citadas neste blog.

O ex-presidente francês, que está no xilindró, foi assunto deste blog por muito tempo. A minha expatriação na França coincidiu com a sua gestão. Enquanto vocês viviam os anos Lula, escrevia inúmeros posts sobre Sarkozy. O meu preferido é a segunda parte de "The Ugly, The Bad and The Worse". Recomendo a sua leitura para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade.

Como administrador, ele não foi tão ruim. Pelo contrário, tinha um programa bem adequado para modernizar o país. Pagou caro por ser arrogante e esnobe. Desafiando o bom senso, não fazia nenhum esforço para mostrar que gostava do seu povo. Tal comportamento passa em períodos de prosperidade, mas veio a crise de 2008 e a sua popularidade mergulhou fundo.

Como todo político que acaba punido, diz que é vítima de perseguição. Jura inocência e promete apelar para todas as instâncias possíveis. Se ele é perseguido ou não, tanto faz. Uma vez que as evidências de corrupção tenham sido encontradas, a sociedade deve mesmo puni-lo.

Enfim, Sarkozy foi competente como administrador, derrapou na ética e perdeu muita popularidade. Portanto, a diferença dele para a Dilma é basicamente a competência ;-)


Leia também: "The Ugly, The Bad and The Worse"


Foto: Ainda no País Basco, mudando de San Sebastian para Bilbao.

Sunday, July 6, 2014

Ainda sobre a Copa

A Copa é um espetáculo grandioso com partidas disputadíssimas e repletas de emoções. Entretanto, se havia um futebol alegre, gols em abundância e algumas surpresas, tudo isso ficou na primeira etapa.

Entre as oitavas e quartas, valeu a velha máxima “jogaram como nunca, perderam como sempre”. É mais ou menos o que disse no último post. Alemanha, Argentina, Brasil e Holanda eram barbadas. Se quiser apostar na Copa da Rússia, não tenha dúvidas, mantenha os três primeiros e troque a Holanda por outro país europeu.

O “mata-mata” trouxe um futebol burocrático e defensivo. O suspense é garantido, pois as partidas vão para prorrogação, quando não são decididas nos penalties. Podemos dizer que é outro futebol!

Estava preparado para fazer um post contra o “mata-mata”, mas fui traído pelos resultados desta Copa. Nenhuma zebra entre as quartas e oitavas. Os primeiros lugares de cada grupo foram os oito finalistas. Valeu o mérito. A FIFA venceu!

No entanto, se por alguma casualidade, a Holanda tivesse caído diante do México (como quase aconteceu) ou o Brasil diante do Chile (como quase aconteceu), ninguém poderia reclamar. Afinal, nesta Copa, ninguém está batendo um bolão.

A festejada Costa Rica saiu da Copa invicta. Melhor defesa, linha de impedimento impecável, só sofreu dois gols. Por outro lado, com exceção da vitória sobre o Uruguai, é um time que quase não fez gols. Enfim, se todos os times fossem a Costa Rica, o futebol estaria perdido.

Na fórmula da FIFA, o futebol é globalizado e pasteurizado. Dizer que nivelou por baixo talvez seja um exagero. Contudo, depois que o Brasil abriu mão do “futebol-arte”, qualquer equipe é dispensável. Usando a linguagem dos comentaristas, a Copa é “rifada” entre um grupo seleto de países e a FIFA é quem sempre ganha.

Torço para que a final da Copa seja Brasil X Argentina, como previram cerca de 180 milhões de comentaristas esportivos do Brasil. O futebol europeu já manda demais. Acho sempre bom lembrar que os talentos nascem deste lado do Atlântico.



Foto: Mais um pôr do sol em San Sebastian, País Basco.

Thursday, June 26, 2014

Profecias

Depois do último post, assisti a alguns jogos e acompanhei todos os resultados. Estou bem informado e tão bom de previsões como o Felipão, mas ainda muito longe da dona Maria, a faxineira.

Os próximos adversários do Brasil serão o Chile e o vencedor de Colômbia X Uruguai. O Felipão, cheio de assessores e respirando futebol o dia inteiro, havia previsto Holanda e Itália.  Errou feio. Assim como muita gente.

O emparelhamento do Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai acaba com a “Copa América”. Dos quatro, sobrará apenas um semifinalista. Muito provavelmente, entre todos os semifinalistas teremos uma distribuição mais tradicional de europeus e latino-americanos.

Voltando ao Felipão, o sábio. Ele previu a final da Copa entre Brasil e Argentina, assim como toda a torcida do Flamengo e a dona Maria. A diferença é que a dona Maria nem olhou para a tabela da Copa para fazer sua profecia.

Copa do Mundo é assim mesmo, a gente sabe (mais ou menos) o final, mas não tem a menor ideia de como se vai chegar lá. E que vengam los Hermanos!



Foto: As esculturas de Eduardo Chillida ornam a orla de San Sebastian, mais especificamente ao final da praia de Ondarreta.

Friday, June 20, 2014

Eu e a Copa

Até agora, só pude ver o jogo de abertura da Copa. Depois disso, mais nada! Mesmo assim, eu e meus colegas continuamos acompanhando. Uma janelinha aberta com o placar do jogo, uma ligadinha na televisão no intervalo das reuniões, uma olhadela na TV de um bar indo para o jantar e assim por diante. Sempre tem um jeitinho de saber o que está acontecendo.

A essa altura do campeonato, os comentários sobre o Brasil e a organização do evento são raros. Meus colegas europeus surpreendem-se com o desempenho das equipes latino-americanas. Os franceses saíram da apatia habitual e começam a ver a competição com outros olhos depois da surra aplicada na Suíça nesta tarde. Os belgas estavam muito otimistas, mas depois da vitória suada sobre a Argélia, estão mais comedidos.  E, finalmente, todos nós festejamos a eliminação precoce da Espanha e da Inglaterra.

Enfim, vista de fora, a nossa Copa parece como todas as outras. Tudo padrão FIFA. A única anormalidade transmitida para o mundo foi aquela bagunça do jogo Espanha X Chile.  Nem sem direito o que aconteceu, tudo indica que foi exceção e não regra.

A Copa é o que passa na TV. Se a imprensa não falar de quantos estrangeiros foram assaltados ou perderam-se por aí, ninguém vai saber.  Nessas horas, um pouco de distância é ótimo. Afinal, vai saber o que pode ter acontecido na África do Sul!

Se o meu último post foi escrito no lounge da Air France, este está sendo redigido no da United. Estou voltando para ver dois jogos ao vivo, um em São Paulo e um no Rio. Agora sim, chegou a hora de ver a Copa de perto. Até breve!



Foto: Pôr do sol em San Sebastian, País Basco.

Wednesday, June 11, 2014

É amanhã!


Voltei! 

A minha série de viagens ainda vai até julho. Sem tréguas. Passo por Guarulhos todo fim de semana. Ou estou indo ou voltando. Até mesmo voltando e indo num mesmo fim de  semana!

Nessa longa ausência, pensei em escrever muita coisa do que vi na Europa e no Brasil. 

Quase escrevi um post sobre as eleições europeias. Vocês viram que a forte abstenção do eleitorado permitiu a eleição de mais representantes da extrema direita. O pior de tudo é que a imprensa dá muita atenção a eles. Eles falam barbaridades. Na lógica populista, estão no lucro. Lamento pelo espaço que recebem: “Falem mal, mas falem de mim”.

Quase escrevi um post sobre o atentado terrorista ocorrido em Bruxelas. O suspeito já foi detido. Como se não bastasse o baile que deu no serviço secreto francês, só agora o governo admitiu que suas prisões sejam academias de terrorismo islâmico. Eu e toda a torcida do PSG, do Lyon e do Marseille já sabíamos. Tem até filmes com essa temática. 

Quase escrevi sobre a Alstom. Nada a ver com as investigações em curso no Brasil. A empresa esteve no centro das atenções. Primeiro, foi a mega encomenda de trens do governo francês dividida entre Alstom e Bombardier. Trens novíssimos. Tão novos que nem passam pelas estações existentes! 

Depois, diante de uma tentativa de aquisição da Alstom pela americana GE, a classe política e empresarial gaulesa uniu-se para mantê-la sob controle nacional. Cá entre nós, a GE deveria agradecê-los!

Finalmente, a Copa, um assunto onipresente. Aqui na Europa, o envolvimento da população não chega ao mesmo patamar do Brasil, mas estão todos ligados. Já me convidaram até para participar de alguns bolões.

Ontem à noite, rodando pelos canais das TVs europeias, passei por três documentários sobre o Brasil e a sua Copa. Cheios de clichês sobre favelas, mas ainda assim muito interessantes. Apesar de mostrar algumas das mazelas brasileiras, a visão é mais otimista do que a nossa. 

Comentei sobre o ressentimento dos brasileiros contra a FIFA num post anterior. A imprensa mundial pegou o gancho dos protestos brasileiros para também atacar a entidade, com um histórico pouco invejável de denúncias de corrupção. A batalha da crítica internacional é outra, por transparência e governança. O que importa é que estão todos contra a FIFA e esta Copa deve balançar as coisas na Suíça.

Às vésperas do Mundial, lembro dos inúmeros artigos que apareceram na imprensa e blogosfera sobre o entusiasmo de parte da população com a Copa. Confesso que, em outras Copas, comecei com indiferença, mas acabei contagiado. Não tem como!

Cada um que torça ou não torça do seu jeito. Não faço a menor ideia do que vai acontecer nos próximos dias do ponto de vista esportivo, organizacional, institucional ou social. Que seja o melhor para o Brasil. Alea jacta est!



Foto: Entre as ruelas do centro velho de San Sebastian, o esplendor barroco.

Sunday, May 18, 2014

#bringbackourgirls

O sequestro das estudantes nigerianas causou grande comoção mundial. O grupo terrorista Boko Haram finalmente conseguiu a sua glória. Glória?! Como assim?

Para os bons observadores, os terroristas islâmicos do norte da Nigéria aparecem regularmente nos jornais: sequestros, assassinatos, igrejas incendiadas, etc. Tudo em doses homeopáticas, assim ninguém liga.

Nem o próprio governo da Nigéria liga. Diga-se de passagem, um governo muito mais corrupto e incompetente do que o nosso. Sim, isso é possível!

Provavelmente, se os terroristas tivessem sequestrado uma garota por dia durante um ano, não estaríamos falando sobre eles. Na nossa lógica ocidental, o Boko Haram cometeu um erro. Conseguiu nos unir contra eles. Serão caçados e exterminados mais uma vez. Mais uma vez, por que, segundo o governo da Nigéria, eles já haviam sido eliminados!

Atacar um grupo assim é muito complicado. Como outros fanáticos, veneram o martírio, fazendo da sua morte a maior das vitórias. Como disse um jornalista nigeriano, podemos matar seus homens, mas não suas ideias.

Os 15 minutos de fama do Boko Haram proporcionam muita exposição às suas ideias absurdas.  O que é absurdo para nós, cola muito bem em outras regiões miseráveis do planeta. Enfim, para nosso desespero, esse tipo de grupo terrorista parece sempre ganhar.

A miséria absoluta somada ao descaso do governo e à trágica história de rivalidades tribais da Nigéria forma uma mistura explosiva. A interpretação tortuosa do Corão é só a centelha. 


Foto: Enfim praia, em San Sebastian.

Sunday, May 11, 2014

¡Aupa Atleti!

Meu sobrinho pediu a camisa do Ibrahimovic, o craque do PSG. Então, durante a próxima viagem à França, passarei na loja do clube para presenteá-lo. Devo reconhecer que esse time árabe radicado em Paris tem subido de produção. Suas camisas conquistam espaço entre aquelas do Barcelona, Real Madrid, Bayern e Manchester.

Por incrível que pareça, os uniformes estrangeiros estão cada vez mais populares aqui no Brasil. Até a Globo rendeu-se à Champions League, transmitindo suas partidas decisivas ao vivo.

Depois do "equilibradíssimo" Campeonato Brasileiro de 2013 e do Paulistinha de 2014, vencido pelo Ituano, entre outros sinais da decadência dos grandes clubes nacionais, só nos resta apreciar os campeonatos europeus.

O Brasil é o maior celeiro de craques do mundo e pode ganhar a Copa que quiser, mas o futebol daqui vai muito mal. Vivemos em função de exportar jovens potenciais para a Europa. Tudo o que importa acontece por lá. Nossos campeonatos locais são marginais. De várzea mesmo!

Poderíamos ter evitado esse quadro colonial? Talvez, se os clubes fossem bem geridos. Não apenas um ou dois clubes, mas a maior parte deles. Entretanto, seus dirigentes preferem locupletar-se em tenebrosas transações deixando-os no caos.

A classe futebolística nacional foi brindada pela sociedade com os novos estádios. Quem sabe possa retribuir tamanha generosidade com gestões mais profissionais, competentes e éticas. Seria um primeiro passo.

O exemplo de esperança vem do próprio futebol europeu. Entre tantos times "imbatíveis" e milionários, o destaque da temporada foi o modesto Atlético de Madrid, a um passo do título da Champions e do Campeonato Espanhol. É uma mostra de que o dinheiro sozinho nem sempre resolve.

Este outro time de Madrid, assim como quase todos os times espanhóis, tem mais obstáculos fora do campo do que dentro dele. Lá na Espanha, tudo favorece o Barcelona e o Real Madrid, que abocanham sozinhos a maior parte da receita da TV e ainda dispõem de status diferenciado, que permite grande endividamento para comprar os melhores jogadores do mundo. E com os melhores jogadores, tudo fica mais fácil.

Enfim, antes de querer ser um Barcelona, os clubes brasileiros precisam inspirar-se no Atlético de Madrid.

¡Aupa Atleti !

Leia também:
Post sobre o caso Neymar (2014)
Post sobre a Champions League (2012)
Post sobre o campeonato brasileiro (2013)


Foto: A sede do governo municipal de San Sebastian, no País Basco (Espanha).