Afinal, o que existe de tão especial neste país oriundo da desintegração
da Iugoslávia? Seriam todos de extrema-direita? Seria fruto de um projeto
secreto do Trump? Talvez do Putin?
Não, nada disso, Veles é apenas uma cidade decadente. Alguns
dos seus jovens desesperançosos descobriram que poderiam ganhar uns trocados
com sites na Internet. Bastava um assunto de interesse geral e as máquinas de
‘ads’ do Google e Facebook faziam o resto. No meio da pobreza da Macedônia
moderna, qualquer trocado seria bem vindo.
Depois de poucos casos de sucesso, perceberam a maior das
oportunidades naquele não tão distante ano de 2016. Sendo os apoiadores do
Trump muito ativos nas redes sociais, os macedônios criaram uma arapuca - um
vasto conjunto de sites simpáticos às causas da extrema-direita para atraí-los
e, dessa forma, serem remunerados pelo Google e Facebook em função dos cliques obtidos.
Por incrível que pareça, esses jovens tinham um inglês sofrível
e mal conheciam o Trump. Muitos deles arrependeram-se publicamente pelo apoio
involuntário ao candidato republicano. Mas deixaram bem claro: “foi por
dinheiro”.
No último post, comentei
sobre o assunto e acredito que seja importante reforçá-lo. Faço isso como
utilidade pública. Quanto mais gente entender desse mundo orientado pelos cliques,
ficaremos mais seguros e menos vulneráveis.
Enquanto você pensa se uma notícia que acabou de ler é
verdadeira ou falsa, seu autor já faturou. O jogo das fake news, da manipulação
e da apelação é sobretudo uma máquina de fazer dinheiro. Nesse jogo vale tudo para
atrair os cliques.
Evidentemente, não podemos desprezar o aspecto manipulatório,
que existe e é uma ameaça real à democracia, conforme
mencionei no post anterior. Na mesma campanha do Trump, houve conteúdo nesse
sentido, como mostrou o escândalo Cambridge Analytica.
Todos precisam ter consciência que por trás de histórias
sensacionalistas, teorias conspiratórias, manipulações de notícias e as
próprias fake news tem sempre alguém ganhando dinheiro. Pessoas vivem de
cliques. Empresas vivem de cliques. O mundo gira em torno dos cliques. Não
basta se abster de espalhar fake news, é preciso vender nossos cliques cada vez
mais caro.
Foto: Se eu tivesse alguma foto tirada na Macedônia do Norte, seria o momento. Cheguei perto: Grécia, Croácia e Eslovênia, que ficarão para outros posts. Então, continuemos com as viagens de 2016. Ainda em Budapeste, o fantástico mercado central, com direito às vistas externa e interna (abaixo).
1 comment:
Não conhecia essa "habilidade" dos macedônios.
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