Showing posts with label Millau. Show all posts
Showing posts with label Millau. Show all posts

Saturday, October 3, 2009

Penúltimas de Lyon 2

Sem qualquer base estatística, afirmaria que São Paulo tem mais arranha-céus do que a França inteira. Em Lyon, prédios com mais de 20 andares, contamos na palma da mão. Quando levantaram a última grande torre (Oxygène), cada nova laje era uma festa. Depois de algum tempo na França, aprendi a associar o excesso de arranha-céus mais à desordem do que ao progresso (perdão pela frase antipatriótica, foi acidental).

O que acontece em São Paulo é uma loucura. Ao longo da Marginal Pinheiros, são dezenas de lançamentos sem qualquer condição de escoamento do fluxo de carros gerado pelos mesmos. Quando eu saí, há quase três anos, o pessoal que trabalhava na Torre Norte reclamava que o congestionamento começava dentro da garagem. Imaginem quando todos os empreendimentos estiverem prontos!

O contraste com Lyon é notório. A próxima torre (Incity) será o prédio mais alto da cidade. Vai substituir um prédio, que será demolido devido à presença de amianto. Em número de torres, sai uma e entra outra. O que espanta é a discussão se o prédio deve ou não ter estacionamento. Pelo menos, aqui, a discussão faz sentido. O lugar é bem servido de transporte público. O empreendimento tem um apelo de sustentabilidade, então nada como nem oferecer a possibilidade de se usar o carro para ir ao trabalho. A prática da eliminação total ou parcial de estacionamentos em edifícios comerciais é comum na França.

Igualmente interessantes são as histórias contadas pelos colegas, quando reformam suas residências. Outra vez, o poder público mostra presença. As plantas são minuciosamente verificadas pela prefeitura. Não apenas os elementos de engenharia, mas todo o contexto arquitetônico e artístico. E quem mora perto de uma propriedade tombada, provavelmente não vai nem poder escolher a cor dos ladrilhos da piscina. Anedotas à parte, o importante é que o poder público se mostre presente e evite o caos urbano tão familiar de paulistas e cariocas.


Foto: Ainda em Millau. A foto é muito parecida com uma das anteriores, mas eu quero fechar este capítulo, pois tenho muita coisa para mostrar.

Thursday, October 1, 2009

Penúltimas de Lyon 1

Depois da excelente temporada de primavera/verão, o destino do meu carro é ficar na garagem, de onde só sairá nos finais de semana. Lyon é assim mesmo. Morando num lugar central, posso fazer quase tudo a pé ou com uma pequena ajuda da rede de transporte público.

Ainda bem, pois se dependesse do transporte público, estaria numa fria. Eu sempre comento que as esporádicas greves francesas incomodam um pouco. Porém, este ano está de mais. Estamos na vigésima greve de transportes em Lyon. E desta vez é por prazo indeterminado!

No Brasil, a população ficaria mais revoltada. Afinal, numa cidade como São Paulo, que já vive no limite do caos, qualquer perturbação tem efeitos incontroláveis. Na França, há aqueles que se revoltam e um número impressionante de solidários às causas proletárias.

A melhor decisão que a administração de Lyon tomou já tem alguns anos. Duas das linhas do metrô operam totalmente sem funcionários: Sem bilheteria, sem piloto, sem vigilância, etc. Só tem gente na central de controle. Nessas linhas, o serviço é dez! As máquinas não organizaram nenhuma greve. Ainda.


Foto: Ainda em Millau, a velha ponte sobre o Tarn e, ao fundo, o célebre viaduto.

Sunday, September 27, 2009

Millau 2

Não consegui encaixar a visita ao Viaduto de Millau em nenhuma das minhas frequentes viagens pela França. Então, aproveitando um dos últimos finais de semana ensolarados e quentes de 2009, preparei este "bate e volta". De carro, jamais faria 900km num único dia. Suponho que tenha escolhido a melhor combinação de trem/carro, indo até Montpellier de TGV e dirigindo até Millau.

Depois de algumas simulações com GPS e consulta aos horários do trem, o roteiro estava pronto. Calculei até o tempo de "pit stop". O que parecia maluco foi suficiente para convencer pelo menos um colega a ir junto. Outros ficaram com vontade.

Cinco dias antes do passeio, eu confirmei a previsão do tempo. O anticiclone dos Açores garante tempo bom em toda França. Sabia que encontraria alguma nebulosidade. Só não queria encontrar o viaduto totalmente encoberto pelas nuvens.

Enfim, sábado. Depois de uma semana super cheia, entre Bruxelas, Paris e Lyon, lá vou eu para mais uma aventura. As 6:30, já estava caminhando pelas ruas de Lyon. Andando, pois o transporte público está em greve por prazo indeterminado (assunto para um post próximo). Felizmente, eu moro perto da estação de trem Part-Dieu.

Seguimos o roteiro planejado com perfeição. Bateu tudo em cima: Chegada em Montpellier, passagem pelo viaduto, parada para tirar fotos, visita a Millau, almoço, etc. A partir das 14:00, encontramos a única surpresa do passeio. Não sabíamos que era o dia da corrida dos 100km de Millau.

Quando deixei São Paulo, a cidade tinha quase 200 corridas de rua por ano. Precisa-se de um senhor esforço para bloquear as ruas e garantir a segurança dos corredores. A maior parte delas acontece nas manhãs de domingo, quando o impacto na circulação é menor. Já em Millau, no meio da França, as corridas são diferentes. A organização da prova não bloqueia o trajeto exclusivamente para os corredores. Ou seja, os poucos carros que passavam por Millau dividiam o espaço com os corredores.

Nossa programação tinha uma folga de meia hora. Tinha! Depois de alguns quilômetros correndo no ritmo dos ultramaratonistas, ela foi para o vinagre. Perder o trem da volta não seria uma tragédia, representaria apenas um pequeno prejuízo e duas horas de espera. De qualquer forma, por que desistir? Nessa viagem de volta, o mais difícil foi costurar entre os corredores em plena segurança.

Finalmente, consumimos 25 minutos da folga e chegamos à estação 5 minutos antes do trem. Chegando em casa, transferi as fotos para o computador e escrevi o post anterior.


Foto: O centro de Millau não é de se jogar fora! Foi uma grata surpresa. Daria para ficar algumas boas horas por lá. A comida é típica "do terroir": Foie gras, terrines e embutidos. O rio que cruza a cidade é o Dourbie (foto), afluente do Tarn, mencionado no post anterior.

Saturday, September 26, 2009

Millau 1

Millau é uma pequena cidade do sudoeste francês. Até o começo da década, era conhecida apenas por ter sido o local, onde José Bové lançou o esporte de destruição de McDonalds. Hoje, esse esporte não está mais na moda. José Bové está um pouquinho mais responsável. E Millau vai bem, obrigado.

Millau fica no vale do Tarn. Um belo lugar com gargantas e desfiladeiros a caminho da Espanha. A rota Clermont-Ferrand/Montpellier, por exemplo, atravessava o vale por um percurso tortuoso e demorado. A enorme vontade política de se unir a Europa e deixá-la mais competitiva inclui a renovação da sua malha viária. Daí, o majestoso Viaduto de Millau, que passa sobre o vale do Tarn e está quase sempre sobre as nuvens. Com o viaduto, a viagem Paris/Barcelona ficou cerca de uma hora mais curta.

O maior pilar do viaduto possui mais de 340m, algo entre a Torre Eiffel e o Empire State. Sem dúvidas, o mais alto do mundo. A brilhante realização técnica foi coroada com o magnífico desenho do arquiteto britânico Norman Foster.

Não menos impressionante do que a obra é a sua gestão. Num país em que o Estado põe o dedo em tudo, o viaduto foi bancado pela iniciativa privada, que será reembolsada através de uma concessão de 75 anos. Mais de 20 milhões de veículos já cruzaram o viaduto desde a inauguração no final de 2004.

O viaduto custou 400 Milhões de euros e foi construído em três anos. Números relativamente modestos para tamanha realização.



Foto: Interrompendo a série de fotos da Toscana (voltarei mais para frente), compartilho com vocês fotos tiradas hoje mesmo em Millau.