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Monday, December 7, 2015

Fantasma

O Brasil passa por uma fase difícil e a tensão deve aumentar ainda mais com a abertura do processo de impeachment. Não sei se será o golpe decisivo na corruptocracia instaurada pelo PT, mas é suficiente para alimentar nossas esperanças.

Diante de um Brasil que anda para trás e continua afundando na lama, os problemas dos outros países parecem menores. Só que não!

A crise dos refugiados e os recentes atentados de Paris potencializaram a ameaça que pairava no ar. Ontem, no primeiro turno das eleições regionais francesas, o Front National (FN), partido de extrema direita, abocanhou quase 30% dos votos.

As estrelas do partido são a filha (Marine) e a neta (Marion) do velho fascista Jean-Marie Le Pen. As caras são novas (e inexperientes), mas seus ideais são os mesmos. A vitória do FN é uma combinação da grande abstenção, do voto de protesto, do desemprego, do repúdio aos imigrantes e da descrença na Europa, entre outros.

Para não apavorar meus leitores, saibam que o sistema eleitoral francês ainda oferece alguma defesa contra a ameaça extremista. Nesses dias entre o primeiro e segundo turno, os partidos ainda podem retirar e fundir suas listas.

Ou seja, para se evitar a vitória do FN, os dois principais partidos da França - Socialista (PS) e Republicanos (LR) - terão de fazer algum sacrifício. Por exemplo, o PS anunciou hoje a retirada da sua lista de três regiões lideradas pelo FN. Em outras palavras, ele libera seus eleitores para votarem nos rivais Republicanos e ainda fica de fora da vida política da região nos próximos anos. Que castigo!

Acredito que os entendimentos políticos e a mobilização popular acabarão limitando o estrago do FN. Entretanto, fica uma dura advertência à classe política francesa. É melhor se mexer e atacar de frente os problemas do país! Com essa vitória, mesmo que parcial, o FN vai ganhar mais palanque para espalhar seu discurso raivoso. A ameaça continua no ar.


Foto: Última foto do Parque da Cambre em Bruxelas

Tuesday, December 1, 2015

Aula

Fazia um bom tempo que eu não entrava numa universidade. Em outubro, tive o prazer de dar uma aula numa escola de referência, a Solvay Brussels School. Trata-se da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade Livre de Bruxelas.

O nome Solvay não é por acaso, a Escola foi criada a partir de uma doação de Ernest Solvay, fundador do Grupo Solvay, do qual a Rhodia tornou-se parte em 2011.

Uma semana antes da aula, notei que um aluno da Escola deixava  pegadas digitais ao recolher informações sobre mim. De fato, ele fora incumbido de fazer a apresentação do palestrante para seus colegas. Achei a iniciativa muito boa. Poupou-me um tempão. Além do mais,  essa nova geração é capaz de fazer apresentações muito melhores do que as minhas.

Lá da frente do anfiteatro, avistava mais de 150 meia-cabeças. Digo meia pois, invariavelmente, os seus Macs eram mais visíveis do que seus rostos. Um espião lá do fundo do auditório revelou aquilo que eu desconfiava. Muitos aproveitavam  o tempo para colocar o Facebook em dia. Tinha até um jogando paciência. Felizmente, para o bem da Bélgica e para minha satisfação pessoal, havia dezenas tomando nota dos meus comentários.

O coordenador do curso estava tão contente com a minha participação, que nem se preocupou com a forma da aula. Acabei usando e abusando do Powerpoint. Fazendo uma autocrítica, mesmo que seja algo comum no mundo corporativo, acho que a nova geração merece coisa melhor.

Apesar da platéia eminentemente francofônica, assim como todas as demais aulas daquele curso, minha apresentação foi em inglês. Bem, pelo menos o apresentador e os alunos estão no mesmo nível.  Cada um com seu sotaque :-)

O  mais interessante foi falar sobre transformação digital para a moçada. Eles nasceram conectados e sabem muito bem como usar as novas tecnologias. Não é à toa que várias empresas lançam programas de “reverse coaching”, onde os mais jovens orientam os mais experientes nos desafios do mundo digital.

Ao final dessas duas intensas horas de apresentação, não faço a menor ideia do que eles aprendeream. Eu aprendi muito.



Foto: Domingão outonal no parque da Cambre, em Bruxelas.

Sunday, November 29, 2015

Outono

O foco está na COP21 sediada em Paris. Para proporcionar a segurança necessária aos governantes do mundo inteiro, a cidade foi praticamente bloqueada. Em paralelo às discussões sobre o clima, os mesmos protagonistas tentarão achar uma solução para a crise síria. A recente derrubada do avião russo pela Turquia não ajuda em nada.

Hoje pela manhã, cruzei mais uma vez com aquele, que inspirou o post  “Popular e Ladrão”. Sim, o Erdogan esteve por aqui para uma nova reunião de cúpula entre a Europa e a Turquia. A Europa quer que ele pare de despejar refugiados sírios nas praias gregas, que ele pare de escoar o petróleo do Estado Islâmico e ajude a combatê-los. O último pedido do Erdogan para aceitar o pleito europeu foi de 3 bilhões de dólares, a cabeça do Assad e um pau nos curdos. Assim fica difícil.

O presidente francês ganhou algum prestígio ao liderar a nação depois da tragédia. Pelo menos, ele serve para alguma coisa! A solidariedade internacional com a França não foi suficiente para formar uma coalizão de combate ao Estado Islâmico. Hollande ouviu alguns nãos durante a semana:  Obama, Putin e Merkel, entre outros.

Bruxelas teve uma semana de exceção, como descrevi no último post. A vida voltou ao normal depois de alguns dias sob estado de sítio. Paira no ar aquela pergunta que não quer calar. Se a situação não mudou e dois dos terroristas estão soltos por aí, então há algo de errado: ou o estado de sítio não deveria ter sido decretado ou não deveria ter sido relaxado. Mistério.

A imprensa francesa não tem perdoado a leniência belga com relação aos muçulmanos radicais. Entre todas as críticas, achei a do Le Monde a mais dura. O seu editorial de 24 de novembro diz: “esse Estado sem nação pode virar uma nação sem Estado”.

Vale uma explicação. A Bélgica é tida como um Estado sem nação, por ser uma federação que agrupa flamengos, valões e alemães. Diante do radicalismo islâmico, todos erraram. O momento é de rara união, evitando-se acusações mútuas. Entretanto, ao longo dos últimos anos, o assunto foi deixado de lado para não afetar o frágil acordo que mantém a Bélgica unida.

Essa história de nação sem Estado lembrou-me do Brasil. Nosso Estado não está desaparecendo, mas apodrecendo rápido. Fiquem tranquilos, pois a cura passa pela prisão em massa de petralhas, como – felizmente - está acontecendo.



Foto: No final de semana anterior aos atentados, pude passear no Parque da Cambre, aqui em Bruxelas, curtindo a paisagem de outono.