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Tuesday, July 16, 2024

Revogando a Lei de Moore


Este artigo foi publicado originalmente em fevereiro de 2001 pela Computerworld Brasil. Como ele não está mais disponível online, resolvi republicá-lo aqui. Não tem nenhum valor científico ou jornalístico, mas retrata bem o 'espírito daquela época', em que eu era um gestor de tecnologia assustado com a evolução das coisas.


Revogando a lei de Moore


Comecemos este artigo por um teste de múltipla escolha. A famosa Lei de Moore diz que a capacidade dos microprocessadores dobra:

a) A cada ano;
b) A cada ano e meio;
c) A cada 2 anos;
d) Todas as anteriores;
e) Nenhuma das anteriores.

O impacto da Lei de Moore é um dos fatos marcantes do nosso mundo. Grande parte dos benefícios que a tecnologia proporcionou, inclusive a Internet, está associado a este fenômeno.

Em 1965, as coisas não eram tão evidentes. A profecia de Gordon Moore foi realizada com base nas primeiras gerações de microchips, que haviam recém alcançado a marca de 64 transistores por chip. Hoje, a linha Pentium chega a dezenas de milhões!

O marco é a antevisão de um sustentável crescimento exponencial. Se dobrarmos a capacidade a cada um ou dois anos, não faz tanta diferença. O privilegiado Gordon, um dos fundadores da Intel, sempre receberá o crédito. A propósito, a resposta do teste é "d". O enunciado original era de um ano. Tempos depois, passou para dois. Hoje é entendida como um ano e meio. Sorte do Gordon, pois com muito mais precisão, muitos cientistas já foram execrados.

Anunciar o fim desta evolução tem sido uma constante. Vários limites tecnológicos, ora intransponíveis, foram superados. A miniaturização se aproxima do limite físico de lidar-se com alguns poucos átomos. Para completar, os custos de produção também crescem exponencialmente.

As previsões de uma forte desaceleração deste processo são reservadas para a próxima década. Até lá, outras tecnologias já poderão estar no forno para retomar o passo: computadores quânticos, óticos, moleculares, genéticos, etc. Por enquanto, é apenas teoria.

O que aconteceria se chegássemos a uma estagnação desta progressão? Não pensem vocês que seria o caos e o fim da revolução digital. Pelo contrário, há quem diga que seria muito saudável!

Analise o seu microcomputador. Provavelmente, a CPU é de última geração. Agora, pense nos demais componentes, veja que muitas tecnologias não se aperfeiçoaram tanto. O pior de tudo, motivo dos nossos pesadelos, é o software. Não há dúvidas de que poderia ser bem melhor!

Enfim, parece que as deficiências do conjunto são compensadas por uma capacidade colossal de processamento. Se mantivéssemos as mesmas CPUs e investíssemos no resto, poderíamos manter a melhoria do todo.

Os mercados mais desenvolvidos estão desacelerando o ritmo de renovação dos PCs. Afinal, para a grande maioria das aplicações, não importa ter um chip de 500 ou 900 MHz. A Intel mantém seu crescimento e força, pois, fora dos Estados Unidos, ainda há muito computador para se vender. Sem contar as aquecidíssimas vendas destinadas ao mercado de servidores.

Os microprocessadores logo proporcionarão novidades ainda mais fantásticas, como a comunicação plena na linguagem natural. O fim da era do chip de silício pode demorar um pouco. Mas todos nós gostaríamos que toda esta evolução não dependesse apenas da CPU.

 

Imagem: Gerada pelo Copilot Designer (2024). Na primeira tentativa, ele gerou uma imagem abstrata sobre batatas fritas. Chip errado, meu caro!

Saturday, December 26, 2015

Elon Musk e Jeff Bezos

Final de ano é época de se fazer um “pit-stop” no Brasil. Escrevo este último post de 2015 em São Paulo. Daqui, a visão do ano que passou é muito negativa. Somos contaminados por tantos que querem sair do país, que temem o agravamento da crise ou, simplesmente, não aguentam mais esse mar de lama. Em janeiro, volto a falar dos problemas nacionais. Hoje, não.

Hoje é dia de falar sobre algo mais positivo. E se há algo que me impressionou neste final de ano, foi a corrida espacial entre os magnatas Elon Musk e Jeff Bezos. Seus últimos foguetes subiram ao espaço e retornaram à Terra.

Vale lembrar que o projeto da SpaceX, de Elon Musk, é bem mais ambicioso. Enquanto a SpaceX coloca satélites em órbita, a Blue Origin, de Jeff Bezos, faz vôos sub-orbitais, provavelmente destinados ao futuro turismo espacial.

O reaproveitamento dos foguetes chama a atenção como caminho ideal para o barateamento dos vôos espaciais. Num mundo que clama pela sustentabilidade, faz todo sentido. Entretanto, há controvérsias. Um foguete que vai e volta precisa levar muito mais combustível, pois seu pouso é controlado e consome muita energia. O balanço energético somado à inspeção minuciosa do aparelho a cada reaproveitamento geraria um benefício muito pequeno. Apenas simbólico.

Se Elon Musk e Jeff Bezos vão baratear ou popularizar os vôos espaciais, eu não sei. O bom dessa história toda é o seu empreendedorismo, a vontade de inovar, a disposição de assumir riscos e tudo isso sem mamar nas tetas do governo. Bem, prometi que não ia falar do Brasil.

Por incrível que pareça, existem muitos Elon Musk e Jeff Bezos por aí. O problema é que eles nem sempre encontram as mesmas oportunidades. Pelo contrário, só encontram dificuldades. Estados controladores, burocráticos e insaciáveis. Bem, prometi que não ia falar do Brasil.

Elon Musk e Jeff Bezos são dois visionários e jamais se acomodam. Como diria a velha propaganda do Bamerindus, são gente que faz! Gente que faz e alimenta nossos sonhos e esperanças por um mundo melhor. A todos vocês, boas festas e um grande 2016!



Foto:  Saudações do tocador de realejo da praça central de Antuérpia. Notem que o aparelho funciona com cartões perfurados.  Bem, também não vou falar sobre a história da computação.

Friday, December 18, 2015

Terror de política - Epílogo

Meu último post foi premonitório. A suspensão do Whatsapp por algumas horas no Brasil é piada pronta. Muitos já escreveram sobre o absurdo que foi punir 100 milhões de usuários.

Fiquei impressionado com os meios encontrados para contornar o bloqueio imposto pela Justiça. Embora milhões de pessoas tenham baixado outros aplicativos, outros milhões contornaram o bloqueio no sentido literal, por exemplo, usando VPN.

A Justiça deu um tiro no pé ao empurrar milhões de brasileiros para aplicativos como o Telegram, dotado de recursos muito mais sofisticados do que o Whatsapp. Certamente, não leram meu blog!

Talvez seja difícil contar com a colaboração do Facebook para atender às inúmeras demandas da Justiça brasileira. Porém, se precisarmos da ajuda da organização que mantém o Telegram, será simplesmente impossível obtê-la. Não colaborar com governos é um dos seus princípios e, mesmo se quisessem, as opções de segurança tornam impossível a decodificação das mensagens trocadas pelo Telegram.

A nossa sábia Justiça empurrou o PCC para o Telegram. Gênios! Deveriam saber que, ruim com o Whatsapp, pior sem ele.



No meu caminho do trabalho para casa, passo pelo centro de recepção de refugiados de Bruxelas. Não é nem um galpão nem um acampamento, é um prédio da Cruz Vermelha, bem integrado ao centro de Bruxelas. Nos últimos meses, o burburinho por ali ficou bem maior.

Recentemente, notei uma novidade na entrada do prédio. A companhia de telefonia móvel local instalou dois carregadores de celulares públicos. São duas peças cheias de escaninhos, cada um com alguns cabos para carregar os diferentes tipos de celulares.

A sede da Cruz Vermelha foi concebida para proporcionar leitos, alimentos, sanitários e atendimento médico. Para os padrões atuais, faltam muitas tomadas. Muitas mesmo. Os refugiados muitas vezes vêm apenas com a roupa do corpo e o inseparável celular.

Num documentário da TV francesa, o jornalista pediu para um refugiado sírio abrir a sua pequena mochila. Quase vazia. Havia uma escova de dentes e um celular. Esses refugiados são como os brasileiros, pobres mas limpinhos.

Acompanhando-se os refugiados através das imagens do longo do caminho da Mesopotâmia até a Europa Ocidental, percebe-se a onipresença dos celulares. Chip turco, chip grego, chip croata, chip bósnio, etc. Vão-se os chips, ficam os celulares.

Tudo isso só vem reforçar os comentários do último post, da importância do celular como instrumento de cidadania.



 Foto: Fechando a série de fotos de Mons, Bélgica.

Saturday, December 12, 2015

Terror de política - Parte 2

Entre as inúmeras reações aos atentados de 2015, houve uma crítica aos recursos tecnológicos, que propiciam a comunicação entre trerroristas. De fato, a tecnologia ajuda a humanidade como um todo, para o bem e para o mal. Felizmente, existe muito mais gente fazendo o bem.

Há muitos anos, assisti a uma palestra do Prof.Stephen Kanitz falando sobre a importância do telefone celular. Se no mundo desenvolvido, a telefonia móvel trouxe benefícios relevantes, nos países como o Brasil, ela trouxe algo a mais, resgatando a cidadania daqueles que ficavam isolados, sem a possibilidade de uma justa integração à sociedade ou ao mercado de trabalho.

O ganho da tecnologia foi muito além da rapidez, da eficiência, da praticidade ou da possibilidade de  entretenimento. As pessoas ganharam uma voz, fontes de informação alternativas, poder de organização e manifestação. As democracias fortaleceram-se.

A crise político-institucional brasileira é exemplo disso tudo. Se não fosse a contribuição das redes sociais e dos aplicativos de comunicação, a abominável Dilma estaria bem mais tranquila.

Graças a ampla divulgação dos fatos, percebemos o quão perverso um governo pode ser. Foi uma dura lição aos brasileiros, argentinos e venezuelanos, entre outros, que escolheram execráveis governos populistas e corruptos, sem quaisquer limites para preservar o poder.

A História nos ensina que isso tudo não é privilégio das nossas repúblicas bananeiras. Temos que permanecer vigilantes. É a briga do Snowden, embora muitos não concordem integralmente com ele. Eu mesmo fiz algumas ressalvas à época.

A tecnologia também está aí para nos proteger do maior dos vilões. Já fizemos muitas concessões e é preciso deixar uma espaço para a privacidade, para continuar trocando mensagens que não sejam lidas ou falar sem ser escutado pelo governo ou por qualquer outro.

Aos amigos do Brasil, mais uma vez, boas manifestações, fora Dilma e cana nos petralhas!

Leia também:
Snowden


Foto: Mais uma foto tirada em Mons, no início do ano.

Thursday, December 10, 2015

Terror de política - Parte 1

2015 entra para a história. Paris viveu os atentados de janeiro e novembro. Dois outros foram evitados, o do Thalys (trem) e o da Igreja de Villejuif. Este blog já especulou sobre as causas sociais e econômicas do terror, mas nunca falou da tecnologia a ele associada.

Sempre encontramos aqueles políticos oportunistas, que se aproveitam do momento para tentar acabar de vez com o que nos resta de liberdade e privacidade. Para tratar de assunto tão importante, farei um texto em duas partes. Começamos recapitulando alguns fatos.

Os terroristas são sofisticados. Os vídeos do Estado Islâmico no Youtube orientam o uso de criptografia em qualquer comunicação. Criptografia de 4096 bits. Para os leitores leigos, saibam que é muuuuuuito seguro.

Nem todo terrorista nasceu para informática. Alguns poderiam trabalhar perfeitamente numa equipe de suporte técnico. Outros estão mais para a equipe da Dilma. Entre erros e acertos, não dá para não falar de tecnologia.

Nos atentados ao mercado Kasher, o terrorista filmou seus assassinatos com uma câmera GoPro. Ele não conseguiu colocá-lo no Youtube por problema de sinal (até tu Paris!). Mesmo com a Polícia às portas, ele sacou o cartão de memória da câmera e carregou num computador. Haja sangue frio.

Um dos meios de comunicação usados nesse ataque contrariou as regras do terrorismo internacional, embora seja criativo. A técnica consiste em compartilhar contas de Gmail. Ao invés de enviar a mensagem, eles deixam-na como rascunho. Como a pasta de rascunhos é sincronizada, eles comunicam-se sem trocar mensagens, que são mais facilmente rastreáveis.

No fracassado atentado à Igreja de Saint-Cyr-Sainte-Julitte de Villejuif, um dos terroristas usava a ferramenta de criptografia “PGP” direitinho. Cometeu um único erro - e fatal - ao apagar uma mensagem sem passar pela criptografia. O cesto de lixo é o pote de ouro dos peritos. A partir desta falha, a Polícia francesa fez a festa e desbaratou todo o bando.

Nos atentados de novembro, o uso de aplicativos como Telegram e Signal pegou a Polícia de calças curtas. São ferramentas de chat com criptografia. Uma outra parte da quadrilha teria usado a função de comunicação do Playstation, algo igualmente difícil de ser rastreado. Se cometeram algum erro, foi ter se livrado de um celular. Aquele celular encontrado no cesto de lixo foi a chave para a rápida resposta da inteligência francesa.

Diante de tudo isso, a reação de alguns políticos desesperados para encontrar bodes expiatórios é esquecer dos  verdadeiros problemas e eleger um culpado: A tecnologia!

Sim, para eles, os culpados são a Internet, os aplicativos de mensagens, a telefonia celular e até o Playstation. Um político pediu o fim dos aplicativos com criptografia. Um outro quer “porta dos fundos” em todos os aplicativos.

Em tempos de desespero, pode ser uma tentação trocar liberdade por segurança. Entretanto, é certamente uma armadilha. Isso fica para o próximo post.


Leia também:
Atentados de janeiro: #jesuischarlie
Atentados de novembro: Terror
Porta dos fundos


Foto: Cenas de Mons (Bélgica), cidade escolhida como capital europeia da cultura em 2015.

Tuesday, December 1, 2015

Aula

Fazia um bom tempo que eu não entrava numa universidade. Em outubro, tive o prazer de dar uma aula numa escola de referência, a Solvay Brussels School. Trata-se da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade Livre de Bruxelas.

O nome Solvay não é por acaso, a Escola foi criada a partir de uma doação de Ernest Solvay, fundador do Grupo Solvay, do qual a Rhodia tornou-se parte em 2011.

Uma semana antes da aula, notei que um aluno da Escola deixava  pegadas digitais ao recolher informações sobre mim. De fato, ele fora incumbido de fazer a apresentação do palestrante para seus colegas. Achei a iniciativa muito boa. Poupou-me um tempão. Além do mais,  essa nova geração é capaz de fazer apresentações muito melhores do que as minhas.

Lá da frente do anfiteatro, avistava mais de 150 meia-cabeças. Digo meia pois, invariavelmente, os seus Macs eram mais visíveis do que seus rostos. Um espião lá do fundo do auditório revelou aquilo que eu desconfiava. Muitos aproveitavam  o tempo para colocar o Facebook em dia. Tinha até um jogando paciência. Felizmente, para o bem da Bélgica e para minha satisfação pessoal, havia dezenas tomando nota dos meus comentários.

O coordenador do curso estava tão contente com a minha participação, que nem se preocupou com a forma da aula. Acabei usando e abusando do Powerpoint. Fazendo uma autocrítica, mesmo que seja algo comum no mundo corporativo, acho que a nova geração merece coisa melhor.

Apesar da platéia eminentemente francofônica, assim como todas as demais aulas daquele curso, minha apresentação foi em inglês. Bem, pelo menos o apresentador e os alunos estão no mesmo nível.  Cada um com seu sotaque :-)

O  mais interessante foi falar sobre transformação digital para a moçada. Eles nasceram conectados e sabem muito bem como usar as novas tecnologias. Não é à toa que várias empresas lançam programas de “reverse coaching”, onde os mais jovens orientam os mais experientes nos desafios do mundo digital.

Ao final dessas duas intensas horas de apresentação, não faço a menor ideia do que eles aprendeream. Eu aprendi muito.



Foto: Domingão outonal no parque da Cambre, em Bruxelas.

Thursday, June 18, 2015

Discurso de rei

Junho é mês de eventos na Europa. A razão é muito simples. Maio é mês de feriados e julho é mês de férias.

Além da concentração junina, há também um acúmulo de eventos às terças e quintas. Segunda e sexta são dias evitados pelos organizadores por razões óbvias. Quarta também, por que é feriado escolar (França) e muitos pais adotam um regime de trabalho especial, que permite acompanhar seus filhos.

Nesse contexto, terça-feira, dia 16, fui convidado para cinco eventos sobre a “revolução digital”. Confirmei presença em três e estive em dois. Ando fazendo overbooking de agenda. Na  véspera, decido o que vou encarar. (Já fui mais bonzinho!)

Só não quero mais encarar o discurso do presidente do Uber da França ou da Bélgica. Chega! Também não quero mais palestrantes, que tentam nos convencer de que é preciso mudar para o universo digital. Como disse o Jacques Attali, numa das palestras deste mês, não foi preciso convencer o mundo a adotar a TV há 50 anos. Nem  mesmo o telefone há 100 anos.

A palestra mais inusitada  deste mês repleto de colóquios não foi de nenhum bilionário fundador de start-up, nem de nenhum guru profissional. Foi um depoimento de um executivo que, ao invés de contar vantagem, confessou a sua impotência diante dessa transformação “vertiginosa” (sic).

Trata-se de um dirigente de uma vinícola de Sauternes. Elegante, francês perfeito e fala suave. Um verdadeiro nobre com humildade ímpar. Diante de blogs de vinhos que já são mais influentes do que a Wine Spectator, comerciantes virtuais cada vez mais poderosos, centenas de aplicativos e sites sobre o tema, ele  e os 10 funcionários da vinícola estão simplesmente perdidos.

Quase em tom de despedida, relembrou  os bons momentos vividos com seus clientes e visitantes, que vão pessoalmente ao Château. Ressaltou o privilégio de degustar os vinhos com tantos amigos e clientes, naquele clima especial que surge ao redor de um bom vinho. Bons tempos, hein!

Foi uma oportunidade de pensar revolução digital sob uma outra perspectiva. Isso sim é palestra inspiradora. Nosso executivo certamente não está só.  Ser um produtor de Sauternes não é para qualquer um, mas as transformações mencionadas por ele são implacáveis.

A propósito, o nobre palestrante é nobre mesmo.  Embora tenha apresentado-se como um mero gerente de château, uma rápida consulta ao Google confirmou o que desconfiava. O ilustre membro da Casa de Orleans é cheio de títulos honoríficos e pretendente ao “trono francês”.



Foto: A orangerie do Château de Seneffe, na Bélgica.

Thursday, August 14, 2014

Nós e as máquinas

No último sábado, fui a um supermercado de Bruxelas. Estava cheio, mas quase todos os caixas estavam fechados. Havia apenas um funcionário trabalhando e os clientes eram dirigidos ao auto-serviço. Acostumado a tais máquinas desde a passagem pela França, senti que o “faça você mesmo” está ainda mais forte por aqui.

Os caixas de auto-serviço dos supermercados são bem completos. Basta escanear todas as compras, pesar o que for necessário, ter o cartão de fidelidade, o cartão de crédito e o ticket de estacionamento à mão e pronto. Tudo muito fácil. Principalmente se você for uma daquelas divindades hindus com muitos braços. Brincadeiras à parte, essas máquinas funcionam mesmo e, em teoria, são a prova de idiotas. Em teoria.


Domingão, saindo do cinema, onde assisti “LUCY”, fui validar o ticket de estacionamento. Havia dois tipos de máquinas, uma grande, cheia de botões e aberturas, e uma outra menorzinha. A princípio, dirigi-me para a maior, que oferecia mais recursos. Bati o olho na máquina e pulei fora, fui para a menor.  Já o casal de belgas que estava atrás de mim ficou procurando onde se colocava o ticket por algum tempo. Não sei quanto, pois fui embora.


Na semana passada, fui ao banco pegar meu cartão e registrar a senha. O banco é holandês, a agência fica na comuna de Neder-Over-Heembeek, mas estamos em  Bruxelas, uma região francofônica.  A gerente da agência, uma senhora muito simpática e gentil, falava comigo. A poucos metros dali, uma cliente usava a máquina de auto-atendimento. Ela virou-se para a gerente e berrou: “Pô, essa máquina só fala holandês!”

Com ar de reprovação e esquecendo a sua delicadeza por alguns segundos, a gerente retrucou: “Estou ocupada.” A cliente insistiu e ela, irada, repetiu: “Estou ocupada.” Percebendo a situação constrangedora, ela voltou-se para mim e desculpou-se. Bem, aí chegou a minha vez: “Nem precisa se desculpar. A senhora foi muito gentil. Poderia ter respondido que estava ocupada em holandês!”


Já levei canseira de uma máquina na primeira vez que passei por um pedágio francês. Por ser a primeira vez, precisava de apenas uns poucos segundos para entender onde colocar o ticket,  o cartão de crédito e obter o recibo. Porém, o troglodita que vinha atrás não esperou. Meteu a mão na buzina!

No susto, deixei o ticket cair na via. Tinha alinhado o carro tão próximo ao caixa, que não conseguia abrir a porta. A essa altura, o cara de trás beirava a histeria. Felizmente, aquele pedágio ainda empregava seres-humanos. Pelo alto-falante, perguntaram qual tinha sido meu ponto de entrada na estrada e calcularam a tarifa. Aí sim, coloquei o cartão, paguei e fui embora.  Aquele gaulês apressado teve que esperar uns bons minutos. Já o ticket caído no chão, o vento levou.



Foto: Para fechar as fotos de Bilbao, o Teatro Arriaga.

Wednesday, September 7, 2011

Meu onze de setembro

Também vou compartilhar o meu onze de setembro de 2001 com vocês. Estava no trabalho desde muito cedo pois, há dez anos, conseguia atravessar São Paulo bem mais rápido. Interromperam uma reunião importante com notícias bastante distorcidas sobre o ocorrido, então procuramos a TV. Acabava a reunião.

Apesar do choque, estava totalmente concentrado na preparação do orçamento 2002. Na semana seguinte, apresentaria algumas propostas na França. Que os vôos para os EUA estavam suspensos, todos sabiam. Porém, não contava que a empresa suspendesse todos os vôos internacionais. Não compareci àquela convenção de 2001, que congregou apenas os franceses. Apresentei alguma coisa pelo telefone, mas foi pouco eficaz.

Poucas semanas depois, teria uma outra viagem internacional planejada há tempos. Era o tradicional evento do Gartner (Symposium ITxpo) em Orlando. Aí não teve jeito, ir para os EUA continuava mesmo proibido. Então, ao invés de ir pela empresa, eu fui ao Symposium de férias!

Os aeroportos americanos continuavam às moscas. O evento estava bem mais vazio do que o normal. O Gartner adicionou uma dúzia de palestras extras sobre "disaster recovery", que viraram a sensação do evento.

O evento acabou bem, as férias idem. Os orçamentos se sucederam, assim como a realização dos mesmos. Bem, é claro, alguma coisa mudou...


Foto: Última foto de Dijon, uma das ruas que desembocam na  Place de la Libération, mostrada anteriormente.

Sunday, August 28, 2011

RIP PC 2

No post anterior, mostrei que muita gente já falava do fim do PC em meados dos anos 90. Procurando na minha biblioteca pessoal (física), achei um texto ainda mais antigo e mais preciso. Um artigo de Mark Weiser (PARC, Xerox) para a Scientific American de Setembro/91 intitulado "The Computer for the 21st Century". Vejam algumas linhas:

The most profound technologies are those that disappear. They weave themselves into the fabric of everyday life until they are indistinguishable from it.
...
The arcane aura that surrounds personal computers is not just a "user interface" problem. My colleagues and I at PARC think that the idea of a "personal" computer itself is misplaced, and that the vision of laptop machines, dynabooks and "knowledge navigators" is only a transitional step toward achieving the real potential of information technology. Such machines cannot truly make computing an integral, invisible part of the way people live their lives. Therefore we are trying to conceive a new way of thinking about computers in the world, one that takes into account the natural human environment and allows the computers themselves to vanish into the background.
Ubiquitous computers will also come in different sizes, each suited to a particular task. My colleagues and I have built what we call tabs, pads and boards: inch-scale machines that approximate active Post-It notes, foot-scale ones that behave something like a sheet of paper (or a book or a magazine), and yard-scale displays that are the equivalent of a blackboard or bulletin board.
...
My colleagues and I at PARC believe that what we call ubiquitous computing will gradually emerge as the dominant mode of computer access over the next twenty years. Like the personal computer, ubiquitous computing will enable nothing fundamentally new, but by making everything faster and easier to do, with less strain and mental gymnastics, it will transform what is apparently possible. Desktop publishing, for example, is fundamentally not different from computer typesetting, which dates back to the mid 1960's at least. But ease of use makes an enormous difference.

Enfim, foi no PARC que a revolução começou. Grande parte das ideias da Microsoft e da Apple saíram do renomado laboratório. Quem tinha visão sabia que o PC era apenas um meio e não o fim.

O autor menciona os "pads" e também o "knowledge navigator", um conceito da Apple celebrizado na gestão John Sculley, no final dos anos 80. (Não achei o meu exemplar do seu livro "Odisséia" aqui em casa. Livros demais ou memória de menos?)

Lembrar de John Sculley na semana em que Steve Jobs deixou a operação da Apple talvez não seja muito correto. Mas, se existe alguém no mundo que soube transformar os sonhos de tantos visionários da TI em realidade, esse homem é Steve Jobs.


Foto: A Place du Bareuzai em Dijon. A estátua, o carrossel e a mistura de estilos arquitetônicos marcam um dos locais mais animados da cidade. Literalmente, há séculos!

Saturday, August 27, 2011

RIP PC 1

Depois de muita espera, podemos dizer que a era pós-PC começou. Com a explosão dos dispositivos móveis, o PC passa a ter um papel secundário na nossa vida pessoal e profissional. Sabíamos que chegaríamos ao fim da era do PC, mas não exatamente quando e como.

Bill Gates, o grande vencedor da era PC, escreveu em "A Estrada do Futuro" (1995):

"É um pouco assustador, já que, à medida que a tecnologia dos computadores avançou, nunca o líder de uma fase permaneceu líder na fase seguinte. A Microsoft tem sido líder na fase dos microcomputadores. Portanto, a partir de uma perspectiva histórica, acho que a Microsoft não se qualifica para liderar a fase da estrada na Era da Informação. Mas quero desafiar a tradição histórica".

O fim da era PC aparece em muitos textos que pude pescar via Google:

1998 -  Relatório anual IBM
"The PCs reign as the driver of customer buying decisions and the primary platform for application development is over." (Lou Gerstner)

1998 - Economist
"WHISPER it quietly, the personal computer—the machine of the 1990s—will be entering its twilight years by the beginning of the new millennium."

1999 - BBC
"The biggest mistake of all, he says, is ignoring the mass-market customer - the average computer user who wants to use the web, without the bother of doing any technical homework."

1999 - Businessweek
"It's not just this slew of gee-whiz devices that will make information appliances commonplace. Mundane products already found in many homes will also get far smarter. Cameras, TVs, cell phones, and cable boxes are going digital, making it far easier to add new features that let them take on jobs now done by the PC--including Internet access."

2000 - CNN Money
"Likewise, a greater proliferation of Web-enabled devices such as cell phones and personal digital assistants over the next few years will further remove the consumer experience of computing from the desktop."

Parei nas citações do século passado. Dali em diante, o fenômeno era evidente.


Foto: Ainda em Dijon, a elegante Place Darcy, inspirada no modelo parisiense.

Wednesday, January 12, 2011

"E assim se passaram 10 anos"

Depois de passar a régua em 2010, relembrei do saudoso ano 2000. Para nós, informáticos, será sempre o inesquecível ano do "bug". Também foi o ano da bolha da Internet, além de tantos outros eventos curiosos. Por exemplo:

- A queda do Concorde (109 vítimas)
- O "naufrágio" do submarino russo (118 vítimas)
- A tumultuada de reeleição George Bush
- O repique da crise da vaca louca na Europa
- A qualificação da Grécia para entrada na zona do Euro
- O ataque ao USS Cole no Iêmen (17 vítimas) pela Al-Qaeda
- Reunião entre as Coréias, a primeira desde 1945, garantindo o Nobel da Paz daquele ano para Kim Dae-jung

O que aconteceu nos anos seguintes ainda está na memória dos leitores. Naquele ano, ninguém dava muita bola para a Al-Qaeda, a adesão de novos países ao Euro era muito festejada e a aproximação das Coréias anunciava a era de Aquário no extremo oriente.

Nessa retrospectiva, contudo, o que mais chamou a minha atenção foi a síntese da nostálgica Britannica sobre a situação americana à época: "The United States stormed into 2000 full of energy and confidence, its economy purring, its world leadership role unchallenged, and its two-century-old democratic experiment still vigorous. Incidence of crime, welfare dependency, and joblessness were down, and the stock market was soaring."

Definitivamente, alguma coisa mudou em dez anos.


Foto: Uma vila anônima do interior da Borgonha, no caminho para o Château de Bazoches.

Wednesday, July 29, 2009

Inclusão digital

O novo guia de comportamento digital da Wired (edição de Agosto 2009) trouxe finalmente aquela desculpa que precisávamos para usar o celular, Blackberry ou Iphone na frente dos outros. Num mundo em que os relacionamentos virtuais são tão valorizados quanto os reais, quem está do outro lado da linha também merece nossa atenção.

Imaginem-se numa roda de amigos. Não seria simpático incluir aqueles que não estejam presentes? Os mais jovens fazem menor distinção entre os relacionamentos reais e virtuais e, portanto, são mais abertos a tal prática. Vale ressaltar que, em determinadas circunstâncias, este novo comportamento é absolutamente desaconselhável.

E por se falar em inclusão, o comportamento mais arrojado é abrir a sua rede wifi para o próximo. Toda aquela banda larga só para uma família? Quanto egoísmo! Quem sabe você não possa ajudar um vizinho em dificuldades, um estudante que passe pela rua, etc. Somos ou não somos a favor da inclusão digital? A propósito, se você concordar, deixe o seu endereço nos comentários deste post ;-)


Foto: Marienplatz, no centro histórico de Munique, em dia de festa.