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Sunday, February 21, 2016

Verdun

Além dos sinais de fraqueza da economia mundial, há algo de ruim no ar. Revendo os jornais belgas e franceses dos últimos dias, tive que fazer algum esforço para encontrar boas notícias.

Até mesmo no noticiário esportivo, o destaque é para a última tendência em fraudes no ciclismo, o uso de bicicletas motorizadas. Flagaram um motor escondido no quadro da bicicleta de uma atleta belga.

A mídia destaca o centenário da Batalha de Verdun, episódio marcante da Primeira Guerra, quando o exército francês deteve o avanço alemão, com um saldo de 300 mil mortos e 400 mil feridos em 300 dias de combate.

Ao longo dos próximos anos, teremos muitos outros centenários. Não faltarão oportunidades para lembrarmos das barbáries das duas grandes guerras. O propósito principal dessas lembranças é servir de estímulo para que jamais se repitam.

Nesta última semana, tive a impressão que o mundo faz de tudo ao contrário, ou seja, tenta cair nas mesmas armadilhas do passado. Continuamos a semear a cizânia e a flertar com os conflitos. O discurso da desunião e da intolerância ganha espaço.

A discussão sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) é bem representativa. A adesão à UE tem sido usada como “bode”  por frentes políticas de quase todos os países do bloco. Obviamente, todos perderiam com a possível redução da UE, gerando um círculo vicioso que culminaria com a sua extinção. Terminaria assim a esperança de uma paz duradoura.

A Rússia, mesmo sofrendo com os baixos preços do petróleo, continua investindo bilhões para salvar um país que já morreu.  Ao invés de planejar sua retirada da Síria, ela investe ainda mais nessa operação militar descabida. Basta um pequeno incidente fronteiriço com a Turquia (membro da OTAN) para acender uma faísca de consequências imprevisíveis.

Não estou acompanhando as primárias dos EUA, mas o nível dos discursos que ecoam na Europa não é nada inspirador. Evidentemente, a paz e a prosperidade mundial ainda dependerão da boa vontade dos EUA por mais alguns bons anos.

A proposta não foi escrever um post pessimista, mas traduzir um pouco das preocupações latentes. Entre erros e acertos, os atuais líderes das principais potências - Obama, Merkel, Hollande e Cameron - são bons, mas ameaçados em seus países pelo discurso da discórdia. A concertação entre eles é fundamental para controlar essas ameaças.


Foto: A caminho da Bretanha, fiz algumas paradas no interior da França durante as últimas férias de verão.  Nessa foto, a charmosa Lyons-la-Forêt, na Normandia.

Sunday, January 31, 2016

Maioria

O Zika chegou por aqui. Não o vírus em si, mas o noticiário, que tem dado mais atenção à doença, que tanto prolifera nas repúblicas bananeiras. De fato, o Brasil tem aparecido em dois tipos de notícias: as que falam do baixo crescimento mundial e aquelas sobre a crise do Zika. O Brasil decididamente tem um impacto relevante nesse mundo!

As notícias predominantes ainda giram em torno da questão dos refugiados e das medidas contra o terrorismo. Na última semana, a ministra da Justiça da França pediu demissão por isso. Até a poderosa Angela Merkel, personalidade do ano de 2015, pode ver a sua base de apoio ruir por conta do mesmo assunto.

O tema racha a sociedade europeia. Tomemos, por exemplo, os eventos de Colônia da noite de 31 de dezembro. Para quem não se lembra, um bando de imigrantes do Maghreb tomou conta da praça central da cidade. Centenas de mulheres que passaram por lá foram agredidas sexualmente.

Apesar da gravidade desse crime coletivo, o mundo só soube dele alguns dias depois. O sistema tentou abafá-lo. Polícia, prefeitura e imprensa, todos estavam preocupados com a não estigmatização dos agressores. Como se diz na França, queriam evitar o “amálgama”. A preocupação pode ser nobre, mas e as vítimas?

Uma grande parte da esquerda é extremamente zelosa com os direitos humanos dos bandidos. Isso acontece em todo o mundo. Diante dos fatos e da tolerância dos socialistas eleitos, insurge-se a extrema direita com suas ideias radicais. No debate ampliado pelas mídias sociais, ficamos com a impressão de que não existe solução intermediária entre não fazer nada e a criminalização generalizada dos imigrantes.

O governo da França, por exemplo, optou por um caminho mais duro. Prorrogou o estado de emergência e tenta adaptar-se aos novos desafios, modernizando as leis, reforçando a inteligência e mantendo a vigília.

Hollande e Valls estão certos. Ao invés de ficarem presos às ortodoxias do partido, compreendem que esse quadro mais complexo exige adaptação. São chamados de reacionários pelos colegas de esquerda e, de bananas pela extrema direita.

Ladram os cães da esquerda e da direita, enquanto a maioria permanece silenciosa. O exercício do poder parece ser mesmo solitário.



Foto: Última tomada do castelo Champ de Bataille com seus incríveis jardins. O conjunto foi restaurado completamente. O seu interior é uma galeria de arte com bom acervo, mas com pouca relação com a história do castelo.

Sunday, November 29, 2015

Outono

O foco está na COP21 sediada em Paris. Para proporcionar a segurança necessária aos governantes do mundo inteiro, a cidade foi praticamente bloqueada. Em paralelo às discussões sobre o clima, os mesmos protagonistas tentarão achar uma solução para a crise síria. A recente derrubada do avião russo pela Turquia não ajuda em nada.

Hoje pela manhã, cruzei mais uma vez com aquele, que inspirou o post  “Popular e Ladrão”. Sim, o Erdogan esteve por aqui para uma nova reunião de cúpula entre a Europa e a Turquia. A Europa quer que ele pare de despejar refugiados sírios nas praias gregas, que ele pare de escoar o petróleo do Estado Islâmico e ajude a combatê-los. O último pedido do Erdogan para aceitar o pleito europeu foi de 3 bilhões de dólares, a cabeça do Assad e um pau nos curdos. Assim fica difícil.

O presidente francês ganhou algum prestígio ao liderar a nação depois da tragédia. Pelo menos, ele serve para alguma coisa! A solidariedade internacional com a França não foi suficiente para formar uma coalizão de combate ao Estado Islâmico. Hollande ouviu alguns nãos durante a semana:  Obama, Putin e Merkel, entre outros.

Bruxelas teve uma semana de exceção, como descrevi no último post. A vida voltou ao normal depois de alguns dias sob estado de sítio. Paira no ar aquela pergunta que não quer calar. Se a situação não mudou e dois dos terroristas estão soltos por aí, então há algo de errado: ou o estado de sítio não deveria ter sido decretado ou não deveria ter sido relaxado. Mistério.

A imprensa francesa não tem perdoado a leniência belga com relação aos muçulmanos radicais. Entre todas as críticas, achei a do Le Monde a mais dura. O seu editorial de 24 de novembro diz: “esse Estado sem nação pode virar uma nação sem Estado”.

Vale uma explicação. A Bélgica é tida como um Estado sem nação, por ser uma federação que agrupa flamengos, valões e alemães. Diante do radicalismo islâmico, todos erraram. O momento é de rara união, evitando-se acusações mútuas. Entretanto, ao longo dos últimos anos, o assunto foi deixado de lado para não afetar o frágil acordo que mantém a Bélgica unida.

Essa história de nação sem Estado lembrou-me do Brasil. Nosso Estado não está desaparecendo, mas apodrecendo rápido. Fiquem tranquilos, pois a cura passa pela prisão em massa de petralhas, como – felizmente - está acontecendo.



Foto: No final de semana anterior aos atentados, pude passear no Parque da Cambre, aqui em Bruxelas, curtindo a paisagem de outono.