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Saturday, December 14, 2013

Santos e humanos


Impressionado com a unanimidade em torno de Nelson Mandela? Difícil achar algum artigo fazendo críticas a este grande personagem do nosso tempo. Gostei muito de um artigo de Adam Roberts, republicado no Estadão. Começa assim: “Devemos lembrar do maior ícone da luta contra o apartheid na África do Sul como uma figura humana calorosa e poderosa, um homem político e pragmático, mas não como um santo”.

Mandela está longe de ser um santo. Vê-lo dessa forma seria uma espécie de fuga. Seria messianismo ou, como diz o Arnaldo Jabor, o Sebastianismo luso-brasileiro. Seria acreditar que as grandes mudanças dependem exclusivamente de um salvador. Um convite a se aceitar qualquer situação, por pior que seja, por que somente o salvador poderá resolvê-la.

Nada disso. Mandela cometeu inúmeros erros. No seu governo, houve inúmeros casos de corrupção, compadrio e outras coisas tão comuns por aqui. Há também o escandaloso descaso com a AIDS e a eterna acusação de peleguismo pelos negros mais radicais. Nada disso tira o seu grande mérito. É um ser humano como todos nós, que também erra e tem seus vícios, mas fica para a história como aquele que possibilitou o fim de uma das maiores vergonhas do planeta. O homem certo, na hora certa, no lugar certo.


Obama desceu do pedestal e também mostrou seu lado mais humano. Acho que não houve malícia naquela animada conversa entre ele e os líderes do Reino Unido e da Dinamarca. Aquele momento tão à vontade provocou uma reação também muito humana da Michelle. Infelizmente - ou felizmente - as câmeras registraram tudo. Parodiando o velho ditado: O marido da primeira-dama não basta ser honesto, precisa parecer honesto.


E quem precisa parecer um pouco mais honesto é o governo brasileiro. Não falo de nenhum escândalo recente de corrupção, falo da possibilidade de se adiar a obrigatoriedade de uso de freios ABS e airbags a partir de janeiro de 2014. O Brasil já está atrasado nesse quesito e essa medida propiciará que muitas vidas sejam salvas. Conforme a resolução de 2009, a indústria já está preparada para o fim dos carros sem freios ABS e airbags. A essa altura do campeonato, trocar muitas vidas humanas por alguns décimos de inflação é imoral. O governo poderia até fazer suas contas, mas sem contar para ninguém!


Foto: Para quem gosta da temática militar, a visita ao Midway é um dos programas de San Diego. 

Wednesday, October 17, 2012

No reino da Dinamarca


2014 só lembra a Copa do Mundo no Brasil? Espero que não. Será no período desta tão festejada competição, que o mundo se lembrará do centenário do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, que deflagrou a I Guerra Mundial. Podemos dizer que, com as duas grandes guerras, este triste período da história recente terminou há apenas 67 anos, ceifando a vida de 70 milhões de pessoas.

Deixei para escrever este post aqui, na Europa. Mesmo sabendo da cessão do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia (UE) ainda no Brasil, optei por esperar alguns dias, para conversar com as pessoas e ler os jornais locais.

O Nobel da UE foi alvo de escárnio e protestos. É compreensível em face da enorme crise vivida pelo continente. É justamente aí que entra o prêmio. Antes que muitos se deixem seduzir pelos discursos oportunistas, que aquela memória curta interfira no pensamento coletivo, que o desespero se transforme numa crítica generalizada a todas as instituições, lembremo-nos do que foi conquistado. O projeto europeu é antes de tudo um projeto de paz, tendo a integração econômica como meio.

A piada é fácil. Entretanto, essa não foi a primeira e nem será a última crise. A Grécia não foi o primeiro e nem será o último país à beira do abismo. O Nobel serve de puxão de orelha na Alemanha e outros, para que se empenhem com mais determinação na solução da crise. O projeto de união monetária, que inclui alguns países da UE, foi no mínimo ousado. Talvez, errado.

O Nobel e as futuras celebrações em torno do centenário dos episódios chaves das duas grandes guerras são essenciais para lembrar às novas gerações do sombrio passado não tão remoto. Felizmente, a paz é um dos valores mais prezados num continente tão traumatizado pela guerra. Por isso, a grande maioria reconhece o mérito da honrosa premiação.

Bernard Tapie mencionou no Figaro de hoje um discurso de Mitterrand no Parlamento Europeu: “Durante a sua história, a França já fez guerra com todos seus parceiros do bloco, exceto a Dinamarca. Bem, sem dúvidas, é um pouco tarde para se entrar em guerra contra os dinamarqueses...”


Foto: Um cantinho de paz no Castelo de Windsor, o “Moat Garden”.