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Friday, May 29, 2015

Bons de bola

Antes de escrever essas linhas, conferi o que já havia dito sobre futebol neste blog. Em geral, meus comentários são negativos. Muito negativos.

“A Copa é rifada entre um grupo seleto de países e a FIFA é quem sempre ganha”

“O problema do futebol é o problema do Brasil: incompetência e corrupção. Não há fórmula que resista a esses dois males”

“Embora a fórmula do torneio seja muito sólida, tudo que está a sua volta fede. Fede muito”

“A FIFA é tão vilã quanto nossos craques, times, televisões, federações e outras entidades. Um depende do outro”

“Tudo o que leva o nome da FIFA tem sido motivo de piada”

Não mudaria nada. As recentes notícias do mundo do futebol evidenciam tais comentários. Mesmo que os EUA tenham seus interesses em desmoralizar a poderosa organização baseada na Suíça, as feridas serão irreversíveis.

O mundo do futebol vai rachar. É aquela trágica sina das organizações mafiosas. Chega uma hora, os bandidos começam a delatar uns aos outros. O futebol terá a sua “Lava-Jato”.

Boa parte do problema da FIFA não é comparável à bandidagem petista. Muita coisa foi construída na base da esperteza, da malícia e até de muito talento, sempre nos limites da legalidade.

Um dos maiores pecados da FIFA, no entanto, é fechar os olhos. Apesar de suas desmedidas ambições pecuniárias, o sistema do futebol possui milhares de atores roubando, desviando e sonegando. Nem a FIFA poderia sonhar com algum controle sobre tamanha roubalheira.

Não adiantar comemorar a prisão do Marin e fechar os olhos para o que acontece nos nossos clubes. Assim como a boa Política começa com a supervisão direta dos nossos representantes, o bom futebol começa nos clubes. Nos EUA, o Neymar estaria em cana.  Tem que prender todo mundo!


Foto: Ainda nos jardins do Domínio Real de Mariemont.

Sunday, April 19, 2015

Fênix

Faz tempo que não escrevo por aqui. Uma das razões é que faz tempo que não paro em algum lugar. Se tudo der certo, continuarei assim por mais alguns meses, aproveitando a primavera e o verão europeu.

Entre inúmeros compromissos, também passei pelo Brasil. Foi um “pit-stop” para renovar alguns documentos. A burocracia brasileira ainda é campeã em criar documentos que expiram em poucos anos. Por outro lado, o Poupatempo paulista funciona e os cartórios estão bem informatizados. Assim, meus problemas - que não deveriam exisitr - foram resolvidos facilmente. Criam-se dificuldades, vendem-se facilidades.

Depois de alguns meses de ausência do Brasil, a alta dos preços foi notável. Tudo que pude consumir estava mais caro, entre serviços e mercadorias. Além dos preços, vi muita gente reclamando dos negócios e da perspectiva.

Não é a economia em má fase que mais me assusta. A crise político-institucional é muito grave. O governo Dilma e a máquina petista são asquerosos. O pior de tudo é que o impeachment está longe de ser uma solução.  

Por aqui, o Brasil é motivo de chacota. Piada sobre a corrupção generalizada, piada sobre a Petrrobrás, piada sobre o crescimento e assim por diante. Melhor mesmo voltar às piadas do 7X1.

Com todas as ressalvas a este governo incompetente e corrupto, estou naquela fase de ter que defender o país como um todo. Afinal, o Brasil é muito mais do que um bando de esquerdistas mafiosos.

Para defender a honra nacional tenho apelado para chavões como: “é só uma fase ruim”, “a gente vai dar a volta por cima”, “governos sobem e caem”,  “depois da tempestade vem a bonança”, “vamos renascer das cinzas”, etc. Que assim seja.


Foto: Fechando a série sobre Antuérpia, um detalhe encravado no casario típico flamengo.

Friday, January 2, 2015

Tiririca

Desanimados com 2015? Não somos os únicos. Muitos brasileiros abandonaram o eterno otimismo para se juntar às hordas de pessimistas.

Desde as eleições, todos os brasileiros que encontrei estavam frustrados com o país. Não faltam motivos: a economia andando de lado, os sucessivos escândalos de corrupção, a inflação persistente, a insegurança e, sobretudo, a falta de perspectivas.

Em todas as rodinhas com estrangeiros, nas quais pude participar, os comentários sobre o Brasil eram  negativos. No mínimo, fala-se em grande decepção.

Durante o segundo semestre, sempre que meus colegas europeus falavam sobre a Copa, mudava de assunto. Agora, talvez seja prudente evitar também política e economia brasileira. Vou atualizar-me sobre nossas artes para poder mudar de assunto.

Nesse quadro difícil, entra em cena a Dilma e seu ministério selecionado a dedo. Uma  trupe de incompetentes e corruptos disposta a afundar ainda mais o Brasil. Afunda, mas não mata. Se serve de consolo:

- Nos próximos quatro anos, milhões perceberão que as coisas não vão bem. Aquilo que pode ser óbvio para alguns ainda não atingiu o Brasil inteiro. São os rincões que elegeram a presidente e também os inúmeros simpatizantes de Lula e Dilma, que ainda não acordaram.

- A Dilma é herdeira dela mesma (e do seu mentor). A conta da Copa e das Olimpíadas vai ser paga por ela mesma, assim como todos os demais excessos e desvios. Qualquer outro governante teria muitas dificuldades no mandato 2015-2018. Prefiro que a própria Dilma administre o seu legado a escutar quatro anos de desculpas.

- As mudanças de que o Brasil precisa talvez não estejam nem na agenda do Aécio nem da Marina. Tem coisa que a gente só faz quando está diante de um risco maior.

No entanto, acredito que possamos ter uma grata surpresa. Face à uma difícil conjuntura e um governo tão ruim, esperamos pelo pior. Peço licença para recorrer ao filósofo e político Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido pela alcunha que intitula este post: “pior não fica”.

O “pior não fica” é fundamentado na resistência natural da sociedade, em lampejos de ética e  governabilidade, e até na melhora do quadro externo. Enfim, este segundo mandato da Dilma vai ser complicado, mas o Brasil resiste bravamente. Feliz 2015!



Foto: Começo 2015 com uma série de fotos (sem grandes pretensões) tiradas pelo celular, que acabam sendo arquivadas e retocadas automaticamente pelo Google. Achei que o conjunto tem uma história a ser contada. Acima, um dos principais eixos comerciais de Bruxelas, a Avenue Louise, bem perto de casa.

Monday, July 21, 2014

Mudança

Enquanto a Copa capturava nossas atenções, nossos partidos políticos confirmaram seus candidatos e fizeram alianças daquele velho jeitinho. Nada de discussões programáticas, apenas o velho toma-lá-dá-cá de olho no tempo na TV. No plano internacional, a crise da Ucrânia e os conflitos do Oriente Médio só pioraram. Enfim, seria melhor voltar para a Copa...

Nesse mesmo período, estava ocupado com minha mudança. Uma expatriação sempre dá trabalho. Certamente, vou compartilhar muitas coisas vividas aqui na Europa neste blog, assim como fiz anteriormente.

Moro na parte central de Bruxelas. Já conhecia o “caminho da roça”, mas ainda não a ponto de dispensar o Waze. Por via das dúvidas, estou com Waze em dois celulares com duas operadoras distintas, caso um falhe.

Mais uma vez, cheguei a Bruxelas sob céu azul. Baseado na fama da cidade, já estourei minha cota de tempo bom. Conferi com os locais e tirei mesmo a sorte grande: 2014 tem sido um ano excepcional.

Escrevendo este pequeno texto com um olho no computador e outro na TV, percebo que ainda estou ligado na TV francesa. Também continuo lendo os jornais franceses. Peço aos belgas, que leem meu post com a ajuda do Google, algumas dicas. Que não seja em flamengo, é claro.

A mudança em si não tem data para chegar. Da outra vez foi a mesma coisa. Se o pessoal das alfândegas brasileira e belga não fizer greve, ainda estou no lucro. O importante é que o wifi aqui de casa está funcionando desde o primeiro dia.



Foto: O Guggenheim de Bilbao merece mais de uma foto neste blog. Na foto, a sua entrada.

Thursday, July 17, 2014

Copa - Epílogo

A minha mudança para a Europa, um dia depois do final da Copa, foi programada há algum tempo. Imaginei uma chegada triunfal. Com a camisa da seleção, envolto numa bandeira ou com uma réplica da tão desejada taça. Bem, vocês podem imaginar que houve uma pequena mudança de planos. Pois é, felizmente, conheço a porta dos fundos lá do meu novo escritório em Bruxelas.

Estou com saudades daquelas provocações, que os franceses ainda fazem sobre os 3X0 de 1998. É uma brincadeira saudável. O silêncio é muito pior. As pessoas fazem uma volta tremenda para falar comigo sobre a Copa a fim de se evitar constrangimento. Isso sim é humilhante!

Até tive tempo para escrever mais um post sobre a Copa. Porém, assim como vocês, amarguei a derrota. Vocês já devem ter lido um monte de artigos sobre o trágico desempenho do Brasil. Acho que muitos exageraram nas conclusões. Nem um jogo nem um torneio “mata-mata” podem servir de base para as inúmeras teorias que surgiram por aí, que extrapolam o universo futebolístico. Vamos com calma!

Quero crer que a derrota acachapante da seleção traga alguns frutos. Talvez possa alavancar uma reforma na gestão do nosso futebol. Não precisamos voltar para o futebol-arte do Telê, mas precisamos sair do futebol-lixo do Felipão.

A derrota humilhante também afastou qualquer possibilidade de uso político do evento. A Copa fez muita gente acordar para a irresponsabilidade da gestão pública e a mentira do seu legado. O questionamento chegou tarde. Bem, antes tarde...

Por ironia do destino, a máfia dos ingressos, que passou incólume por outras Copas, foi desbaratada no Brasil. A FIFA sai arranhada da Copa. Embora a fórmula do torneio seja muito sólida, funcionaria até no Iraque, tudo que está a sua volta fede. Fede muito.



Foto: A atração turística número um de Bilbao, o Guggenheim. Não preciso dizer que o prédio em si - projetado por Frank Gehry - atrai mais gente do que o acervo do museu.

Sunday, July 6, 2014

Ainda sobre a Copa

A Copa é um espetáculo grandioso com partidas disputadíssimas e repletas de emoções. Entretanto, se havia um futebol alegre, gols em abundância e algumas surpresas, tudo isso ficou na primeira etapa.

Entre as oitavas e quartas, valeu a velha máxima “jogaram como nunca, perderam como sempre”. É mais ou menos o que disse no último post. Alemanha, Argentina, Brasil e Holanda eram barbadas. Se quiser apostar na Copa da Rússia, não tenha dúvidas, mantenha os três primeiros e troque a Holanda por outro país europeu.

O “mata-mata” trouxe um futebol burocrático e defensivo. O suspense é garantido, pois as partidas vão para prorrogação, quando não são decididas nos penalties. Podemos dizer que é outro futebol!

Estava preparado para fazer um post contra o “mata-mata”, mas fui traído pelos resultados desta Copa. Nenhuma zebra entre as quartas e oitavas. Os primeiros lugares de cada grupo foram os oito finalistas. Valeu o mérito. A FIFA venceu!

No entanto, se por alguma casualidade, a Holanda tivesse caído diante do México (como quase aconteceu) ou o Brasil diante do Chile (como quase aconteceu), ninguém poderia reclamar. Afinal, nesta Copa, ninguém está batendo um bolão.

A festejada Costa Rica saiu da Copa invicta. Melhor defesa, linha de impedimento impecável, só sofreu dois gols. Por outro lado, com exceção da vitória sobre o Uruguai, é um time que quase não fez gols. Enfim, se todos os times fossem a Costa Rica, o futebol estaria perdido.

Na fórmula da FIFA, o futebol é globalizado e pasteurizado. Dizer que nivelou por baixo talvez seja um exagero. Contudo, depois que o Brasil abriu mão do “futebol-arte”, qualquer equipe é dispensável. Usando a linguagem dos comentaristas, a Copa é “rifada” entre um grupo seleto de países e a FIFA é quem sempre ganha.

Torço para que a final da Copa seja Brasil X Argentina, como previram cerca de 180 milhões de comentaristas esportivos do Brasil. O futebol europeu já manda demais. Acho sempre bom lembrar que os talentos nascem deste lado do Atlântico.



Foto: Mais um pôr do sol em San Sebastian, País Basco.

Thursday, June 26, 2014

Profecias

Depois do último post, assisti a alguns jogos e acompanhei todos os resultados. Estou bem informado e tão bom de previsões como o Felipão, mas ainda muito longe da dona Maria, a faxineira.

Os próximos adversários do Brasil serão o Chile e o vencedor de Colômbia X Uruguai. O Felipão, cheio de assessores e respirando futebol o dia inteiro, havia previsto Holanda e Itália.  Errou feio. Assim como muita gente.

O emparelhamento do Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai acaba com a “Copa América”. Dos quatro, sobrará apenas um semifinalista. Muito provavelmente, entre todos os semifinalistas teremos uma distribuição mais tradicional de europeus e latino-americanos.

Voltando ao Felipão, o sábio. Ele previu a final da Copa entre Brasil e Argentina, assim como toda a torcida do Flamengo e a dona Maria. A diferença é que a dona Maria nem olhou para a tabela da Copa para fazer sua profecia.

Copa do Mundo é assim mesmo, a gente sabe (mais ou menos) o final, mas não tem a menor ideia de como se vai chegar lá. E que vengam los Hermanos!



Foto: As esculturas de Eduardo Chillida ornam a orla de San Sebastian, mais especificamente ao final da praia de Ondarreta.

Friday, June 20, 2014

Eu e a Copa

Até agora, só pude ver o jogo de abertura da Copa. Depois disso, mais nada! Mesmo assim, eu e meus colegas continuamos acompanhando. Uma janelinha aberta com o placar do jogo, uma ligadinha na televisão no intervalo das reuniões, uma olhadela na TV de um bar indo para o jantar e assim por diante. Sempre tem um jeitinho de saber o que está acontecendo.

A essa altura do campeonato, os comentários sobre o Brasil e a organização do evento são raros. Meus colegas europeus surpreendem-se com o desempenho das equipes latino-americanas. Os franceses saíram da apatia habitual e começam a ver a competição com outros olhos depois da surra aplicada na Suíça nesta tarde. Os belgas estavam muito otimistas, mas depois da vitória suada sobre a Argélia, estão mais comedidos.  E, finalmente, todos nós festejamos a eliminação precoce da Espanha e da Inglaterra.

Enfim, vista de fora, a nossa Copa parece como todas as outras. Tudo padrão FIFA. A única anormalidade transmitida para o mundo foi aquela bagunça do jogo Espanha X Chile.  Nem sem direito o que aconteceu, tudo indica que foi exceção e não regra.

A Copa é o que passa na TV. Se a imprensa não falar de quantos estrangeiros foram assaltados ou perderam-se por aí, ninguém vai saber.  Nessas horas, um pouco de distância é ótimo. Afinal, vai saber o que pode ter acontecido na África do Sul!

Se o meu último post foi escrito no lounge da Air France, este está sendo redigido no da United. Estou voltando para ver dois jogos ao vivo, um em São Paulo e um no Rio. Agora sim, chegou a hora de ver a Copa de perto. Até breve!



Foto: Pôr do sol em San Sebastian, País Basco.

Wednesday, June 11, 2014

É amanhã!


Voltei! 

A minha série de viagens ainda vai até julho. Sem tréguas. Passo por Guarulhos todo fim de semana. Ou estou indo ou voltando. Até mesmo voltando e indo num mesmo fim de  semana!

Nessa longa ausência, pensei em escrever muita coisa do que vi na Europa e no Brasil. 

Quase escrevi um post sobre as eleições europeias. Vocês viram que a forte abstenção do eleitorado permitiu a eleição de mais representantes da extrema direita. O pior de tudo é que a imprensa dá muita atenção a eles. Eles falam barbaridades. Na lógica populista, estão no lucro. Lamento pelo espaço que recebem: “Falem mal, mas falem de mim”.

Quase escrevi um post sobre o atentado terrorista ocorrido em Bruxelas. O suspeito já foi detido. Como se não bastasse o baile que deu no serviço secreto francês, só agora o governo admitiu que suas prisões sejam academias de terrorismo islâmico. Eu e toda a torcida do PSG, do Lyon e do Marseille já sabíamos. Tem até filmes com essa temática. 

Quase escrevi sobre a Alstom. Nada a ver com as investigações em curso no Brasil. A empresa esteve no centro das atenções. Primeiro, foi a mega encomenda de trens do governo francês dividida entre Alstom e Bombardier. Trens novíssimos. Tão novos que nem passam pelas estações existentes! 

Depois, diante de uma tentativa de aquisição da Alstom pela americana GE, a classe política e empresarial gaulesa uniu-se para mantê-la sob controle nacional. Cá entre nós, a GE deveria agradecê-los!

Finalmente, a Copa, um assunto onipresente. Aqui na Europa, o envolvimento da população não chega ao mesmo patamar do Brasil, mas estão todos ligados. Já me convidaram até para participar de alguns bolões.

Ontem à noite, rodando pelos canais das TVs europeias, passei por três documentários sobre o Brasil e a sua Copa. Cheios de clichês sobre favelas, mas ainda assim muito interessantes. Apesar de mostrar algumas das mazelas brasileiras, a visão é mais otimista do que a nossa. 

Comentei sobre o ressentimento dos brasileiros contra a FIFA num post anterior. A imprensa mundial pegou o gancho dos protestos brasileiros para também atacar a entidade, com um histórico pouco invejável de denúncias de corrupção. A batalha da crítica internacional é outra, por transparência e governança. O que importa é que estão todos contra a FIFA e esta Copa deve balançar as coisas na Suíça.

Às vésperas do Mundial, lembro dos inúmeros artigos que apareceram na imprensa e blogosfera sobre o entusiasmo de parte da população com a Copa. Confesso que, em outras Copas, comecei com indiferença, mas acabei contagiado. Não tem como!

Cada um que torça ou não torça do seu jeito. Não faço a menor ideia do que vai acontecer nos próximos dias do ponto de vista esportivo, organizacional, institucional ou social. Que seja o melhor para o Brasil. Alea jacta est!



Foto: Entre as ruelas do centro velho de San Sebastian, o esplendor barroco.

Sunday, April 27, 2014

Bode

Todos os problemas da nação são mais graves em ano de eleições. Entretanto, 2014 parece ser um ano especial. Vivemos uma estagnação econômica, a iminência do apagão, o risco de falta d’água e até uma epidemia de dengue, coisas que acontecem de tempos em tempos, mas não no mesmo ano.

A avalanche de denúncias de corrupção, propícia do clima pré-eleitoral, está indo mais longe do que o habitual. A nação está mais dividida do que nunca.

Diante de tantas evidências de um Brasil que não dá certo, o clima de revolta com a Copa do Mundo tende a piorar. Escrevi em janeiro que o tempo de protestar contra a Copa já passou. Quem quiser protestar contra a situação, que escolha um alvo mais adequado e, no mínimo, que vote melhor em outubro.

Nesse ambiente nada motivador, fico espantado com a parcela da população que escolheu a FIFA como grande vilã, causadora dos nossos males. A moda pegou.  Parece bobagem, mas não é. Trata-se de um problema recorrente, o bode expiatório. Esquece-se das seculares mazelas brasileiras e elege-se um culpado. Muito simples.

 A FIFA paga pelo sucesso com que gere o futebol, o esporte número um do mundo. Organiza campeonatos milionários e movimenta bilhões, fazendo inveja a qualquer outra organização mundial. No sistema do Futebol, a FIFA é tão vilã quanto nossos craques, times, televisões, federações e outras entidades. Um depende do outro.

O aspecto discutível é se o padrão imposto pela FIFA não obriga a um país pobre desviar gastos sociais para a organização do evento. A resposta da FIFA: “Foi o Brasil que pediu para realizar a Copa”.  Dá para discordar?  Cá entre nós, sem roubalheira e com um pouco mais de planejamento, a Copa não seria tão intragável.

O apito inicial está próximo. Fica a dúvida se a Copa entra ou não para o rol de tragédias de 2014, seja pelo sucesso do evento ou pelo desempenho da Seleção. A proximidade com a Páscoa sugere que só mesmo uma sequência de pragas de proporções bíblicas seja capaz de derrubar a nossa Faraó. Ou seria Faraôa?


Leiatambém: #NãoVaiTerCopa


Foto: O velho porto de San Sebastian ganha um colorido especial em dia de regata de pesqueiros.

Saturday, March 29, 2014

Ouro negro

Enquanto estava fora, a discussão sobre a gestão da Petrobrás pegou fogo. Sempre é positivo que a realidade venha à tona, mas a reação geral é um pouco surpreendente. Explico melhor a seguir.

Um bom pedaço do rombo da Petrobrás está no nosso próprio bolso. É o controle de preços imposto pelo governo, que usa a empresa como seu braço. A tão amada Petrobrás ajuda a controlar inflação, fazer política industrial e até cultural. Pode ser legal, mas é imoral, sobretudo com os demais acionistas. Estes sim, são prejudicados e desrespeitados continuamente. São os grandes perdedores.

Com relação à corrupção, ora bolas, o governo petista mete as mãos em tudo o que é possível, por que deixaria a Petrobrás de fora? Roubar na saúde e na educação não é pior? Depois da Copa e das Olimpíadas, o que é uma mera refinaria?

Vejo certa incoerência daqueles que clamam: "roubem tudo menos a Petrobrás". Seriam  liberais de verdade? O verdadeiro liberal está entre aqueles que dizem: "vendam a Petrobrás!"

Os casos de corrupção e incompetência em voga são escandalosos. Não vou comentá-los individualmente por falta de informações. Tenho certeza de que existem muitos outros.

Se tudo isso for munição para a campanha eleitoral e vier para abalar a Dilma e sua corja, que seja bem vindo! Afinal, esse é o destino dos maus governantes e dos bandidos mais célebres: são punidos pelos motivos errados.


Foto: Na última foto de Amsterdam, o Nemo, o Museu de Ciências.

Saturday, February 22, 2014

Mercado

Geralmente associamos os cartéis às grandes corporações. O recente imbróglio ferroviário paulista é mostra disso. Entretanto, a manipulação do mercado, o cerceamento da concorrência e a imposição de barreiras de entrada são mais banais do que parecem.

Tomo dois exemplos recentes de coisas que estão mais perto da gente do que a contratação de trens, um caso francês e outro brasileiro.

Paris é conhecida pela falta de táxis. Se você não estiver a fim de usar o transporte público, vai depender da loteria que é achar um táxi livre pelas ruas da cidade. Quando achar, ainda existe a chance de que o motorista recuse a viagem. Ah, sim! Isso é muito comum por lá.

O preço do táxi francês é controlado, como em muitos lugares do mundo. O problema está na oferta. A união dos taxistas transformou aquilo num clube fechado. O número total de veículos permanece o mesmo há muito tempo. Um novo motorista só entra se um outro sair e ainda pagando um prêmio de 200 mil euros. Apesar das investidas do governo, a categoria resistiu e não deixou aumentar a frota.

A saída do governo foi criar o serviço de locação de carros de turismo com motorista. Parece complicado? Na prática, é quase a mesma coisa do que o bom e velho táxi. A diferença é que não existe a possibilidade de chamá-los sinalizando-se para o motorista, usa-se exclusivamente a Internet, algo que, por sinal, também tem se tornado comum entre os táxis. Vários serviços como Allocab e Snapcar começam a comer o mercado pelas bordas e transformar Paris numa cidade tão boa para os negócios como é para o turismo.

Já o governo brasileiro tem uma mentalidade diferente. Todos estão alarmados com o aumento dos custos de hotéis e restaurantes em algumas sedes da Copa. Nosso governo está aparelhando-se para o controle de preços ao invés de ter trabalhado para aumentar a oferta há alguns anos. Tarde demais para revogar a lei da oferta e da procura!

Vou ao Maracanã participar da grande festa. Tive que me contentar com um bate e volta de São Paulo. Achei absurdo pagar bem mais de mil reais por noite em hotéis de segunda.

O Rio é mesmo um caso à parte, mas não precisava ser o lugar mais caro do mundo. Mesmo sem Copa e sem Olimpíadas, a cidade já tinha diárias monegascas. Não é novidade para ninguém que existe um cartel de hotelaria na cidade.

Enfim, os grandes cartéis corporativos são manchetes de jornais e alvos de multas milionárias. Mas, no dia a dia, são os pequenos cartéis que nos esfolam.


“People of the same trade seldom meet together, even for merriment and diversion, but the conversation ends in a conspiracy against the public, or in some contrivance to raise prices.”
Adam Smith (A riqueza das nações, 1776)



Foto: Outro cantinho de Amsterdam, foto tirada nas minhas férias de 2013.

Saturday, February 8, 2014

Sochi

Se algum brasileiro está muito preocupado com os grandes eventos esportivos de 2014 e 2016, existe um atenuante. A expectativa é tão ruim, que dificilmente faremos pior. Já para o governo, aconteça o que acontecer, será sempre um sucesso.

Seremos perdoados. Não precisamos mais nos comparar com a Rússia e sua suntuosa sede de Sochi. No ranking econômico, a Rússia e a China estão num patamar acima, são países propulsores do desenvolvimento mundial, aquilo que sobrou do antigo BRIC. O Brasil, agora, é parte do grupo "fragile five", com a África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia. O mais triste é que o custo dos grandes eventos nos deixará ainda mais frágeis.

Apesar do bilionário investimento feito em Sochi, os hotéis inacabados viraram motivo de chacota. Mesmo que todo o resto dê certo, Sochi é um escândalo. Os russos - e os europeus em geral - enxergam a organização das Olimpíadas do frio, da mesma forma que nós vemos os eventos locais: corrupção, roubalheira, improbidade, indecência, etc.

Nas palavras da Economist: "Corruption comes in different forms: overstating costs, giving contracts to friends and relatives (some of whom have no qualifications) and reworking the same construction site several times over to justify charging more. Most of the money came directly from the state or via state banks".

Não se assustem com a familiaridade do texto, o Brasil ainda é institucionalmente mais evoluído do que a Rússia.

Para não ficar só em desgraça, confesso que estou esperando pelo campeonato de curling e que gostei muito da abertura dos Jogos. Acho que o uso de projeções digitais está apenas começando e tem grande potencial. É certamente uma ferramenta para se valorizar grandes eventos e cidades sem graça como São Paulo.


Veja também: Campeonato de corrupção em Sochi


Foto: O Begijnhof de Amsterdam, algo como uma vila de beatas. A origem dessas comunidades é medieval. Outras cidades holandesas e flamengas ainda conservam seus Begijnhof. Possivelmente, publicarei algumas dessas fotos.

Saturday, January 25, 2014

#NãoVaiTerCopa

Tarde demais para reclamar da Copa. Os manifestantes que ameaçam bagunçar o país estão alguns anos atrasados. O pior de tudo é que a conta da Copa ainda nem chegou!

Atrapalhar o evento não vai resolver muita coisa. Talvez nem perturbe a campanha da Dilma, que se fará de vítima dos bagunceiros. O saldo poderia ser mais uma mancha na já não tão sólida imagem do país.

Por outro lado, não podemos deixar de ver o lado positivo do movimento. Eles acordaram tarde, mas acordaram. Quem sabe, estarão mais atentos a tantos outros maus usos do dinheiro público. A Copa foi a sua lição número um.

A outra boa notícia é que o PT perdeu o monopólio da bagunça. Embora seus infiltrados tenham conseguido esvaziar as manifestações do ano passado, parece evidente a existência de outras forças espontâneas querendo ir às ruas. Vai ficar mais difícil governar com o enfraquecimento do poder de comando do PT sobre os manifestantes legítimos e arruaceiros de plantão.

A Copa e seus estádios bilionários não caracterizam apenas um episódio de incompetência e facilitação da corrupção deste governo. No país do futebol, é uma crueldade. O povão percebeu muito tardiamente que pagaria, mas não teria acesso. O prêmio de consolação será uns "rolezinhos" em torno dos estádios.

Se Lula e Dilma fossem menos arrogantes e gananciosos talvez tivessem procurado um modelo de Copa "light" como fez a África do Sul.  Só com a diferença de investimentos nos estádios, eles economizaram alguns bilhões de dólares. Montante suficiente para pagar nosso satélite recentemente perdido, nossa base na Antártica incendiada e alguns Gripen. A propósito, a África do Sul têm dois satélites, duas bases na Antártica e uma frota de Gripen.


Leia também: Circenses, de 21/10/2012


Foto: Mais uma tomada dos canais de Amsterdam (agosto de 2013).

Wednesday, January 1, 2014

2014 - Prólogo

2014 já estava destinado a ser um ano do esporte, especialmente para nós brasileiros. É quase certo que não daremos muita bola para os Jogos Olímpicos de Inverno, mas o clima de Copa do Mundo por aqui deve ter poucos similares no planeta.

Os últimos acontecimentos garantirão que o esporte cumprirá seu papel de grande circo. Em 2014, acompanharemos as recuperações do Anderson Silva e do Michael Schumacher, além dos esforços para se realizar algum campeonato brasileiro de futebol.

As eleições gerais ficam num segundo plano. Talvez seja melhor assim. Como escrevi em "Eco", não adianta dizer para vocês que o governo da Dilma é ruim, por que vocês já sabem. Não adianta dizer que estamos sendo roubados, por que vocês já sabem. As eleições do ano que vem podem expelir um ou outro "ficha suja", mas, no geral, não devem mudar o quadro político.

Nesses dias entre Natal e Ano Novo, percebi como é difícil derrotar qualquer presidenciável herdeiro de Lula. Os inúmeros críticos do PT são unânimes em relação à sua fraqueza ética. No resto, há divisão. O PT agrada e desagrada à esquerda, assim como agrada e desagrada à direita.

Um esquerdista puro provavelmente está furioso com a recente onda de privatizações. Também não aprecia a forte influência do lobby religioso no governo. Já o direitista não suporta o tamanho da máquina governamental nem a extensão dos programas sociais.

Face ao programa frankensteniano do PT, tanto a direita como a esquerda têm dificuldades de se opor totalmente. Não dá para ser coerente. Além do mais, as escolhas de Lula e Dilma  estão alinhadas à opinião pública. Talvez seja por isso que os candidatos da oposição sejam tão facilmente pulverizados. A oposição deve procurar um outro caminho. Por enquanto, só um candidato do PT poderia bater o próprio PT.

Finalmente, lembro de mais um assunto sério de 2014, o centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Levantei o tema em 2012 no post "No Reino da Dinamarca". Voltarei a ele antes da Copa ;-)


Post de 17/10/2012 - "No Reino da Dinamarca"


Foto: O "Botanical Building" do Balboa Park em San Diego.

Saturday, December 7, 2013

Mandíbula


Agora ninguém mais segura, entramos no clima de Copa do Mundo. Com a realização do sorteio das chaves, a elite do pensamento nacional começa uma longa fase de conjecturas. Logo mais, aparecerão os "bolões". Aqueles nos quais você coloca toda sua sapiência e conhecimento futebolístico, mas, no final, quem ganha não sabe nem o que é impedimento.

Não tenho nada contra o mundo mágico futebol. Pelo contrário. Só espero que sobre algum espaço na mídia para se continuar tentando melhorar o país, investigando e denunciando.

Nos últimos dias, cheguei à conclusão que a imprensa deve dar mais espaço ao ex-presidente Lula. Deixem-no falar. Dêem-lhe cordas. A história recente do país só tem a ganhar.

A mídia assinalou muito bem três lapsos recentes de Lula. O primeiro foi o escandaloso "estamos juntos", dito pelo telefone ao presidiário José Dirceu. Dispensa comentários.

No segundo, talvez menos espetacular, disse "a lei só vale para o PT", reconhecendo que o STF, liderado pelo lunático Joaquim Barbosa, aplicou a lei.

Ontem, ao receber o título de doutor honoris causa da UFABC (!), dirigiu-se a Dilma e esbravejou: “Depois que ele se forma doutor, não espere que ele ficará agradecido. Ele vai para a rua fazer manifestação contra você”. Lula finalmente reconheceu que as manifestações também foram contra o governo petista, contrariando todo o esforço dos seus companheiros.

Enfim, deixem o Lula falar! Atos falhos podem não ser aceitos como provas criminais, entretanto a sociedade clama por esclarecimentos sobre seus laranjas, filhos e amantes. O Brasil sempre sonhou ter um líder como Madiba, mas ganhou mesmo uma grande mandíbula.


Foto: Montagem com algumas fotos tiradas no zôo de San Diego, um dos melhores e maiores parques do gênero do mundo.

Sunday, October 13, 2013

Le cirque des ténèbres

Dizem que a série A do campeonato brasileiro de futebol está muito equilibrada ou nivelada por baixo. Eu digo que a atual classificação é a cara do Brasil! Nada mais coerente com a nossa realidade social, política e econômica.

Os quatro times a serem rebaixados são nossos miseráveis. Os demais 12 times, que ainda não descartam a possibilidade de rebaixamento, são aqueles que saíram do status de pobreza absoluta graças aos programas sociais, mas ainda estão longe de ser uma classe média de verdade. O Cruzeiro, isolado lá na frente, representa a nossa elite, a classe A mais um bom pedaço da classe B.

Os clubes agem com a mesma ética dos nossos partidos. Preparam as desculpas para um eventual rebaixamento, começam a buscar bodes expiatórios. Culpam a tabela, o campeonato, o calendário gregoriano, a semana de 7 dias e assim por diante.

Um grande clube paulistano fala de cansaço. Eu entenderia se o Cruzeiro alegasse cansaço, mas quem namora o rebaixamento desde o início do campeonato não tem a menor condição moral de fazê-lo.

Muitos criticam a falta de planejamento. A fórmula de 20 times cruzando-se em dois turnos é universal. Sabemos de antemão todos os 38 jogos e as suas datas. O que mais querem? Combinar os resultados?

O problema do futebol é o problema do Brasil: incompetência e corrupção. Não há fórmula que resista a esses dois males.

Não ligo se meu time for rebaixado e nem se o Brasil não for campeão em 2014. Porém, não posso concordar com a CBF, quando diz que o futebol não depende do governo. É uma piada de mau gosto diante dos gastos com a Copa do Mundo.

Além de tudo, as transações de jogadores são fraudes explícitas ao Fisco e quase ninguém nesse mundo paga os mesmos 27,5% (teto) que são descontados implacavelmente do meu e dos seus salários.

Nosso circo preferido está ficando muito caro!



Foto: Ainda em Bruges, nas proximidades do "begijnhof" local, uma espécie de condomínio de beatas. Talvez, elas ainda acreditem na seriedade dos clubes de futebol.

Friday, June 21, 2013

Elefantes

Ainda no começo da semana, numa reunião do nosso comitê diretor, disse para meus pares - todos estrangeiros - não se impressionarem com as notícias sobre o Brasil, pois não estávamos diante de uma "primavera brasileira". Errei.

Admiro a mobilização. Fiquei encantado com as hostilidades ao pessoal ligado a partidos. Porém, ainda acho que, sem uma pauta mais precisa, o movimento pode enfraquecer. Veremos nos próximos dias. Encontrei tantas coisas interessantes para explicar e sustentar tais manifestações, que resta pouco a acrescentar.


Na França, li uma matéria enorme do Le Monde sobre os elefantes brancos brasileiros. Saibam vocês que a preparação do Brasil para a Copa é motivo de piada. Eles sabem que os estádios estarão prontos, o problema é fora deles.

Os gastos com a Copa aparecem na pauta dos manifestantes. Apesar de ser apenas uma gota d´água no oceano da corrupção brasileira, é uma gota que cai nos nossos olhos diariamente, como se fosse aquele colírio bem ardido. Abrir mão da Copa e dos Jogos Olímpicos depois de fazer boa parte do investimento seria um grande desperdício. É pena que o povo tenha acordado muito tarde.

O mesmo argumento vale para os Jogos Olímpicos. A essa altura do campeonato, a Expo 2020 em São Paulo está ameaçada. De todos os três eventos, simpatizava mais com a Expo. Ele é mais modesto, pode até deixar uns elefantinhos brancos, mas permite passar a limpo um bom pedaço da cidade, no caso, Pirituba.

Ficarei fora do Brasil nas próximas duas semanas. Conto com todos vocês para me representarem nas ruas de São Paulo ;-)


Foto: A margem do Tejo na área onde foi a Expo 98 de Lisboa.

Wednesday, October 17, 2012

No reino da Dinamarca


2014 só lembra a Copa do Mundo no Brasil? Espero que não. Será no período desta tão festejada competição, que o mundo se lembrará do centenário do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, que deflagrou a I Guerra Mundial. Podemos dizer que, com as duas grandes guerras, este triste período da história recente terminou há apenas 67 anos, ceifando a vida de 70 milhões de pessoas.

Deixei para escrever este post aqui, na Europa. Mesmo sabendo da cessão do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia (UE) ainda no Brasil, optei por esperar alguns dias, para conversar com as pessoas e ler os jornais locais.

O Nobel da UE foi alvo de escárnio e protestos. É compreensível em face da enorme crise vivida pelo continente. É justamente aí que entra o prêmio. Antes que muitos se deixem seduzir pelos discursos oportunistas, que aquela memória curta interfira no pensamento coletivo, que o desespero se transforme numa crítica generalizada a todas as instituições, lembremo-nos do que foi conquistado. O projeto europeu é antes de tudo um projeto de paz, tendo a integração econômica como meio.

A piada é fácil. Entretanto, essa não foi a primeira e nem será a última crise. A Grécia não foi o primeiro e nem será o último país à beira do abismo. O Nobel serve de puxão de orelha na Alemanha e outros, para que se empenhem com mais determinação na solução da crise. O projeto de união monetária, que inclui alguns países da UE, foi no mínimo ousado. Talvez, errado.

O Nobel e as futuras celebrações em torno do centenário dos episódios chaves das duas grandes guerras são essenciais para lembrar às novas gerações do sombrio passado não tão remoto. Felizmente, a paz é um dos valores mais prezados num continente tão traumatizado pela guerra. Por isso, a grande maioria reconhece o mérito da honrosa premiação.

Bernard Tapie mencionou no Figaro de hoje um discurso de Mitterrand no Parlamento Europeu: “Durante a sua história, a França já fez guerra com todos seus parceiros do bloco, exceto a Dinamarca. Bem, sem dúvidas, é um pouco tarde para se entrar em guerra contra os dinamarqueses...”


Foto: Um cantinho de paz no Castelo de Windsor, o “Moat Garden”.

Friday, June 22, 2012

Euro 2012

Pelo bem do esporte, nos torneios europeus, é melhor se evitar quaisquer metáforas históricas ou abstrações que fujam da prática desportiva. Depois de tanto sangue derramado, nada como a competição saudável para confraternizar e semear a paz.

A imprensa europeia costuma resistir às piadas fáceis nesses tempos de Euro 2012 - a Copa do Mundo sem o Brasil e a Argentina. Ou melhor, resistia. A partida desta noite (quartas de final) entre Grécia e Alemanha está tirando a imprensa da linha.

As graves circunstâncias econômicas que abalam o continente opõem claramente os dois países. Dizem por aí: “Se a Alemanha quer tirar a Grécia do Euro, a Grécia pode tirar a Alemanha da Euro”.

Para um país economicamente arrasado, a partida desta noite é simbólica. Um comentarista grego prefere lembrar a Batalha de Creta (1941). Os nazistas tomaram a ilha grega, mas com o custo de mais de 3200 mortos. O futebol grego não é grande coisa, mas com este espírito heroico, o jogo promete.

Estou acompanhando a Euro 2012 na Europa, onde os jogos são transmitidos à noite. Nesta semana, estive num importante evento de informática. O coquetel / jantar de abertura foi simultâneo às partidas França X Suécia e Inglaterra X Ucrânia.

Alguém já disse que o europeu não é tão ligado no futebol quanto o brasileiro? A organização do evento trouxe duas TVs de grande formato, que ficaram em dois cantos do imenso salão. Quando os jogos começaram, metade do público dividiu-se entre ambos.

Entre tantas nacionalidades, inclusive coadjuvantes ucranianos e suecos, como era de se esperar, os ingleses foram os mais ruidosos. Não só torciam pela Inglaterra, como se manifestavam contra a França, mesmo estando em Paris. Os franceses estavam excessivamente intimidados pela derrota perante a medíocre Suécia. O Le Monde diz tudo: “La débâcle de Kiev”.

Aproveitei boa parte do jogo para comer e conversar com uma panelinha de brasileiros da Brasscom e Softex, que promoviam a nossa informática aqui na Europa. Mais comia do que conversava. Afinal, eu fui lá para comer, conversar ou assistir ao jogo?


Foto: Centro de Chicago.