Tuesday, November 30, 2010

Alésia

No verão de 2011, os visitantes da Borgonha terão mais uma atração. Trata-se do Museu e Parque de Alésia, que relembrará o confronto entre gauleses e romanos, liderados respectivamente por Vercingétorix e Júlio César, no ano de 52 AC.

A cidade de Alise-Sainte-Reine, sede do empreendimento, é um dos supostos locais da batalha. Na verdade, ninguém pode determiná-lo com precisão. Como destacou a matéria especial do jornal da TF1, há quem acredite que a batalha tenha sido travada em outra região francesa, precisamente, no departamento do Jura.

Estive muito próximo de Alise-Sainte-Reine, quando da minha visita a Flavigny-sur-Ozerain, em 2008, relatada no antigo fotolog, como cidade cenário do filme "Chocolat".

Enquanto Alésia não é recriada, visitei um outro Museu e Parque sobre a civilização galo-romana, localizado em Bibracte (foto). Para quem gosta de sítios arqueológicos, é programa para um dia inteiro. Bibracte também está na Borgonha, a uma hora da estação de TGV de Le Creusot (linha Paris-Lyon).

Bibracte foi uma grande cidade gaulesa, capital dos eduos, mas que perdeu força com a ascensão da Autun (Augustodunum, nome original romano), cujas imagens ilustraram os posts anteriores.

Se você é avesso aos hyperlinks deste post, pelo menos visite http://www.alesia.com/

Sunday, November 28, 2010

Integrar, entregar e intrigar

Fora do Brasil, a repercussão dos recentes acontecimentos do Rio é enorme. Como a maioria das pessoas restringe-se às manchetes e primeiras linhas dos artigos, fica a impressão de que o caos impera. Na Europa, pensam que a Copa e as Olimpíadas estão ameaçadas. Resta-me explicar que se trata do contrário. Finalmente, é a ordem que se impõe. Como os estrangeiros nos vêem como otimistas inveterados, o argumento gera uma certa desconfiança.

Algumas multinacionais apavoradas já estão impedindo as viagens dos seus executivos para o Rio. É verdade que tal embargo não é uma tragédia para o Brasil. Esse procedimento é praxe, acontece muitas vezes, ao sabor dos atentados. Eu mesmo já fui impedido de viajar para muitos lugares por causa dessas práticas de segurança.

Pelo que tenho lido na imprensa brasileira, o apoio à ação dos Governos do Rio e do Brasil é generalizado. Sabemos que a Copa e as Olimpíadas representarão um grande assalto ao erário público. Porém, se os dois eventos foram os motivadores da ocupação do nosso próprio território, valeu à pena.

O lema rondoniano da ditadura "integrar para não entregar" inspirou grandes obras para a ocupação da Amazônia. Enquanto desperdiçávamos bilhões no norte e nordeste, entregávamos lentamente pedaços das nossas mais caras metrópoles. Está na hora de retomá-los.


Foto: Em Autun, a porta de Santo-André, construída entre os séculos I e III.

Sunday, November 21, 2010

Retrocomissão

Agora que o escândalo Bettencourt está perdendo força, o atentado de Karachi volta à cena. Leiam o meu post "The Ugly, The Bad and The Worse - Parte II" para compreendê-lo. O processo tem sido lento, mas as famílias das vítimas estão cada vez mais próximas de uma resposta oficial do Governo.

Com essa notícia requentada, pelo menos pude aprender uma palavra essencial para os nossos dias: Retrocomissão. A palavra não existe na língua portuguesa, mas, em compensação, a prática é deveras conhecida. Digamos que é uma das formas mais elementares de corrupção e financiamento de campanhas. Exemplificando, imaginem uma transação comercial, onde o comprador de um produto ou serviço exige uma comissão do vendedor. O vendedor, ainda mais malandro do que o comprador, não só concorda em pagá-la, como paga a mais, solicitando que a diferença seja creditada numa conta secreta. Esta é a tal da retrocomissão.

Existem muitas variantes para receber a retrocomissão, envolvendo-se paraísos fiscais, ONGs, laranjas e, acredite se quiser, filhos e parentes próximos. (Ah, não diga!)

Esse velho novo escândalo de comissões e retrocomissões coloca em choque uma série de políticos da direita francesa (UMP), opondo, sobretudo, Sarkozy e os políticos que ele esmagou para galgar ao Eliseu. Nessa história, não tem santo, como sugere o meu post anterior. Em todo caso, o articulado e refinado Dominique de Villepin, outrora humilhado por Sarkô, terá sua pequena chance de vingança.


Foto: Os próximos posts são ilustrados com fotos recentes da parte norte da Borgonha. Acima, o teatro romano de Autun.

Saturday, November 20, 2010

Cadeirinha

Lamento pela longa ausência. Não posso dizer que estive embriagado com o lançamento do Beaujolais Nouveau 2010, pois estava em São Paulo, após tantos anos acompanhando a festa francesa em torno da bebida. Lembrando que a maioria dos franceses comemora o fato da bebida deixar o seu país ;-)

Entre idas e vindas, posso assegurar que estive em São Paulo no segundo turno das eleições, mas não no primeiro. Estive também quando o uso de cadeirinhas para as crianças se tornou compulsório na frota nacional, ou mais precisamente, quando da obrigatoriedade dos "sistemas de retenção para o transporte de crianças". Não dá para criticar iniciativas como essa. Qualquer melhoria de segurança é sempre bem recebida. Pena que os políticos que tomam este tipo de iniciativa, geralmente, estão pensando mais nos seus bolsos.

O lobby que une políticos e empresários em torno dessas oportunidades é evidente e igual em todo lugar. Na França, a cadeirinha não vingou, nem menos o saudoso kit de primeiros socorros. Em compensação, tive que comprar um belo colete amarelo de material bem reflexivo. Em caso de acidente e parada na estrada, o uso é obrigatório.

Deixando o mundo do automóvel, após ter visitado alguns amigos em Lyon, percebi que suas piscinas possuíam o mesmo tipo de cobertura, uma espécie de persiana que se enrola e desenrola sobre a superfície da piscina. Explicaram-me que há uma lei exigindo a tal cobertura, com o intuito de se minimizar o risco de afogamento de crianças. Os pais brasileiros certamente acham mais prático ficar de olho nas suas crianças.


Foto: Fecho as fotos de Viena (Áustria), com mais uma tomada do Belvedere.

Saturday, November 6, 2010

Bugre do chuchu ou chuchu do bugre?

O Le Monde publicou o artigo "Dilma, a búlgara" neste primeiro de novembro. Não tem nada de especial, é apenas um pouco a mais de informação para os franceses que se interessam pelo pleito brasileiro.

O melhor do artigo são os comentários. Pela primeira vez, vi o site do Monde virar uma sala de discussão de brasileiros francófonos (ou nem tanto). Os primeiros comentários referem-se ao peso da origem na sociedade brasileira, uma discussão interessante. Os últimos retratam a divisão da nossa sociedade em torno da futura Presidente e do seu mentor.

O genitivo búlgaro me leva a tecer outros comentários de natureza linguística. Na França, muitas vezes ouvi a expressão "bougre", com múltiplos significados: Um cara normal, um cara um pouco estranho, um estrangeiro e, até mesmo, um homossexual. Descobri que o "bugre" do nosso português - relativo aos indígenas - é originário da palavra francesa. E afinal de onde vem o "bugre" ou "bougre"? Vem do latim "bulgarus" - búlgaro em português - no sentido de herege, quando o cristianismo praticado na Europa ocidental e oriental divergiam.

Lembro de mais outra contribuição francesa à nossa cultura. Quem nunca ouviu as expressões "chuchuzinho", "chuchu beleza" ou "meu chuchu"? Com certeza, elas não têm nada a ver com o chuchu. A origem é a palavra francesa "chouchou", que significa: Queridinho, preferido ou favorito. É bem verdade que "chou" significa couve, mas não se sabe quando o vocábulo saiu da horta e entrou no coração das pessoas.

Enfim, na França, dá para falar que a Dilma é o chuchu do bugre, que não precisa de tradução. E a pronúncia é praticamente a mesma. Ou seria a bugre do chuchu?


Foto: Três tomadas da Ópera de Viena. Acima, uma vista lateral. Abaixo, a vista frontal. E, ainda abaixo, uma tomada do seu interior.