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Sunday, May 8, 2016

A mãe do taxista



Abril e maio são meses de feriados e congressos. Em abril, fui ao Brasil por uns poucos dias, quatro dias na Bahia e mais três em São Paulo. As viagens continuam pelas próximas semanas.

A caminho do Brasil, chamei um táxi para ir até o aeroporto de Bruxelas. Quando o motorista viu nossas quatro malas, perguntou se estávamos de mudança. Taxista de bom humor e pouca gentileza!

Argumentou que as malas não cabiam no seu porta-malas e nem se dispôs a tentar encaixá-las. Eu não quis perder tempo, aceitei o fato e pedi a sua ajuda para chamar um outro táxi. Ele continuava resmungando.

Finalmente, pedi que levasse minha esposa e metade das malas. Eu mesmo coloquei-as no porta-malas. Daí em diante, quase tudo certo, exceto o fato de ter cobrado 5 euros pelo tempo perdido com a discussão.

Já deixei de formalizar reclamações de valores bem maiores, mas esse caso não poderia passar em branco. Reclamei à central de táxis. Não é pelos 5 euros, mas pela grosseria. Para falar a verdade, nem usei o crédito que recebi de volta (10 euros). O importante é que o motorista foi expulso da companhia.



No último feriado de maio, aluguei um carro numa ilha do Mediterrâneo. Ao contrário da prática mais comum, lá, entregam o carro com tanque vazio. O pacato funcionário da locadora disse que havia combustível suficiente para se chegar ao próximo posto. Também disse que uma batidinha a mais no carro não seria motivo de estresse. Cool!

Com o ponteiro no limite da reserva e o posto que não chegava, este blogueiro que faz as coisas certinhas entrou em pânico. Se a prática local é andar com o cheiro de óleo, essa não é minha praia.

Finalmente, o posto. O homem da locadora disse que 10 euros de gasolina dava para fazer a ilha de cabo a rabo. O carro deveria ser entregue com combustível no mesmo nível da retirada e que ele não devolvia a gasolina excedente. Entretanto, este blogueiro muito prudente não quis passar aperto de novo e colocou 15 euros de gasolina. Obviamente sobrou. Devolvi o carro com um oitavo de tanque.

O homem da locadora nem se preocupou em disfarçar. Na nossa frente, meteu um tubo flexível no tanque e passou a gasolina excedente para um outro carro. Assim, poderia entregar o carro para o próximo cliente com o combustível no limite da reserva, como manda a tradição local.


Um grande Dia das Mães a todas as mães deste mundo! 
(inclusive às mães do taxista e do cara da locadora)


Foto: Château de Balleroy, mais um visitado no último verão.

Friday, September 18, 2015

Recorrência

Durante o verão europeu, renovei alguns documentos belgas. Apesar dos avanços da máquina pública, de vez em quando, as ortodoxias burocráticas podem surpreender.

A prefeitura de Bruxelas solicitou-me um atestado de bom comportamento. E onde é que se tira o tal atestado? Na própria prefeitura. Pelo jeito, o pessoal do segundo andar não fala com o do primeiro.

Na ocasião, a recepcionista  perguntou: “Por que o Sr. precisa disso?” Respondi que era um pedido do pessoal do andar de cima! Como bom paulistano, falei fazendo mímica, apontando para o andar acima com o dedo indicador.

A situação hilária é incompreensível, pois está tudo no mesmo prédio e é bem informatizado. Para se inventar um Poupatempo belga só seria preciso um pouco de boa vontade. Mas isso não foi o pior.

A moça ainda solicitou a apresentação do documento de identidade, cuja renovação era o próprio objetivo do meu périplo. Felizmente, o documento ainda tinha alguns dias de validade. Caso contrário, seria vítima de uma recorrência burocrática, condenado a passar o resto dos meus dias entre o primeiro e o segundo andar.

Recorrência burocrática existe mesmo. Um exemplo não incomum acontece com muitos expatriados, quando os fiscos dos países envolvidos disputam o campeonato mundial de ganância tributária. Bem, isso é uma outra história.

E por falar em extravagâncias regulamentares, retomo a questão do Uber, tema de um post de março, que continua fazendo barulho em todo o mundo.

Há alguns anos, uma comissão liderada pelo Jacques Attali fez um relatório com sugestões para dinamizar a economia francesa. Uma delas era a desregulamentação do setor de táxis. Não existia o Uber, mas uma clara percepção de que nesse setor há pouca oferta, pouca concorrência e um potencial razoável para criação de empregos.

Que cada ortodoxia regulatória encontre o seu Uber! Ainda existirão alguns nichos de resistência como os taxistas e a prefeitura de Bruxelas. Felizmente, eles caminham para ser exceções.


Foto: O imponente prédio da Fundação Louis Vuitton, projeto de Frank Gehri, inaugurado em 2014. Paris não dorme no ponto. Apesar da falta de táxis e dos banheiros sujos, não faltam atrações.

Sunday, March 8, 2015

Uber

O Uber é sinônimo de baderna. Ele causa greves, manifestações e agressões. Na última semana, cruzei com uma paralização de taxistas protestando contra o Uber em Bruxelas. O congestionamento engoliu a minha habitual folga para chegar aos aeroportos e estações de trem. Não perdi o trem por alguns segundos.
  
Depois dessa, dá mais vontade de continuar usando o Uber. O serviço é de primeira. Na grande maioria das vezes, chega um carrão limpo e cheio de serviços como revistas, wi-fi, garrafa d’água e balas. O motorista, chamado Mohamed em um terço das vezes,  é muito mais gentil do que qualquer taxista de frota. O melhor de tudo é que sai bem mais barato.

E quem disse que aquele Mercedão é do Mohamed ? Não é mesmo. Ele o aluga por alguns dias e roda o máximo atendendo aos usuários do Uber e fazendo uns trocos.

Acredito que a contribuição mais nobre  do Uber seja quando há um real compartilhamento de veículos (a boa e velha carona) e não apenas a substituição dos motoristas de taxis. Isso sim faz um bem maior para nossas cidades.

O Uber é obviamente injusto com os táxis, que  submetem-se a fiscalizações e regulamentações, quando não pagam uma fortuna pelo ponto. Só resta-lhes uma vantagem, podem andar nos corredores de ônibus e bondes.

Tá com pena deles? Eu não.

Internet é isso mesmo. Desintermediação e ruptura são palavras de ordem. Não se solidarizem com os taxistas.  Melhor mesmo é ficar de olho nas nossas profissões e mercados. Amanhã, poderemos ser os taxistas de um outro Uber.  



Foto: Mais uma cena do centro de Antuérpia.

Saturday, February 22, 2014

Mercado

Geralmente associamos os cartéis às grandes corporações. O recente imbróglio ferroviário paulista é mostra disso. Entretanto, a manipulação do mercado, o cerceamento da concorrência e a imposição de barreiras de entrada são mais banais do que parecem.

Tomo dois exemplos recentes de coisas que estão mais perto da gente do que a contratação de trens, um caso francês e outro brasileiro.

Paris é conhecida pela falta de táxis. Se você não estiver a fim de usar o transporte público, vai depender da loteria que é achar um táxi livre pelas ruas da cidade. Quando achar, ainda existe a chance de que o motorista recuse a viagem. Ah, sim! Isso é muito comum por lá.

O preço do táxi francês é controlado, como em muitos lugares do mundo. O problema está na oferta. A união dos taxistas transformou aquilo num clube fechado. O número total de veículos permanece o mesmo há muito tempo. Um novo motorista só entra se um outro sair e ainda pagando um prêmio de 200 mil euros. Apesar das investidas do governo, a categoria resistiu e não deixou aumentar a frota.

A saída do governo foi criar o serviço de locação de carros de turismo com motorista. Parece complicado? Na prática, é quase a mesma coisa do que o bom e velho táxi. A diferença é que não existe a possibilidade de chamá-los sinalizando-se para o motorista, usa-se exclusivamente a Internet, algo que, por sinal, também tem se tornado comum entre os táxis. Vários serviços como Allocab e Snapcar começam a comer o mercado pelas bordas e transformar Paris numa cidade tão boa para os negócios como é para o turismo.

Já o governo brasileiro tem uma mentalidade diferente. Todos estão alarmados com o aumento dos custos de hotéis e restaurantes em algumas sedes da Copa. Nosso governo está aparelhando-se para o controle de preços ao invés de ter trabalhado para aumentar a oferta há alguns anos. Tarde demais para revogar a lei da oferta e da procura!

Vou ao Maracanã participar da grande festa. Tive que me contentar com um bate e volta de São Paulo. Achei absurdo pagar bem mais de mil reais por noite em hotéis de segunda.

O Rio é mesmo um caso à parte, mas não precisava ser o lugar mais caro do mundo. Mesmo sem Copa e sem Olimpíadas, a cidade já tinha diárias monegascas. Não é novidade para ninguém que existe um cartel de hotelaria na cidade.

Enfim, os grandes cartéis corporativos são manchetes de jornais e alvos de multas milionárias. Mas, no dia a dia, são os pequenos cartéis que nos esfolam.


“People of the same trade seldom meet together, even for merriment and diversion, but the conversation ends in a conspiracy against the public, or in some contrivance to raise prices.”
Adam Smith (A riqueza das nações, 1776)



Foto: Outro cantinho de Amsterdam, foto tirada nas minhas férias de 2013.

Sunday, October 21, 2012

Circenses


Em algum post remoto, já disse que não sou de longas conversas com motoristas de táxi. Nada pessoal, pura introspecção. Na França, é diferente. Lá, meu desafio é conversar bastante e ver quanto tempo resisto até que surja a fatídica pergunta: "Você é italiano?".

Já fui conduzido por ex-profissionais de informática algumas vezes. Pois esta é a realidade da França, Espanha e outros. Uma corrida do aeroporto ao centro de Lyon dava uma boa sessão de "coaching", caso algum dia, eles decidissem retornar à profissão. Nunca cobrei.

Da última vez, em Paris, peguei um táxi para Aubervilliers, um centro de pesquisas na periferia da cidade. Indagou o motorista: "E vocês têm equipamento para fazer datação por carbono 14?". Mudei de assunto. Melhor falar sobre informática.

No Brasil, meu último papo cabeça com motorista de praça foi sobre estádios de futebol, numa recente viagem de Cumbica para casa. Indignado, o taxista afirmou que o governo não deveria ajudar os clubes com "dinheiro do povo". A argumentação do ilustre condutor tem sido bastante comum, sobretudo entre palmeirenses e sãopaulinos.

Infelizmente, não temos bons exemplos no Brasil. Os estádios são péssimos e os clubes são endividados, entre tantos outros vícios. Uma coisa é certa, os ingressos são baratos. Muito baratos.

Não acho que isso seja a raiz de todos os problemas estruturais do esporte, mas há um subsídio informal. Os estádios atraem as massas. Nosso sistema é democrático e camarada, mas inviabiliza um modelo de negócios em torno do estádio.

Nos EUA, é o contrário. Fiz uma rápida pesquisa, comparando jogos do campeonato brasileiro e da NFL. A diferença é brutal. Com raras exceções, um jogo da NFL sai, pelo menos, 10 vezes mais caro.

A elitização dos estádios criaria um círculo virtuoso. O comércio hospedado no estádio prosperaria com a venda de produtos de maior valor agregado e prestação de melhores serviços. Os estádios deixariam de ser um fardo para os clubes e complementariam as únicas receitas que realmente importam hoje, os direitos cedidos à TV.

Para fechar a equação, ainda seria preciso acertar muitas outras coisas como o calendário, a distribuição das receitas entre os clubes, a própria gestão dos clubes, etc. Enfim, não tem milagre. Se queremos proporcionar circo para todos, o governo irá sempre pôr a mão no bolso e ajudar na construção e manutenção dos estádios.


Foto: Outra tomada interna do Castelo de Windsor. A St. George's Chapel no primeiro plano. Ao fundo, o corpo mais antigo do castelo de raízes normandas. A capela serve como necrópole na monarquia britânica.

Wednesday, May 26, 2010

Conversa de táxi

Já foi o tempo em que as minhas conversas com motoristas de táxi franceses eram apenas sobre o futebol. Eu uso táxis para ir até o aeroporto de Lyon e em diversos deslocamentos na região parisiense. Já fiz muitas viagens com aquela conversa mínima: “Bonjour”, destino, pagamento e “au revoir”. Em outras, consegui enganar o motorista, passando por um francês.

Na maioria das vezes, no entanto, eles percebem um sotaque diferente. Jamais acertaram a minha nacionalidade:
- Italiano? Espanhol? Alemão? Inglês?
- Não, eu sou brasileiro!

A partir daí, é só alegria! O motivo das animadas conversas é o Lula. Todo mundo conhece “o cara”. Apesar dos seus tropeços, a imagem do Presidente é muito positiva. Expressões comuns: “Ele fez muitas coisas boas para o país”; “o Brasil começa funcionar agora”; “ele ajuda os pobres”; “você deve estar orgulhoso por ter um Presidente como ele” e assim por diante.

Taxista é igual em todo lugar. Eles assumem que eu votei nele, que eu aprovo o seu governo e que ele é meu ídolo. Eu prefiro não discutir com um cara costurando como um louco pelas ruas de Paris.


Foto: Trecho da Corniche Basque, a costa entre Saint-Jean-de Luz e Hendaye caracterizada pela falésia relativamente baixa. Nada como parar o carro na estrada e apreciar a paisagem.