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Saturday, June 4, 2011

Ainda sobre o Zidane da Economia

As notícias da Europa não têm graça. A Alemanha promete que vai abandonar a energia nuclear mais uma vez, a Grécia jura que agora vai apertar o cinto para valer e a Espanha diz que o seu pepino é confiável. Por essas e outras, ainda não tem assunto melhor do que DSK.

Na última semana, o que mais chamou a atenção foi o penthouse do Tribeca ocupado por DSK, considerado suntuoso demais para um socialista. Eu não estranharia tanto. Afinal, se o petista Palocci é o “Pelé da Economia”, DSK pode muito bem ser o Zidane da Economia, não é mesmo?

De fato, quem banca o DSK é a sua esposa, Anne Sinclair, que tem uma visão bastante arrojada sobre o matrimônio. Diz ela: “Enquanto ele me seduz e eu posso seduzi-lo, isso me basta”.

O escândalo DSK chacoalhou a sociedade francesa. Há uma série de debates sobre o machismo, o feminismo, o assédio, o papel da mulher, os vícios do poder, etc. Explodem as denúncias de assédio. Enfim, há males que vem para o bem. (Desculpem-me por esta conclusão tão profunda e original)

Nos últimos dias, trabalhei em Lyon e provoquei conversas sobre o tema com diversas pessoas. Os sentimentos de cada um são diferentes, do lamento à vergonha. Mas, ninguém é indiferente.

A próxima segunda-feira, quando se comemora o “dia-D”, será um momento crucial para o destino de DSK. Ele deve se apresentar à Justiça americana declarando-se inocente ou reconhecendo a culpa.

Em meio a tantas especulações filosóficas - no melhor estilo francês, a pérola da última quinzena foi o lançamento do novo modelo do Citroën DS4 (a pronúncia francesa é D-S-K-tre). O slogan da campanha: “O poder de dizer não”.


Para finalizar, uma historinha sobre DSK:

DSK chega ao FMI. No seu pescoço, próximo ao colarinho da camisa impecável, percebe-se um pedaço de calcinha. Passando pelos quadros da instituição e cumprimentando seus funcionários, o executivo escandaliza mais uma vez. Entre risos e indignação, a sede do FMI para. Todos falam da calcinha colada no pescoço do chefe. Uma hora depois, finalmente, um dos seus assessores mais próximos o alerta: "O Sr. está com um pedaço de calcinha no seu pescoço". DSK responde: "Não liga, é só um emplastro. Estou tentando parar".


Foto: A última tomada de Annecy, na Savóia.

Wednesday, June 1, 2011

Cannes 2011

Meu post sobre o Festival de Cannes atrasou para que eu pudesse assistir pelo menos dois dos filmes que marcaram a temporada 2011.

Woody Allen, "hors-concours", abriu o festival com "Midnight in Paris". Terrence Malick levou a Palma de Ouro com "The tree of life". Gostei e recomendo ambos. Farei alguns comentários sem dar muitas pistas sobre os filmes, a fim de não estragar a surpresa do leitor.

É claro que "Midnight in Paris" foi muitíssimo festejado. Temática parisiense, coadjuvantes franceses e Carla Bruni no elenco. Tudo isso num país que sempre prestigiou o cineasta. Esquecendo-se do momento francófilo de Woody Allen, o filme é muito bom e bem melhor do que o seu anterior ("You Will Meet a Tall Dark Stranger").

A história começa meio boba, cheia de clichês, mas mergulha no passado, quando a cidade era a capital cultural do mundo. Aparecem conversas ricas e interessantes, como em tantos filmes de Woody Allen. Sem muita profundidade, mas inteligente e agradável. Cabe à nossa imaginação navegar pela fantasia proposta pelo diretor e escritor. Enquanto a maioria dos filmes peca por excesso, este deixa aquele gosto de "quero mais". O elenco é ótimo com vários astros franceses escalados para agradar ainda mais o público de Cannes. Veja o trailer.

O ganhador da Palma de Ouro, "The tree of life", é um filme no mínimo ousado. A história de uma família americana é o mote para uma longa sequência de lindas imagens falando da natureza, da vida, do homem, da família, da maturidade, dos valores e da misteriosa razão de ser. Embora todos concordem que o filme seja uma poesia visual, há quem não goste da cadência. O começo, meio National Geographic meio 2001, pode desanimar um pouco (não vá embora!), depois, o filme se humaniza. Algumas passagens da vida da família são realmente tocantes. Veja o trailer.

O público e a crítica francesa preferem o filme do Woody Allen. O filme de Terrence Malick mostra uma visão de mundo diferente da cultura local. Malick é filho de pai ortodoxo e mãe católica, mas parece um evangélico. Em alguns trechos do filme, a poesia soa uma pregação, algo que certamente afasta os franceses.

Gostaria de fazer uma observação musical. Quem puder ver o trailer de "The tree of life" notará uma das suas músicas principais, "O Moldava" ( "The Moldau" ou "Vltava"), do compositor checo Bedřich Smetana. Se alguém achá-la familiar, não estranhe. O hino de Israel ("Hatikvah") e a música de Smetana são sabidamente inspirados numa canção italiana do século XVI, "La Mantovana".

Já Woody Allen, entre músicas de Cole Porter, encaixou dois clássicos do franco-alemão Jacques Offenbach: "Barcarola" (ária de "Os contos de Hoffmann") e o mais famoso "Can-Can".


Foto: Mais uma tomada de Annecy, na Savóia.

Saturday, May 28, 2011

Os aliados

A última semana política brasileira foi no mínimo marcante. Não foi inesperada, pois voltamos à vida normal da política brasileira, o bom e velho toma-lá-dá-cá. Não foi um desastre, pois não há nada irreversível. Talvez, tenha sido um desastre para a Dilma, que teve apenas cinco meses de governo. Durou pouco.

Entre o ex-presidente e os caciques do PMDB & Cia, o poder político está difuso. O sistema de governo brasileiro é mesmo inédito, mistura "EXpresidencialismo" com "praLAMENTARismo".

Dilma e o PT tomaram do próprio veneno. Pela ampla tolerância à corrupção e pela ambição de extinguir a oposição. A permanência de Palocci vai custar muito caro para o governo - ou seja, para nós. Dilma será chantageada até o final do seu mandato.

Diminuir a oposição e criar uma base aliada gigante é mera ilusão. Está claro que o governo não consegue fazer o que quer. PMDB & Cia não tem qualquer compromisso com o Brasil, apenas com seus bolsos. Cada deputado a mais na base do governo é um chantagista a mais, é mais uma mesada para se pagar ou a obrigação de se nomear um incompetente para algum cargo público.

Seria melhor para o próprio governo ter uma oposição mais viril e uma base aliada menos venal.



Foto: Mais uma tomada da bela Annecy, na Savóia

Saturday, May 21, 2011

DSK, uma semana depois

Não garanto que seja meu último post sobre o caso DSK, mas acho que vale a pena fazer um balanço do que li nos últimos dias. Para americanos e franceses, a cobertura foi um verdadeiro festival de horrores, com acusações de ambas as partes.

Os colunistas do Estadão, Gilles Lapouge e Gustavo Chacra, descreveram bem as diferenças básicas. Os americanos apresentaram DSK como um criminoso, antes de qualquer apuração. Além do mais, houve aquela humilhação tradicional das algemas, entre tantos outros rituais da cinematográfica polícia americana. Já os franceses pecaram pela rápida divulgação do nome da camareira do Sofitel e, principalmente, pela excessiva tolerância à investida do presidenciável, que pode ter cometido um crime gravíssimo.

Excelentes artigos sobre as diferenças culturais entre os dois povos apareceram em várias publicações. Surgiram motivos de monte para se reabrir uma temporada de deboches mútuos. O filósofo Bernard-Henri Lévy, entre outros, foi ironizado pela sua forte defesa da "presunção de inocência" de DSK.

Vamos deixar de lado as subjetividades culturais, sociais, comportamentais, sexuais, machistas e feministas. Foi no Economist que eu achei aquela pergunta que não quer calar. Afinal, se o incidente tivesse ocorrido em Paris, DSK estaria em cana?

Certamente não. Nem em Paris, nem em Roma, nem em São Paulo. Todo mundo sabe disso. Depois de alguns dias, o Le Monde finalmente reconheceu o banho de democracia dado pelos EUA, destacando a sua Polícia e Justiça como uma entidade realmente independente, a altura dos poderes político e econômico, e não subordinada a eles, ao contrário do Brasil e da própria França, suposto país da liberdade, igualdade e fraternidade. O Le Monde ainda separa o puritanismo anglo-saxão, tão ridicularizado pelos europeus, de um verdadeiro caso de polícia.

Enfim, a poeira baixou. DSK já saiu do FMI e, provavelmente, não sairá dos EUA tão cedo. O PS deve erguer a cabeça e buscar um novo candidato. Caberá ao povo francês fazer a sua escolha e, mais do que isso, inspirar-se no exemplo daqueles grandalhões, beligerantes e ignorantes do outro lado do Atlântico ;-)


Fotos: Voltando à França, uma foto de Annecy, na Savóia.

Wednesday, August 12, 2009

Bio

Ainda falando em comida, a onda dos produtos orgânicos também é bem significativa por aqui, onde são conhecidos como "bio". Na realidade, é mais do que um nome. Bio é uma marca controlada pelo governo que garante a origem do produto.

Recentemente, colocaram fogo no debate sobre os produtos bio, razoavelmente mais caros do que os comuns. Cientistas ingleses mostraram que não há diferenças nutricionais significativas entre os produtos orgânicos e os demais. Contudo, a diferença relevante está no processo de produção agrícola em si, que usa menos recursos naturais e evita os defensivos sintéticos. Enfim, é o planeta que agradece.

Desde que cheguei aqui, sempre comprei alguns produtos bio. Como não conhecia quase nenhuma marca local, foi uma referência.

Quem também agradece é o bando de José Bové. Passaram boa parte da vida queimando McDonalds sem saber como salvar o pequeno agricultor não competitivo. A solução é o bio “made in France”. Como uma poção mágica enviada pelo remoto Panoramix ao líder agrário Bovix.


Foto: Mais uma tomada de Annecy na Savóia. Tem pelo menos dois leitores deste blog que já estiveram por lá e a consideram entre as suas cidades preferidas!

Monday, August 10, 2009

Micro-ondas

O que seria de todos nós sem um forno de micro-ondas? Felizmente, existem mercados especializados em congelados por aqui. As prateleiras de gelados e congelados dos supermercados tradicionais são igualmente bem servidas. Nem sempre foi assim.

O sucesso do forno de micro-ondas na França é relativamente recente. Não seria exagero dizer que ele invadiu praticamente todos os lares franceses somente nos últimos cinco anos, um atraso considerável em relação aos EUA.

A tradição gastronômica do país resistiu o quanto pôde. As áreas rurais foram as últimas a aderir. Para quem vive nas cidades, não há como resistir à tamanha praticidade. Até mesmo os grandes chefs perceberam que os congelados são um mercado a mais, uma oportunidade. Em tempos de crise, vários restaurantes estrelados buscam rendas alternativas, através de lojas ou brasseries menos sofisticadas. Enfim, nós os consumidores agradecemos. Podemos comer em casa desde as comidinhas mais simples até pratos dos grandes chefs.

Para fechar o post, uma curiosidade. Nos anos 40, um engenheiro da Raytheon trabalhava com tecnologia para radares antiaéreos. Testando uma de suas inovações, o chocolate que estava no seu bolso derreteu. Para conferir o fenômeno, ele usou o seu radar para preparar pipocas. Estava inventado o forno de micro-ondas. Os primeiros equipamentos eram grandes e caros. O resto da história vocês conhecem.


Foto: Domingão em Annecy. Voltei à belíssima cidade da Savóia. Desta vez, o tempo foi bem melhor e, espero que as fotos também sejam. Explico a foto com o mesmo texto que usei no fotolog anterior (27/03/2008): O grande charme da cidade é o Palácio da Ilha, o "castelinho" sobre o Thiou. A casa fortificada é do século XII, passou por residência, administração da vila, casa da moeda e tantas outras funções. O formato de barco que chama tanta atenção.