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Sunday, January 31, 2016

Maioria

O Zika chegou por aqui. Não o vírus em si, mas o noticiário, que tem dado mais atenção à doença, que tanto prolifera nas repúblicas bananeiras. De fato, o Brasil tem aparecido em dois tipos de notícias: as que falam do baixo crescimento mundial e aquelas sobre a crise do Zika. O Brasil decididamente tem um impacto relevante nesse mundo!

As notícias predominantes ainda giram em torno da questão dos refugiados e das medidas contra o terrorismo. Na última semana, a ministra da Justiça da França pediu demissão por isso. Até a poderosa Angela Merkel, personalidade do ano de 2015, pode ver a sua base de apoio ruir por conta do mesmo assunto.

O tema racha a sociedade europeia. Tomemos, por exemplo, os eventos de Colônia da noite de 31 de dezembro. Para quem não se lembra, um bando de imigrantes do Maghreb tomou conta da praça central da cidade. Centenas de mulheres que passaram por lá foram agredidas sexualmente.

Apesar da gravidade desse crime coletivo, o mundo só soube dele alguns dias depois. O sistema tentou abafá-lo. Polícia, prefeitura e imprensa, todos estavam preocupados com a não estigmatização dos agressores. Como se diz na França, queriam evitar o “amálgama”. A preocupação pode ser nobre, mas e as vítimas?

Uma grande parte da esquerda é extremamente zelosa com os direitos humanos dos bandidos. Isso acontece em todo o mundo. Diante dos fatos e da tolerância dos socialistas eleitos, insurge-se a extrema direita com suas ideias radicais. No debate ampliado pelas mídias sociais, ficamos com a impressão de que não existe solução intermediária entre não fazer nada e a criminalização generalizada dos imigrantes.

O governo da França, por exemplo, optou por um caminho mais duro. Prorrogou o estado de emergência e tenta adaptar-se aos novos desafios, modernizando as leis, reforçando a inteligência e mantendo a vigília.

Hollande e Valls estão certos. Ao invés de ficarem presos às ortodoxias do partido, compreendem que esse quadro mais complexo exige adaptação. São chamados de reacionários pelos colegas de esquerda e, de bananas pela extrema direita.

Ladram os cães da esquerda e da direita, enquanto a maioria permanece silenciosa. O exercício do poder parece ser mesmo solitário.



Foto: Última tomada do castelo Champ de Bataille com seus incríveis jardins. O conjunto foi restaurado completamente. O seu interior é uma galeria de arte com bom acervo, mas com pouca relação com a história do castelo.

Thursday, January 14, 2016

Fábula

Nas minhas últimas viagens pela Europa, entrou em cena o quase esquecido passaporte. O sonho das fronteiras livres já era. Com os controles de identidade e de bagagens, as viagens de trem perderam um pouco da praticidade habitual e do seu charme.

Na França, a discussão mais quente do momento é sobre a retirada da nacionalidade francesa dos indivíduos com dupla-nacionalidade envolvidos com o terrorismo. Parece bobagem, mas é algo que racha o Governo e, de certa forma, toda a nação.

Dividida mesmo está a Alemanha. Os eventos recentes de Colônia colocam lenha na fogueira da discussão sobre os refugiados e imigrantes. Apesar dos esforços da Angela Merkel para promover a nação acolhedora, o sentimento anti-islâmico só aumenta.

Nesse clima tenso, lembrou-se do primeiro aniversário do atentado à redação do Charlie Hebdo. O jornalzinho satírico estava quase falido ao final de 2014. Graças à visibilidade pós-atentado, as vendas em banca foram multiplicadas por 5 e as assinaturas, por 18. O jornal está com um dinheirão em caixa.

Tudo isso poderia ser uma justa compensação para a heroica equipe do Charlie. Infelizmente, as coisas são bem mais complexas. O humor do jornal é para poucos - humor negro e politicamente incorreto. Muitos milhares de novos leitores manisfestaram seu apoio à liberdade de expressão contribuindo com o tabloide, mesmo sem concordar com o seu conteúdo.

Nesta fábula pós-moderna, os jornalistas sob constante ameaça viram seus cofres encherem da mesma forma que os protestos, as críticas e as ações judiciais. A equipe está exausta e com saudades dos tempos de dureza.



Foto: Nas férias de verão, passei pelo Château du Champ de Bataille (Normandia).