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Sunday, June 12, 2016

Temporada de greves

Estou escrevendo este texto no trem. O mesmo trem que trouxe os torcedores ingleses de Marseille e que leva os belgas para Lyon. É tempo de Euro 2016!

Euro 2016 só para alguns, pois eu estou indo trabalhar. Aliás, nem os maquinistas estão trabalhando. Para minha sorte, peguei um dos poucos trens confirmados para hoje.

Que os maquinistas franceses não respeitem a Euro 2016, dá até para se aceitar. Mas eles não suspenderam a greve nem quando boa parte do país estava debaixo d’água. Isso é demais! Entre trilhos inundados e trens inoperantes, a França passou por alguns difíceis.

Os maquinistas belgas foram mais solidários. Respeitaram um longo período de luto após os atentados e fizeram apenas alguns poucos dias de greve. Do lado belga, não há nenhuma reivindicação especial, é só para não perder o hábito. Sindicalista profissional não precisa de bons motivos para cruzar os braços.

Amanhã, tenho uma reunião importante em Lyon. Sacrifiquei metade do meu domingão para poder pegar esse trem e garantir minha presença amanhã logo cedo. Um outro colega belga, cansado das greves, está encarando 6 horas e meia de estrada. Outros escolheram ir de avião, evitando-se a Air France, que tem greve anunciada para as próximas horas.

Entre greves belgas, francesas, muita chuva e um trânsito infernal, não é preciso dizer que enfrentamos dias de caos por aqui. Felizmente, consegui movimentar-me entre Bruxelas, Paris e Lyon escolhendo os bons trens e aviões. Sorte!

Só fui supreendido por um temporal parisiense, daquelas chuvas de verão paulistanas. Estava a 200m do hotel com um guarda-chuva portátil. Achei que dava. E deu! Deu para ficar encharcado.  A noite inteira e o secador de cabelos não foram suficientes para secar a calça, o paletó e os sapatos.

O legado desses dias de caos e um frio fora de época foi um refriado, que virou gripe, que virou sinusite. Chamei um médico, que chegou em casa rapidinho para fazer o diagnóstico e receitar os medicamentos. Deve ter vindo a pé.



Foto: Ainda das férias do verão passado, no caminho para a Bretanha, passagem pelos Jardins de Giverny, famosa residência de Claude Monet.

Sunday, January 31, 2016

Maioria

O Zika chegou por aqui. Não o vírus em si, mas o noticiário, que tem dado mais atenção à doença, que tanto prolifera nas repúblicas bananeiras. De fato, o Brasil tem aparecido em dois tipos de notícias: as que falam do baixo crescimento mundial e aquelas sobre a crise do Zika. O Brasil decididamente tem um impacto relevante nesse mundo!

As notícias predominantes ainda giram em torno da questão dos refugiados e das medidas contra o terrorismo. Na última semana, a ministra da Justiça da França pediu demissão por isso. Até a poderosa Angela Merkel, personalidade do ano de 2015, pode ver a sua base de apoio ruir por conta do mesmo assunto.

O tema racha a sociedade europeia. Tomemos, por exemplo, os eventos de Colônia da noite de 31 de dezembro. Para quem não se lembra, um bando de imigrantes do Maghreb tomou conta da praça central da cidade. Centenas de mulheres que passaram por lá foram agredidas sexualmente.

Apesar da gravidade desse crime coletivo, o mundo só soube dele alguns dias depois. O sistema tentou abafá-lo. Polícia, prefeitura e imprensa, todos estavam preocupados com a não estigmatização dos agressores. Como se diz na França, queriam evitar o “amálgama”. A preocupação pode ser nobre, mas e as vítimas?

Uma grande parte da esquerda é extremamente zelosa com os direitos humanos dos bandidos. Isso acontece em todo o mundo. Diante dos fatos e da tolerância dos socialistas eleitos, insurge-se a extrema direita com suas ideias radicais. No debate ampliado pelas mídias sociais, ficamos com a impressão de que não existe solução intermediária entre não fazer nada e a criminalização generalizada dos imigrantes.

O governo da França, por exemplo, optou por um caminho mais duro. Prorrogou o estado de emergência e tenta adaptar-se aos novos desafios, modernizando as leis, reforçando a inteligência e mantendo a vigília.

Hollande e Valls estão certos. Ao invés de ficarem presos às ortodoxias do partido, compreendem que esse quadro mais complexo exige adaptação. São chamados de reacionários pelos colegas de esquerda e, de bananas pela extrema direita.

Ladram os cães da esquerda e da direita, enquanto a maioria permanece silenciosa. O exercício do poder parece ser mesmo solitário.



Foto: Última tomada do castelo Champ de Bataille com seus incríveis jardins. O conjunto foi restaurado completamente. O seu interior é uma galeria de arte com bom acervo, mas com pouca relação com a história do castelo.

Sunday, November 24, 2013

Vitamina

Depois de uma rodada de exames médicos, amanhã será meu dia de avaliar os resultados. Felizmente, está quase tudo normal. Quase tudo, pois vacilei num único quesito.

O check-up anterior já havia apontado uma deficiência de Vitamina D. Deixei passar um ano sem a suplementação recomendada. Aqui entre nós, achei que a mudança de hábito resolveria - falo do aumento de exposição solar - e não estava querendo acrescentar um comprimido diário à minha rotina.

Obviamente, foi uma bobagem. Hoje, sabe-se que os benefícios da Vitamina D vão muito além da questão óssea (absorção do Cálcio), como se isso só já não fosse argumento suficiente. Se ainda há muita discussão sobre a amplitude dos benefícios, é fato que, cada vez mais pessoas recebem a recomendação de suplementação. A vida urbana moderna acaba nos impedindo de ter a exposição solar necessária para que nossos corpos produzam a tal vitamina.

Em 2013, aumentei minha exposição ao sol de forma significativa. Posso dizer que vivi dois verões, considerando-se o tempo passado na Europa entre julho e setembro, sobretudo de férias. Também acrescentaria todas as caminhadas e corridas dominicais. Mas, isso só não bastou!

Em se tratando de exposição solar para a síntese da vitamina D, é preciso de uma regularidade muito maior: pelo menos 15 minutos diários entre 11 e 13 horas, sem filtro solar. Um almoço ao ar livre ou uma caminhada nesse horário também não resolvem. É preciso expor uma parte considerável do corpo. Bem, começa ficar complicado.

Ainda existe algo sobre a Vitamina D bastante importante, sobretudo para nós brasileiros, pobrinhos mas limpinhos. Ela é produzida pela pele e absorvida lentamente pelo organismo. Alguns especialistas defendem que uma boa chuveirada com muita água e sabão comprometa grande parte da produção do corpo. Há controvérsias. Na dúvida, um renomado médico americano aconselha: sabão só nas axilas e genitais, no resto, passe apenas uma água.

Pesquise na Web sobre a Vitamina D e encontrará de tudo: testemunhos de curas fantásticas, discussão sobre o efeito do banho e uma teoria conspiratória que denuncia a existência de um conluio para boicotá-la.

Enfim, como aquela exposição solar recomendada pelos endocrinologistas e repudiada pelos dermatologistas só será factível na minha aposentadoria, o jeito é aderir ao suplemento. Além do mais, não abro mão dos bons banhos. Morei quatro anos na Europa, mas continuo limpinho!


Foto: Última tomada de Gante. A partir do próximo post, vamos para outros lugares, depois eu continuo com a Bélgica.

Sunday, September 22, 2013

Montezuma


Primeiro dia em San Sebastián. Depois de ter andado o dia inteiro, estava cansado e faminto. À tarde, fiz uma pausa naqueles bares de pintxos (as tapas do país basco). Não caiu muito bem. Dessa vez, queria um jantar de verdade, um restaurante mais tradicional para sentar-se à mesa e escolher um bom prato de um cardápio cheio de opções.

Sabia que era um pouco cedo para os padrões ibéricos. Ainda na orla da praia principal, a 500m do hotel, passei por dois restaurantes bem cotados. No primeiro, perguntei se poderia entrar. A recepcionista respondeu: "o restaurante ainda está fechado, aceitamos reservas para 8:30 em diante". Eram 8:20!!

Não foi apenas pelos 20 centavos. Não foi apenas pelos 10 minutos. Atravessei a rua e fui para o outro. Acolhido por uma sorridente garçonete, estava satisfeito. Sentei-me e abri o cardápio. A mocinha voltou e alertou: "segunda-feira só servimos pintxos". Grrrrrhhh!!!


Em viagem tudo é pitoresco, tudo vira história para ser contada, como disse num post anterior. Bem, mas tem uma coisa que pode ser engraçada depois, mas na hora não é nada agradável: passar mal.

Depois de ter conhecido inúmeras cidades do extremo oriente ao extremo ocidente, conclui que sofro de um Mal de Montezuma às avessas. Ao contrário daquele que vingou os mexicanos dos seus conquistadores, padeço na Espanha.

Mesmo com a renomada cordialidade e hospitalidade espanhola,Vigo (2005), Madrid (2007) e San Sebastián (2013) me derrubaram. Meu instinto diz que é melhor evitar as tapas com jamón ibérico na próxima vez.

O episódio de Vigo virou lenda entre meus colegas. Estávamos em petit comité, prestes a tomar decisões importantes. No jantar de segunda-feira, brindaram-nos com um banquete fantástico. Nunca tinha visto tamanha diversidade de moluscos, crustáceos e peixes na mesma refeição. Parecia uma aula de biologia marinha. Se não fossem os esclarecimentos do orgulhoso anfitrião, nem saberíamos o que estávamos comendo.

O resultado da farra gastronômica foi percebido nos dias seguintes. Caímos um a um. A quinta-feira foi inesquecível. Dois nem conseguiram sair do quarto. Um colega fazia sua apresentação contorcendo-se de dor. Um outro, desde então, nunca mais comeu ostras. Enfim, a semana foi demolidora. A memória da intoxicação coletiva eclipsou as lembranças do belo Parador, da cidade e de tudo o que a gente fez por lá.



Foto: Um dos canais Bruges. Nos próximos dias, estarei novamente entre Bruxelas e Bruges. Se tiver alguma foto interessante, continuo a série. Senão, viro esta página.

Thursday, October 20, 2011

A saúde de Carlita

Ao longo dos anos vividos na França, colecionei alguns furos do sistema de saúde francês testemunhados por vários colegas. Poderia escrever um punhado de posts macabros. De fato, o sistema não é perfeito, é “apenas” mais justo e igualitário. Talvez, um dos melhores do mundo.

Muitos brasileiros teimam em compará-lo com os poucos destaques da saúde nacional (Einstein, Fleury, entre outros). Teríamos que incluir toda a rede pública do país nesta comparação. Aí, a nossa desvantagem seria evidente.

Ao contrário do que se pensa, uma grande parte do sistema de saúde francês é privada. São as chamadas clínicas, que dão mais capilaridade e especialização à rede de hospitais públicos. Algumas características dos hospitais públicos: Triagem rigorosa (prioridade às situações mais graves), simplicidade (quartos individuais são raros) e medicina de altíssimo nível.

Existem algumas clínicas bem menos austeras do que os hospitais públicos, mas totalmente integradas ao sistema. Ou seja, mesmo optando-se por uma clínica, o governo paga a sua conta, o seu médico, os seus remédios, etc. No final, 80% dos gastos totais com saúde da França são reembolsados pelo Tio Nicolas. Os demais 20% ficam por conta dos extras, excedentes de honorários de clínicas e médicos, cirurgias não prioritárias e estéticas, etc.

Num sistema que busca a igualdade, até mesmo a opção de Carla Bruni por uma clínica privada, na ocasião da sua maternidade, causou desconforto. O diretor da clínica escolhida veio a público esclarecer que não dispensou qualquer tratamento privilegiado, salvo o dispositivo de segurança pessoal da esposa do Presidente. Afinal, como cidadã, grande parte das despesas do seu parto também serão reembolsados. Especula-se que tenha escolhido um médico particular, daqueles raríssimos não conveniados com o governo.

Num sistema bancado pelo Estado, poderia-se esperar um certo abuso, uma certa inflação do custo das internações e consultas. Pois é o contrário. As consultas médicas raramente passam dos 200 reais, bem longe da realidade brasileira. O mesmo se sucede com as despesas hospitalares em geral.

Enfim, esse contraste deixa evidente que o sistema brasileiro está viciado. Melhor corrigir antes que chegamos ao desespero norte-americano.


Foto: Última foto de Saint-Antoine l’Abbaye, a sua rua principal, que termina na pracinha mostrada no post de 9/10 (“Quinzena Francesa”).

Wednesday, February 17, 2010

Viva o H1N1!

Essa vai ficar para o próximo livro da série Freakonomics. As estatísticas hospitalares francesas dos últimos meses são uma grata surpresa. Constata-se uma redução brutal nas internações devido a inúmeras doenças infecciosas, como gastroenterites. Ainda sem comprovação científica, tudo indica que a resposta é ainda mais surpreendente (para os franceses, mas não para os brasileiros).

O excesso de preocupação com a Gripe A levou a uma revolução nos hábitos higiênicos na terra de Pasteur. As pessoas lavam as mãos com mais frequência e tomam mais cuidado na hora de espirrar. Até mesmo aquele gel de álcool tem sido muito vendido por aqui.

Evidentemente, esses novos hábitos não surpreenderam apenas o desprestigiado vírus da gripe A, mas também aqueles milhões de coliformes fecais que ficam passando de mão em mão até encontrarem as suas vítimas. Viva o H1N1!


Foto: Fotos do Château de Pierreclos, ao sul da Borgonha, um dos mais próximos de Lyon. No site, vocês poderão ver que em torno do castelo há muita atividade, da vinícola até a realização de eventos. Durante a minha visita, mobilizavam-se para preparar uma cerimônia de casamento.


Thursday, January 7, 2010

Vacinados

O ano de 2010 começou muito agitado por aqui. Apesar das baixíssimas temperaturas, raramente positivas, a atividade política e a pressão sobre o governo continuam altíssimas.

Depois de algumas derrotas, o governo francês começa 2010 com um daqueles escândalos típicos gauleses: Excesso de doses de vacinas contra a gripe A. Para uma população de 65 milhões, o governo comprou 94 milhões de doses. Usou apenas 5 milhões. Além disso, a França tem um terço do estoque mundial de Tamiflu.

Roche, GSK, Sanofi e Novartis agradecem. Obviamente, a brincadeira vai sair cara para o povo francês: Bilhões! Depois do vexame, resta a renegociação com os laboratórios e a possibilidade de revenda para outros países. Egito, Ucrânia e outros estão na fila.

Enfim, países desenvolvidos extremamente burocratizados e socializados também pecam. Mais por excesso do que por falta.


Foto: Ainda na Drôme, a meia hora da Universidade do Vinho, visitei o Castelo de Grignan. Local muito famoso pelas festas aristocráticas do século XVII em diante, principalmente aquelas organizadas pela Marquesa de Sévigné. O castelo original é do século XII e uma boa parte dele está em ruínas.