Sunday, September 25, 2011

Escravos de Jó, Jintao e Zara

Um mês depois do escândalo em torno do trabalho escravo nos fornecedores da Zara, constatei que alguns clientes abandonaram a marca para sempre. Estão certos. Já foi o tempo em que uma grande empresa podia alegar desconhecimento do que se passa em sua cadeia de fornecimento. A ampliação do senso de responsabilidade social é um imperativo da gestão moderna.

Oposição ao trabalho escravo não é um problema econômico, é uma questão humanitária, uma questão de princípio. Daí, minha solidariedade aos ex-clientes da cadeia espanhola.

Por outro lado, fica aquela pergunta que não quer calar, aquela dúvida que nos assola há tempos: Por que não temos uma atitude mais enérgica com aqueles quase escravagistas do outro lado do mundo?

Em 2007, Sara Bongiorni, uma jornalista americana, publicou o livro "A year without Made in China". Mesmo tendo declarado que seu livro não tem caráter político, o testemunho é muito interessante. Todos sabem que quase todo manufaturado vem da China e achar uma alternativa dá muito trabalho. A família da jornalista persistiu e passou um ano sem qualquer produto chinês. Seus filhos, por exemplo, quase foram privados de novos brinquedos, tamanha a presença chinesa no setor. Ao final de um ano, a vida da família Bongiorni estava um inferno e muito mais cara.

Muita gente hesita quando percebe que o boicote vai sair caro. Nas duas últimas décadas, exportar os empregos para a China foi útil para o Ocidente. Porém, estamos diante de uma nova realidade. Americanos e europeus estão sem empregos e sem dinheiro. Talvez seja a oportunidade para se aprimorar o sistema sócio-econômico no Ocidente e no Oriente.


Foto: Ainda da safra de junho, passagem por Saint-Antoine l'Abbaye, vilarejo medieval em Isère.

Saturday, September 24, 2011

FIFA bugs


Tudo o que leva o nome da FIFA tem sido motivo de piada, até mesmo o jogo eletrônico "FIFA 2012". A versão de demonstração que circula por aí apresenta alguns bugs incríveis. Veja o vídeo:


O jogo concorrente "PES" (Pro Evolution Soccer), na sua versão 2012, não fica atrás, com uma safra de bugs comparáveis. Veja o vídeo:


Enquanto os bugs do FIFA devem-se, em grande parte, a um sofisticado sistema que simula as colisões de jogadores, aqueles do PES parecem mais banais, ligados a posicionamento. De qualquer forma, ambos os jogos têm um nível de realismo muito distante dos primeiros jogos que conhecemos na juventude, como o Atari (1983):


Os games mais modernos têm os seus méritos. Aproveitando-se do poder computacional dos novos consoles, computadores e dispositivos portáteis, eles são programas de simulação extremamente sofisticados. Teria sido mais simples apelar para "jogadas ensaiadas", limitações na movimentação dos jogadores ou situações pré-gravadas. Mas, não, ao contrário dos cartolas, os jogos não apelam para a enganação. A proposta é deixar acontecer, ou seja, as jogadas, os dribles, as colisões e a trajetória da bola são calculados em tempo real. Pensando em informática, é uma senhora ambição. E quanto mais avançamos, mais exigente ficamos. Que venham os bugs!

Sunday, September 18, 2011

Whatsinaname?

A proliferação das redes wifi domésticas é tão grande que ofuscou a discussão sobre a abertura do sinal para vizinhança. A abertura em prol da inclusão foi defendida por muitos, mas desaconselhada por advogados.

Por onde ando, constato que quase todas as redes usam algum padrão de segurança. Bem, confesso que não testei a qualidade das senhas. Deixo isso para os "engenheiros sociais".

Uma discussão mais atual diz respeito aos nomes das redes. Nomes como "No Free Wi-Fi 4 U" ou "Connect to this if you want a virus" eram bem comuns como formas de se afastar os vizinhos aproveitadores. Porém, muita gente aproveitou para passar um recado mais explícito. Eis alguns casos reais documentados nos EUA:

- "stoplettingyourdogshitonmylawn"
- "wecanhearyouhavingsex"
- "partyatapartment564comeandbringbeer"
- "turndownyourmusic"
- "needaman"

Há também mensagens com conotação política: "killhealthcare", "betterthanbush" e "palinsux". Além das religiosas: "jesussaves", "godisfake" e "endofdays".

Um debate animado pela Slate questionava se mandar um recado para o vizinho dessa forma é melhor do que a abordagem direta. Minha resposta: Depende. Mas tenho certeza de que, na próxima vez que for batizar a sua rede, será mais criativo. Enquanto isso, veja se não tem nenhum recado da vizinhança para você.


Foto: Outra de Lyon, tirada em junho último. As estufas do parque da Tête d'Or, onde costumo correr e raramente levo a máquina fotográfica.

Sunday, September 11, 2011

Amigo Schyzo

Eu nunca tive perfis falsos nas redes sociais, apenas perfis de teste. É diferente. Explico melhor.

No LinkedIn, usei um nome fictício para navegar anonimamente. Há alguns anos, estava recrutando e naveguei pelo site procurando candidatos. Passei os perfis mais interessantes para um headhunter, pois não poderia abordar tais pessoas diretamente. Era prudente não deixar rastro em meu nome.

No Twitter, usei o perfil para conhecer melhor a ferramenta. Também fiz simulações para ver como funcionam os serviços que medem a influência do tuiteiro. Foi um experimento.

No Facebook, mais ou menos na mesma linha, quis entender melhor como o site prioriza as atualizações, sugere contatos, dirige anúncios, etc. Assim como no Twitter, testei bastante o princípio da reciprocidade ("você me segue, eu te sigo"). Enfim, ciência pura ;-)

Como o Brasil ainda não sabe se vai para uma linha mais restritiva ou liberal, com relação ao uso da Web, me antecipei e apaguei tudo.

Foi uma pena. Deveria ter repassado o material para algum estudioso. Mesmo dando o nome de Schyzo para o meu perfil de teste, vieram centenas - eu disse centenas - de mensagens do tipo: "Que legal que você aceitou o meu convite"; "qualquer hora vamos nos encontrar"; "temos os mesmos interesses"; "você tem um amigo por aqui"; "te espero aqui no Rio"; "como eu posso ajudá-lo?"; etc. Baseado no princípio da reciprocidade, o Schyzo conquistou muito mais "amigos" do que eu.


Foto: Desde que mudei de Lyon, quando retorno a cidade, costumo ficar hospedado nos arredores da antiga estação de trem de Brotteaux, que hoje abriga diversos restaurantes.

Wednesday, September 7, 2011

Meu onze de setembro

Também vou compartilhar o meu onze de setembro de 2001 com vocês. Estava no trabalho desde muito cedo pois, há dez anos, conseguia atravessar São Paulo bem mais rápido. Interromperam uma reunião importante com notícias bastante distorcidas sobre o ocorrido, então procuramos a TV. Acabava a reunião.

Apesar do choque, estava totalmente concentrado na preparação do orçamento 2002. Na semana seguinte, apresentaria algumas propostas na França. Que os vôos para os EUA estavam suspensos, todos sabiam. Porém, não contava que a empresa suspendesse todos os vôos internacionais. Não compareci àquela convenção de 2001, que congregou apenas os franceses. Apresentei alguma coisa pelo telefone, mas foi pouco eficaz.

Poucas semanas depois, teria uma outra viagem internacional planejada há tempos. Era o tradicional evento do Gartner (Symposium ITxpo) em Orlando. Aí não teve jeito, ir para os EUA continuava mesmo proibido. Então, ao invés de ir pela empresa, eu fui ao Symposium de férias!

Os aeroportos americanos continuavam às moscas. O evento estava bem mais vazio do que o normal. O Gartner adicionou uma dúzia de palestras extras sobre "disaster recovery", que viraram a sensação do evento.

O evento acabou bem, as férias idem. Os orçamentos se sucederam, assim como a realização dos mesmos. Bem, é claro, alguma coisa mudou...


Foto: Última foto de Dijon, uma das ruas que desembocam na  Place de la Libération, mostrada anteriormente.

Saturday, September 3, 2011

RIP Britannica

A Britannica de casa era um pouco mais velha do que eu. Sobreviveu ao mofo e aos cupins. Sobreviveu aos PCs e à primeira fase da Web. Em tempos de tablets e smartphones, a competição ficou muito difícil. Com a Web inteira sempre à mão, não tem para ninguém. Depois de quase cinco décadas de bons serviços, resolvemos doá-la. Esperamos que ainda seja útil para alguém.

Ofereci algumas outras publicações enciclopédicas para meus sobrinhos, que recusaram gentilmente. Insisti que poderiam ser recortadas à vontade, porém isso já não faz mais o menor sentido.

Depois da Britannica, a tendência é fazer a limpa em todas as publicações do gênero e tudo que é de domínio público. Um Kindle comportaria grande parte dos clássicos da literatura e da filosofia escritos até o começo do século XX daqui de casa.

Entre os aspectos marcantes da Britannica, estão os artigos assinados. Nos anos 60, o verbete "vida" era assinado pelo Isaac Asimov. Depois, foi substituído pelo Carl Sagan. Confesso que não sei quem são os autores das versões mais recentes. De qualquer forma, compará-la com a Wikipedia não faz o menor sentido. São coisas diferentes.

Nos anos 90, a Britannica quebrou a cara duas vezes. Na curta fase das enciclopédias em CD e na tentativa precoce de se cobrar pelo acesso à informação via Web. Às vésperas do novo século, finalmente, lançaram um site com conteúdo aberto. Eu mesmo festejei a iniciativa no artigo para o Computerworld "Lições que não estão na enciclopedia" (novembro de 1999). Errei, pois a Wikipedia nascia poucos meses depois.

Asimov, citado acima, foi mais visionário. Vinte anos antes do meu artigo, escreveu:

"Certamente, cada vez mais pessoas seguiriam esse caminho fácil e natural de satisfazer suas curiosidades e necessidades de saber. E cada pessoa, à medida que fosse educada segundo seus próprios interesses, poderia então começar a fazer suas contribuições. Aquele que tivesse um novo pensamento ou observação de qualquer tipo sobre qualquer campo, poderia apresentá-lo, e se ele ainda não constasse na biblioteca, seria mantido à espera de confirmação e, possivelmente, acabaria sendo incorporado. Cada pessoa seria, simultaneamente, um professor e um aprendiz."


Foto: A sede dos correios em Dijon, capital da Borgonha.