Sunday, October 28, 2012

No Curdistão...


Lá no fim do mundo, ou melhor, no meio do mundo, onde vivem árabes, persas, curdos e turcos, a convivência entre o "atrasado" e o "avançado" é curiosa. Os conflitos nessa região de rico sub-solo aproximam a tecnologia militar de última geração à sociedade tribal.

Num passado recente, aprenderam a conviver com a inteligência ocidental e a sua espionagem via satélite. Qualquer tirano ou terrorista da região sabe disfarçar suas construções militares para enganar os satélites. Também sabem mudar a rotina para se adaptar à espiadinha espacial.

A tecnologia ocidental se modernizou. Hoje, estamos na era dos drones, aqueles aviões não tripulados. A resposta não tardou. Hackearam drones que transmitiam informações não criptografadas (pisada de bola dos EUA) e já capturaram um drone intacto (ainda acho que foi um Cavalo de Tróia).

O que eu li nos jornais de hoje foi ainda mais pitoresco. Os curdos do PKK fogem da espionagem dos drones turcos (sensíveis ao calor) distribuindo capas de chuva e guarda-chuvas. Simples assim.

Meu recado para a CIA e o Pentágono: Não desistam dos drones, mas façam coisa melhor.


Foto: Um belo domingo de verão em Bath, Inglaterra.

Sunday, October 21, 2012

Circenses


Em algum post remoto, já disse que não sou de longas conversas com motoristas de táxi. Nada pessoal, pura introspecção. Na França, é diferente. Lá, meu desafio é conversar bastante e ver quanto tempo resisto até que surja a fatídica pergunta: "Você é italiano?".

Já fui conduzido por ex-profissionais de informática algumas vezes. Pois esta é a realidade da França, Espanha e outros. Uma corrida do aeroporto ao centro de Lyon dava uma boa sessão de "coaching", caso algum dia, eles decidissem retornar à profissão. Nunca cobrei.

Da última vez, em Paris, peguei um táxi para Aubervilliers, um centro de pesquisas na periferia da cidade. Indagou o motorista: "E vocês têm equipamento para fazer datação por carbono 14?". Mudei de assunto. Melhor falar sobre informática.

No Brasil, meu último papo cabeça com motorista de praça foi sobre estádios de futebol, numa recente viagem de Cumbica para casa. Indignado, o taxista afirmou que o governo não deveria ajudar os clubes com "dinheiro do povo". A argumentação do ilustre condutor tem sido bastante comum, sobretudo entre palmeirenses e sãopaulinos.

Infelizmente, não temos bons exemplos no Brasil. Os estádios são péssimos e os clubes são endividados, entre tantos outros vícios. Uma coisa é certa, os ingressos são baratos. Muito baratos.

Não acho que isso seja a raiz de todos os problemas estruturais do esporte, mas há um subsídio informal. Os estádios atraem as massas. Nosso sistema é democrático e camarada, mas inviabiliza um modelo de negócios em torno do estádio.

Nos EUA, é o contrário. Fiz uma rápida pesquisa, comparando jogos do campeonato brasileiro e da NFL. A diferença é brutal. Com raras exceções, um jogo da NFL sai, pelo menos, 10 vezes mais caro.

A elitização dos estádios criaria um círculo virtuoso. O comércio hospedado no estádio prosperaria com a venda de produtos de maior valor agregado e prestação de melhores serviços. Os estádios deixariam de ser um fardo para os clubes e complementariam as únicas receitas que realmente importam hoje, os direitos cedidos à TV.

Para fechar a equação, ainda seria preciso acertar muitas outras coisas como o calendário, a distribuição das receitas entre os clubes, a própria gestão dos clubes, etc. Enfim, não tem milagre. Se queremos proporcionar circo para todos, o governo irá sempre pôr a mão no bolso e ajudar na construção e manutenção dos estádios.


Foto: Outra tomada interna do Castelo de Windsor. A St. George's Chapel no primeiro plano. Ao fundo, o corpo mais antigo do castelo de raízes normandas. A capela serve como necrópole na monarquia britânica.

Wednesday, October 17, 2012

No reino da Dinamarca


2014 só lembra a Copa do Mundo no Brasil? Espero que não. Será no período desta tão festejada competição, que o mundo se lembrará do centenário do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, que deflagrou a I Guerra Mundial. Podemos dizer que, com as duas grandes guerras, este triste período da história recente terminou há apenas 67 anos, ceifando a vida de 70 milhões de pessoas.

Deixei para escrever este post aqui, na Europa. Mesmo sabendo da cessão do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia (UE) ainda no Brasil, optei por esperar alguns dias, para conversar com as pessoas e ler os jornais locais.

O Nobel da UE foi alvo de escárnio e protestos. É compreensível em face da enorme crise vivida pelo continente. É justamente aí que entra o prêmio. Antes que muitos se deixem seduzir pelos discursos oportunistas, que aquela memória curta interfira no pensamento coletivo, que o desespero se transforme numa crítica generalizada a todas as instituições, lembremo-nos do que foi conquistado. O projeto europeu é antes de tudo um projeto de paz, tendo a integração econômica como meio.

A piada é fácil. Entretanto, essa não foi a primeira e nem será a última crise. A Grécia não foi o primeiro e nem será o último país à beira do abismo. O Nobel serve de puxão de orelha na Alemanha e outros, para que se empenhem com mais determinação na solução da crise. O projeto de união monetária, que inclui alguns países da UE, foi no mínimo ousado. Talvez, errado.

O Nobel e as futuras celebrações em torno do centenário dos episódios chaves das duas grandes guerras são essenciais para lembrar às novas gerações do sombrio passado não tão remoto. Felizmente, a paz é um dos valores mais prezados num continente tão traumatizado pela guerra. Por isso, a grande maioria reconhece o mérito da honrosa premiação.

Bernard Tapie mencionou no Figaro de hoje um discurso de Mitterrand no Parlamento Europeu: “Durante a sua história, a França já fez guerra com todos seus parceiros do bloco, exceto a Dinamarca. Bem, sem dúvidas, é um pouco tarde para se entrar em guerra contra os dinamarqueses...”


Foto: Um cantinho de paz no Castelo de Windsor, o “Moat Garden”.

Friday, October 12, 2012

Intocáveis


Comentei sobre o filme "Intouchables" na revista do cinema do primeiro semestre. O texto mostra que não apostei no sucesso internacional do filme. Entretanto, as bilheterias confirmam a sua aceitação pelo mundo.

O filme conseguiu fugir do pequeno circuito tradicionalmente reservado ao cinema europeu. Se meu post original foi um pouco frio com esta ótima produção francesa, então fica aqui a correção e recomendação. Eu já o assisti duas vezes!


O nome do filme me faz lembrar o julgamento do mensalão. O grande legado desse processo não é a prisão de alguns corruptos, mas um recado muito claro para os políticos de hoje e do amanhã: Já não são mais intocáveis!

O julgamento tem sido uma grata surpresa. Temia que mais membros do STF se alinhassem ao "estilo Lewandowski". Felizmente, é a figura de Joaquim Barbosa que se impõe. Mais para frente, volto ao tema. Assim como muitos brasileiros, espero ansiosamente pela hora da dosimetria ;-)



Foto: Começando uma série de imagens sobre o Castelo de Windsor. Essa residência oficial da monarquia britânica é o maior castelo ocupado do mundo. As partes mais antigas remontam a 1070, época de Guilherme, o Conquistador.

Monday, October 8, 2012

Fenômeno


Ufa! Quase escrevi um post sobre o fenômeno Russomanno há uns 15 dias. Se não tivesse desistido, seria um dos maiores fiascos deste despretensioso blog. Estava pronto a perdoar os paulistanos por elegerem um candidato oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe. Diria que é parte do lento aprendizado da vida democrática.

A ascensão e queda do Russomanno tem vários aspectos. Do lado positivo, a sociedade percebeu que se tratava de um candidato oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe, e conseguiu descartá-lo. Com mais alguns dias, Russomanno chegaria no "traço".

O lado negativo é que para um candidato oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe, foi longe demais. Seu destino teria sido outro, não fosse o erro grosseiro na proposta de transporte público, a exploração da sua aliança com a Igreja Universal e a enorme desvantagem no tempo de televisão.

Enfim, estamos novamente diante de uma disputa de PT X PSDB. Nenhum dos candidatos é oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe. Bom para São Paulo.

Será que o fenômeno Russomanno teria sido uma tentativa de fugir desta duradoura rivalidade, que opõe as áreas centrais e periféricas da capital? Ou será mesmo que o Lula está certo, ao dizer que o povo está mais preocupado em saber se o Palmeiras cai ou não cai?


Foto: Às margens do Tâmisa, na região da Hampton Court.

Tuesday, October 2, 2012

Ted


Seth MacFarlane será o mestre de cerimônias do Oscar 2013. Confesso que não conhecia esse nome até o último final de semana, quando assisti seu filme "Ted". E tudo graças ao Protógenes Queiroz!

Acho que o leitor soube do episódio protagonizado pelo deputado. Levou seu filho de 11 anos para ver o filme do ursinho de pelúcia falante e saiu chocado, querendo baní-lo do circuito nacional. Seu argumento: "O filme faz apologia às drogas".

Deixando de lado a sua vocação de censor, o deputado cometeu um erro grosseiro não seguindo à classificação indicativa do filme: "Para maiores de 16 anos por abordagem de drogas conteúdo sexual e linguagem imprópria". Nos EUA, ele é classificado como "R" (restricted), fato que inibe sua exibição em muitos cinemas.

Eu teria deixado o filme de lado, senão fosse a promoção feita pelo deputado. Fui conferir.

Falarei sobre o filme sem contar tudo.

Pense na pessoa com a boca mais suja que você conhece. Aquele que chega até causar certo constrangimento. Então, coloque todo seu vocabulário indecente na boca de um inocente ursinho de pelúcia. Pois é, Ted nos surpreende do começo ao fim. Duas horas não são suficientes para nos acostumarmos com um ursinho falando tanta bobagem.

Obviamente, o ursinho é uma metáfora para retratar parte do mundo masculino. Imaturidade temperada com muito preconceito e vulgaridade. E coloque muito preconceito nisso. E as drogas estão presentes do começo ao fim.

A questão é fazer uma crítica social e ao mesmo tempo se aproveitar dos vícios da sociedade, fazendo graça com piadas inaceitáveis fora das telas. É por isso que o filme divide opiniões. Uns acham que MacFarlane passou da linha. Outros, que o contexto permite o abuso. Porém, é bem verdade que todos concordam que algumas cenas são hilárias.

Enfim, é divertido e é para maiores, a menos que você insista em mostrar para seus filhos como somos babacas.


Foto: Uma outra fachada da Hampton Court, em Londres.