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Monday, January 12, 2015

#JeSuisJuif


Apesar de todas as vítimas dos atentados ocorridos em Paris, no meu último post, falei mais do Charlie Hebdo para ajudar o leitor deste blog a entender melhor o ocorrido. Diante de tamanha demonstração de solidariedade, ainda fico surpreso com aqueles que não compreenderam o espírito do jornal. E são muitos.

Na sua linha libertária, ele ataca qualquer tipo de autoritarismo e extremismo, com o intuito de defender as liberdades individuais. Por exemplo, é um grande combatente de qualquer forma de racismo e tem como alvo preferencial a extrema direita francesa.

É um jornal de esquerda. Aquela  esquerda de 68, inocente e irresponsável, como tanto se repetiu nos últimos dias. E a religião como fica?

Quem luta pelas liberdades individuais e pelo Estado laico luta pelo direito de qualquer um exercer a sua religião. O Charlie, no fundo, é um grande aliado das minorias religiosas. Simples assim. A questão é que ele segue a tradição francesa de ser anti-clerical. Defende os praticantes, mas não o aparelho religioso em si. Viva os católicos, abaixo o Vaticano! Viva os muçulmanos, abaixo os aiatolás!

Se existe algo de sagrado neste mundo é a vida humana. Quanto mais pessoas acreditarem nisso, menor será a nossa disposição para fazer guerras ou atentados. Na medida em que alguns colocam símbolos ou mitos acima de uma vida humana, a disposição para a barbárie aumenta. O princípio do Charlie é que todas as pessoas merecem respeito e não suas crenças. É por isso que sentem-se tão à vontade para atacar símbolos e mitos.

O Charlie não nasceu ontem. A crítica dura aos extremismos e, em particular, às arbitrariedades do Clero, faz parte da laicidade francesa há algumas décadas, agradando gregos e troianos. Ou melhor, cristãos, judeus, e muçulmanos. Afinal, o que aconteceu?

Honestamente, desconheço todos os fatores que criaram as correntes islâmicas radicais nas periferias das cidades europeias. Arriscaria a dizer que, se todos tivessem empregos, certamente teriam menos tempo para ouvir pregações extremistas. O fator econômico tem um peso com certeza, mas está associado a muitos outros.

O outro fenômeno recente é que esse extremismo islâmico incorporou o antissemitismo. Também desconheço as suas reais razões. Solidariedade à causa palestina é conversa pra boi dormir. Acredito mais na linha de que Israel seja uma pedra no sapato de muita gente. Gente que financia o terror, gente que odeia o Ocidente, gente que detesta a democracia. Precisa falar mais?

Os jornalistas se foram. A vida continua. O Charlie Hebdo está de volta mais forte.

Os judeus se foram. A vida continua. A terceira maior população judaica do planeta está de volta, senão mais forte, com a proteção de quase 5 mil policiais.

Muito triste.

Hoje, tive uma boa conversa com um executivo muçulmano. Comentei que conhecia alguns judeus franceses considerando a saída do país. Ele deu o recado: “Diga a eles que sair é dar a vitória aos terroristas. Eles devem ficar para ajudar a França”. Recado dado ;-)

Para fechar, gostei muito da fala do primeiro ministro, Manuel Valls, mostrando respeito e o verdadeiro espírito republicano:  “A França sem os judeus da França não é mais a França”.



Foto:  Um dos poucos bairros verticais de Bruxelas, na proximidade da estação de trem (Norte).

Saturday, January 10, 2015

#JeSuisCharlie



Estou na França há alguns dias e pude acompanhar de perto os trágicos eventos: os atentados, as perseguições, as manifestações, os debates, os discursos, etc. Só me resta escrever um post sobre o assunto e passar na banca para comprar a edição especial do Charlie Hebdo na próxima quarta-feira, se é que vai sobrar algum exemplar.

O Charlie foi mencionado uma vez neste blog. Para quem não se lembra, foi “um post para maiores”

O cartunista do Le Monde, Plantu, frequenta mais este blog. A razão é simples, eu assinava o Le Monde e comprava o Charlie Hebdo muito raramente. O Charlie tem seus méritos, mas existem outros tablóides satíricos por aqui.

A França construiu uma sólida tradição laica ao longo do último século. A imprensa, representada especialmente pelos jornais satíricos, tem sido grande vigilante deste valor francês. É por isso mesmo que os jornais como Charlie eram muito críticos a qualquer forma de fanatismo religioso, disparando farpas contra o Vaticano e o Islã com muita frequência.

A essa altura, vocês já devem estar familiarizados com o tipo de crítica feita pelo Charlie, pois seus desenhos rodaram o mundo. Ou melhor, quase todo o mundo, pois mexer com religião ainda é tabu. Nos Estados Unidos, a maioria dos jornais não reproduziu os cartuns do Charlie, apesar de ter manifestado solidariedade desde a primeira hora. 

Se os petistas reclamam da “mídia reacionária”, não imaginam o que seria deixar a equipe do Charlie passar uma temporada no Brasil. O Charlie e seus congêneres pegam muitíssimo mais pesado. Fez bobagem? Falou besteira? Lá vem um cartun para desmontar qualquer um. Aliás, o próprio Charlie Hebdo foi criado após a extinção de uma outra publicação, que não respeitou nem o funeral do “intocável” De Gaulle.

O Charlie já havia sofrido um atentado e vivia sob ameaça permanente, mas não deixou de ridicularizar o fanatismo islâmico. Corajoso. Bravo. Heroico. Quantos já não se curvaram?

Se os cartunistas franceses são os guardiões dos valores republicanos mais profundos, os políticos decepcionam. E como! Para garantir os votos da comunidade muçulmana, eles fazem concessões, facilitando o comunitarismo. A laicidade tão cara ao francês corre risco. Fala-se muito da islamofobia. Fala-se pouco da islamofilia.

A questão do terrorismo islâmico interno é complexa. Atentados como esses alimentam o preconceito contra a comunidade árabe. Se já é difícil para um cristão branco conseguir algum emprego, o jovem filho de imigrantes da periferia fica ainda mais sem perspectiva. Abraçar a religião com fervor pode ser visto como salvação. Um círculo vicioso.

É notório que a rejeição ao “amálgama” foi unânime. Essa é a expressão que os franceses usam para a possível generalização associando terroristas e muçulmanos.  Nem a Marine Le Pen entrou nessa.

Qualquer um sabe que a enorme maioria da comunidade islâmica é composta de pessoas do bem, como qualquer um de nós. Ela também é uma grande vítima das suas ovelhas negras. Discutir se ela de alguma maneira faz parte da luta contra o radicalismo é um assunto polêmico.

Para fechar este post, retomo o desfecho dos eventos, com a morte dos terroristas. Se não fosse assim, estaria zombando do governo francês. Assim como no Brasil, onde as prisões são academias do crime, na França, elas são a universidade do terrorismo islâmico. Deixar esses animais na cadeia seria de extrema irresponsabilidade. Só não perguntem por que eles não se mataram depois dos atentados. Bem, já não se faz mais terroristas islâmicos como antigamente.



Foto: Continuando a série de fotos descompromissadas de Bruxelas editadas pelo Google, uma tomada do parque “Trois Fontaines” (precisamente em Vilvoorde), com destaque para seu restaurante, que serve de alternativa à cantina do trabalho.

Sunday, October 5, 2014

Segundo turno

Como disse no último post, os compromissos por aqui impediram-me de ficar conectado com o Brasil. Acompanhei muito pouco o que aconteceu depois de julho, nem mesmo a campanha. 

O mais curioso é que as últimas pesquisas de intenção de voto da eleição presidencial dão mais ou menos o placar do começo de julho, quando a Dilma estava um pouco abaixo dos 40% e o Aécio, em segundo, um pouco acima dos 20%. Parece que não aconteceu nada nesse intervalo!

Porém, mesmo se quisesse, não daria para ignorar os fatos. A meteórica ascensão e queda da Marina Silva foi manchete no mundo inteiro. Nos países que visitei, Bélgica, França e Portugal, todos perguntavam: quem é essa Marina?

Talvez a minha dificuldade de explicar aos estrangeiros quem é a Marina seja uma das razões que vai tirá-la do segundo turno. Conhecia algumas passagens da sua biografia e nada mais. A um ou outro francês que torceu o nariz para a nossa Marina, respondi: cada país tem a Marina que merece (“chacun sa Marine”).  

O segundo turno será Aécio X Dilma. O mesmo duelo das cinco últimas eleições. Frustração para quem quer novidade. Preocupação para quem quer se livrar da Dilma. Não vou usar este blog para criticar a abominável presidente pelos motivos que expliquei num post anterior. Quase todos meus leitores não votam nela. 

Espero que a equipe do Aécio traga argumentos convincentes para abocanhar grande parte dos votos da Marina, manter os seus e ainda convencer muitos daqueles que votaram em branco ou nulo a mudarem de opinião. Alea jacta est!


Foto: Biarritz, verão de 2013. A “Plage de la Côte des Basques”, a escola do surfe.

Sunday, March 11, 2012

É ou não é?

Na última semana, um vídeo oficial da Comunidade Europeia provocou grande polêmica. Veja aqui. É racista ou não? Alguns dizem que o filme abusa dos estereótipos. Outros, que seria "apenas" politicamente incorreto. A voz dos descontentes pesou e o filme não será mais divulgado.

Não sei se chineses, indianos e brasileiros sentiram-se ultrajados. A representação do continente por uma mulher branca foi infeliz, trata-se de um certo desrespeito às próprias minorias que vivem no continente.

E a campanha eleitoral da França? Racista ou não? Marine Le Pen, líder da extrema direita, acusou que a carne consumida em Paris provém de animais abatidos segundo os rituais muçulmanos e judaicos. A resposta de Sarkozy veio a altura da sua opositora. O desesperado Presidente mandou que toda carne halal ou kasher seja muito bem identificada para que nenhum francês tenha dúvidas do que consuma. Imaginem só, um cristão comendo uma carne dessas! Cruz credo!

Ontem, um cronista brasileiro lembrou do aniversário do tsunami que devastou parte da costa japonesa. Comentando sobre o que já havia sido reconstruído, aclamava o povo japonês: Unido, determinado, organizado, etc. A mensagem de uma certa superioridade foi explícita. Diz ele: "Que povo!"

Racista ou não? A Nação japonesa pode funcionar melhor do que a brasileira, mas nenhum povo é melhor do que outro. O acidente de Fukushima só não foi o maior acidente nuclear da história por muito pouco. Um povo "superior" não faria usinas tão vulneráveis, não acumularia uma história de corrupção e escândalos na gestão do seu parque nuclear e talvez soubesse gerenciar melhor uma crise daquela magnitude. Enfim, somos solidários, torcemos pelo Japão, mas somos tão bons quanto eles.


Foto: No Navy Pier, em Chicago. A roda-gigante moderna homenageia o local que testemunhou a primeira delas, durante a Exposição Universal de 1893. À época, a ideia foi uma construção que rivalizasse com a Torre Eiffel, apresentada na edição parisiense de 1889.

Monday, May 16, 2011

Entre mortos e feridos

As forças e fraquezas de DSK são velhas conhecidas dos franceses. Para os socialistas, ele representava uma esperança de pacificação e unificação do partido, preparando para a vitória em 2012. O bom trabalho diante do FMI só reforçou a sua imagem de competência, apesar dos escândalos que marcaram sua carreira.

DSK já morreu e renasceu várias vezes. Um escândalo sexual a mais não faz diferença. A França já tolerou muita coisa estranha aos bons costumes debaixo dos lençóis do Eliseu. Um presidente tarado é mais bem aceito do que um casamento de fachada com uma modelo italiana.

Se DSK for inocentado, ainda pode voltar como herói. Principalmente, se for provado que tudo foi armado pela direita. Entretanto, o seu maior problema está do outro lado do Atlântico. Será que ele se livra dessa? Será que vai ficar uma temporada nos EUA, mas não exatamente nos escritórios do FMI? Não conheço bem a justiça norte-americana, mas as perspectivas não são boas. Dizem por aí, que os EUA não querem outro Roman Polanski.

Ainda falta muito tempo para a eleição francesa. Em tese, Sarkozy e Le Pen são beneficiados com a possível morte política de DSK. Mas, se ficar a menor dúvida de armação para o DSK, quem morre é o baixinho.


Foto: Mais uma foto da Praia do Forte, no último feriado.

Sunday, March 13, 2011

Direita, volver!

Espero que a catástrofe japonesa não tire as nossas atenções dos países árabes. Não podemos dar folga para o Khadafi. Enquanto os EUA e a ONU hesitam, o pequeno Nicolas se empenha para liderar uma ação militar européia contra o ditador. Quem diria!

O esforço do presidente é visto pela própria imprensa francesa como "mise en scène". Depois do desgaste na Tunísia e no Egito, o governo francês quer apagar a impressão de que está sempre do lado dos ditadores. Impressão não, fato. Mas, sejamos justos, não é exclusividade da França.

A maior ducha de água fria para Sarkô foi a divulgação das primeiras pesquisas relativas às eleições presidenciais de 2012. As duas primeiras apontaram a vitória da extrema-direita, liderada por Marine Le Pen. Confesso que sempre encarei esta política como personagem folclórico, assim como seu pai. Jamais imaginei que pudesse entrar numa corrida presidencial. Parodiando o intelectual George W. Bush, a Marine é a mais pura representação da "França profunda".

Felizmente, a terceira pesquisa já aponta a vitória do atual presidente do FMI, Dominique Strass-Kahn, do PS. Todas as três pesquisas indicam que o atual presidente não chegaria ao segundo turno.

Apesar de ser muito cedo para se tirar quaisquer conclusões, é um sinal relevante do descontentamento da população. Sarkô tentou seduzir eleitores de um amplo espectro político, se esforçou para melhorar a sua imagem e jogou para a torcida. Porém essas coisas não colam muito na França.

Passo as próximas duas semanas por lá, bastante curioso para decifrar melhor essa ascensão da extrema direita francesa. A bientôt!



Foto: Ainda na Abadia de Fontenay (Borgonha), o claustro da igreja.