Há poucos anos, a Turquia implorava para entrar na União Europeia. Queria seguir os passos de outros países do velho mundo, que desfrutavam de certa prosperidade (PIGS). Entrar na Zona do Euro seria o máximo!
O ex-presidente Sarkozy, no entanto, estava determinado a barrar os planos turcos. Muito antes do agravamento da crise, ele disse: "A Turquia não entra na União Europeia, por que não é um país europeu".
A Turquia agradece à geografia de conveniência do Sarkozy. O país se salvou das ingerências de Bruxelas e a sua arquirrival Grécia está em plena desintegração. Se não fossem as divergências em torno do genocídio armênio, o ex-presidente seria um ídolo na Turquia.
Nesta semana, Angela Merkel mostrou que geografia não é seu forte. Numa sala de aula, ela foi convidada a mostrar a cidade de Hamburgo num mapa mundi. Seu raciocínio foi lógico, localizaria primeiro Berlim e, depois, a sua cidade natal. O problema é que ela procurou por Berlim na Rússia. Alertada pela professora, exclamou: "O que? A Rússia? Tão perto?". Os alunos gargalhavam.
Decepcionante. Seria estresse? Ignorância? Ato falho? Difícil de se explicar. Se no seu mapa mental, Berlim está dentro da Rússia, onde estaria a adorada Grécia? Talvez, no Irã.
Quando se fala de geografia, é claro que ninguém supera George W. Bush. Entre algumas das suas célebres citações:
"Do you have blacks, too? (2001, para FHC)
"Border relations between Canada and Mexico have never been better" (2001)
"Wow! Brazil is big!" (2005, para Lula)
Fotos: Acima e abaixo, a famosa Robie House de Hyde Park, na periferia de Chicago. A casa de 1909 é considerada símbolo da escola arquitetônica liderada por Frank Lloyd Wright, primeiro estilo genuinamente americano.
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Wednesday, May 30, 2012
Sunday, November 27, 2011
Alemanha contra rapa
Conforme escrito no último post, Portugal, Itália, Grécia e Espanha (PIGS) continuam em maus lençóis, e a Alemanha é o centro das atenções.
Muito provavelmente, Angela Merkel empurraria a questão do Euro com a barriga, não fosse a punição imposta pelo mercado. Ao encontrar os primeiros percalços na emissão dos seus próprios títulos, a poderosa Alemanha encontra-se tão fragilizada quanto seus vizinhos. Enfim, os alemães começam a perceber que estão no mesmo barco. Até a Economist usou a surrada metáfora da orquestra do Titanic.
O interessante é a inversão. De uma hora para outra, os PIGS viraram vítimas e a disciplinada Alemanha é vista como grande vilã. Apesar da irresponsabilidade fiscal dos PIGS, a forma de atuação do Banco Central Europeu – imposta pela Alemanha – coloca todo continente em risco. A Alemanha não pode mais insistir na punição dos países gastadores sem correr riscos.
Os alemães estão contrariados. Para eles, as cigarras se deram bem e as formigas dançaram. Antes dos dominós começarem a cair, as economias europeias já estavam estagnadas, enquanto que a Alemanha estava em melhor forma. Independentemente de quaisquer outros fatores, a origem de todos os males é a própria moeda única, que ameaça formigas e cigarras. Restarão apenas alguns pulgões.
Desde o começo da crise, os políticos europeus aproveitavam cada oportunidade para culpar o mercado financeiro. Diziam que a Europa não se inclinaria aos especuladores. Com o tempo, o discurso foi amenizado. O mercado, esta entidade culpada de tantos males, permitiu as operações para salvar a Grécia, amenizar a situação da Espanha e ainda foi o único a “peitar” a Alemanha. Se há algum pingo de sensatez nesta história, está no famigerado mercado.
Alemanha contra todos. Alguém já viu isso antes? Seria uma mera circunstância econômica ou fruto da mesma sequência histórica que levou aos conflitos do passado, das diferenças entre as perspectivas católica e protestante, de Roma contra os povos germânicos, etc. Para pensar.
Foto: Uma outra tomada da charmosa Saint-Martin-de-Ré.
Saturday, November 19, 2011
O dono da bola da vez
Cansado da crise europeia? Eu também. Revendo meu próprio blog, percebi que o primeiro post sobre a crise grega foi de março de 2010. Àquela época, já se falava do possível efeito dominó, iniciado na Grécia e demais "PIGS".
Quando escrevi aquele post, ainda morava na Europa, onde o assunto já dominava o noticiário. Confesso que acreditava numa certa solidariedade ao povo grego, numa preocupação em se evitar a desintegração social no coração da Europa. Hoje, tenho certeza absoluta de que a dupla Merkozy só queria livrar a cara e salvar seus bancos.
De fato, caminhamos para o pior dos cenários. Lá se vão dois anos sem crescimento, dois anos de sofrimento para os gregos e a crise está apenas começando. A economia italiana está em cheque e todos pagam altas taxas de juros para rolar suas dívidas. Até a França, detentora da nota máxima AAA, paga cada vez mais juros.
Até pouco tempo, a discussão maior era se a Grécia deveria dar o calote ou não. Agora, com economias bem mais significativas em jogo, a Alemanha está no centro do debate.
O mundo clama para que o Banco Central Europeu tenha uma atuação menos amarrada, injetando mais dinheiro na Economia e resgatando os países em dificuldade, mesmo com o risco inflacionário. A Alemanha, que emprestou a solidez do Marco ao Euro e tem uma trágica memória neste terreno, é radicalmente contra.
Vocês podem reparar no noticiário recente, as atenções viraram para a Alemanha. Apesar da sua virtude e disciplina, ela terá que ser solidária com seus vizinhos vagabundos, que ainda juntam dinheiro para comprar Mercedes.
Dois artigos:
The German problem
O Decálogo da Crise Europeia
Foto: Passeando por Saint-Martin-de-Ré, principal núcleo da Île de Ré. As casas podem parecer humildes, mas valem muito. A Ilha é sempre citada pelos críticos do Imposto sobre Fortuna. A valorização imobiliária transformou os seus antigos habitantes em milionários. O problema é que eles não tinham caixa para pagar o imposto. A saída foi vender e se mudar. Justo?
Quando escrevi aquele post, ainda morava na Europa, onde o assunto já dominava o noticiário. Confesso que acreditava numa certa solidariedade ao povo grego, numa preocupação em se evitar a desintegração social no coração da Europa. Hoje, tenho certeza absoluta de que a dupla Merkozy só queria livrar a cara e salvar seus bancos.
De fato, caminhamos para o pior dos cenários. Lá se vão dois anos sem crescimento, dois anos de sofrimento para os gregos e a crise está apenas começando. A economia italiana está em cheque e todos pagam altas taxas de juros para rolar suas dívidas. Até a França, detentora da nota máxima AAA, paga cada vez mais juros.
Até pouco tempo, a discussão maior era se a Grécia deveria dar o calote ou não. Agora, com economias bem mais significativas em jogo, a Alemanha está no centro do debate.
O mundo clama para que o Banco Central Europeu tenha uma atuação menos amarrada, injetando mais dinheiro na Economia e resgatando os países em dificuldade, mesmo com o risco inflacionário. A Alemanha, que emprestou a solidez do Marco ao Euro e tem uma trágica memória neste terreno, é radicalmente contra.
Vocês podem reparar no noticiário recente, as atenções viraram para a Alemanha. Apesar da sua virtude e disciplina, ela terá que ser solidária com seus vizinhos vagabundos, que ainda juntam dinheiro para comprar Mercedes.
Dois artigos:
The German problem
O Decálogo da Crise Europeia
Foto: Passeando por Saint-Martin-de-Ré, principal núcleo da Île de Ré. As casas podem parecer humildes, mas valem muito. A Ilha é sempre citada pelos críticos do Imposto sobre Fortuna. A valorização imobiliária transformou os seus antigos habitantes em milionários. O problema é que eles não tinham caixa para pagar o imposto. A saída foi vender e se mudar. Justo?
Saturday, June 12, 2010
Home sweet home
Passei a semana num congresso em Portugal. Não pude escrever nenhum post. A continuação de "Você sabe que não está no paraíso quando" fica para depois. Também não entrei no clima da Copa. Até tentei assistir a um jogo entre a última palestra do congresso e o jantar. Não encontrando nada na TV aberta, acompanhei superficialmente pela Internet.
Neste dia dos namorados, Portugal celebra 25 anos de adesão à União Européia. Um quarto de século de casamento exemplar. Entretanto, a crise conjugal que se anuncia não tem precedentes. Portugal é um dos PIGS, citados diversas vezes nos posts anteriores.
O longo período de prosperidade fez muito bem para Portugal. A primeira vez que estive no país fiquei muito bem impressionado. Recomendo a sua visita a todos os brasileiros. Nesta segunda vez, a principal diferença é o melancólico testemunho dos brasileiros, encontrados em todos os lugares. A conversa é uma só: Arrumar as malas e voltar para casa.
Foto: Casas do centro de Colmar, na Alsácia.
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