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Sunday, July 14, 2013

Snowden

O aprofundamento da discussão sobre a privacidade e os limites da vigilância do Estado será uma grande contribuição do Caso Snowden. A imprensa está inundada de artigos criticando os EUA, defendendo a liberdade e reverenciando o ex-agente americano.

Até no Brasil, onde nunca se deu a mínima para o assunto, Snowden virou herói e Obama passou a encarnar o próprio Satã. Vi pouquíssimas matérias fazendo um contraponto, por isso recomendo a leitura do artigo do Mario Vargas Llosa.

Não gostaria de julgar o Snowden, até por que só estamos vendo a pontinha do iceberg. Num mundo cheio de segredos, nunca saberemos as suas reais motivações. Ele pode ser um herói de verdade ou o pior dos canalhas. Tanto faz.

O maior problema é a demonização dos EUA. Na prática, estamos fazendo o jogo que interessa aos países que realmente censuram, que mantêm exércitos de hackers ou que promovem o mal de forma deliberada. Com o argumento de "se os EUA fazem, nós também podemos", acabaram-se as esperanças de algum controle sobre o Big Brother. O legado de Snowden pode ser um mundo muito pior.

Um lembrete aos leitores brasileiros indignados com a bisbilhotice americana. Enquanto você está preocupado com o Snowden, tem alguém muito mais próximo fuçando as suas fotos, tentando entrar na sua conta bancária ou prestes a chantagear um membro da sua família.

A maior prova da ineficácia da super espionagem norte-americana é não ter antecipado o próprio Snowden. Portanto, cuidado. Para fins práticos, o grande problema do mundo virtual não é o Big Brother, mas os milhares de maltrapilhos que nos cercam.


Foto: A "Grande-Place" de Bruxelas num domingão festivo. A Praça é a principal da cidade e integra o Patrimônio da Unesco.

Saturday, March 23, 2013

Linhas tortas


Não garanto que a novela da inspeção veicular em São Paulo tenha terminado. Agora, o foco será nos veículos antigos, deixando um regime muito mais flexível para os mais novos. Enfim, parece razoável, como esperávamos que fosse desde o início. Se o final é feliz, o caminho foi tortuoso.

A inspeção foi criada como uma mágica arrecadatória e desmontada com demagogia. A única coisa em comum entre todos os envolvidos é que nenhum deles está preocupado com o meio ambiente, o suposto beneficiário da tal inspeção.

Democracia é assim mesmo. Durante nossas vidas, vemos um monte de bobagens e injustiças. No longo prazo, a sociedade faz as correções.

A corrupção e a incompetência atrapalham a vida pública. Nem por isso, tudo é desprezível. Algumas discussões do Congresso refletem legítimas fraturas da sociedade diante de certos assuntos, sobrepondo-se ao habitual fisiologismo e à disputa entra governo e oposição. Exemplo: Os royalties do petróleo e todas as questões de impacto religioso (jogos, gays, aborto, etc).

Assisti ao filme "Lincoln" com olhos de quem acabara de acompanhar o julgamento do Mensalão. As cenas de corrupção de deputados parecem de certa inocência para o século XXI. Entretanto, a crença de Lincoln no processo democrático, mesmo com as suas imperfeições, é um dos seus grandes legados.

Os EUA elegem seus presidentes sem interrupção há mais de 200 anos, algo que representa um marco na história da humanidade. Daqui a 100 anos, quase ninguém saberá o que foi um petista ou um tucano. O importante é que estejamos escolhendo nossos líderes, apesar de todos os acidentes de percurso vindouros.


Foto: No topo da cidade de Eze, nas ruínas do seu castelo, há um jardim de plantas exóticas decorado com esculturas de Jean-Philippe Richard.

Sunday, October 28, 2012

No Curdistão...


Lá no fim do mundo, ou melhor, no meio do mundo, onde vivem árabes, persas, curdos e turcos, a convivência entre o "atrasado" e o "avançado" é curiosa. Os conflitos nessa região de rico sub-solo aproximam a tecnologia militar de última geração à sociedade tribal.

Num passado recente, aprenderam a conviver com a inteligência ocidental e a sua espionagem via satélite. Qualquer tirano ou terrorista da região sabe disfarçar suas construções militares para enganar os satélites. Também sabem mudar a rotina para se adaptar à espiadinha espacial.

A tecnologia ocidental se modernizou. Hoje, estamos na era dos drones, aqueles aviões não tripulados. A resposta não tardou. Hackearam drones que transmitiam informações não criptografadas (pisada de bola dos EUA) e já capturaram um drone intacto (ainda acho que foi um Cavalo de Tróia).

O que eu li nos jornais de hoje foi ainda mais pitoresco. Os curdos do PKK fogem da espionagem dos drones turcos (sensíveis ao calor) distribuindo capas de chuva e guarda-chuvas. Simples assim.

Meu recado para a CIA e o Pentágono: Não desistam dos drones, mas façam coisa melhor.


Foto: Um belo domingo de verão em Bath, Inglaterra.

Sunday, September 18, 2011

Whatsinaname?

A proliferação das redes wifi domésticas é tão grande que ofuscou a discussão sobre a abertura do sinal para vizinhança. A abertura em prol da inclusão foi defendida por muitos, mas desaconselhada por advogados.

Por onde ando, constato que quase todas as redes usam algum padrão de segurança. Bem, confesso que não testei a qualidade das senhas. Deixo isso para os "engenheiros sociais".

Uma discussão mais atual diz respeito aos nomes das redes. Nomes como "No Free Wi-Fi 4 U" ou "Connect to this if you want a virus" eram bem comuns como formas de se afastar os vizinhos aproveitadores. Porém, muita gente aproveitou para passar um recado mais explícito. Eis alguns casos reais documentados nos EUA:

- "stoplettingyourdogshitonmylawn"
- "wecanhearyouhavingsex"
- "partyatapartment564comeandbringbeer"
- "turndownyourmusic"
- "needaman"

Há também mensagens com conotação política: "killhealthcare", "betterthanbush" e "palinsux". Além das religiosas: "jesussaves", "godisfake" e "endofdays".

Um debate animado pela Slate questionava se mandar um recado para o vizinho dessa forma é melhor do que a abordagem direta. Minha resposta: Depende. Mas tenho certeza de que, na próxima vez que for batizar a sua rede, será mais criativo. Enquanto isso, veja se não tem nenhum recado da vizinhança para você.


Foto: Outra de Lyon, tirada em junho último. As estufas do parque da Tête d'Or, onde costumo correr e raramente levo a máquina fotográfica.

Wednesday, September 7, 2011

Meu onze de setembro

Também vou compartilhar o meu onze de setembro de 2001 com vocês. Estava no trabalho desde muito cedo pois, há dez anos, conseguia atravessar São Paulo bem mais rápido. Interromperam uma reunião importante com notícias bastante distorcidas sobre o ocorrido, então procuramos a TV. Acabava a reunião.

Apesar do choque, estava totalmente concentrado na preparação do orçamento 2002. Na semana seguinte, apresentaria algumas propostas na França. Que os vôos para os EUA estavam suspensos, todos sabiam. Porém, não contava que a empresa suspendesse todos os vôos internacionais. Não compareci àquela convenção de 2001, que congregou apenas os franceses. Apresentei alguma coisa pelo telefone, mas foi pouco eficaz.

Poucas semanas depois, teria uma outra viagem internacional planejada há tempos. Era o tradicional evento do Gartner (Symposium ITxpo) em Orlando. Aí não teve jeito, ir para os EUA continuava mesmo proibido. Então, ao invés de ir pela empresa, eu fui ao Symposium de férias!

Os aeroportos americanos continuavam às moscas. O evento estava bem mais vazio do que o normal. O Gartner adicionou uma dúzia de palestras extras sobre "disaster recovery", que viraram a sensação do evento.

O evento acabou bem, as férias idem. Os orçamentos se sucederam, assim como a realização dos mesmos. Bem, é claro, alguma coisa mudou...


Foto: Última foto de Dijon, uma das ruas que desembocam na  Place de la Libération, mostrada anteriormente.

Monday, August 1, 2011

Vox populi

Uma recente pesquisa do IBOPE, divulgada no Estadão, mostrou que a maioria dos brasileiros (55%) é contra a união estável entre pessoas do mesmo sexo ("casamento gay"). Mesmo sendo favorável à matéria, a aprovação pelo Supremo chamou minha atenção. Fiquei curioso pelos caminhos que a sociedade encontra para se aperfeiçoar, mesmo contra a suposta vontade da maioria. Certamente, não foi o único episódio da nossa História. Seria um paradoxo da democracia? 

A dificuldade de aprovação do "casamento gay" no Congresso pode ser compreendida. Não foi o poder do lobby católico-evangélico, mas a própria vontade do povo. O poder legislativo representa o povo. Seria justo cobrar este tipo de progresso social do Congresso? Seria incumbência dos outros poderes?

O Ricardo Amorim (@Ricamconsult no Twitter) foi mais provocativo e tuitou:  "Segundo IBOPE, maioria é contra união gay. Ainda vamos nos envergonhar disso. Maioria já foi contra fim da escravidão e voto das mulheres.”

O paralelo sugerido pelo Ricardo é inteligente. Talvez, discorde do motivo da vergonha, pois a sociedade está sempre em transformação. Os eventos históricos suscitam controvérsias, porém, em ambas as situações, o Brasil estava muito dividido.

Todos sabiam que a abolição viria mais cedo ou mais tarde. A resistência era grande por que uma parte do Brasil protegia seus interesses. Até a classe média possuía escravos! A aristocracia rural também dava como certa a abolição, mas brigou até o fim por uma indenização pelos escravos libertados.  A Princesa Isabel formalizou o fim da escravidão com a sua canetada histórica, sem indenização aos proprietários de escravos, que viraram republicanos instantaneamente (Já viram isso?).

O sufrágio feminino também foi resolvido com uma canetada de Getúlio Vargas em 1932. O ativismo feminino cresceu no seu governo e a causa foi misturada com os movimentos sociais, que espalhavam-se pelo país. Possivelmente, muitos brasileiros eram apenas indiferentes ao tema, daí a suposta oposição da maioria. Se houvesse uma pesquisa de opinião nos anos 20-30, as mulheres não seriam entrevistadas! Depois de anos de discussão e indefinição, Getúlio encerrou o assunto e capitalizou.

Em ambos os casos, mesmo que a maioria da população ainda não apoiasse a causa, a Princesa Isabel e Getúlio Vargas estavam diante de uma tendência inequívoca, seja pela realidade no exterior ou pela mobilização crescente da nossa sociedade. Coube a eles mostrar o caminho.

O Brasil mudou. Temos uma Constituição mais moderna e respeitosa aos direitos do cidadão. Não temos mais monarcas nem ditadores. O papel do Supremo, como árbitro em grandes debates nacionais, será cada vez mais comum, numa situação similar aos EUA. Livre de preconceitos e interesses, o Supremo deve decidir segundo o espírito da Constituição. E que venham outros debates, pelo bem do Brasil!


Fotos: Acima, uma esquina charmosa de Arbois, a caminho da casa onde viveu Louis Pasteur,a atração principal da cidade (abaixo).