Junho é mês de eventos na Europa. A razão é muito simples. Maio é mês de feriados e julho é mês de férias.
Além da concentração junina, há também um acúmulo de eventos às terças e quintas. Segunda e sexta são dias evitados pelos organizadores por razões óbvias. Quarta também, por que é feriado escolar (França) e muitos pais adotam um regime de trabalho especial, que permite acompanhar seus filhos.
Nesse contexto, terça-feira, dia 16, fui convidado para cinco eventos sobre a “revolução digital”. Confirmei presença em três e estive em dois. Ando fazendo overbooking de agenda. Na véspera, decido o que vou encarar. (Já fui mais bonzinho!)
Só não quero mais encarar o discurso do presidente do Uber da França ou da Bélgica. Chega! Também não quero mais palestrantes, que tentam nos convencer de que é preciso mudar para o universo digital. Como disse o Jacques Attali, numa das palestras deste mês, não foi preciso convencer o mundo a adotar a TV há 50 anos. Nem mesmo o telefone há 100 anos.
A palestra mais inusitada deste mês repleto de colóquios não foi de nenhum bilionário fundador de start-up, nem de nenhum guru profissional. Foi um depoimento de um executivo que, ao invés de contar vantagem, confessou a sua impotência diante dessa transformação “vertiginosa” (sic).
Trata-se de um dirigente de uma vinícola de Sauternes. Elegante, francês perfeito e fala suave. Um verdadeiro nobre com humildade ímpar. Diante de blogs de vinhos que já são mais influentes do que a Wine Spectator, comerciantes virtuais cada vez mais poderosos, centenas de aplicativos e sites sobre o tema, ele e os 10 funcionários da vinícola estão simplesmente perdidos.
Quase em tom de despedida, relembrou os bons momentos vividos com seus clientes e visitantes, que vão pessoalmente ao Château. Ressaltou o privilégio de degustar os vinhos com tantos amigos e clientes, naquele clima especial que surge ao redor de um bom vinho. Bons tempos, hein!
Foi uma oportunidade de pensar revolução digital sob uma outra perspectiva. Isso sim é palestra inspiradora. Nosso executivo certamente não está só. Ser um produtor de Sauternes não é para qualquer um, mas as transformações mencionadas por ele são implacáveis.
A propósito, o nobre palestrante é nobre mesmo. Embora tenha apresentado-se como um mero gerente de château, uma rápida consulta ao Google confirmou o que desconfiava. O ilustre membro da Casa de Orleans é cheio de títulos honoríficos e pretendente ao “trono francês”.
Foto: A orangerie do Château de Seneffe, na Bélgica.
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Thursday, June 18, 2015
Saturday, November 16, 2013
Feriadão na estrada?
Neste feriadão, milhões de paulistanos passaram muitas horas nas estradas. Muuuuuitas horas! Se o descanso no literal ou no interior compensa o estresse da viagem depende do julgamento de cada um. Nesse caso, é correto esculachar o governo e reclamar da falta de infraestrutura viária ?
As maiores deficiências do nosso sistema de transporte estão no transporte urbano e no de mercadorias, dois gargalos que atravancam a economia e perturbam nossas vidas. Turismo interno e lazer soam como prioridades menores diante dessas duas. Investir em estradas, que ficarão ociosas a maior parte do tempo, não é a melhor aplicação dos recursos da sociedade, sejam públicos ou privados.
Alguém poderia argumentar que se tivéssemos uma malha ferroviária mais desenvolvida, o gargalo rodoviário seria bem menor. É verdade, mas é tarde demais. Para um efeito perceptível, precisaríamos de uma malha ferroviária tão grande, que a relação custo-benefício do investimento seria muito discutível. Na Europa, mesmo com toda a malha disponível, as rodovias também chegam a parar nos feriadões!
O governo tem seu papel. Cabe a ele garantir a segurança dos viajantes, fazer melhorias constantes no sistema, desengargalar estradas e, excepcionalmente, construir nova rotas. De qualquer modo, não tem milagre! Não há sistema de transporte que resista a alguns milhões de pessoas saindo da cidade ao mesmo tempo.
Foto: Mais uma tomada de Gante, na Bélgica.
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