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Monday, February 7, 2011

Céline?

Quem digitar "Céline" no Google encontrará menções e fotos da popular cantora canadense Céline Dion. No mundo virtual, a artista coloca um dos maiores nomes da literatura francesa, Louis-Ferdinand Céline, na obscuridade. Ele faz por merecer.

Na França, acompanhei as discussões sobre as homenagens ao cinquentenário da morte de Céline. Após intensa mobilização de Serge Klarsfeld, o Ministro da Cultura Frédéric Miterrand cancelou o evento oficial. Céline pode ter sido um grande escritor, mas foi um notório colaboracionista e fervoroso antissemita, contrapondo os valores fundamentais da nação francesa.

Mexer nesse assunto é colocar o dedo na ferida da França, mas bem que se trata de uma questão universal. Certamente, encontraremos paralelos em outros lugares do mundo. O filósofo Bernard-Henri Levy, por exemplo, preferia manter o evento oficial. Segundo ele, é preciso mostrar o mistério que faz de uma pessoa um grande escritor e um perfeito canalha ao mesmo tempo.

Outros intelectuais franceses se apegaram às questões semânticas. Afinal, estamos falando de comemoração ou celebração? Luc Ferry, filósofo já citado neste blog, prefere combater ambas as formas e acabar com essa mania de olhar para trás. Diz ele: Podemos ler e descobrir Céline, mas, como diz o Evangelho "Deixai os mortos enterrarem os seus mortos".

Serge Klarsfeld, representante dos descendentes dos judeus deportados, foi dado como grande vitorioso do episódio. Vale ressaltar que o assunto não era unanimidade na comunidade judaica, que talvez preferisse menos barulho. Afinal, Céline não é nem Victor Hugo nem Molière.


Foto: Uma outra tomada do Marina Sands, em Cingapura.

Friday, October 22, 2010

É o amor!

Pense rápido e cite cinco filósofos brasileiros. Que tal três? Dois? Um? Se você não se lembrou de ninguém, não fique envergonhado. O Brasil não é a França, que festeja seus filósofos, como já havia comentado em 01/03/10. Também citei Bernard-Henri Lévy (BHL), o filósofo mais popular da atualidade, algumas vezes.

O assunto deste post é Luc Ferry, outra estrela da filosofia 'pop' francesa. Ao contrário de BHL, Luc joga no time do Sarkô, sendo um dos intelectuais mais prestigiados da direita. A novidade da semana é o lançamento do seu livro "A revolução do amor". Não lerei o livro, mas tive a oportunidade de assistir uma longa - e excelente - apresentação do autor, durante a cerimônia de aniversário da ADIRA, a associação dos dirigentes de informática de Rhône-Alpes (região que tem Lyon como capital). Pelo que eu pude pesquisar no Youtube, ele vem repetindo o discurso há algum tempo.

Luc Ferry é de um otimismo peculiar. Afirma que vivemos (os europeus) num momento muito especial da História, onde o amor do Homem pela própria vida bem como a vida dos seus entes queridos nos lança numa nova era de humanismo. Nem sempre foi assim.

Durante séculos, os casais formavam-se por inúmeros fatores, menos pela atração ou respeito mútuo. Os casais possuíam muitos filhos, nem sempre tão amados. A perda de um cavalo era um golpe mais duro do que a perda de um filho. O casamento por amor mudou tudo.

A partir do momento em que passamos a amar o cônjuge de verdade, também amamos os filhos e a família como um todo. Essa lenta transformação, colocando a família como peça central, muda a forma com que nos relacionamos com o Estado, a Religião e a Sociedade. Com a família mais sólida, passamos a procurar a justiça, a fraternidade e a verdade. O conceito de sagrado é outro.

Luc usa a acepção original de sagrado, ou seja, aquilo pelo qual estaríamos dispostos a nos sacrificar. Durante séculos, o sagrado foi reservado à Pátria, a Deus ou à Revolução. Hoje em dia, qual europeu está disposto a se sacrificar por tais abstrações? Felizmente, cada vez menos pessoas.


Fotos: Acima e abaixo, as duas tomadas laterais do magnífico castelo de Schönbrunn.