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Monday, July 27, 2020

Relíquia



O Cézar Taurion postou a foto de uma régua gabarito de diagrama de blocos, algo muito útil para os profissionais de TI de um passado remoto. Como resposta, coloquei uma foto dos cartões perfurados ainda guardados em casa (abaixo) e disse: vamos ver quem é mais sênior por aqui!

Vejam dez das reações a minha foto:

- Meu Deus! Não era uma lenda! Os cartões perfurados existiram mesmo!
(Dário Yanagita)

- O pessoal aqui não viu o dilúvio, mas pisou no barro!
(Marco Poma)

- Birman, isso é bem “recente” em relação àquela régua.
(Valério Kikuchi)

- Pegou pesado!
(Márcio Gropillo)

- Fernando, você e o Cézar foram longe demais!
(Daves Souza)

- Vamos de modernidade, modem USRobotics 14400 e 36600. Pensa na alegria quando começava a receber os dados, e na tristeza quando caia a conexão.
(Valmir Schuch)

- Quando comecei a trabalhar isso estava praticamente no fim. Uma vez, um maço caiu no chão e foi difícil arrumar tudo de volta.
(Jorge Gonzalez Sanz)

- E quando, na faculdade, algum engraçadinho resolvia bater a mão por baixo da pilha de cartões???
(Sílvia Bassi)

- Aprendi computação com estes cartões.
(Felisberto Nunes Correia Júnior)

- Eu sou 'sênior', mas vocês são muito inspirados. Grato pelos excelentes comentários.
(Fernando Birman)





Foto: Gloriette é o pavilhão situado no meio dos jardins do Palácio de Schönbrunn, destinado às festas. É o prédio mais novo do conjunto, datado de 1775. Assim como na minha primeira visita, em 2010, não resisti a uma pausa com café e apfelstrudel no restaurante instalado no local.

Wednesday, July 22, 2020

Cibersegurança


Os problemas de cibersegurança têm incomodado muita gente durante a pandemia. Este é um assunto tão complexo que nem as empresas mais bem preparadas conseguem se proteger, imaginem as pessoas comuns. Respeitando a diversidade de público deste blog, não vou mais longe nos aspectos técnicos. 

Existe uma velha anedota da TI: computador seguro é computador desligado. Como eu e você precisamos, mais do que nunca, dos recursos tecnológicos nesses tempos bicudos, deixo cinco orientações mínimas para serem seguidas a fim de alcançarmos um pouco mais de proteção.

Por que apenas cinco? Poderiam ser 10 ou 20 regras, mas quero enfatizar o essencial, aquele “minimum minimorum”. Se você conseguir fazer mais, melhor ainda.  As dicas valem para computadores e celulares.

  1. Manter os softwares atualizados – É uma regra de ouro porque muitas das atualizações são justamente as correções das vulnerabilidades dos softwares, que são usadas pelos hackers. Quando houver a opção de atualização automática, melhor ativá-la.
  2. Usar senhas fortes – A gente tem milhares de senhas, mas as coisas importantes devem estar protegidas com senhas seguras. Por exemplo, a senha O20TOs5c8ZT@iYh$5LVv é uma boa senha e foi gerada por um programa de administração de senhas, uma boa dica por sinal. Muitas vezes, há ainda a opção por uma segunda autenticação, algo extremamente recomendável.
  3. Fazer cópia das informações de valor – Minha sugestão é usar um disco externo e os serviços de armazenamento de dados (Dropbox, Google Drive, Microsoft OneDrive, etc). Atenção, eu disse um e outro! Considere que tudo que está no seu celular ou computador pode ser perdido repentinamente.
  4. Prestar muita atenção nas armadilhas - Os ataques começam a partir de uma isca: uma visita a um site pouco conhecido, um email não solicitado, links encaminhados pelas redes sociais, etc. Até mesmo torpedos e ligações podem ser usados para fisgar um usuário incauto. Desconfie de tudo! 
  5. Travar os dispositivos - Celulares e computadores devem ter sempre uma senha. Isso não evita a perda do equipamento num furto, mas protege o mais importante.

Saibam que a maior parte dos ciberataques é feita por organizações bem aparelhadas, sejam braços de algum Estado ou gangues especializadas. Virou um grande negócio. Dessa forma, não é impossível nem vergonhoso ser vítima de um ataque virtual. Pode acontecer com qualquer um: pessoas, empresas e até com países inteiros.

Poderia dar um monte de dicas, mas prefiro começar com essas. Posteriormente, colocarei outras regras e até mesmo as boas práticas. Em caso de dúvida, não hesite em perguntar neste blog ou nesta rede social.



Foto: Ainda em Viena, o Palácio de Hofburg, centro do poder dos Habsburgos por mais de seis 
séculos. Berço de princesas conhecidas como Maria Antonieta (França) e Leopoldina (Brasil).

Tuesday, July 21, 2020

Viajante



Já falei sobre muitas coisas neste blog e minhas viagens estão entre os temas recorrentes. Até mesmo a proposta de ilustrar cada post com uma fotografia tirada em algum lugar do mundo mantém a ligação deste blog com as viagens.

Graças à longa pausa deste blogueiro, acumulei um estoque de fotos capaz de ilustrar milhares de novos posts. No entanto, a minha maior inquietude é se e quando vamos voltar a viajar.

Por um golpe de sorte, comecei o ano com umas boas férias. Voltei ao Brasil quando o epicentro da pandemia se instalava na Europa e a situação saía do controle na Itália. Foi por pouco!

Não faltam ideias e convites de viagem para o próximo ano. Também não faltam dúvidas: será seguro? teremos vacinas? os brasileiros serão aceitos sem restrições? Acredito também que o setor aéreo passe por uma tremenda reestruturação, impactando nossos hábitos de turismo.

Minhas viagens pessoais e profissionais dos últimos vinte anos simbolizam um pouco desse mundo anterior à pandemia. Viagens para lá e para cá, malas quase sempre prontas, passaporte na mão, etc.

No começo, tudo parece charmoso. Acumulam-se milhas, sobe-se na hierarquia da fidelidade das companhias aéreas, hotéis, locadoras e trens. Mas quando você começa a reconhecer os comissários de bordo e ser tratado pelo nome em todo lugar, talvez já tenha viajado demais.

Enfim, aquela época em que cruzávamos o planeta para uma simples reunião pode ter acabado.  Deixei claro neste blog que sou contra um movimento brusco das empresas para acabar com seus escritórios e ficarem no 100% virtual. Já com relação às viagens, acredito que usar e abusar das telecomunicações parece razoável. Mesmo que seja apenas pelo bem do planeta.


Foto: Voltando à Viena, o majestoso palácio de Schönbrunn, residência de verão principal dos Habsburgos, de meados do século XVIII até o final da Segunda Guerra. 



Friday, July 3, 2020

Do fundo do baú: “A rede”



Ao final da gravação do episódio 34 do podcast The Shift, a Cris de Luca e a Sílvia Bassi pediram os já famosos ‘insights’, dicas de livros, filmes ou qualquer outra coisa interessante associada ao tema discutido. Eu saquei, lá do fundo do baú, um filme de 1995: “A rede”. Um filme menos reconhecido pelos aspectos cinematográficos e mais celebrado por ser protagonizado pela jovem Sandra Bullock. 

Afinal, por que então ressuscitar esse filme? Nos últimos meses, discutimos em diversos fóruns a questão do trabalho em casa. Muitos de vocês sentiram o gostinho dessa forma de trabalhar durante o confinamento. Várias empresas já adiantaram que prolongarão a temporada de trabalho em casa, outras vão deixá-lo como opção permanente e ainda tem aquelas que querem abolir seus escritórios para sempre.

Voltando ao filme e evitando qualquer spoiler. Mesmo não sendo um blockbuster, ele tem lá o seu fã clube. O enredo cheio de tecnologia dos anos 90 tem algumas visões interessantes, que mereceram minha atenção desde o lançamento.

Tudo se passa em torno de Angela Bennett, uma profissional de TI que trabalha em casa e, praticamente, não conhece ninguém da empresa. Além da sua evidente solidão, essa desconexão abre caminho para boa parte da trama. Assisti ao filme algumas vezes, portanto logo associei aquele ambiente a esse movimento maciço de dispersão da força de trabalho forçado pela pandemia. Para mim, um cenário distópico.

Em casa, percebemos como podemos ser produtivos. O trabalho nunca rendeu tanto. Mas, por acaso, as empresas vivem apenas de produtividade? Será que essa produtividade é sustentável? Se todos continuassem trabalhando em casa, as empresas não perderão nada?  

Que tal falarmos de outros processos que dependem das relações humanas, muitas vezes informais? Já repararam que as conversas que surgem antes ou depois de uma reunião no escritório são possivelmente mais promissoras do que a própria reunião? E os famosos encontros na hora do café? E aquela caminhada básica pelos corredores da empresa?

 O 100% em casa pode ser uma boa solução temporária. De fato, algumas poucas empresas poderiam adotá-lo de forma permanente. Entretanto, o mundo ideal é aquele da flexibilidade. Trocar o 100% no escritório pelo 100% remoto é "trocar um dogma pelo outro", nas sábias palavras do Satya Nadella, CEO da Microsoft.

As corporações, que têm uma cultura própria e buscam a perenidade, dependem de relações humanas diretas para permitir o exercício da liderança, influência, inovação, criação, entre outras. Dispensar esse pacote de relações humanas diretas é abrir mão do que o ser humano tem de melhor.



Foto: Palácio Belvedere em Viena (2016). Este lindo palácio merecia mesmo uma segunda visita. Aliás, digo isso para Viena inteira, pois, durante a minha primeira estada, choveu canivetes. O museu sediado no palácio tem o acervo de obras de Gustav Klimt como destaque.


Friday, June 26, 2020

2022 é agora!



Bolsonaro e seu clã estão sob pressão. Há várias investigações em curso e algumas delas podem levar à interrupção do seu mandato. Se não restam dúvidas sobre a sua desonestidade e incapacidade, o desfecho das diligências não é certeiro. Sim, o presidente pode terminar o seu mandato. Este post trata desta possibilidade, nem tão remota como gostaríamos.

De vez em quando, ouço ruídos vindos das redes sociais anunciando “Bolsonaro reeleito” ou “Fechado com Bolsonaro até 2026”. Dá para entender o cálculo do Planalto, ecoado pelos seus fiéis seguidores. O mais difícil é terminar o mandato. Se o presidente for até o fim, a reeleição pode até ser apertada, mas estaria ganha.

Do outro lado do espectro político, o PT também tem a mesma sensação. Diversas atitudes do Lula mostram claramente a sua vontade de pegar um atalho direto para o segundo turno de 2022, através de algum nome abençoado por ele. Por exemplo, quando não aderiu às primeiras discussões sobre o impeachment e pela recusa de formar uma frente ampla com outras lideranças políticas brasileiras.

Considerando-se que teremos os mesmos protagonistas das últimas eleições em 2022, o cálculo do Bolsonaro e do Lula está correto. Ambos estão muito confiantes em alavancar a vitória em cima da rejeição alheia. Ainda é cedo para fazer contas, mas, decerto, aqueles 10 milhões de votos de vantagem do Bolsonaro já devem ter ido para o espaço.

Para garantir a revanche, os dois lados fazem um jogo tão preciso, que parece combinado. A máquina bolsonarista destrói a reputação de qualquer nome novo que surja à direita. Vejam a violência dos seus ataques a João Dória, Luciano Huck, Sérgio Moro e tantos outros. Do lado esquerdo, a máquina petista mantém a sua hegemonia, com a devida truculência quando necessário.

Desta forma, estamos indo de cara para um Bolsonaro X Candidato do PT, duelo a ser decidido conforme a nossa rejeição. É o nojo contra o asco. Fomos incapazes de evitar esse cenário em 2018 e podemos repeti-lo em 2022.

Talvez, meus caros leitores já tenham percebido a situação. O quadro pode até ser óbvio para alguns. Confesso que estou bastante incomodado com a catástrofe anunciada. Este post serve de alerta àqueles que ainda não perceberam a situação e que também possamos imaginar alternativas.

A abreviação do mandato do atual presidente é imperativa. Devemos usar todos os meios legítimos para buscá-la. Seria um alento e, talvez, um golpe mortal no bolsonarismo. Talvez. O provável acirramento dos seus seguidores e o velho conhecido discurso do golpe não ajudarão a encontrar respostas melhores.

Numa estimativa rudimentar, petistas e bolsonaristas representam 40% do eleitorado. É muito, mas existem outros 60%. Uma maioria que não deve assistir ao espetáculo de mãos atadas, a fim de evitarmos mais quatro anos perdidos.

Não existe e nem vai existir uma terceira via abrangendo todo o espectro ideológico entre o petismo e o bolsonarismo. Deveríamos chegar a 2022 com uma lista de nomes fortes, candidaturas viáveis e estruturadas. Nós, os 60%, deveríamos trabalhar na construção dessas candidaturas. Deixemos e ignoremos o trabalho de destruição feito pelos outros 40%.

Embora tenha uma preferência pessoal pelo parlamentarismo, acreditando que seja a vacina definitiva contra presidentes muito ruins, sei que não há condições de retomar esse debate. Entretanto, podemos retomar a discussão das reformas para aperfeiçoar nosso sistema político-eleitoral. Sempre é oportuno melhorar as regras de representatividade, financiamento e reeleição, entre outras.

Enfim, este post foi um convite para pensar nas alternativas para evitar um repeteco de 2018, com a esperança de convergirmos para duas candidaturas razoáveis o bastante para remover os representantes do bolsonarismo e do petismo no segundo turno de 2022. Lembrando que tudo começa sempre com o voto consciente.

 


Foto: Parlamento austríaco, Viena (2016). Logo depois do retorno ao Brasil, tirei umas férias na Europa. Oportunidade de revisitar Viena e conhecer outras cidades que ilustrarão este blog. Quanto a ilustrar essa matéria com a foto de um parlamento? Coincidência 😉


Saturday, November 20, 2010

Cadeirinha

Lamento pela longa ausência. Não posso dizer que estive embriagado com o lançamento do Beaujolais Nouveau 2010, pois estava em São Paulo, após tantos anos acompanhando a festa francesa em torno da bebida. Lembrando que a maioria dos franceses comemora o fato da bebida deixar o seu país ;-)

Entre idas e vindas, posso assegurar que estive em São Paulo no segundo turno das eleições, mas não no primeiro. Estive também quando o uso de cadeirinhas para as crianças se tornou compulsório na frota nacional, ou mais precisamente, quando da obrigatoriedade dos "sistemas de retenção para o transporte de crianças". Não dá para criticar iniciativas como essa. Qualquer melhoria de segurança é sempre bem recebida. Pena que os políticos que tomam este tipo de iniciativa, geralmente, estão pensando mais nos seus bolsos.

O lobby que une políticos e empresários em torno dessas oportunidades é evidente e igual em todo lugar. Na França, a cadeirinha não vingou, nem menos o saudoso kit de primeiros socorros. Em compensação, tive que comprar um belo colete amarelo de material bem reflexivo. Em caso de acidente e parada na estrada, o uso é obrigatório.

Deixando o mundo do automóvel, após ter visitado alguns amigos em Lyon, percebi que suas piscinas possuíam o mesmo tipo de cobertura, uma espécie de persiana que se enrola e desenrola sobre a superfície da piscina. Explicaram-me que há uma lei exigindo a tal cobertura, com o intuito de se minimizar o risco de afogamento de crianças. Os pais brasileiros certamente acham mais prático ficar de olho nas suas crianças.


Foto: Fecho as fotos de Viena (Áustria), com mais uma tomada do Belvedere.

Saturday, November 6, 2010

Bugre do chuchu ou chuchu do bugre?

O Le Monde publicou o artigo "Dilma, a búlgara" neste primeiro de novembro. Não tem nada de especial, é apenas um pouco a mais de informação para os franceses que se interessam pelo pleito brasileiro.

O melhor do artigo são os comentários. Pela primeira vez, vi o site do Monde virar uma sala de discussão de brasileiros francófonos (ou nem tanto). Os primeiros comentários referem-se ao peso da origem na sociedade brasileira, uma discussão interessante. Os últimos retratam a divisão da nossa sociedade em torno da futura Presidente e do seu mentor.

O genitivo búlgaro me leva a tecer outros comentários de natureza linguística. Na França, muitas vezes ouvi a expressão "bougre", com múltiplos significados: Um cara normal, um cara um pouco estranho, um estrangeiro e, até mesmo, um homossexual. Descobri que o "bugre" do nosso português - relativo aos indígenas - é originário da palavra francesa. E afinal de onde vem o "bugre" ou "bougre"? Vem do latim "bulgarus" - búlgaro em português - no sentido de herege, quando o cristianismo praticado na Europa ocidental e oriental divergiam.

Lembro de mais outra contribuição francesa à nossa cultura. Quem nunca ouviu as expressões "chuchuzinho", "chuchu beleza" ou "meu chuchu"? Com certeza, elas não têm nada a ver com o chuchu. A origem é a palavra francesa "chouchou", que significa: Queridinho, preferido ou favorito. É bem verdade que "chou" significa couve, mas não se sabe quando o vocábulo saiu da horta e entrou no coração das pessoas.

Enfim, na França, dá para falar que a Dilma é o chuchu do bugre, que não precisa de tradução. E a pronúncia é praticamente a mesma. Ou seria a bugre do chuchu?


Foto: Três tomadas da Ópera de Viena. Acima, uma vista lateral. Abaixo, a vista frontal. E, ainda abaixo, uma tomada do seu interior.


Sunday, October 31, 2010

Conversa de bonde

Há alguns meses, em Lyon, estava voltando de tramway do trabalho para casa. A distância não é grande, mas nos dias muito frios ou muito quentes, a climatização é sempre um conforto. Encontrei um outro executivo da empresa no mesmo vagão, um francês que já havia vivido no Brasil. Em menos de dez minutos de viagem, falamos sobre nossas missões e, também, sobre o Brasil e a França.

A nossa conversa privativa - em voz baixa - estava sendo discretamente observada. Na metade da curta viagem, um gaulês anônimo nos abordou. Se apresentou como francês desempregado e do "métier" (informática). Disse que compreendeu que eu era um expatriado brasileiro. Também percebeu que o meu colega tinha uma elevada posição hierárquica no grupo. Com a rudeza peculiar da Gália, ele nos questionou sobre o porquê da França "importar" um profissional como eu.

Sou do tipo que já fica incomodado com alguém prestando atenção na minha conversa. Porém, esta situação foi ímpar. O cara nos observou, entrou na conversa e ainda nos desafiou. Após uns instantes de choque, meu colega resolveu responder. Os franceses adoram um debate. A conversa parecia promissora, mas era o meu ponto. Desejei "bonne soirée" a ambos e fui. Um pouco surpreso com as circunstâncias, mas certo de que quem perdeu o bonde da história não foi eu.


Fotos: Fechando as fotos do magnífico castelo de Schönbrunn. Acima, a fonte. Abaixo, a vista a partir da Gloriette.

Wednesday, October 27, 2010

Envelhecendo

Na semana do meu aniversário, o post não poderia ser sobre outro assunto. O efeito mecânico do envelhecimento populacional é muito relevante para se compreender o que acontece no mundo. A parte mais óbvia é a onda de ajustes fiscais na Europa e a consequente resistência popular.

Enquanto lá, o efeito é cada vez mais perverso, no Brasil, estamos na fase boa da curva. Ou seja, aqui, o processo de envelhecimento é recente. Com a população relativamente estável, a pressão para se proporcionar mais escolas, casas e empregos diminui. O próprio FHC reconheceu tal impacto positivo quando deixou o cargo.

Com a bomba populacional desativada, poderemos melhorar a educação e reduzir o alto grau de favelização do nosso país. Se não fizermos nas duas próximas décadas, nunca mais o faremos. Alguns economistas dizem que, em trinta anos, o Brasil terá uma estrutura populacional como a Europa, onde o fardo das aposentadorias e despesas médicas é uma grande ameaça.

Mudando de continente, a sociedade que mais se transforma é, sem dúvidas, a chinesa. Lá, o envelhecimento foi acelerado pelo controle rigoroso da natalidade. Com a política de filho único, cada chinês trabalha para sustentar seus pais e seus quatro avós. Por enquanto, os chineses não se arriscam a gritar. Em compensação, mudam de emprego por qualquer aumento de salário. Enfim, talvez não seja uma questão de falta de lealdade, como atribuem preconceituosamente os europeus, mas uma simples questão de sobrevivência.


Fotos: Ainda no castelo de Schönbrunn, em Viena. Uma das estruturas mais elegantes do castelo é a Gloriette, destruída na Segunda Guerra e restaurada logo depois, em 1947. Acima, uma tomada próxima. Abaixo, a visão a partir do castelo.

Friday, October 22, 2010

É o amor!

Pense rápido e cite cinco filósofos brasileiros. Que tal três? Dois? Um? Se você não se lembrou de ninguém, não fique envergonhado. O Brasil não é a França, que festeja seus filósofos, como já havia comentado em 01/03/10. Também citei Bernard-Henri Lévy (BHL), o filósofo mais popular da atualidade, algumas vezes.

O assunto deste post é Luc Ferry, outra estrela da filosofia 'pop' francesa. Ao contrário de BHL, Luc joga no time do Sarkô, sendo um dos intelectuais mais prestigiados da direita. A novidade da semana é o lançamento do seu livro "A revolução do amor". Não lerei o livro, mas tive a oportunidade de assistir uma longa - e excelente - apresentação do autor, durante a cerimônia de aniversário da ADIRA, a associação dos dirigentes de informática de Rhône-Alpes (região que tem Lyon como capital). Pelo que eu pude pesquisar no Youtube, ele vem repetindo o discurso há algum tempo.

Luc Ferry é de um otimismo peculiar. Afirma que vivemos (os europeus) num momento muito especial da História, onde o amor do Homem pela própria vida bem como a vida dos seus entes queridos nos lança numa nova era de humanismo. Nem sempre foi assim.

Durante séculos, os casais formavam-se por inúmeros fatores, menos pela atração ou respeito mútuo. Os casais possuíam muitos filhos, nem sempre tão amados. A perda de um cavalo era um golpe mais duro do que a perda de um filho. O casamento por amor mudou tudo.

A partir do momento em que passamos a amar o cônjuge de verdade, também amamos os filhos e a família como um todo. Essa lenta transformação, colocando a família como peça central, muda a forma com que nos relacionamos com o Estado, a Religião e a Sociedade. Com a família mais sólida, passamos a procurar a justiça, a fraternidade e a verdade. O conceito de sagrado é outro.

Luc usa a acepção original de sagrado, ou seja, aquilo pelo qual estaríamos dispostos a nos sacrificar. Durante séculos, o sagrado foi reservado à Pátria, a Deus ou à Revolução. Hoje em dia, qual europeu está disposto a se sacrificar por tais abstrações? Felizmente, cada vez menos pessoas.


Fotos: Acima e abaixo, as duas tomadas laterais do magnífico castelo de Schönbrunn.

Tuesday, October 19, 2010

Bagunça

Não! Não queria escrever mais sobre as manifestações que acontecem na França, pois já está tudo nos posts anteriores. Mas, atendendo a pedidos, aí vai mais um texto.

Ninguém sabe como acabará este movimento contra a reforma do sistema de aposentadorias. A bagunça pode terminar amanhã ou se intensificar ainda mais. A tradicional queima de Renaults e Peugeots já começou. E não se trata de queima de estoques!

Vale relembrar que a reforma proposta pelo governo Sarkozy é correta e que o problema das aposentadorias é estrutural, associado à maior longevidade da nossa espécie. Outros países enfrentarão o mesmo problema, se quiserem sanear as suas contas. O governo tem maioria no Parlamento e fatalmente vai aprová-la.

O povo francês é bem mais politizado e culto que o brasileiro. Eles realmente acreditam no Estado provedor e querem continuar gozando dos benefícios conquistados ao longo das últimas décadas. Por outro lado, em 2007, elegeram Sarkô, que nunca escondeu a sua ambição reformista. Também elegeram uma maioria parlamentar liderada pela UMP, o principal partido de direita.

A manifestação é portanto fruto de muitos fatores: O descontentamento com a economia como um todo, com a deterioração do tão festejado padrão de vida francês, com a gestão de Sarkozy e, de uma forma bastante significativa, contra a personalidade do Presidente: Esnobe, arrogante e vaidoso.

A França ainda tem uma vantagem em relação ao Brasil. Lá, a capacidade de mobilização, organização de greves e protestos está sob comando da oposição. No Brasil, o governo tem tudo.


Foto: Uma das jóias de Viena, o majestoso castelo de Schönbrunn foi residência de verão dos Habsburgos. Hoje, é a maior atração turística da cidade e destaque do patrimônio mundial da UNESCO.

Sunday, October 17, 2010

Golpe baixo

Um dos piores golpes baixos das eleições brasileiras é fazê-la parecer uma luta de classes. Como se um candidato representasse os "ricos" e o outro, os "pobres".

Se isto fosse verdadeiro, o Brasil não estaria tão dividido. Não haveria uma diferença de apenas 8 pontos percentuais entre Dilma e Serra. Se todos os eleitores do Serra fossem ricos, o Brasil seria uma super-potência econômica, talvez maior do que a Alemanha.

Pode ser que os extremamente pobres sejam pró-Dilma e os muitíssimo ricos, pró-Serra. Mas entre essas duas classes existem dezenas de milhões de eleitores cujos votos estão associados a diversos outros fatores. Parece óbvio. Mas, infelizmente, a manipulação funciona.


Fotos: Em Viena, a praça Maria Teresa é sede de dois museus instalados em prédios simétricos, o de Belas Artes e o de História Natural. Acima, uma outra tomada da praça. Abaixo, no interior do Museu de História Natural, que abrigava uma mostra especial sobre Darwin. Lembrando que a foto é de maio de 2010.

Wednesday, October 13, 2010

Cascata

Pelo menos para mim, o estado de alerta com relação ao terrorismo causou mais impacto do que a greve geral em si. Sabendo da greve, as pessoas buscam alternativas. Meus colegas de Lyon foram de carro para a nossa convenção em Gerland, descartando o eficiente transporte público da cidade.

O que me fez atrasar e andar além do planejado não foi a greve. Foram alguns pequenos deslizes sobre as linhas férreas gaulesas. Uma simples sacola abandonada num vagão de trem ou metrô provoca um efeito cascata inigualável. Isola-se um vagão, uma composição, uma estação, o trem que se aproxima e assim por diante. Dependendo das circunstâncias, uma linha inteira. Nas duas últimas semanas, sofri alguns atrasos por causa desses cuidados.

Além do risco iminente de atentado dentro do território francês, ressalto o número crescente de franceses sob domínio de terroristas na África. A Al-Qaeda tem se espalhado facilmente pelo Magreb e pelo Sahel (Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, etc), áreas onde a França possui vários interesses.

O histórico do governo francês nesses casos é uma vergonha. Todas as operações especiais de resgate fracassaram. Vários franceses têm sido libertados após negociações que incluem somas vultosas e a libertação de terroristas perigosos. A maioria dessas transações envergonharam o Ocidente. Se eu fosse terrorista, procurava mesmo um alvo francês.


Foto: Museu de Belas Artes de Viena. No primeiro plano, a homenagem a Maria Teresa. Tanto a praça e o monumento levam o nome de uma das soberanas mais importante da casa dos Habsburgos.

Sunday, October 10, 2010

Para maiores

A Europa continua em alerta vermelho face às ameaças terroristas. França, Inglaterra e Alemanha estão no grau máximo vigilância. Considerando-se que os terroristas costumam preparar as suas ações por meses, deduzo que esperariam mais alguns dias, até que o nível de alerta baixasse. Não precisa ir muito longe, para se concluir que a vigilância permanente é a única saída. Pelo menos, a "mise-en-scène" é didática.

Semana que vem, temos mais uma greve geral por aqui. Estarei em Lyon, mas um pouco longe do centro. Meu ‘Plano B’ será levar um par de tênis. Uma hora de corrida é suficiente para se atravessar a cidade.

A cena hilária da semana foi o lapso da ex-ministra Rachida Dati. Num programa de televisão, ao invés de falar inflação, pronunciou felação. Talvez, ela tenha visto a charge publicada no semanário Charlie Hebdo, onde o pequeno Sarkô está bem encaixado entre as pernas e sob o manto de Bento XVI. Alguém diz ao Papa: ‘Não se preocupe, ele é maior’.

Sarkozy foi a Roma para agradar os católicos praticantes franceses, que representam menos de 15% da população. É muito pouco, mas o cara está desesperado.

Em matéria de religião, a imprensa francesa, fiel defensora da laicidade, não poupa ninguém. Voltando ao tema do post anterior, o editorial do Monde (capa de 8/10/10) comenta o impacto do assunto aborto no Brasil: “O Brasil, primeira nação católica do mundo, tem seus arcaísmos e tabus, que nós podemos, segundo o ponto de vista de cada um, aceitar ou criticar. O aborto faz parte deles. É lamentável que este grave problema da sociedade, ao invés de suscitar um verdadeiro debate, seja usado como máquina de guerra eleitoral”. O Monde está certo. Mas, a vontade de abortar a Dilma é tanta...


Foto: O Rathaus de Viena em dia de festa.

Tuesday, October 5, 2010

Primeiro turno


Comparando com o quadro desenhado há um mês, não podemos reclamar do resultado das eleições. Só o fato de ter um segundo turno já é fantástico. Fora do Brasil, fala-se muito na eleição presidencial, deixando-se muita coisa importante de lado. Afinal, ser governador não é tão ruim assim!

Nas semanas que antecederam as eleições, a imprensa francesa deu grande destaque às conquistas brasileiras dos Anos Lula. Revistas e programas especiais em todos os lugares. Normalmente, jogando confete. A biografia da Dilma ganhou notoriedade e a sua vitória no primeiro turno foi dada como certa.

A ascensão de Marina Silva também foi bastante festejada na Europa, onde os verdes detêm uma grande força política. Vale lembrar que um típico ecologista europeu certamente se chocaria com algumas das posições da candidata, sobretudo pela sua oposição ao aborto. Lamento dizer, mas ecologista evangélico e esquerdista católico são conceitos estranhos por aqui.

Finalmente, surgiram algumas notas esporádicas sobre o fenômeno Tiririca. Contundo, não li nada que fosse mais a fundo no nosso sistema eleitoral e explicasse o porquê dos palhaços puxadores de votos.

Com ou sem Tiriricas, a base governista no Congresso é enorme. Assustadora, talvez. E ainda teremos a temporada de compras de deputados, que vai engordá-la ainda mais. Se a Dilma ganhar, fará o que quiser. Se o Serra ganhar, será mais difícil. Não impossível. Pois quem se vende para o PT, também se vende para os tucanos.

Volto a São Paulo para o segundo turno.



Foto: Mais uma tomada do belíssimo Belvedere, em Viena.

Tuesday, September 28, 2010

Sarkoberlusconismo

Fiz um pit-stop no Brasil, mas não ficarei para as eleições. Mesmo antes da expatriação, costumava faltar. Para mim, começo de outubro sempre foi sinônimo de convenção mundial. Resta-me ir ao cartório eleitoral e pagar a multa. Prometo a vocês que estarei torcendo para que tenhamos um segundo turno nas eleições presidenciais. Aí, eu estarei de volta.

Mudando de assunto, indo do Brasil para a Europa, retomo um artigo muito bom do Estadão de domingo, que trata do populismo de Sarkozy e Berlusconi, líderes da guinada à direita do velho mundo. O artigo é uma entrevista do filósofo francês Pierre Musso concedida a Andrei Netto. Gostei da matéria, que nos ajuda a ligar muito dos fatos relatados neste blog. Eis alguns trechos:

“Sarkozy e Berlusconi tomam emprestado muito da linguagem da TV contemporânea. Como em um sitcom, nós seguimos as aventuras do herói político, suas relações com amigos e inimigos, com as mulheres, com os filhos.”

“A nova forma de fazer política se funda sob um modelo passional, emocional. Produzir eventos, sendo mestre da agenda da mídia, propondo temas – como os ciganos, a burca, a identidade nacional, o imposto sobre o sistema financeiro -, é mais importante que ter o controle da mídia.”

“O sarkoberlusconismo traz consigo uma espécie de cesarismo, no qual o tema segurança volta ao centro do debate público, para fazer do líder um salvador. Na neopolítica se governa pela fascinação e pelo medo.”

“A estratégia do sarkoberlusconismo é cavar um fosso usando símbolos. Na maior parte dos países do mundo, os fossos ideológicos, como o capitalismo e o socialismo, desapareceram. Novos fossos estão em construção em torno de valores e símbolos, por falta de sistemas políticos alternativos à esquerda, pela ausência de projetos políticos novos. Vivemos uma espécie de refeudalização, um retorno ao passado.”


O que é pior? Sarkoberlusconismo ou lulismo?



Foto: Em Viena, o belo palácio Belvedere (século XVIII), uma jóia do barroco. O destaque do seu museu é o inigualável acervo de obras de Gustav Klimt.

Sunday, September 26, 2010

Plantu

O cartunista do Le Monde passou pelo Brasil nos últimos dias. Jean Plantureux, mais conhecido como Plantu, tem alguns dos seus desenhos expostos no Sesc Vila Nova (SP) até 30 de outubro.

Tenho acompanhado a sua obra há alguns anos, afinal suas charges estão invariavelmente na capa do jornal. Se o seu foco principal é a política francesa, alguns temas são acessíveis aos brasileiros. Um deles é religião.

Plantu não poupa a sua ironia mesmo com assuntos que são considerados delicados a oeste do Atlântico. Cutucou Maomé com vara curta. Para surpresa geral, foi o desenho abaixo que despertou a maior polêmica da sua carreira, gerando milhares de protestos contra o Le Monde. A ira não era de franceses, mas de cristãos norte-americanos. Plantu foi ameaçado e dado como morto na Wikipedia.

Nota: O desenho foi feito depois da crise da reintegração dos bispos negacionistas ao Vaticano. Jesus distribui camisinhas na África. O bispo nega a existência da AIDS e o Papa...Coitado do Papa!


Foto: O Parlamento austríaco em Viena. O prédio em estilo clássico grego é no mínimo majestoso. A estátua a sua frente representa Palas Atena.

Saturday, September 25, 2010

Viena

Os próximos posts serão ilustrados com fotos da minha passagem por Viena em maio último. Não tive muita sorte com o tempo, o que me induziu a permanecer mais tempo dentro dos museus, castelos, teatros, restaurantes, etc. Chuva e vento forte fizeram com que três guarda-chuvas fossem inutilizados numa mesma manhã. Não desisti. Prossegui o passeio com um guarda-chuva danificado na mão esquerda (o quarto) e a máquina fotográfica na direita.

A suntuosidade dos edifícios deixados pela Casa dos Habsburgos, o patrimônio artístico, a programação cultural, a gastronomia (ah, as sobremesas!) fazem da cidade uma das melhores para se viver em todo o mundo. A capital austríaca é é realmente fantástica e tenho vontade de voltar. Antes, precisarei ficar dois a três quilos abaixo do meu peso.