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Tuesday, July 21, 2020

Viajante



Já falei sobre muitas coisas neste blog e minhas viagens estão entre os temas recorrentes. Até mesmo a proposta de ilustrar cada post com uma fotografia tirada em algum lugar do mundo mantém a ligação deste blog com as viagens.

Graças à longa pausa deste blogueiro, acumulei um estoque de fotos capaz de ilustrar milhares de novos posts. No entanto, a minha maior inquietude é se e quando vamos voltar a viajar.

Por um golpe de sorte, comecei o ano com umas boas férias. Voltei ao Brasil quando o epicentro da pandemia se instalava na Europa e a situação saía do controle na Itália. Foi por pouco!

Não faltam ideias e convites de viagem para o próximo ano. Também não faltam dúvidas: será seguro? teremos vacinas? os brasileiros serão aceitos sem restrições? Acredito também que o setor aéreo passe por uma tremenda reestruturação, impactando nossos hábitos de turismo.

Minhas viagens pessoais e profissionais dos últimos vinte anos simbolizam um pouco desse mundo anterior à pandemia. Viagens para lá e para cá, malas quase sempre prontas, passaporte na mão, etc.

No começo, tudo parece charmoso. Acumulam-se milhas, sobe-se na hierarquia da fidelidade das companhias aéreas, hotéis, locadoras e trens. Mas quando você começa a reconhecer os comissários de bordo e ser tratado pelo nome em todo lugar, talvez já tenha viajado demais.

Enfim, aquela época em que cruzávamos o planeta para uma simples reunião pode ter acabado.  Deixei claro neste blog que sou contra um movimento brusco das empresas para acabar com seus escritórios e ficarem no 100% virtual. Já com relação às viagens, acredito que usar e abusar das telecomunicações parece razoável. Mesmo que seja apenas pelo bem do planeta.


Foto: Voltando à Viena, o majestoso palácio de Schönbrunn, residência de verão principal dos Habsburgos, de meados do século XVIII até o final da Segunda Guerra. 



Friday, July 3, 2020

Do fundo do baú: “A rede”



Ao final da gravação do episódio 34 do podcast The Shift, a Cris de Luca e a Sílvia Bassi pediram os já famosos ‘insights’, dicas de livros, filmes ou qualquer outra coisa interessante associada ao tema discutido. Eu saquei, lá do fundo do baú, um filme de 1995: “A rede”. Um filme menos reconhecido pelos aspectos cinematográficos e mais celebrado por ser protagonizado pela jovem Sandra Bullock. 

Afinal, por que então ressuscitar esse filme? Nos últimos meses, discutimos em diversos fóruns a questão do trabalho em casa. Muitos de vocês sentiram o gostinho dessa forma de trabalhar durante o confinamento. Várias empresas já adiantaram que prolongarão a temporada de trabalho em casa, outras vão deixá-lo como opção permanente e ainda tem aquelas que querem abolir seus escritórios para sempre.

Voltando ao filme e evitando qualquer spoiler. Mesmo não sendo um blockbuster, ele tem lá o seu fã clube. O enredo cheio de tecnologia dos anos 90 tem algumas visões interessantes, que mereceram minha atenção desde o lançamento.

Tudo se passa em torno de Angela Bennett, uma profissional de TI que trabalha em casa e, praticamente, não conhece ninguém da empresa. Além da sua evidente solidão, essa desconexão abre caminho para boa parte da trama. Assisti ao filme algumas vezes, portanto logo associei aquele ambiente a esse movimento maciço de dispersão da força de trabalho forçado pela pandemia. Para mim, um cenário distópico.

Em casa, percebemos como podemos ser produtivos. O trabalho nunca rendeu tanto. Mas, por acaso, as empresas vivem apenas de produtividade? Será que essa produtividade é sustentável? Se todos continuassem trabalhando em casa, as empresas não perderão nada?  

Que tal falarmos de outros processos que dependem das relações humanas, muitas vezes informais? Já repararam que as conversas que surgem antes ou depois de uma reunião no escritório são possivelmente mais promissoras do que a própria reunião? E os famosos encontros na hora do café? E aquela caminhada básica pelos corredores da empresa?

 O 100% em casa pode ser uma boa solução temporária. De fato, algumas poucas empresas poderiam adotá-lo de forma permanente. Entretanto, o mundo ideal é aquele da flexibilidade. Trocar o 100% no escritório pelo 100% remoto é "trocar um dogma pelo outro", nas sábias palavras do Satya Nadella, CEO da Microsoft.

As corporações, que têm uma cultura própria e buscam a perenidade, dependem de relações humanas diretas para permitir o exercício da liderança, influência, inovação, criação, entre outras. Dispensar esse pacote de relações humanas diretas é abrir mão do que o ser humano tem de melhor.



Foto: Palácio Belvedere em Viena (2016). Este lindo palácio merecia mesmo uma segunda visita. Aliás, digo isso para Viena inteira, pois, durante a minha primeira estada, choveu canivetes. O museu sediado no palácio tem o acervo de obras de Gustav Klimt como destaque.


Tuesday, June 23, 2020

O retorno


Já é hora de retomar este bom e velho blog. Nunca dei satisfação sobre a minha longa pausa. Fui desacelerando, até que parei totalmente em 2016. Os dois posts de 2017 saíram por acaso.

Em 2016, organizei minha volta para o Brasil. Foi muitíssimo corrido. Algumas pérolas do retorno serão compartilhadas com vocês em posts futuros.

Trabalhando no Brasil com uma agenda global, engatei um penoso home office. Agora, tendo vivido esta experiência de confinamento, todos entendem o que é trabalhar em casa e porque é tão desgastante. Fazia uma jornada dupla para poder trabalhar com os colegas da Ásia e Europa logo cedo. Ao final da tarde, estava exausto.

O segundo motivo está descrito no artigo que escrevi para a revista Pasmas, a convite da Helô Pait. Falar de política é necessário, mas ficou desgostoso. Leiam o artigo.

Até os próximos posts!



Foto: Praça do relógio em Lier, arredores de Antuérpia. Voltando de um final de semana em Antuérpia, passamos em Lier. A foto da pracinha era irresistível. Não achei vaga para estacionar por perto e arrisquei uma parada rápida em estilo brasileiro. Não deu outra, levei a minha única multa em solo belga. (Março 2016)

Sunday, November 30, 2014

Um dia de call

O plano era voltar de viagem na quinta e deixar a sexta livre para resolver os pequenos problemas do dia a dia. Ao longo da viagem, a cada um que solicitava um horário, dizia: marca na sexta! O resultado era previsível.

Quinta à noite, buscando saber o que teria de fazer no dia seguinte, olhei desconfiado para o celular. Eram uma dúzia de reuniões! Ao examinar a atribulada agenda, concluí que nem valeria a pena sair de casa. Todas as reuniões eram áudio-conferências ou chamadas simples, a partir das 7:30. Olhando pelo lado positivo, se estivesse no Brasil, começaria às 4:30.

Graças ao cansaço da viagem anterior, cometi um deslize (e não foi a primeira vez). Caí da cama e pulei para a primeira áudio. Não teria nenhum problema se alguns dos interlocutores daquela sexta-feira não insistissem em fazer a chamada com imagem.

Sim, eu sabia que teria duas vídeo-conferências, via Skype e Hangout. Entretanto, achei que daria para tomar um banho, barbear-me e trocar de roupa. Não deu! Como já está frio por aqui, coloquei  uma malha em cima do pijama e encarei a câmera.

De resto, foi tudo como previsto. O mais interessante foi chegar ao final do dia e apreciar a variedade linguística daquela longa jornada ao telefone: duas em português do Brasil, uma em português de Portugal, uma em inglês britânico, duas em francês, uma em francês belga e cinco no melhor inglês macarrônico. Isso sim é ser poliglota!


Foto:  Em Biarritz, a antiga residencia imperial de Napoleão III, convertida em hotel.


Sunday, October 31, 2010

Conversa de bonde

Há alguns meses, em Lyon, estava voltando de tramway do trabalho para casa. A distância não é grande, mas nos dias muito frios ou muito quentes, a climatização é sempre um conforto. Encontrei um outro executivo da empresa no mesmo vagão, um francês que já havia vivido no Brasil. Em menos de dez minutos de viagem, falamos sobre nossas missões e, também, sobre o Brasil e a França.

A nossa conversa privativa - em voz baixa - estava sendo discretamente observada. Na metade da curta viagem, um gaulês anônimo nos abordou. Se apresentou como francês desempregado e do "métier" (informática). Disse que compreendeu que eu era um expatriado brasileiro. Também percebeu que o meu colega tinha uma elevada posição hierárquica no grupo. Com a rudeza peculiar da Gália, ele nos questionou sobre o porquê da França "importar" um profissional como eu.

Sou do tipo que já fica incomodado com alguém prestando atenção na minha conversa. Porém, esta situação foi ímpar. O cara nos observou, entrou na conversa e ainda nos desafiou. Após uns instantes de choque, meu colega resolveu responder. Os franceses adoram um debate. A conversa parecia promissora, mas era o meu ponto. Desejei "bonne soirée" a ambos e fui. Um pouco surpreso com as circunstâncias, mas certo de que quem perdeu o bonde da história não foi eu.


Fotos: Fechando as fotos do magnífico castelo de Schönbrunn. Acima, a fonte. Abaixo, a vista a partir da Gloriette.

Sunday, November 8, 2009

Pink Waterman

No meu recente post sobre igualdade, tomei cuidado para ficar só nas minorias étnicas e não comparar os papéis dos homens e das mulheres na sociedade. Até por que, como disse uma ministra francesa, as mulheres não são minoria. Pelo contrário, são maioria!

As mulheres são maioria nas funções menos qualificadas e no emprego temporário. Mesmo com um nível de educação médio superior ao masculino, quando se trata das funções mais nobres, a sua presença diminui. E com salários menores.

O problema é complexo. A França já possui várias leis protegendo as mulheres. Talvez, o excesso de proteção seja um tiro no próprio pé. Um exemplo: As mulheres com filhos podem ficar em casa todas as quartas-feiras, pois eles não têm aulas. 20% dos dias a menos num país com praticamente dois meses de férias faz diferença!

Na primeira fase do seu governo, Sarkô tinha seu ministério igualmente dividido entre homens e mulheres. Talvez agora ele dê um belo golpe eleitoral. Seu governo igualitário, porém "macho", vai resolver o problema: A França imporá uma cota de 40% de participação feminina nos conselhos de administração das empresas públicas e privadas abertas. A medida tem ainda alguns anos para entrar em vigor. Por enquanto, já estão estudando a forma de punir as empresas que não cumprirem as regras.

As mulheres merecem, mas essas canetadas demagógicas são perigosas.


Foto: O castelo normando de Balleroy, do século XVII, passaria despercebido senão fosse cuidadosamente mantido pelo magnata americano Malcom Forbes, que o adquiriu nos anos 70. O castelo é assinado por Mansart. Os jardins, por Le Nôtre. A decoração interior ficou por conta do americano e seu especial gosto pelo balonismo.

Tuesday, September 15, 2009

Francamente 3

Noite passada, um bêbado caiu nos trilhos do TGV. Encaixou direitinho entre os trilhos. O trem passou e ele não sofreu nenhum arranhão. Se tivesse acordado e levantado a cabeça com o barulho, teria sido degolado. E olha que um trem bala faz barulho e um belo vento! Moral da história: Nunca fique meio bêbado. Ou fique sóbrio ou totalmente bêbado.

A identidade do sujeito foi preservada. Tudo indica que a manguaça teve uma origem festiva. Aqui o pessoal é mais sofisticado, embriagam-se com Bordeaux, Cognac e Champagne.

As investigações apenas começaram. A hipótese de suicídio também é lembrada nessas situações. Sobretudo nos dias de hoje, quando as estatísticas de suicídio explodem. Só a France Telecom (Orange) acumula 23 casos em pouco mais de um ano. Muitos corpos de vantagem sobre a ex-campeã no quesito, a Renault.

Não é difícil entender o que acontece nessas empresas. Trata-se do chamado choque de gestão mal conduzido. As empresas recém inseridas num ambiente competitivo mudam a antiga cultura paternalista para uma meritocracia rigorosa, com objetivos muito arrojados. Evidentemente, uma parte dos empregados não se adapta ao sistema, outros jamais atingem as suas metas. A ameaça da demissão e o rótulo do fracasso, somados aos problemas pessoais e associados à natureza de cada um levam a tais decisões extremas.

Enfim, os empregos são como este post. Começam engraçados, mas podem ter um final amargo.


Foto: Arezzo, outra cidade da Toscana, cujo destaque é a Piazza Grande. Ali não há nenhuma Corsa del Palio, mas um secular torneio de cavalaria, a Giostra del Saracino. Como toda festividade originária da Idade Média, ou sobra para um muçulmano ou para um judeu.

Sunday, May 24, 2009

O xis da questão 2

O TGV é um dos símbolos da França moderna. Nada mais justo. Nenhum país tem uma malha ferroviária de alta velocidade semelhante. Apesar dos problemas de 2008, notamente causados pelas sucessivas greves de maquinistas, o serviço ainda é um dos mais queridos da população. Uma recente pesquisa aponta os seus toilettes como maior razão de descontamento dos usuários.

Como usuário assíduo de TGV, posso confirmar. Com frequência, o cheiro dos sanitários está no limite do tolerável. E olha que as passagens são caras. A companhia que administra o TGV (SNCF) vai encobrir o cheiro de urina com perfumes. Limpar os banheiros, nem pensar.

Se a SNCF tem funcionários saindo pelo ladrão nas áreas administrativas, na hora de contratar gente para limpar os banheiros, a situação complica. A função e o seu salário não atraem nem patrões nem empregados. Vejam os meus posts “Lava roupa todo dia, que agonia”.

Em todo lugar é assim. Até num restaurante estrelado do Guia Michelin, podemos encontrar sanitários fedendo. Embora esta carência de mão de obra na base da pirâmide seja esperada nos países mais desenvolvidos, na França, a situação chega ao limite. Mas, se um dia o mundo tiver menos desigualdade, quem é mesmo que vai limpar os banheiros?


Foto: O famoso “Jet d’Eau” do Lago Léman (Genebra), que jorra a 140 metros.

Saturday, May 23, 2009

O xis da questão 1

Está decidido. Quase toda França vai continuar sem comércio aos domingos. Entre as poucas exceções, algumas áreas turísticas de Paris. Quem desperdiçaria milhões de euros trazidos por turistas perdulários? A briga entre os políticos é boa. A população continua dividida, com toda razão.

O aspecto mais evidente é que a abertura do comércio gera mais receitas, alimentando um círculo virtuoso. Pode ser verdade, ainda que muitos não acreditem. O segundo aspecto é a questão trabalhista. Regras complicadas somadas a sindicatos poderosos impossibilitam qualquer acordo. Na sociedade, há uma nítida sensação de exploração dos empregados que trabalham no domingo.

O terceiro aspecto, talvez o mais importante, é uma questão de valores. Na França, há uma leve aversão à sociedade de consumo e uma vontade de se manter um estilo de vida próprio, que tem no repouso semanal um dos seus valores mais caros.

Enfim, não abrir o comércio aos domingos parece algo atrasado. Parece, mas não é...


Foto: Vista frontal do Palácio das Nações. O movimento de carros neste e nos demais órgãos internacionais é tão grande, que se forma um congestionamento neste bairro da nem tão pacata Genebra.