Sunday, June 27, 2010

Greve

Minha ausência deveu-se a uma sequência de viagens e eventos. Também é difícil falar sobre qualquer coisa que não seja futebol. Iria fazer uma crônica sobre a disputa pelo controle do Le Monde ou o escândalo envolvendo a maior acionista da L'Oréal, Liliane Bettencourt. Mas, quem se importa?

A França eliminada da Copa já está voltando à vida normal. Ou seja, menos futebol e mais greves. Desta vez, eu vou aderir. Farei uma greve no meu próprio blog. Blogueiros unidos...


Fotos: Acima, as fachadas que marcam Riquewihr, na Alsácia. Abaixo, a casa conhecida como "arranha-céu".



Monday, June 21, 2010

Galudopédicas

Antes do início da Copa, alguns colegas franceses indagavam sobre a possibilidade da França chegar à final. Eu questionava abertamente se a França seria capaz de marcar um gol. Já foram dois jogos e nada de gols. Tal desempenho não seria inédito na história do futebol do país, apesar de ter alcançado as finais em 1998 e 2006.

O técnico Raymond Domenech é tão odiado como o Dunga. Tão teimoso quanto o Dunga. Só não é tão elegante quanto o Dunga. Mas, entre eles, existe uma diferença brutal, Raymond Domenech perdeu totalmente a sua autoridade perante o grupo. O desgaste vem desde a última Copa, quando fora submetido às vaidades de estrelas como Zidane e Henry. O anúncio da sua demissão após o final dessa Copa pareceu-me uma estupidez da Federação Francesa de Futebol. Deu no que deu.

A derrota humilhante para o México, as ofensas públicas, a greve de treino, o caríssimo hotel escolhido como base da França, o escândalo sexual que antecedeu a Copa e tudo o que ronda a seleção francesa virou assunto de Estado. A Ministra da Saúde e Esportes, despachando da África do Sul, acaba de anunciar uma grande auditoria no futebol francês.

A única boa nova é que o contrato com a Adidas termina este ano. A Nike assume o patrocínio dos Bleus por 42 milhões de euros por temporada até 2018. O mesmo fornecedor paga 13 milhões de euros para os canarinhos. Afinal, quem é mesmo que precisa de auditoria?


Foto: Riquewihr é cercada por vinhedos de todos os lados. E, por sinal, uma excelente AOC de Riesling, o Schœnenbourg. Na foto, uma vista da cidade a partir dos seus vinhedos.

Friday, June 18, 2010

A última piada de belga


O possível fim da Bélgica tem sido notícia por aqui há algum tempo. Com a recente vitória eleitoral dos independentistas flamengos, é só uma questão de tempo. Potencialmente, Flandres seria um novo país. A Valônia poderia ser anexada à França. Bruxelas, quem sabe, uma cidade-estado.

Tudo isso é uma tragédia. O que será do mal-humorado povo francês sem as piadas de belga? Imaginem se nos tirássem todas as piadas de portugueses? Nem dá para pensar em tamanha perda para a cultura brasileira.

Grande parte das piadas de belgas são as mesmas que as de portugueses. Não me perguntem quem copiou de quem. Entretanto, há uma diferença fundamental: No Brasil, a gente ouve e propaga as piadas sobre nossos irmãos lusos com muito mais empenho. Então, antes que as piadas de belgas percam a validade, aí vão algumas:

#1
Um belga, um italiano e um francês conversam sobre as suas mulheres.
O francês: - A minha mulher é muito burra. Foi passar o feriado numa estação de esqui e nem sabe esquiar.
O italiano: - A minha é mais burra ainda. Comprou uma Ferrari para passear e fazer as compras e nem tem carta de motorista.
O belga: - A minha é a mais burra de todas. Foi para o Club Med com a bolsa cheia de camisinhas e ela nem tem pinto.

#2
Inscrição comum no fundo das piscinas da Bélgica: "Não esqueça de voltar à superfície".

#3
O belga que dirigia de Paris para Lyon parou na estrada para dar carona a uma mulher atraente. Mudando de marcha, a mão do motorista belga encosta na perna da caronista, algo que se repete algumas vezes. Ela aprova e o estimula. De repente, ela pergunta: "Você quer ir mais longe?". O belga não teve dúvidas, passou Lyon e seguiu dirigindo até Marselha.

#4
O que é um esqueleto dentro do armário? Um belga que ganhou a brincadeira de esconde-esconde.

#5
Acidente de ônibus na Bélgica faz 40 mortos: 20 no acidente e 20 na reconstituição.

#6
Quatro belgas passeando por Paris cruzam o Bois de Boulogne, famosa área de prostituição. Eles param o carro e abordam uma garota.
O motorista: - Quanto é?
A garota: - 300 na frente e 400 atrás.
O belga do banco de trás: - Sacanagem! Por que é mais caro para mim?

#7
Do alto de um viaduto, antes do seus primeiros saltos, dois belgas iniciantes no "bungee jumping" conversam entre si:
- Você tem certeza que o elástico é seguro?
- Não se preocupe, colocamos 10 metros de elástico a mais para garantir.

Quem quiser mais algumas dúzias de piadas (em francês) clique aqui.


Foto: Abaixo, o Hôtel de Ville de Riquewihr serve como uma das portas de acesso à cidade. Riquewihr é murada e tem tráfego permitido apenas aos residentes. Acima, uma entrada mais autêntica, a Porte Haute, integrada às muralhas construídas em 1500.

Tuesday, June 15, 2010

Gália profunda

Sempre digo aos meus colegas franceses, que o país precisa de um banho de capitalismo. Eles não gostam e defendem o aparato social desenvolvido durante as últimas décadas. Por outro lado, acenam com um voto cada vez mais à direita, garantindo a reeleição do Sarkô, apesar dos seus abissais índices de popularidade.

De alguma forma, o povo sabe que o remédio para a França não está mais no ideário socialista. Além de tudo, a fogueira das vaidades do PS incomoda mais do que o estilo esnobe do Sarkô e seu ridículo casamento de fachada. A mobilização da direita para a eleição presidencial já começou.

Depois das festas gigantes organizadas pelo Facebook, a última moda francesa são os mega eventos, regados a vinho e porco. Mais precisamente, sopa de porco ou salsichão. Segundo os organizadores, é a restauração do melhor tradição gaulesa. A intenção é aberta e declarada: Muçulmanos de fora. Os ultralaicos e a extrema direita estão juntos contra a islamização de alguns bairros das metrópoles francesas.


Foto: Dia de festa na cidade mais charmosa da Alsácia, Riquewihr. Até a guarda napoleônica desfila na principal rua da cidade, a onipresente General de Gaulle.

Sunday, June 13, 2010

Façam as suas apostas

A conta gotas, a França vai fazendo a sua desregulamentação. Não por vontade própria, mas por imposição da União Européia. A última novidade é a liberação do mercado de loterias e apostas. Depois de cinco séculos de monopólio da "Française des Jeux", começam a pipocar inúmeros bookmakers, em sua maioria virtuais. Poker, futebol e turfe fazem a alegria de viciados e mafiosos.

A vantagem para o Estado é que todos pagam impostos. Como sempre, o governo se sai melhor sendo sócio do que gerindo tudo sozinho com um bando de gente que não quer nada. A liberação veio em boa hora. Querem coisa melhor do que a Copa do Mundo?

Dei uma olhadela nos novos sites franceses de apostas. A aposta no Brasil no jogo contra a Coréia do Norte não paga nada: 1 para 1. A maior barbada da Copa! Mas, se o Dunga quiser ficar milionário, é muito fácil! A Coréia paga 26 vezes o valor apostado!

O próximo mercado a ser liberado na França é o serviço de correios. A classe de carteiros e similares resiste bravamente. Aliás, para que servem os correios mesmo?



Foto: O Museu Unterlinden de Colmar possui um patrimônio artístico relevante, passagem obrigatória na visita a Alsácia. O tesouro do museu é o Retábulo de Issenheim de Matthias Grünewald.

Saturday, June 12, 2010

Home sweet home

Passei a semana num congresso em Portugal. Não pude escrever nenhum post. A continuação de "Você sabe que não está no paraíso quando" fica para depois. Também não entrei no clima da Copa. Até tentei assistir a um jogo entre a última palestra do congresso e o jantar. Não encontrando nada na TV aberta, acompanhei superficialmente pela Internet.

Neste dia dos namorados, Portugal celebra 25 anos de adesão à União Européia. Um quarto de século de casamento exemplar. Entretanto, a crise conjugal que se anuncia não tem precedentes. Portugal é um dos PIGS, citados diversas vezes nos posts anteriores.

O longo período de prosperidade fez muito bem para Portugal. A primeira vez que estive no país fiquei muito bem impressionado. Recomendo a sua visita a todos os brasileiros. Nesta segunda vez, a principal diferença é o melancólico testemunho dos brasileiros, encontrados em todos os lugares. A conversa é uma só: Arrumar as malas e voltar para casa.


Foto: Casas do centro de Colmar, na Alsácia.

Saturday, June 5, 2010

Você sabe que não está no paraíso quando... 2

Se o Big Mac é referência internacional de paridade de poder de compra, o meu indicador de segurança pública é a venda de cartuchos da Gilette. Há muito tempo, os cartuchos mais caros da marca não são acessíveis livremente nas gôndolas. Em alguns lugares, temos que solicitá-los para o caixa. Em outros, os cartuchos vêm com um dispositivo de segurança maior do que eles. Com a tecnologia atual, dá para se garantir a segurança com mais discrição.

O aspecto triste dessa observação é que em quase todo mundo é assim. Já visitei supermercados em inúmeros países. Cingapura foi o único lugar, onde encontrei os produtos da Gilette "leves e soltos", inclusive a linha Fusion. Bem, Cingapura a gente conhece. Tudo tem o seu preço. Mas que foi um barbear inesquecível, isso foi... ;-)


Foto: Ainda na Petite Venise de Colmar, Alsácia.

Thursday, June 3, 2010

Você sabe que não está no paraíso quando... 1

No final do século passado, numa das minhas primeiras visitas a Lyon, usei o metrô da cidade. Acostumado ao congênere parisiense, encontrei uma rede menor e bem menos frequentada. Ufa, que alívio! Entrei na estação e, de repente, estava dentro do trem. Não vi catraca nem bilheteria. Por alguns segundos, cheguei a pensar se era gratuito. A primeira viagem foi sem pagar mesmo. Depois, prestei mais atenção e descobri as máquinas de venda e validação dos bilhetes.

Infelizmente, metrô sem catracas virou algo inimaginável na França. Pouco tempo depois, todas estações estavam devidamente protegidas.

O bonde (tramway) não tem catraca, mas um esquema de fiscalização aleatório bastante presente. Cada vez que a turma de fiscais cerca o bonde, há uma boa dúzia de autuações. Sinal dos tempos!

No extremo oriente a preocupação é outra. Os metrôs são recentes e incorporam a melhor teconologia de transporte e de controle. O duro é convencer chineses e indianos a não cuspir no chão.



Fotos: Continuando a viagem pela Alsácia. A parte mais interessante de Colmar, a Petite Venise, com as casas típicas alsacianas ao longo do Rio Lauch. As duas fotos foram feitas no mesmo lugar.


Tuesday, June 1, 2010

Coleção Schlumpf

No último feriado, estive na Alsácia, mais precisamente em Colmar e suas vizinhanças. Aproveitei para ir a Mulhouse, onde visitei o Museu Nacional do Automóvel, conhecido também como Coleção Schlumpf, considerado um dos principais do mundo. Como eu tenho vários leitores que adoram um "Salão de Automóvel" e similares, fica a dica. Se quiserem programar um bate e volta a partir de Paris, eu posso ajudar.

A maior atração do Museu é a coleção única de Bugatti. São 150! Entre eles, os automóveis mais valiosos do mundo, dois Bugatti Royale. Ettore Bugatti, italiano radicado na Alsácia, foi um dos pioneiros da indústria automobilística, eternizado como um dos mais inovadores. Eu o citei no antigo fotolog, quando da visita ao Museu Malartre.

A série Royale, com apenas seis unidades produzidas, destinava-se às famílias reais européias. A performance dos carros era muito superior à concorrência dos anos 20: 8 cilindros, 300CV e 200 km/h. O preço também. Custando três vezes um Rolls-Royce, a Royale foi um fracasso comercial. Um dos modelos expostos em Mulhouse acabou se tornando o carro pessoal de Bugatti. O Museu tem uma riquíssima coleção de Mercedes-Benz, Rolls-Royce, Ferrari e muitas outras marcas de prestígio, desde os modelos pioneiros do final do século XIX até os dias de hoje.


Fotos: Acima, o detalhe da fachada do prédio principal do museu. Abaixo, uma tomada mais distante. Ainda abaixo, na montagem, a partir do canto superior esquerdo no sentido horário. A coleção única de Bugatti. Um Mercedes-Benz Cabriolet 540K de 1936. O Bugatti Coupé Type 41 "Royale" de 1929. O Hispano-Suiza Coupé Chauffeur J12 de 1934.