Saturday, January 25, 2014

#NãoVaiTerCopa

Tarde demais para reclamar da Copa. Os manifestantes que ameaçam bagunçar o país estão alguns anos atrasados. O pior de tudo é que a conta da Copa ainda nem chegou!

Atrapalhar o evento não vai resolver muita coisa. Talvez nem perturbe a campanha da Dilma, que se fará de vítima dos bagunceiros. O saldo poderia ser mais uma mancha na já não tão sólida imagem do país.

Por outro lado, não podemos deixar de ver o lado positivo do movimento. Eles acordaram tarde, mas acordaram. Quem sabe, estarão mais atentos a tantos outros maus usos do dinheiro público. A Copa foi a sua lição número um.

A outra boa notícia é que o PT perdeu o monopólio da bagunça. Embora seus infiltrados tenham conseguido esvaziar as manifestações do ano passado, parece evidente a existência de outras forças espontâneas querendo ir às ruas. Vai ficar mais difícil governar com o enfraquecimento do poder de comando do PT sobre os manifestantes legítimos e arruaceiros de plantão.

A Copa e seus estádios bilionários não caracterizam apenas um episódio de incompetência e facilitação da corrupção deste governo. No país do futebol, é uma crueldade. O povão percebeu muito tardiamente que pagaria, mas não teria acesso. O prêmio de consolação será uns "rolezinhos" em torno dos estádios.

Se Lula e Dilma fossem menos arrogantes e gananciosos talvez tivessem procurado um modelo de Copa "light" como fez a África do Sul.  Só com a diferença de investimentos nos estádios, eles economizaram alguns bilhões de dólares. Montante suficiente para pagar nosso satélite recentemente perdido, nossa base na Antártica incendiada e alguns Gripen. A propósito, a África do Sul têm dois satélites, duas bases na Antártica e uma frota de Gripen.


Leia também: Circenses, de 21/10/2012


Foto: Mais uma tomada dos canais de Amsterdam (agosto de 2013).

Wednesday, January 15, 2014

Blasfêmia


O especial de Natal do “Porta dos Fundos” despertou a fúria de diversos grupos cristãos. O tema não é novo neste blog. Nos tempos de Europa, comentei várias vezes sobre as reações de grupos religiosos aos cartunistas mais ousados.

De uma forma geral, acho positivo que os humoristas não encarem religião como tabu e utilizem-na como mote para suas criações. Se existem limites, que sejam delineados pelo bom senso e não por burocratas.

Muita gente já inspirou-se na Bíblia para fazer rir, por exemplo, Mel Brooks (A História do Mundo) e Monty Python (A vida de Brian). Cá entre nós, na maioria dos filmes do gênero, a piada já está quase pronta!

Uma das técnicas mais comuns para se fazer graça com história ou religião é recriar o passado com referências do presente, sejam nos costumes, na linguagem ou na tecnologia. No vídeo em questão, o presente trazido por Melquior não era mirra, mas uma outra erva. Num outro quadro, Maria diz: “Esse Império Romano é um ovo”. Já no final, Jesus diz para Tibério: “Você tem a maior mão de fada”.

Até aí tudo bem. O debate esquenta ao se afrontar um dogma da religião. É o que acontece, por exemplo, quando algum cartunista europeu faz uma representação de Maomé. Já a trupe brasileira fez piada com a maternidade de Maria. Apesar de ter gostado de grande parte do vídeo, reconheço que isso seria dispensável. Justamente por ser uma piada tão fácil, beira o mau gosto. Por outro lado, não concordaria com a sua censura.

Os tais grupos cristãos tiveram o mesmo comportamento dos petistas. Até ironizarem Lula e Dilma, o “Porta dos Fundos” era um grupo genial. Depois, virou um grupo tucano. Há poucas semanas, o grupo avacalhou alguns costumes islâmicos e ninguém falou nada.

Esse é o problema de quem leva religião muito a sério. Toda religião possui seus mitos e dogmas. Nem todos acreditam em tudo, mas respeitam. O problema começa quando alguns acham que as suas crenças são mais verdadeiras do que as dos outros.  

E se o “Porta dos Fundos” pisou na bola fazendo piada com Maria, coube a ninguém menos do que Deus a fala mais inspirada do polêmico vídeo, que serve de resposta aos tais grupos cristãos e a outros fanáticos. No final do primeiro quadro, diante de um José incrédulo de que a história do seu filho Jesus seja convincente, Deus diz: “Querido, isso aí relaxa. O pessoal acredita em qualquer coisa. Vai por mim”.



Foto: Abrindo uma série de fotos de Amsterdam tiradas em agosto de 2013.

Thursday, January 9, 2014

A hora da caça

A explosão de violência no Maranhão é só uma face da migração da criminalidade do eixo Rio-São Paulo para o resto do país, especialmente para o Nordeste. Os índices relativos de homicídios das capitais nordestinas são dignos da Venezuela.

O quadro faz lembrar um capítulo da história da aventura humana, como conta Jared Diamond em "Armas, Germes e Aço".

Os homens primitivos espalharam-se pela Ásia e Europa a partir da África. Com as habilidades que os diferenciavam dos outros animais, tornaram-se exímios caçadores. Neste processo, as caças também evoluíam. Sobreviviam aquelas que tinham o reflexo da fuga, que não caíam nas armadilhas mais básicas e assim por diante. Ao longo de milênios, tal interação fez do homem um grande caçador e também permitiu a seleção dos animais mais espertos.

Em algum momento da história, nossos ancestrais entraram na Oceania e na América. Lá, os hábeis caçadores encontraram animais que jamais haviam convivido com o homem. Foi uma festa, pois caçá-los era muito fácil. Foram séculos de fartura e muito churrasco até a extinção completa dos grandes mamíferos dos dois continentes. A falta desses animais foi um dos fatores que condenaram ao atraso civilizações como as pré-colombianas e os aborígenes australianos, que não tinham animais de porte para puxar o arado, para o transporte e nem mesmo para uma alimentação correta.


Voltando ao século XXI. No Rio e em São Paulo, a polícia e os bandidos também evoluíram juntos. À cada ação de um lado, uma reação do outro lado. Após décadas jogando de caçador e caça, atingimos um certo equilíbrio. E o que acontece quando a bandidagem dessas cidades chega aos outros estados, onde encontra um corpo policial subdimensionado, despreparado e desequipado? A resposta é óbvia, a hora é da caça. Assim como é óbvio tudo que os governos devem fazer para reverter este quadro.

Nossos índices de violência são muito altos. Nem mesmo todo crescimento dos últimos anos não foi capaz de melhorá-los. Compreendo a visão humanista que norteia os partidos como PT e PSDB, mas clamo por uma ação mais enérgica. Sob o risco de que, amanhã, um espertalhão chegue ao Planalto prometendo apenas "colocar a ROTA na rua".


Foto: Última foto de San Diego, ainda no Balboa Park.

Wednesday, January 1, 2014

2014 - Prólogo

2014 já estava destinado a ser um ano do esporte, especialmente para nós brasileiros. É quase certo que não daremos muita bola para os Jogos Olímpicos de Inverno, mas o clima de Copa do Mundo por aqui deve ter poucos similares no planeta.

Os últimos acontecimentos garantirão que o esporte cumprirá seu papel de grande circo. Em 2014, acompanharemos as recuperações do Anderson Silva e do Michael Schumacher, além dos esforços para se realizar algum campeonato brasileiro de futebol.

As eleições gerais ficam num segundo plano. Talvez seja melhor assim. Como escrevi em "Eco", não adianta dizer para vocês que o governo da Dilma é ruim, por que vocês já sabem. Não adianta dizer que estamos sendo roubados, por que vocês já sabem. As eleições do ano que vem podem expelir um ou outro "ficha suja", mas, no geral, não devem mudar o quadro político.

Nesses dias entre Natal e Ano Novo, percebi como é difícil derrotar qualquer presidenciável herdeiro de Lula. Os inúmeros críticos do PT são unânimes em relação à sua fraqueza ética. No resto, há divisão. O PT agrada e desagrada à esquerda, assim como agrada e desagrada à direita.

Um esquerdista puro provavelmente está furioso com a recente onda de privatizações. Também não aprecia a forte influência do lobby religioso no governo. Já o direitista não suporta o tamanho da máquina governamental nem a extensão dos programas sociais.

Face ao programa frankensteniano do PT, tanto a direita como a esquerda têm dificuldades de se opor totalmente. Não dá para ser coerente. Além do mais, as escolhas de Lula e Dilma  estão alinhadas à opinião pública. Talvez seja por isso que os candidatos da oposição sejam tão facilmente pulverizados. A oposição deve procurar um outro caminho. Por enquanto, só um candidato do PT poderia bater o próprio PT.

Finalmente, lembro de mais um assunto sério de 2014, o centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Levantei o tema em 2012 no post "No Reino da Dinamarca". Voltarei a ele antes da Copa ;-)


Post de 17/10/2012 - "No Reino da Dinamarca"


Foto: O "Botanical Building" do Balboa Park em San Diego.