Aos amigos que passam por Bruxelas, costumo oferecer os imperdíveis tours em Bruges e Gante. Já perdi a conta dos dias passados nestas cidades, mas afirmo que vou sempre com imenso prazer. O passeio em ambas as cidades é adaptável “ao gosto do freguês”: Com ou sem barco, com ou sem entrada em museus, com ou sem as “obras-primas”.
Alguns brasileiros chegam aqui com a memória do filme Os Caçadores de Obras-Primas (2014), que destaca justamente duas notáveis obras de arte em exibição nessas cidades. Vale conferir a Madonna de Bruges (Michelangelo) e o Retábulo de Ghent (Jan van Eyck) para entender porque os nazistas tanto fizeram para roubá-las.
O filme não é nenhum clássico, mas levanta uma questão interessante. Até que ponto colocamos vidas em risco para salvar um patrimônio cultural? Como arbitrar entre pinturas, esculturas ou edifícios e vidas humanas? A resposta não é simples.
Com a reconquista de Palmira pelas tropas de Assad, fala-se num esforço mundial para se reconstruir o que foi um grande patrimônio da humanidade. Há muitos meses que penso em Palmira. Só não escrevi antes em respeito às centenas de milhares de vítimas da Guerra da Síria.
Colocamos alguns bilhões para restaurar os danos causados pelo Exército Islâmico às ruinas de Palmira ou resolvemos os problemas dos refugiados? Como arbitrar?
Palmira foi condenada há muito tempo. Se os Assad não fossem ditadores sanguinários, poderiam ter feito desse incomparável sítio arqueológico uma “mina de ouro”. A renda seria suficiente para garantir a sua preservação, prosseguir nas escavações e ainda sobraria um troco para a família. Assad, pai e filho, no entanto, preferiram ver estrangeiros fora do seu país.
O Exército Islâmico destroçou Palmira e saqueou os tesouros do Iraque. O Taliban destruiu os Budas gigantes do Afeganistão. A Al-Qaida arrasou Tombuctu. O terrorismo islâmico não é brincadeira, destrói o passado e aterroriza o presente para que não haja futuro.
Foto: Nas férias do verão passado, à caminho da Bretanha, pit-stop às margens do Sena.
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Wednesday, March 30, 2016
Patrimônio
Saturday, February 27, 2016
Pudor
Estive num ótimo spa nos arredores de Bruxelas. Um lugar bem equipado com restaurante, saunas, massagens, piscinas internas e externas. O sol foi generoso neste sábado e mesmo com uma temperatura próxima de zero, deu para ficar na piscina externa, muito bem aquecida por sinal.
Logo depois da recepção do spa, há um imenso vestiário. Homens e mulheres trocam-se ali mesmo. Enquanto vestia meu calção de banho, percebi que uma garota estava constrangida em fazer o mesmo. Envergonhada, a mocinha preferiu usar a única cabine disponível.
Saindo do vestiário, há duas portas. Cada uma leva para um complexo distinto de piscinas, saunas e solários. A porta da esquerda leva para a ala dos nudistas. A porta da direita, para a ala daqueles que usam roupa de banho. Eu e minha esposa abrimos a porta da direita. Já a mocinha envergonhada, a porta da esquerda.
Num dia do último verão, quando os dias são bem mais longos, cheguei do trabalho e abri a janela do quarto para ver como estavam nossas plantas. Será que apareceu alguma nova flor?
Entre um vaso e outro, um movimento na janela do vizinho chamou a minha atenção. Uma adolescente nua pulava freneticamente sobre a cama, como se fosse um pula-pula. Havia uma outra moça no quarto, que assistia à exibição. A brincadeira acabou quando elas perceberam que eram observadas pelo autor deste blog.
Dias depois, encontrei as duas entrando no prédio. Estavam acompanhadas da família e devidamente vestidas. Põe vestidas nisso, estavam de xador.
Foto: Mais uma tomada do centro da charmosa Lyons-la-Forêt.
Logo depois da recepção do spa, há um imenso vestiário. Homens e mulheres trocam-se ali mesmo. Enquanto vestia meu calção de banho, percebi que uma garota estava constrangida em fazer o mesmo. Envergonhada, a mocinha preferiu usar a única cabine disponível.
Saindo do vestiário, há duas portas. Cada uma leva para um complexo distinto de piscinas, saunas e solários. A porta da esquerda leva para a ala dos nudistas. A porta da direita, para a ala daqueles que usam roupa de banho. Eu e minha esposa abrimos a porta da direita. Já a mocinha envergonhada, a porta da esquerda.
Num dia do último verão, quando os dias são bem mais longos, cheguei do trabalho e abri a janela do quarto para ver como estavam nossas plantas. Será que apareceu alguma nova flor?
Entre um vaso e outro, um movimento na janela do vizinho chamou a minha atenção. Uma adolescente nua pulava freneticamente sobre a cama, como se fosse um pula-pula. Havia uma outra moça no quarto, que assistia à exibição. A brincadeira acabou quando elas perceberam que eram observadas pelo autor deste blog.
Dias depois, encontrei as duas entrando no prédio. Estavam acompanhadas da família e devidamente vestidas. Põe vestidas nisso, estavam de xador.
Foto: Mais uma tomada do centro da charmosa Lyons-la-Forêt.
Sunday, December 1, 2013
Novembro
Para mim, este último mês, os 30 dias entre Halloween e Black Friday, vulgarmente conhecido como novembro, foi uma loucura. Correria total. Sinto que as celebrações de final de ano foram antecipadas.
Na prática, como a possibilidade de se criar eventos de confraternização é muito grande, antecipar não significa diluir, antecipar é dar espaço para mais festas! É mais ou menos como o trânsito em São Paulo. Pode-se implementar um rodízio e construir avenidas, mas tudo estará sempre cheio.
Se, em 2014, começarmos a celebrar em outubro, teremos um trimestre inteiro de festas! Assim, a gente cai naquela história de emendar Carnaval, Copa, eleições e fim de ano.
Pode parecer exagerado mas, há poucos dias, estava explicando para um francês a minha dificuldade de agenda nessa época do ano: "Sabe, aqui é diferente, tem muitas festas. Quando morava aí, só tinha a comemoração do Dia de Reis e olhe lá". Bom, espero que o tenha convencido.
Há uns bons anos, não passava a temporada festiva inteirinha no Brasil. Estranhei. Perderei a Fête de Lumières e não estive no lançamento do Beaujolais Nouveau. Não é mole ;-) O pior de tudo é ser bombardeado dia e noite por notícias de corrupção, guindaste caindo, museu pegando fogo, etc. O jeito mesmo é curtir as festas.
Comecei o post dizendo que o mês começava com Halloween e terminava com Black Friday, duas incorporações recentes da cultura brasileira.
O bom do Brasil é misturar as coisas importadas da Europa e dos EUA com heranças coloniais e nativas. A minha esperança no país reside justamente na possibilidade de ser esse caldeirão cultural único. Entretanto, neste caso, diria que nem sempre a gente copia as coisas certas.
Foto: Por falar em Black Friday e Halloween, fotos de uma viagem a San Diego (EUA) de janeiro deste ano. A minha base foi o Hotel Del Coronado, considerado marco histórico, por ser uma das maiores e mais belas construções de madeira remanescentes.
Na prática, como a possibilidade de se criar eventos de confraternização é muito grande, antecipar não significa diluir, antecipar é dar espaço para mais festas! É mais ou menos como o trânsito em São Paulo. Pode-se implementar um rodízio e construir avenidas, mas tudo estará sempre cheio.
Se, em 2014, começarmos a celebrar em outubro, teremos um trimestre inteiro de festas! Assim, a gente cai naquela história de emendar Carnaval, Copa, eleições e fim de ano.
Pode parecer exagerado mas, há poucos dias, estava explicando para um francês a minha dificuldade de agenda nessa época do ano: "Sabe, aqui é diferente, tem muitas festas. Quando morava aí, só tinha a comemoração do Dia de Reis e olhe lá". Bom, espero que o tenha convencido.
Há uns bons anos, não passava a temporada festiva inteirinha no Brasil. Estranhei. Perderei a Fête de Lumières e não estive no lançamento do Beaujolais Nouveau. Não é mole ;-) O pior de tudo é ser bombardeado dia e noite por notícias de corrupção, guindaste caindo, museu pegando fogo, etc. O jeito mesmo é curtir as festas.
Comecei o post dizendo que o mês começava com Halloween e terminava com Black Friday, duas incorporações recentes da cultura brasileira.
O bom do Brasil é misturar as coisas importadas da Europa e dos EUA com heranças coloniais e nativas. A minha esperança no país reside justamente na possibilidade de ser esse caldeirão cultural único. Entretanto, neste caso, diria que nem sempre a gente copia as coisas certas.
Foto: Por falar em Black Friday e Halloween, fotos de uma viagem a San Diego (EUA) de janeiro deste ano. A minha base foi o Hotel Del Coronado, considerado marco histórico, por ser uma das maiores e mais belas construções de madeira remanescentes.
Sunday, February 10, 2013
Best sellers
Em artigo do Estadão, Sérgio Augusto comenta a “degradação cultural no Brasil”, tomando como base a lista de best sellers. Embora concorde com muitas afirmações do autor, discordo da utilização da lista de livros mais vendidos como base para qualquer coisa.
O autor relembra o tempo em que grandes escritores brasileiros e estrangeiros ocupavam tais listas. Até o difícil Ulisses de James Joyce foi “campeão de vendas” no Brasil de tempos atrás. O que aconteceu com o Brasil?
A lista de mais vendidos é apenas um ranking. Ela desconsidera o tamanho do mercado editorial à sua época. Não faz muito tempo, Buenos Aires tinha mais livrarias do que o Brasil inteiro. Enfim, uns poucos milhares de livros consumidos por uma fração mínima da população do país faziam um best seller. Ainda não podemos nos orgulhar da leitura no país, mas a produção de livros cresceu muito.
Talvez a venda de Ulisses esteja no mesmo patamar ou tenha crescido muito pouco dos anos 80 para cá. Entretanto, outros livros de apelo mais popular vendem muito mais. Até que ponto ter Stephenie Meyer ou E.L. James como motores da indústria editorial é um problema?
Aí vai minha opinião. Não é problema! Uma parte dos leitores de “trash” vai adquirir o hábito de ler e, possivelmente, buscar títulos e autores mais relevantes. É um longo ciclo de aprendizado e renovação.
Os bons livros terão um público crescente na medida em que melhoramos a educação e o acesso aos mesmos. Listas de best sellers são um outro mundo e não devem nos envergonhar, até por que não inventamos nem Stephenie Meyer nem E.L. James.
Foto: Centro histórico de Nice.
Sunday, March 27, 2011
Enquanto isso, na Gália 2
Parte da minha viagem de volta da França foi feita de trem, de Nîmes a Paris. Tive a oportunidade de rever Nîmes - a primeira vez foi em 2007 - e as suas fotos ilustrarão os próximos posts.
A primavera já mostra a sua cara nos campos cortados pelo TGV. Além da temperatura amena, dias ensolarados, muito verde e algumas flores. As videiras do Rhône e da Borgonha já não são apenas aqueles arbustos secos e retorcidos do inverno.
- A França discute profundamente a questão nuclear. Sarkô prometeu fechar todas as usinas que não passarem numa nova reavaliação de segurança. O assunto Fukushima é acompanhado com muito cuidado no país, dada a sua dependência da energia nuclear. Um artigo do Le Monde coloca o acidente japonês como marco da destruição da Terra pelo homem e anuncia o fim do período antropoceno. Exagero?
- Chegando ao Brasil, soube que Roger Agnelli, o presidente da Vale, vai dançar graças à pressão do governo. Depois de alguns anos na França, já me acostumei com o governo colocando o dedo em tudo, mesmo quando se diz de direita. O maior acionista privado da Vale, o Bradesco, não vai reclamar, por que a privatização foi ajudada pelo BNDES, pelos fundos de pensão e o setor bancário vai muito bem, obrigado.
- Na revista do cinema do primeiro semestre de 2010, comentei sobre "Cópia Fiel", filme estrelado por Juliette Binoche, em cartaz em São Paulo. A crítica brasileira parece bem mais favorável do que a francesa. Em 2010, eu disse: "Juliette Binoche dá um show de interpretação...mas o filme é sofrível". Já com "Cisne Negro", observo o fenômeno inverso. Apesar de ser americano, o filme é extremamente bem apreciado pela crítica francesa e nem tanto pela brasileira. Passando por Paris e Lyon, assisti "Les Femmes du 6ème étage" e "Ma part du gâteau". Acho que ambos são melhores que "Cópia Fiel".
Foto: A última foto da Abadia de Fontenay mostra a fonte que orna o jardim atrás da sua igreja.
Saturday, January 9, 2010
Copa, TV e cultura
Os editores franceses faturam anualmente 5,0 bilhões de euros com livros. No Brasil, o número é próximo de 1,3. No cinema, é a mesma coisa. O blockbuster de 2009 dos dois países foi "A Era do Gelo 3". Na França, o filme faturou 70 milhões de dólares e no Brasil, 45. Os números seriam aceitáveis se não fosse a enorme diferença de população entre os dois países: A França tem 65 milhões de habitantes e o Brasil está a caminho dos 200.
Enfim, comparar indicadores culturais do Brasil com os países da Europa ainda é uma covardia. O notável progresso econômico recente do Brasil empolga muita gente e é digno de comemoração, mas não nos esqueçamos que ainda há muuuuuuuuuuuuuito a se fazer.
Eu consegui achar uma quase exceção nesse atraso cultural brasileiro. Em se tratando de televisão, o domínio da Globo, a paixão pelo futebol e a massa de telespectadores produzem um senhor efeito de escala. Enquanto a Globo enche os seus cofres em ano de Copa, a TV francesa mal consegue viabilizar o pagamento dos direitos de transmissão do evento. Depois de muita negociação, os canais privados e públicos dividiram a conta para viabilizar uma operação sem lucros. Também, quem é que se empolga com a seleção francesa? Resta saber se futebol é cultura.
Foto: A vila de Grignan, ao pé do castelo. Com as cores e pedras típicas do sul da França.
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