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Sunday, February 16, 2014

Alçapão

Fico perplexo com algumas bobagens que circulam pela Internet. Artigos falsos ou imagens manipuladas passam por milhões e muitos desses são bem intencionados. Ainda pior, são meus amigos no Facebook!

Poucas dicas são suficientes para poupar qualquer um do constrangimento de espalhar notícias falsas. Por exemplo, se encontrar uma matéria dizendo que a Dilma quer revogar a Lei da Gravidade, não repasse de imediato. Desconfie! Se a matéria for atribuída ao Globo, vá ao site do mesmo e confira. Senão, use o Google e busque “Dilma Revogação Lei da Gravidade”.

Redistribuir informações diretamente das páginas de fontes consagradas oferece menos riscos. Evite aqueles blogs quase desconhecidos ou textos copiados e colados no Facebook. Mesmo com todos os cuidados, o risco de retransmissão de algo ruim sempre existe.

Recentemente, também fui vítima de um golpe jornalístico. Nos primeiros dias de Sochi, a NBC publicou um “scoop”. Sua matéria alertava que, chegando-se à sede dos Jogos, todo celular era instantaneamente "hackeado”. Retransmiti a matéria pelo Twitter. Eu e milhares de pessoas.

Achei a notícia interessante, pois serve de alerta para o potencial de bisbilhotagem possibilitado pela tecnologia, sobretudo quando está nas mãos de um governo muito mais bandido do que aquele que patrocina a NSA. 

Os smartphones realmente podem ser violados dessa forma. Já foi o tempo em que para ter seu celular invadido era necessário baixar um aplicativo podre ou clicar num endereço suspeito. Basta receber um torpedo camarada e PUFF, já era! Se você for escolhido como alvo dos hackers, a invasão pode vir pelo wifi, bluetooth ou pela porta dos fundos

Ficou preocupado? Ótimo, era isso mesmo que eu queria. Siga os conselhos do seu consultor de TI preferido e não transforme seu aparelho num repositório de intimidades. 

Voltando aos Jogos. Alguns jornalistas mais sérios perceberam os erros e a manipulação escancarada da NBC. Nas horas seguintes, todos desmentiam - e eu também - o alçapão digital de Sochi. 

Entretanto, não devemos nos iludir: 1) A Rússia monitora tudo o que se passa em Sochi de uma forma muito mais brutal do que a NSA. 2) Usando a velha máxima dos computadores, celular seguro é celular desligado.


Foto: Outra cena de Amsterdam.

Thursday, December 19, 2013

Escolhas


Alguns assuntos que foram notícias durante a semana mostram como a nossa sociedade é complexa. Na mão dos líderes daqui e dali, não existem decisões óbvias.
  • Um dos debates paulistanos é a circulação de táxis nos corredores de ônibus. A sua proibição traz benefícios evidentes para a maior fluidez dos coletivos. Por outro lado, acredito que um sistema de táxi rápido e competitivo complementa o próprio transporte coletivo. É essencial para os negócios da cidade e pode ser um fator de peso numa decisão de se abandonar o carro próprio.
  • Há três anos, fiz um post satirizando a demora na decisão de compra dos novos caças da FAB. Outra questão difícil, cada alternativa tinha seus prós e contras. A opção sueca agrada aos militares. O Lula tinha uma visão mais política dessa compra. Concordo com ele, pois uma parceria com a França ou Estados Unidos poderia ser muito mais ampla, envolvendo trocas mais importantes do que apenas os aviões.
  • O governo desconversa quando é questionado sobre o pedido de asilo do Snowden. De fato, a coisa parece não ter sido formalizada corretamente. Snowden pode ser um “mico”, mas também pode trazer um pouco mais de brilho e protagonismo ao Brasil no debate global sobre privacidade.  Não seria ruim para os EUA. Afinal, qualquer coisa é melhor do que deixá-lo sob a guarda do democrático e honesto Putin.
  • Ainda sobre o Snowden, é difícil de acreditar que o assunto não esteja na pauta diária da Casa Branca. Quando escrevi meus posts sobre o caso, não imaginava um estrago tão grande. Há uma série de repercussões negativas internas e externas, gerando desgastes e perdas econômicas. Os EUA devem negociar com Snowden? Ó dúvida cruel! Acho que sim. Tudo indica que tenha revelações ainda mais bombásticas e não esteja blefando. Bem, neste caso ainda é preciso encontrar uma saída honrosa para o pessoal de Washington.

Enfim, neste post mostrei quatro decisões difíceis. Nenhuma seria isoladamente certa ou errada. Talvez não façam sentido sozinhas, estão inseridas dentro de um contexto, associadas a outras escolhas. Ao final, julgaremos Haddad, Dilma e Obama pelo “conjunto da obra”. Como disse Camus: “A vida é a soma das nossas escolhas”.


Foto: Jardim japonês do Parque Balboa em San Diego.

Sunday, August 4, 2013

A capa

Há alguns dias, recebi uma nobre encomenda: preparar uma visão de longo prazo. Não exatamente fazer um plano estratégico, mas descrever o mundo em 2020.

Depois de duas horas e meia de reflexão e mais o mesmo tempo de Powerpoint, estava pronto. Modéstia à parte, muito mais bem feito do que os slides divulgados pelo Snowden.

Precisei de duas horas de meia de Powerpoint, pois estava usando um micro novo. Perdi tempo com um teclado diferente. Já com relação ao tempo de "brainstorming", foi o necessário para colocar as ideias que vagavam pela minha mente numa sequência apresentável. Na prática, pensei no assunto muito mais do que duas horas e meia .

Com o intuito de ser bem ilustrativo, entre os inúmeros slides, mostrei algumas manchetes de 2020, como se fossem capas dos principais jornais e revistas da época.

Neste post, não falo sobre as notícias em si, mas pergunto se realmente teremos tais manchetes em 2020? Alguém vai ligar para a capa da versão impressa do New York Times? Ou para o seu site? Vai existir o New York Times? Vai sobrar algum jornal impresso?

No meu Powerpoint, pedi licença para seguir com os exemplos de notícias. Uma licença didática para continuar com tamanho anacronismo. Em 2020, teremos notícias. Não serão capas do Wall Street Journal ou do Estadão, mas chegarão até nós de alguma forma.

Além dos nossos inseparáveis smartphones, esperamos por uma nova geração de produtos conectados: óculos, relógios, roupas, tatuagens, chips sob a pele, etc. Sem contar nossos carros e casas, que estarão igualmente conectados. Receberemos mensagens e informações permanentemente.

No meio dessa abundância de informação, onde poderemos instalar filtros para escolher as notícias preferidas, não existirá mais espaço para a capa da Veja ou a para a primeira página da Folha. A imprensa escrita pode ter seus defeitos, mas a distribuição de notícias numa folha de papel ou num site ajuda-nos a formar a visão do todo ou a estabelecer o peso das coisas. Perderemos tais referências?

Imagino que a maioria dos leitores já esteja se acostumando a navegar pelas notícias no hiperespaço, pulando de um site para o outro. É só uma questão de hábito. Quem sempre procurou informação, saberá onde encontrá-la, assim como ainda existirão milhões de alienados, mesmo que - literalmente - envolvidos  pela informação.

Novos conceitos deverão surgir para substituir as referências da mídia impressa. Imagino coisas como os já conhecidos "mais lidos", "mais comentados", "mais curtidos", "mais retuitados", etc.

Em 2020, estaremos um pouco mais velhos. Sentiremos saudades ao passar pelas bancas de jornais e perceber que lá já não há mais nenhum jornal ou revista à venda.

   
Foto: A Praça do Mercado e o Campanário Belfort (1240), em Bruges.

Saturday, July 27, 2013

Primeira impressão

Com o Papa por aqui e tantas coisas acontecendo, acabamos deixando o Snowden de lado. Ele vai bem, obrigado! Continua no aeroporto de Moscou, enquanto eu espero ansiosamente pelos demais slides sobre a suposta espionagem americana (faltam 36), aqueles que o Guardian e o Washington Post ainda não publicaram.

Os slides de Powerpoint divulgados pelo ex-agente são considerados como evidências das suas acusações. Bem, tem gente que vê de outra forma. A CIA e a NSA custam rios de dinheiro aos contribuintes americanos e seus agentes não são nem capazes de fazer uma apresentação decente!

Acima, um dos slides vazados. Grotesco. Parece que seu autor aprendeu a usar o Powerpoint há pouco tempo e ainda numa versão bem velha. Será que a NSA não tem dinheiro para renovar os produtos da Microsoft?

O designer francês Emiland De Cubber repaginou a apresentação seguindo padrões mais atuais. Veja e navegue abaixo pelo Slideshare. A Slate também publicou uma proposta de visual alternativo.



A minha reação foi diferente. Apesar dos meus mais de 20 anos de Powerpoint, não é o visual que me choca. Se a apresentação é de uso interno, por que enchê-la de logos oficiais visualmente pesados? Os slides são feios, mas são muito didáticos. Por que fazê-los tão acessíveis quando se está cercado de pessoas supostamente capazes? Por que colocar tanto "TOP SECRET" se a NSA é ainda mais fechada do que a CIA? Por que encher os slides com as marcas dos parceiros? 

Desculpem-me por compartilhar tantas dúvidas. Enquanto não conhecer os demais slides, dormirei com a impressão de que tais slides tenham sido feitos para ser deliberadamente vazados. É só uma impressão.


Leitura recomendada: Artigo do Foreign Policy alinhado com meu primeiro post sobre Snowden: The Surveillance State Strikes Back.


Sunday, July 14, 2013

Snowden

O aprofundamento da discussão sobre a privacidade e os limites da vigilância do Estado será uma grande contribuição do Caso Snowden. A imprensa está inundada de artigos criticando os EUA, defendendo a liberdade e reverenciando o ex-agente americano.

Até no Brasil, onde nunca se deu a mínima para o assunto, Snowden virou herói e Obama passou a encarnar o próprio Satã. Vi pouquíssimas matérias fazendo um contraponto, por isso recomendo a leitura do artigo do Mario Vargas Llosa.

Não gostaria de julgar o Snowden, até por que só estamos vendo a pontinha do iceberg. Num mundo cheio de segredos, nunca saberemos as suas reais motivações. Ele pode ser um herói de verdade ou o pior dos canalhas. Tanto faz.

O maior problema é a demonização dos EUA. Na prática, estamos fazendo o jogo que interessa aos países que realmente censuram, que mantêm exércitos de hackers ou que promovem o mal de forma deliberada. Com o argumento de "se os EUA fazem, nós também podemos", acabaram-se as esperanças de algum controle sobre o Big Brother. O legado de Snowden pode ser um mundo muito pior.

Um lembrete aos leitores brasileiros indignados com a bisbilhotice americana. Enquanto você está preocupado com o Snowden, tem alguém muito mais próximo fuçando as suas fotos, tentando entrar na sua conta bancária ou prestes a chantagear um membro da sua família.

A maior prova da ineficácia da super espionagem norte-americana é não ter antecipado o próprio Snowden. Portanto, cuidado. Para fins práticos, o grande problema do mundo virtual não é o Big Brother, mas os milhares de maltrapilhos que nos cercam.


Foto: A "Grande-Place" de Bruxelas num domingão festivo. A Praça é a principal da cidade e integra o Patrimônio da Unesco.