Saturday, January 31, 2009

O último CD 3


A elite da música francesa defende bravamente o seu terreno dos estrangeiros que fazem sucesso por aqui. Em 2008, entre os dez álbuns mais vendidos, cinco foram de artistas não franceses, sendo que quatro vieram do outro lado da Mancha. São eles:

1 - Seal (Inglaterra)
2 - Coldplay (Inglaterra)
3 - Duffy (País de Gales)
4 - Amy Winehouse (Inglaterra)
5 - AC/DC (Austrália)


Foto: As margens do lago Bourget, a silhueta da Abadia de Hautecombe, necrópole da dinastia de Savóia, incluindo-se alguns reis da Itália. O ducado da Savóia incorporava esta parte que hoje pertence à França e as terras italianas que se espalhavam pela região de Turim, Piemonte e Sardenha. A divisão foi feita quando da unificação da Itália. A França governada por Napoleão III levou essas terras e apoiou a unificação. A história não é tão simples assim. E nem a Itália é tão unida assim.

Friday, January 30, 2009

O último CD 2

Já que as vendas de CD só enriquecem uns poucos, restam aos artistas os shows, o merchandising e a própria venda pela Internet. Como é hábito na Gália, os músicos estão chorando e pedindo ajuda para o governo. Quase sempre cola. Cá entre nós, a categoria tem um lobista na cama do Sarkô.

Há alguns dias, sugeri alguns cantores franceses contemporâneos. Agora, publico o ranking de 2008 da música francesa (critério de vendas totais):

1 - Francis Cabrel
2 - Bénabar
3 - Johnny Hallyday
4 - Christophe Maé
5 - Bernard Lavilliers
6 - Thomas Dutronc
7 - Mylène Farmer
8 - Alain Souchon
9 - Renan Luce
10 - Christophe Willem


Foto: Domingo, estive em Chambéry, cidade da Savóia, a uma hora de Lyon e ao pé dos Alpes. Vista do seu centro histórico. Mais informações sobre a cidade no blog de Cynthia Caughey .

Monday, January 26, 2009

O último CD 1

Em 1999, escrevi um artigo sobre a ascensão da música carregável pela rede, no formato MP3. Já se foram dez anos!

Mesmo prevendo a morte do CD e a explosão do MP3, deixei uma válvula de escape. Escrevi: "O poder das empresas fonográficas pode até reverter o quadro, o que poucos acreditam". Vocês sabem o que aconteceu e os números confirmam.

Vejam as estatísticas francesas: Em 2002, a receita total da venda de CD foi de 1,3 bilhão de euros. Naquele ano, a receita com download de música pela Internet era um "traço". Em 2008, as vendas de CD totalizaram 600 milhões. Isso mesmo! Menos da metade. E a venda de música pela rede alcançou a modesta soma de 70 milhões.

O índice de pirataria é gigantesco, comparável com qualquer República de Banana. Ou, como eu já disse, é pior, pois nesses lugares o acesso à banda larga é um entrave para a pirataria generalizada.

Ao contrário dos EUA, o governo se recusa a colocar alguns campeões do download ilegal na cadeia. Eu sei que não adianta muito, é só para dar exemplo.


Foto: Eu já estava quase esquecendo que o céu é azul! Finalmente, um belo dia. Enfrentei um caminho cheio de neve, mas valeu à pena chegar no lago Bourget (Departamento de Savóia) e encontrar esta casa secular.

Sunday, January 25, 2009

Mão visível e pesada 2

Já comentei sobre diversos episódios de interferência direta e indireta do governo francês em todas as áreas que possamos imaginar. Na França, também existe um pacote para salvar os bancos e a indústria automobilística, entre outras. Sarkô pediu aos executivos mais importantes desses conglomerados que abrissem mão da parte variável da remuneração (o bônus). A onda pegou!

De pacote em pacote, o governo (re)coloca a mão em muitas empresas. E quando não entra diretamente no capital, usa a grande rede de influência e participações cruzadas das empresas francesas para mandar e desmandar.

O mais inusitado é o pacote para salvar a imprensa escrita, orçado em 600 milhões de euros. Os jornais estão há muito tempo em situação falimentar. Entre diversas iniciativas, o governo vai presentear cada jovem que completar 18 anos com uma assinatura anual de um diário de sua livre escolha (o Estado banca a distribuição, o jornal a impressão).

Ainda para os jovens, todos os museus terão acesso gratuito. Sarkô é cheio de boas idéias. Eu sempre pergunto quem é que vai pagar tudo isso.

Lembro ao leitor desavisado que o Sarkô é de direita. Imaginem o que um comunista poderia fazer nesses tempos difíceis!


Foto: Casa anexa aos domínios de Vizille, Isère.

Saturday, January 24, 2009

Mão visível e pesada 1


Circula pela Internet um texto - falsamente atribuído a Karl Marx - afirmando que, o capitalismo levaria a uma situação parecida com a que vivemos hoje e, a intervenção maciça do Estado para salvar a economia levaria ao comunismo.

Mesmo sem a assinatura de um gênio da economia, não ousaria zombar do texto. A profundidade da deterioração econômica é imprevisível e ainda estamos longe de ver a luz do fim do túnel.

Não penso no comunismo como uma ameaça realista, porém num grande retrocesso da economia de mercado e da globalização. Acredito que um capitalismo renovado possa renascer dentro de alguns anos, com mais controles, limites e responsabilidade.


Foto: Estátua da Liberdade ("La Marianne") de Vizille, esculpida por Henri Ding.

Friday, January 23, 2009

O trem da escória 3


O sistema de transporte público francês é vítima do seu próprio sucesso. Depois de décadas de investimento maciço, grande parte da população, independentemente de posição econômica, aderiu à sua utilização. Dentro das cidades, temos bicicletas, ônibus, bonde e metrô. Trens integrados ao metrô para os subúrbios e a maior rede mundial de trens de alta velocidade conectando as principais cidades e regiões do país.

Formou-se um círculo virtuoso e cada vez mais pessoas usam o transporte público. O problema é a saturação, que não pode ser resolvida com investimentos marginais. Por exemplo, o metrô parisiense está próximo do momento em que não se pode mais adicionar trens ou aumentar a frequência dos mesmos. Eu chamaria de efeito sardinha.

Enquanto a população se aperta no metrô e os trens atrasam, os políticos digladiam-se. Além da briga entre governo e trabalhadores, há a briga política entre esquerda e direita, entre políticos visionários e oportunistas, entre o país e as cidades, etc. Alguém já viu isso?

A verdade é que quando há dinheiro sobrando, as coisas ficam mais fáceis. Em tempos de estagnação, não haverá muitos recursos para manter a qualidade do que era um dos melhores sistemas de transporte público do mundo.


Foto: Visão externa do Château de Vizille, mencionado nos posts anteriores.

Thursday, January 22, 2009

O trem da escória 2

Há poucos dias, foi liberado mais um dos nove militantes da extrema esquerda suspeitos de sabotar as linhas de TGV. Só resta um em cana.

Ao contrário do que se possa imaginar, o fato do tal Julien Coupat estar preso tem despertado muita solidariedade. As manifestações pela sua liberdade são inúmeras.

Não se trata de uma querela ferroviária, sindical ou ideológica. O problema foi a condução do processo que levou à detenção dos supostos terroristas. O governo quer mostrar serviço, mas tem gente fiscalizando.

Foto: Jardins do domínio de Vizille

Wednesday, January 21, 2009

O trem da escória 1

Sarkô perdeu a paciência com um dos sindicatos de ferroviários que infernizam a vida dos franceses, sobretudo aqueles da região metropolitana de Paris. Havia uma greve parcial dos maquinistas na estação de Saint-Lazare. A agressão de um ferroviário por parisienses irados foi o estopim para a paralisação total da estação. Mais uma vez, instaurou-se caos.

Não posso julgar as reivindicações dos trabalhadores dos sistema de transporte francês, apenas constatar o impacto desastroso dessas greves. Ter uns três ou quatro dias de paralisação por ano para se negociar salário até daria para aceitar. Porém é muito mais do que isso. Ao longo do ano, são diversas greves parciais em todos os transportes, causando cancelamento e atraso de muitas viagens.

Os maquinistas são especialmente sindicalizados. Devido a sua importância, obtiveram muitas conquistas. Alguns veem como privilégios. A batalha é política, econômica e ideológica, traduzindo muito dos conflitos que a França vive como um todo.


Foto: Castelo e jardins de Vizille, um dos mais importantes do Departamento de Isère.

Sunday, January 18, 2009

Vizille

Uma chuva seguida de queda brutal de temperatura causou o maior estrago em Lyon durante a última semana. A água congelou sobre as calçadas e ruas. Como resultado, inúmeros tombos e derrapagens. Um colega perdeu o controle do carro. Ele passa bem. O carro já era.

O final de semana não foi gelado, porém chuvoso. Fui até Vizille, periferia de Grenoble (Departamento de Isère), visitar um importante e belo local histórico. A estrada estava boa, o problema foi andar nos jardins do belo castelo. Apesar da temperatura positiva, a lâmina de gelo ainda não havia derretido.

Em 1788, no Castelo de Vizille, os representantes da província de Dauphiné desafiaram a autoridade real, convocando a Assembléia dos Estados Gerais, evento que antecedeu a Revolução Francesa. As aparências não enganam: Tudo começou com uma pequena insubordinação da elite. O castelo sedia o Museu da Revolução Francesa.

Mais informações:
http://www.musee-revolution-francaise.fr/

Tenho uma curta viagem pela frente e volto com novos posts ilustrados com imagens de Vizille.

Thursday, January 15, 2009

80 anos de Tintin



Um dos meus primeiros posts no antigo fotolog falava sobre o Tintin, um campeão de vendas e eterno ídolo da juventude europeia. Também falei da proibição de "Tintin no Congo" em diversos países, por causa de um processo de racismo contra Hergé.

Hergé é acusado de ser racista, colonialista, colaboracionista, de extrema direita e anticomunista. Cá entre nós, é verdade! Fica a dúvida se a leitura de todos os seus álbuns é capaz de influenciar alguém. Acho que não, ela apenas traduz (às vezes de forma muito sutil) sentimentos dominantes à sua época. Apesar do deslize antissemita de "A estrela misteriosa", não há qualquer outro tropeço. Pelo menos não foi suficiente para desanimar Steven Spielberg a investir na volta do jovem jornalista às telas em 2010.

Hoje em dia, aos 80 anos do personagem, o alvo das principais acusações não é mais o criador, mas a criatura: Tintin é gay! Tintin é homossexual e misógeno. Hergé, enquanto vivo, tentou explicar as razões do mundo sem mulheres de Tintin, mas aí passaram a desconfiar que ele também fosse do mesmo time.

Apesar das controvérsias, Hergé e Tintin são respeitados e os álbuns vendem muito. Vou prestar atenção no noticiário e ver se algum "skinhead" declara Hergé como ídolo. Certamente, algumas bichas vão declarar Tintin como símbolo. O meu veredito é que Hergé é menos racista e anticomunista do que Monteiro Lobato.


Foto: Lyon, passarela sobre o Saône, com a insistente bruma que não sai de cima da França há muitos dias.

Wednesday, January 14, 2009

Um pouco de música


Logo depois da morte de Marcel Marceau, a revista Time anunciou o fim da cultura francesa. A matéria tinha lá as suas razões, mas a série de prêmios obtida pela arte e a ciência da França em 2008 (Nobel, Oscar, etc) mostrou que houve um certo exagero.

Nestes últimos dois anos, pude conhecer muito da música contemporânea francesa, seja através do rádio, televisão ou internet. Até comprei uns CDs! Sim, esta prática quase extinta. Afinal, com a banda larga acessível por grande parte da população, os downloads ilegais saem de controle. Resultado: FNAC e Virgin às moscas, substituindo as seções de CDs por Wii e outros.

Já havia indicado a alguns amigos a cantora franco-israelense Yael Naim. Deixo mais três indicações de sucessos recentes do pop local, que tenho apreciado: Christophe Mae, Francis Cabrel e Olivia Ruiz. Vai também o link no You Tube para ver o clip.

Christophe Mae
http://fr.youtube.com/watch?v=RrIgzKam0wo
Francis Cabrel
http://fr.youtube.com/watch?v=DQx6KyFZ9B0
Olivia Ruiz
http://fr.youtube.com/watch?v=kBPlP3tQeyE
Yael Naim
http://fr.youtube.com/watch?v=XgEfYGzojcA


Foto: O Saône em Lyon, num final de semana gelado.

Monday, January 12, 2009

Reforma Ortográfica

E por falar na nova ortografia, gostaria de enfatizar que quaisquer correções ao texto deste blog serão sempre benvindas. Trouxe um pequeno manual com as novas regras, mas ainda não memorizei tudo, sobretudo os segredos da hifenização, o novo grande charme da última flor do Lácio: Inculta, bela e padronizada.

A intenção de se alcançar uma única escrita para o nosso idioma é louvável, mas deixo aos filólogos e linguistas (sem trema) o julgamento da forma escolhida pelos acadêmicos. Antes de deixar o Brasil, li a crônica de João Ubaldo Ribeiro, um contrarreformista (sem hífen), com várias situações hilárias provocadas pela eliminação de muitos acentos.

Entre vantagens e desvantagens, eu apoio (agora, sem acento agudo) a reforma. A França, por sua vez, recusa-se a mexer no idioma de Victor Hugo, Molière e Dumas. O resultado é o distanciamento contínuo da língua falada e da escrita. Alguns acreditam numa conspiração elitista, uma vez que se forma uma barreira relevante para inclusão social ou no próprio mercado de trabalho.

Escrever bem em francês não é para qualquer um. Difícil imaginar que o idioma resista à geração torpedo, que transformou "qu’est-ce que c’est?" (o que é isso?) em "keske c".


Foto: Lyon, neste final de semana, às margens do Saône. Temperatura negativa e inversão térmica. Não é muito confortável para passear, mas vale a foto.

Um blog invernal 5

Há quem diga que este blog pega no pé do Sarkô. Que nada! Há outros realmente infernais para o Presidente. Entre sites e blogs, tenho uma seleção para os interessados. Mesmo em francês, com um pouco de esforço, dá para se sentir o clima.

Sites:
http://no.sarko.free.fr/
http://www.antisarko.net/
http://www.syti.net/SarkozyDanger.html
http://www.antisarkozysme.com/forum/

Blogs:
http://sarkostique.over-blog.com/
http://watchingsarko.canalblog.com/
http://contresarko.canalblog.com/
http://contrejournal.blogs.liberation.fr/mon_weblog/2008/06/bla-bla.html

Na foto, a prova de que eu gosto do Sarkô. Comprei até mesmo o seu kit vodu.

Ele tentou interditar a venda do produto, mas a Justiça não o autorizou. Resultado: Uma tarja vermelha alertando que o mesmo constitui um atentado à dignidade da pessoa de Monsieur Sarkozy. Pode?

Eu não desejo mal, pelo contrário, encaro como uma teleacupuntura para torná-lo um pouco mais modesto e democrata. Teleacupuntura é sem hífen, segundo a nova ortografia.

Sunday, January 11, 2009

Um blog invernal 4


Ontem, saindo para uma corridinha básica de 10km e com termômetro marcando poucos graus abaixo de zero, cruzei com uma grande manifestação pró-palestina. O recente conflito em Gaza é relembrado com insistência pela grande comunidade islâmica residente no país. A movimentação é pacífica, apesar de um ou outro veículo incinerado aqui ou ali.

Queimar carros já virou marca registrada da inquietação dos subúrbios franceses. Em 2008, não houve um movimento como aquele surto quase incontrolável de alguns anos atrás. De qualquer modo, o saldo de destruição em todo o país é próximo de 50.000 carros! Está na hora de Sarkô cuidar mais da França.

Mas, como diz um colega radicado na Inglaterra e que adora automóveis: "Se eu tivesse um carro francês, também o queimaria".


Foto: Lyon, às margens do Rhône. Eu corria nesta faixa entre o rio e a piscina, a manifestação atravessava a ponte.

Saturday, January 10, 2009

Um blog invernal 3



A atuação de Sarkô como líder da União Européia foi comentada em todo o mundo. Ele apareceu no topo de todas as listas das pessoas mais influentes do mundo. Ah, se não fosse o Obama! A imprensa norte-americana festejou o dinamismo e a determinação deste novo velho aliado.

No meio de tantos elogios, uma única voz da imprensa internacional alertou para o que eu já venho comentando neste blog. Diz a publicação alemã Der Spiegel: "Nicolas Sarkozy é uma calamidade para os franceses, ameaçando os fundamentos democráticos do país".

Não questiono a sua invejável capacidade como executivo, empreendedor ou mesmo diplomata. A questão é a sua tendência à tirania, passando por cima de valores caros à sociedade francesa como liberdade de expressão, laicidade e separação dos poderes. Tenho que concordar com alguns colegas franceses (mais à direita do que eu gostaria): Sarkô é bem melhor que Lula e Bush (o que também não significa muita coisa).


Foto: Lyon, às margens do Rhône, por volta das 17 horas. Foto tirada durante uma caminhada no final de dezembro.

Friday, January 9, 2009

Um blog invernal 2


Nos últimos posts de 2008, comentei que o final de ano passa em branco por aqui. Não era referência à neve, mas à falta generalizada de celebrações. Que diferença com relação ao Brasil!

Fazendo uma pequena ressalva, o Dia de Reis (Epifania), celebrado em 6 de janeiro, não costuma ser esquecido. Mais uma vez, houve uma pequena celebração dentro da empresa, com a famosa "galette des rois" (King cake em inglês). Garanto que fica só nisso.


Foto: Lago de Nantua, mais uma vez.

Thursday, January 8, 2009

Um blog invernal 1


Depois de alguns poucos dias no Brasil, estou de volta ao gelo. Há tempos que a França não passava por um inverno tão rigoroso. Em São Paulo, fazia 26 graus. Quando cheguei ao Aeroporto Charles de Gaulle, -12. Eu disse doze negativos!

Sarkô também passou o mesmo período no Brasil, como a imprensa bem divulgou. Ele foi para Itacaré, mas eu fiquei em São Paulo.

Normalmente, as empresas francesas fecham as portas entre o Natal e os primeiros dias do ano. O que inquietou alguns comentaristas franceses não foi o custo da comitiva hospedada no Hotel Txai, mas a ausência simultânea do presidente e do primeiro-ministro. Um país pode fechar as portas? Os franceses certamente não conhecem aquela máxima brasileira: O país cresce de noite, quando todos os políticos vão dormir.


Foto: Lago de Nantua, a uma hora de Lyon. Foto tirada durante meu último final de semana na França em 2008. Com muito frio e neblina.