Saturday, July 27, 2013

Primeira impressão

Com o Papa por aqui e tantas coisas acontecendo, acabamos deixando o Snowden de lado. Ele vai bem, obrigado! Continua no aeroporto de Moscou, enquanto eu espero ansiosamente pelos demais slides sobre a suposta espionagem americana (faltam 36), aqueles que o Guardian e o Washington Post ainda não publicaram.

Os slides de Powerpoint divulgados pelo ex-agente são considerados como evidências das suas acusações. Bem, tem gente que vê de outra forma. A CIA e a NSA custam rios de dinheiro aos contribuintes americanos e seus agentes não são nem capazes de fazer uma apresentação decente!

Acima, um dos slides vazados. Grotesco. Parece que seu autor aprendeu a usar o Powerpoint há pouco tempo e ainda numa versão bem velha. Será que a NSA não tem dinheiro para renovar os produtos da Microsoft?

O designer francês Emiland De Cubber repaginou a apresentação seguindo padrões mais atuais. Veja e navegue abaixo pelo Slideshare. A Slate também publicou uma proposta de visual alternativo.



A minha reação foi diferente. Apesar dos meus mais de 20 anos de Powerpoint, não é o visual que me choca. Se a apresentação é de uso interno, por que enchê-la de logos oficiais visualmente pesados? Os slides são feios, mas são muito didáticos. Por que fazê-los tão acessíveis quando se está cercado de pessoas supostamente capazes? Por que colocar tanto "TOP SECRET" se a NSA é ainda mais fechada do que a CIA? Por que encher os slides com as marcas dos parceiros? 

Desculpem-me por compartilhar tantas dúvidas. Enquanto não conhecer os demais slides, dormirei com a impressão de que tais slides tenham sido feitos para ser deliberadamente vazados. É só uma impressão.


Leitura recomendada: Artigo do Foreign Policy alinhado com meu primeiro post sobre Snowden: The Surveillance State Strikes Back.


Wednesday, July 24, 2013

Clicando o Papa

Um post sobre o Papa? Sobre religião? Nada disso! Aproveito a vinda do Papa para compartilhar duas imagens que vi numa apresentação recente. As imagens são autoexplicativas. Dá para perceber o que vem acontecendo no mundo nos últimos anos.

Ambas as fotografias foram tiradas na Basílica de São Pedro (Vaticano). Acima, uma foto de 2005, quando do falecimento de João Paulo II. Abaixo, uma foto deste ano, quando da posse de Francisco. Notaram a diferença? ;-)


Atenção, as fotos não são minhas (sou um daqueles que vai a Roma e não vê o Papa), são da Associated Press, respectivamente de Luca Bruno e Michael Sohn. Também foram publicadas no fotoblog da NBC.

Saturday, July 20, 2013

Porta dos Fundos II

O último post veio bem a calhar, pois já estava para comentar sobre o grupo Porta dos Fundos. Não quero falar sobre o seu humor em si, tarefa que deixo para os especialistas, mas sobre a mídia e seu futuro.

Mesmo quando estou fora do país, dou uma olhadinha nos novos vídeos semanais da trupe. É difícil agradar a todos e posso imaginar que vocês achem alguns muito engraçados e outros menos. O mérito do grupo é buscar a graça numa infinidade de situações comuns.

Se, às vezes, o humor é escrachado, a produção é impecável. São 30 profissionais nos bastidores do grupo, que já está no azul. A viabilidade econômica talvez seja a grande novidade. É um sinal de que existe caminho para os "independentes".

Ainda é cedo para se dizer que os veículos tradicionais morreram. O episódio mais visto, "Na Lata", atingiu 10 milhões de acessos em 6 meses. É um número muito pequeno quando comparado com as cifras da TV. Também é ínfimo perto de um vídeo de escala mundial, como o Gangnam Style, que fez o contador do Youtube bater 1,7 bilhão!

Num mundo ideal, teríamos inúmeros canais de sucesso no Youtube ou em aplicativos para tablets e smartphones, de produções independentes ou de grupos tradicionais da mídia, de humor, esportes, música, notícias, etc. Aí sim, poderíamos enterrar a TV Globo.


Foto: A vista mais celebrada de Bruges, na Bélgica.

Tuesday, July 16, 2013

Porta dos fundos

O que significa "porta dos fundos" para você? Alguns dos meus leitores são do tempo que era apenas uma saída secundária da casa. Outros, mais modernos, lembram da trupe de humoristas que possui o canal mais popular do Youtube no Brasil. E, é claro, tem aqueles que associam o termo ao próprio traseiro. Lamento informar que este post não é sobre nada disso.

Se você leu alguma coisa sobre o escândalo da espionagem americana, já sabe o que é a porta dos fundos no sentido de informática. Trata-se de um acesso privilegiado a um sistema ou computador permitindo o controle do mesmo. Tais portas são oriundas de falhas ou podem ter sido planejadas para tal.

Após o caso Snowden, os grandes nomes da informática mundial estão sendo acusados de colaboracionistas, mantendo uma porta dos fundos para a espionagem de Estado. Além do Google, Facebook e outros, acusa-se a Microsoft de entregar deliberadamente tudo o que se passa no Skype.

Pensando no Skype, vou contar uma história real. Tenho que disfarçá-la para proteger a fonte. A propósito, o Skype foi criado na Europa em 2003, passou pela e-Bay e só caiu nas mãos da satânica Microsoft em 2011. Este episódio aconteceu antes de 2011, num tempo em que o Skype era "puro", não estava vendido para a CIA e, muito menos, para qualquer outro governo.


Um executivo ocidental foi expatriado no Oriente. Os primeiros meses fora de casa costumam ser difíceis. Depois do período de adaptação, é tudo de bom. Nosso protagonista matava a saudade da família com o milagroso Skype. Tudo de graça! 

Seria uma história muito trivial, se não fosse por um detalhe. Ele usava um dialeto para se comunicar com a família. Uma dessas línguas em extinção, falada por poucos, mas que ainda consegue manter uma tradição oral, sendo passada de pai para filho.

Um dia, dois oficiais do governo daquele país bateram-lhe à porta. Não era a dos fundos, era a principal mesmo. Naquela cena típica de Alemanha nazista, o oficial mais graduado vai direto ao ponto. Curto e grosso: "quando estiver usando o Skype, use uma língua mais conhecida ou será expulso daqui".



Portanto, não leve muito a sério tudo que você ler sobre porta dos fundos. Nem precisa. Seremos espionados de qualquer jeito. A infinidade de acusações contra Google, Microsoft e Facebook só serve para alimentar os advogados de ambas as partes. Enquanto isso, vá se divertindo com os vídeos do Porta dos Fundos.


Foto: Outra tomada da "Grande-Place" de Bruxelas.

Sunday, July 14, 2013

Snowden

O aprofundamento da discussão sobre a privacidade e os limites da vigilância do Estado será uma grande contribuição do Caso Snowden. A imprensa está inundada de artigos criticando os EUA, defendendo a liberdade e reverenciando o ex-agente americano.

Até no Brasil, onde nunca se deu a mínima para o assunto, Snowden virou herói e Obama passou a encarnar o próprio Satã. Vi pouquíssimas matérias fazendo um contraponto, por isso recomendo a leitura do artigo do Mario Vargas Llosa.

Não gostaria de julgar o Snowden, até por que só estamos vendo a pontinha do iceberg. Num mundo cheio de segredos, nunca saberemos as suas reais motivações. Ele pode ser um herói de verdade ou o pior dos canalhas. Tanto faz.

O maior problema é a demonização dos EUA. Na prática, estamos fazendo o jogo que interessa aos países que realmente censuram, que mantêm exércitos de hackers ou que promovem o mal de forma deliberada. Com o argumento de "se os EUA fazem, nós também podemos", acabaram-se as esperanças de algum controle sobre o Big Brother. O legado de Snowden pode ser um mundo muito pior.

Um lembrete aos leitores brasileiros indignados com a bisbilhotice americana. Enquanto você está preocupado com o Snowden, tem alguém muito mais próximo fuçando as suas fotos, tentando entrar na sua conta bancária ou prestes a chantagear um membro da sua família.

A maior prova da ineficácia da super espionagem norte-americana é não ter antecipado o próprio Snowden. Portanto, cuidado. Para fins práticos, o grande problema do mundo virtual não é o Big Brother, mas os milhares de maltrapilhos que nos cercam.


Foto: A "Grande-Place" de Bruxelas num domingão festivo. A Praça é a principal da cidade e integra o Patrimônio da Unesco.

Friday, July 12, 2013

Chapas

A foto acima está no meu banco de fotos. Não estava separada para ilustrar este blog, mas eu a utilizei nesta manhã no Twitter e no Instagram. As manifestações chapa branca de quinta-feira me inspiraram: chapas brancas e letras vermelhas.

A foto é de uma parede do museu automobilístico Autoworld de Bruxelas. Os próximos posts serão ilustrados com fotos recentíssimas de Bruxelas e Bruges.

Já vi alguns museus de automóveis, como por exemplo, a coleção Schlumpf de Mulhouse, comentada em 2010. Trata-se do maior museu automobilístico do mundo. Quem gosta de carro deve visitá-lo. O congênere de Bruxelas não tem as jóias de Mulhouse (coleção de Bugatti), mas é muito interessante.

Abaixo, mais duas fotos do Autoworld de Bruxelas. Uma visão geral do pavilhão e alguns dos modelos expostos. No sentido horário a partir do canto superior esquerdo: o belga Minerva AE (1929), o norte-americano Packard Single 8 (1928), o inglês Jaguar XK140 Cabriolet (1955) e o italiano Ferrari 250GT Boano (1956).



Monday, July 8, 2013

"Ultimate fight"

Este blog merece mais do que esportes periféricos como MMA/UFC e detesto misturar esporte com patriotismo. Porém, não queria deixar passar em branco a derrota do "nosso" Anderson Silva. Afinal de contas, ele é um ídolo nacional.

Na luta do último final de semana, o Anderson mostrou o pior lado da brasilidade. Talento e irreverência sem o menor senso de responsabilidade. É verdade que ele teve um longo reinado, mas vocês já viram um super atleta americano desperdiçando alguma chance de medalha ou título?

Certamente, Anderson não foi contaminado pelas massas, ao contrário da nossa seleção de futebol. Esta última, por sua vez, combinou seu talento natural com uma determinação inabitual para vencer. Aí sim, o melhor da brasilidade. Foi só uma luta. Foi só uma partida. Vale como ilustração. Não quero generalizar, é apenas uma metáfora esportiva.



O editorial do Estadão de domingo falava do sumiço do rei das metáforas futebolísticas. Os resultados pífios do governo Dilma podem trazer o cenário mais temido pela oposição: o "volta Lula". Aliás, a oposição ao governo tem sido especialmente acovardada. Combate a presidente na base de tapinhas de luvas de pelica, para se evitar a todo custo o "volta Lula".

Meu cenário preferido é chamar o Lula de volta e derrotá-lo nas urnas. Se precisarmos manter uma Dilma moribunda para ter a certeza de poder destituir o PT, todo esse movimento não serviu para nada. Mais cedo ou mais tarde, virá um outro Lula para fazer a mesma coisa.

Então, quem será o Chris Weidman da política brasileira?



Foto: Última foto desta área ao norte de Lisboa, a estação de trem que servia à Expo 98.

Tuesday, July 2, 2013

Tarde da noite

Felizmente, a televisão belga transmitiu a final da Copa das Confederações. Era muito tarde, mas valeu ficar até o final para ouvir o locutor dizer que, com um Brasil jogando daquele jeito, nem a seleção da Bélgica resistiria.

A Copinha acabou e ninguém mais fala do nosso futebol e nem das nossas manifestações. Não dá mesmo para competir com Egito e Turquia!

Dia desses, o ex-ministro francês Bernard Kouchner esteve num programa de TV, daqueles debates de final de noite típicos da TV francesa. O jornalista perguntou-lhe sobre as semelhanças entre os movimentos turco e brasileiro. O ex-diplomata foi curto e grosso: "Nenhuma". Também valeu ficar acordado para ver a cara de tacho do entrevistador. Segundos depois (pareceu uma eternidade), Bernard discorreu melhor sobre o assunto.

O Courrier International, jornal que sintetiza a imprensa mundial, por sua vez, diz que há muito em comum entre o Brasil e Turquia, explicitando a movimentação das “novas classes médias”.

Há algumas semanas, li alguns artigos sobre a Turquia. Uma matéria do Economist sobre os métodos de Erdogan me surpreendeu. Não imaginava que o Erdogan daqui já teve dois mandatos e elegeu a sua sucessora.

Acima, mais uma foto do "legado" da Expo 98 de Lisboa. Abaixo, selecionei quatro cartuns da imprensa internacional sobre as manifestações no Brasil. Os autores são Patrick Chappatte (dois primeiros), Arcadio Esquivel e Osvaldo Gutierrez Gomez.