Sunday, August 30, 2009

Crônica toscana 4

A “flexibilidade” italiana permitiu o renascimento da sua indústria vinícola. Na França, um vinho como o Ornellaia, um dos mais prestigiados da Itália, jamais teria alguma chance, pois a classificação dos vinhos e das regiões produtoras é mais inflexível do que a constituição nacional.

Além do mais, a Itália joga no time dos vinhos tipo Bordeaux, fortes e encorpados, que vendem mais e contam com a benção de Robert Parker e da revista Wine Spectator, dois dos agentes mais influentes do mundo do vinho.

Eu experimentei de tudo na temporada toscana, na dose aprovada pelos médicos de uma taça por dia. Tá bom, duas!! Chianti, Brunello di Montalcino, Montepulciano e os super-toscanos. Depois de algum tempo na França, a minha preferência mudou para Borgonha ou Beaujolais. Questão de gosto.

Os vinhedos italianos (Bolgheri em especial), o hotel-villa no Chianti e os passeios pela Toscana relembravam o documentário Mondovino, imperdível para quem gosta ou não de vinho. O documentário fala dos bastidores do Ornellaia, dos conflitos entre grandes e pequenos e muitos outros temas do mundo do vinho. A parte que eu mais gosto são os depoimentos de produtores franceses e italianos, daquelas pequenas vinícolas que passam de pai para filho ao longo dos séculos. Para os interessados, o filme é encontrado nas melhores casas do ramo. A série completa com 10 DVD é mais difícil. http://www.youtube.com/watch?v=dHBPvgOO29M


Fotos: O Palazzo Pitti, a casa nova do Duque. Os Medici deixaram o Vecchio Palazzo e mudaram para este belo conjunto renascentista no século XVI. O Palácio abriga uma bela galeria (na prática são diversos museus) e possui belos jardins (Boboli). Acima, a fachada do palácio. Abaixo, um pedaço dos jardins, o anfiteatro. Os jardins são enormes, mas o terreno não é nada plano. Difícil de fotografar. Pior de tudo, não é bom nem para uma corridinha!

Friday, August 28, 2009

Crônica toscana 3

Na hora de dirigir, fico muito mais à vontade na França. Vocês vão entender as minhas razões. A seguir, alguns comentários sobre as viagens automotivas exploratórias pela Toscana.

A indústria italiana de multas é tão agressiva quanto à brasileira. Há excesso de radares, sendo que as vicinais possuem longos trechos limitados a 50 km/h. Bastava andar nesta velocidade por alguns quilômetros, que se formava uma fila atrás de mim!

A Itália é bem criativa quanto à fixação de limites de velocidade. Encontrei as seguintes dezenas sinalizando velocidade máxima: 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100, 110 e 130. Não me lembro de 120!

Na França, boa parte das rodovias com pedágio possui três faixas e um acostamento por pista. Na Itália, algumas das principais rodovias do país têm apenas duas faixas e um acostamento (bem sem vergonha) em cada pista. Pelo menos, a máquina do pedágio aceitava Amex!

Não deve ser fácil atualizar os mapas rodoviários italianos. Quando retirei o carro, a moça da Hertz falou: “Não confie muito em GPS por aqui”. Eu trouxe o meu, mas ela tinha acabado de alugar um para um turista americano. Exagero à parte, funcionou muito bem.

A maior emoção foi transitar na área de pedestres de Florença. No centro histórico, o acesso de veículos particulares é proibido. O hotel estava nesta área. Existia apenas um caminho autorizado da Hertz até a porta do hotel. Eu até consegui acertar, o problema é que cheguei na mão contrária.

De frente para o hotel, tinha que fazer uma curva de 180 graus numa rua em que circulavam ônibus nas duas mãos. Quis fazê-lo do jeito mais seguro e civilizado possível. Quando vi os ônibus vindo sem qualquer intenção de frear nos dois sentidos, resolvi sair da rua. Que bobagem! Entrei no centro histórico (calçadão) e não sabia como voltar à rua do hotel.

Passei pelo Duomo e pela Piazza della Repubblica. Só faltava entrar no Ponte Vecchio! Tudo era proibido. Afinal, não era para estar de carro ali. Depois de alguns longos (longuíssimos) minutos, achei um caminho para sair e caí no mesmo lugar, em frente ao hotel. Desta vez, encarei o “cavalo de pau”.

A recepcionista do hotel sabia que eu havia saído apenas para buscar o carro. A garage da Hertz ficava a uns 500m do hotel. Eu voltei meia hora depois! Todo suado. Deixei a chave com ela e falei: “Que calor que faz aqui”.


Foto: Entrada do Palazzo Vecchio. Abaixo, a visão geral. Acima, o detalhe com a réplica do David de Michelangelo. O original está no Museu da Academia, não muito distante da praça. O palácio do século XIII foi residência dos Medici e funciona como prefeitura de Florença atualmente.



Thursday, August 27, 2009

Crônica toscana 2

Uma boa surpresa: A Itália é bem mais flexível do que a França com relação à abertura do comércio aos domingos. Não enfrentei problemas nos passeios dominicais e nem mesmo no feriado de Ferragosto.

Sabia do risco que corria com o feriado de 15/08, especialmente após ter assistido o filmaço “Pranzo de Ferragosto”. Felizmente, encontrei restaurantes, bares, postos de gasolina e até um outlet aberto. A decepção foi com o próprio hotel. Trouxe pouca roupa, pois contava com o serviço de lavanderia. Para meu espanto, a lavanderia não funcionou por uma semana inteira por causa do Ferragosto (que caiu no sábado!).

A solução mais razoável seria eu mesmo lavar algumas peças (contra os meus princípios). Eis que a 10 km da villa, encontrei um disputadíssimo outlet de “marcas locais” em plena liquidação e aberto no sábado de Ferragosto. Não deu outra, comprei o que precisava. Quanto às marcas locais: Zegna, Ferragamo, Armani, Diesel, etc. Ainda bem que não precisava de grande coisa!


Fotos: Na foto acima, a charmosa e decorada Piazza della Signoria, onde estão localizados o Palazzo Vecchio e um dos museus mais importantes do mundo, a Galleria degli Uffizi. As réplicas de esculturas dão uma personalidade única à praça. Na foto abaixo, um detalhe do Palazzo Vecchio.





Tuesday, August 25, 2009

Crônica toscana 1

Não dá para reclamar do tempo na Itália neste verão. Sol brilhando todos os dias e termômetro batendo nos 38 graus todas as tardes. Eu acho até demais! Não é à toa que desembarquei na Normandia, com um clima bem mais ameno, para terminar as férias de cinco semanas, no melhor estilo francês.

A temporada na Toscana foi excelente. A viagem teve três pernas: Primeira etapa em Florença, para conhecer com calma o seu patrimônio cultural. A segunda parte foi numa villa afastada, mas ainda na região de Florença. A proposta foi ficar mais próximo de lugares como Chianti e Sienna e ter algum descanso. A villa funciona como um hotel-château francês, ou seja, é uma celebração enogastronômica (modo delicado de se dizer outra coisa). A terceira etapa foi junto ao mar, com base em Livorno, para se conhecer cidades como Lucca e Pisa, por exemplo.

Enfim, apesar de ser altíssima temporada, foi tranquilo. Se eu fosse sair do Brasil, não aconselharia agosto. Morando aqui na Europa, é inevitável. Garantia de tempo bom (fotos com céu azul) e por ser um mês em que tudo está preparado para férias mesmo. Além do mais, não dá para ficar em Lyon, onde as temperaturas chegam facilmente à casa dos 40 graus no verão.


Fotos: Cartão postal principal de Florença: Ponte Vecchio, uma ponte do século XIV sobre o Rio Arno. Esta substituiu a original romana destruída dois séculos antes. O charme são as lojinhas em ambos os lados da ponte, mostrada pela suas faces leste e oeste.





Sunday, August 23, 2009

Florença e Toscana

Não previ ficar tantos dias sem colocar um post neste blog. Em dois dos três hotéis em que estive nesta temporada italiana, o acesso à Internet era indecente. Coisas da Itália. Ou como diz a Kelly Jones: Neandertália. Mas, depois a gente fala sobre isso.

Não fiquei totalmente desconectado, pois o Blackberry funcionou bem, salvo quando estive mais afastado do centro. Temos que ser compreensivos, pois a Itália é muito grande para ser coberta pelas operadoras de celular!

Retomo os posts com fotos de Florença, capital da Toscana. Eu passo a próxima semana na Normandia, mas espero não ser decepcionado pela hotelaria francesa.

A foto de abertura é uma cena de começo da noite no Rio Arno, que corta Florença, cidade de riqueza cultural inigualável e berço da Renascença. Arrivederci!

Wednesday, August 12, 2009

Bio

Ainda falando em comida, a onda dos produtos orgânicos também é bem significativa por aqui, onde são conhecidos como "bio". Na realidade, é mais do que um nome. Bio é uma marca controlada pelo governo que garante a origem do produto.

Recentemente, colocaram fogo no debate sobre os produtos bio, razoavelmente mais caros do que os comuns. Cientistas ingleses mostraram que não há diferenças nutricionais significativas entre os produtos orgânicos e os demais. Contudo, a diferença relevante está no processo de produção agrícola em si, que usa menos recursos naturais e evita os defensivos sintéticos. Enfim, é o planeta que agradece.

Desde que cheguei aqui, sempre comprei alguns produtos bio. Como não conhecia quase nenhuma marca local, foi uma referência.

Quem também agradece é o bando de José Bové. Passaram boa parte da vida queimando McDonalds sem saber como salvar o pequeno agricultor não competitivo. A solução é o bio “made in France”. Como uma poção mágica enviada pelo remoto Panoramix ao líder agrário Bovix.


Foto: Mais uma tomada de Annecy na Savóia. Tem pelo menos dois leitores deste blog que já estiveram por lá e a consideram entre as suas cidades preferidas!

Monday, August 10, 2009

Micro-ondas

O que seria de todos nós sem um forno de micro-ondas? Felizmente, existem mercados especializados em congelados por aqui. As prateleiras de gelados e congelados dos supermercados tradicionais são igualmente bem servidas. Nem sempre foi assim.

O sucesso do forno de micro-ondas na França é relativamente recente. Não seria exagero dizer que ele invadiu praticamente todos os lares franceses somente nos últimos cinco anos, um atraso considerável em relação aos EUA.

A tradição gastronômica do país resistiu o quanto pôde. As áreas rurais foram as últimas a aderir. Para quem vive nas cidades, não há como resistir à tamanha praticidade. Até mesmo os grandes chefs perceberam que os congelados são um mercado a mais, uma oportunidade. Em tempos de crise, vários restaurantes estrelados buscam rendas alternativas, através de lojas ou brasseries menos sofisticadas. Enfim, nós os consumidores agradecemos. Podemos comer em casa desde as comidinhas mais simples até pratos dos grandes chefs.

Para fechar o post, uma curiosidade. Nos anos 40, um engenheiro da Raytheon trabalhava com tecnologia para radares antiaéreos. Testando uma de suas inovações, o chocolate que estava no seu bolso derreteu. Para conferir o fenômeno, ele usou o seu radar para preparar pipocas. Estava inventado o forno de micro-ondas. Os primeiros equipamentos eram grandes e caros. O resto da história vocês conhecem.


Foto: Domingão em Annecy. Voltei à belíssima cidade da Savóia. Desta vez, o tempo foi bem melhor e, espero que as fotos também sejam. Explico a foto com o mesmo texto que usei no fotolog anterior (27/03/2008): O grande charme da cidade é o Palácio da Ilha, o "castelinho" sobre o Thiou. A casa fortificada é do século XII, passou por residência, administração da vila, casa da moeda e tantas outras funções. O formato de barco que chama tanta atenção.

Sunday, August 9, 2009

Protestante da corte

A confirmação da hispânica Sonia Sotomayor na Corte Suprema é outro marco histórico da democracia norte-americana. Mais uma mulher, mais uma católica e, ainda por cima, hispânica!

Há algumas décadas, uma Corte Suprema de maioria católica talvez fosse tão inimaginável como um presidente negro. Havia uma cota informal de no máximo um católico e um judeu. Literalmente, o judeu e o católico da corte.

Hoje, são seis católicos, dois judeus e apenas um protestante. Embora a reviravolta se afaste da proporcionalidade à população norte-americana de maioria protestante, tudo indica que, do ponto de vista ideológico, o equilíbrio está garantido. Quatro mais liberais, quatro mais conservadores e um juiz indefinido (um tucano?), que provavelmente vai decidir as questões mais polêmicas.

Nenhum artigo que eu li manifestou preocupação importante com a configuração da corte em si, mas com o próprio histórico da juíza Sotomayor. Ficaremos de olho!


Foto: Um bistrô escondido entre as árvores à beira do rio Aillier, em Vichy, numa foto de maio último.

Wednesday, August 5, 2009

Fumando

Com relação à nova lei antitabagista que vai vigorar em São Paulo, saibam que o tema despertou a mesma polêmica na França. Num país que cultua a discussão e onde ainda se fuma muito, tinha tudo para dar errado. Não deu! Desde o primeiro dia, os fumantes civilizadamente retiram-se dos ambientes fechados para exercer o seu direito sem incomodar os demais. Não soube de qualquer desobediência.

Vale ressaltar que grande parte da população fumante é feminina. Algumas poucas vezes tive a impressão de que o melhor da festa estava do lado de fora ;-)

Pesquisando o assunto na imprensa brasileira, estranhei a diversidade ortográfica: Antitabagista, anti-tabagista e anti tabagista. Presumo que a primeira forma esteja correta de acordo com a nova ortografia.


Foto: Interrompendo a sequência de fotos de Munique, mostro a bela cidade de Mâcon, na Borgonha. A minha visita deveu-se a um almoço dominical numa ótima brasserie, às margens do Saône, de onde tirei a foto acima. De lá, fui visitar mais um château.

Tuesday, August 4, 2009

Ex-cola

O fim dos livros e jornais é tema recorrente das discussões do Blogger e do Facebook. Vi uma troca interessante sobre o fim dos livros escolares e acadêmicos. Como cheguei tarde para o debate, deixo a minha opinião neste post, aguardando vossos comentários.

Muitas escolas e universidades virtualizam-se rapidamente. Todas as referências, notas de aulas, testes e as informações sobre o próprio curso são distribuídas através da Internet.

A evolução é bastante lógica, pois existe um apelo prático e econômico. O acesso à rede é normalmente fornecido pelas instituições de ensino e a aquisição de computadores já não é mais problema.

Acredito que a verdadeira revolução seja outra. No mundo da Web, onde temos todas as informações disponíveis na palma da mão, o desafio não é melhorar a forma de se transmitir o conhecimento, mas discutir o conhecimento transmitido em si. Não deveríamos perguntar se adotamos ou não a grande rede na sala de aula, mas:

o O que a sociedade espera dos formandos do futuro?
o Qual é o papel da escola na formação de um profissional que terá acesso a um mundo de informações e ferramentas cada vez mais poderosas?
o O que jamais poderá ser substituído pela Web?

Não vou responder às perguntas, mas eu daria uma boa chacoalhada nos currículos. Provavelmente, tem gente que já percebeu isso há muito tempo.
 
 
Foto: Ainda em Munique, o Deutsches Museum, excelente para quem gosta de ciência e tecnologia. O foco deste tipo de museu é sempre a juventude, mas tem muito marmanjo que se diverte. Acima, a ala da aviação. Abaixo, o prédio.




Sunday, August 2, 2009

Carrões e carrinhos

A virada da FIAT através da recente aquisição da Chrysler e da tentativa de compra de partes da quase extinta GM não deixa de ser notável. Depois de décadas de altos e baixos (mais baixos do que altos), finalmente a montadora italiana alcança o seu lugar ao sol.

O nome FIAT era alvo do escárnio público aqui e acolá. No Brasil: "Fui Iludido, Agora é Tarde". Nos Estados Unidos: "Fix It Again, Tony". Na França: "Ferraille(sucata) Inadaptée Au Trafic", ou ainda, "Fédération Italienne des Autos Truquées (falsos, fajutos)".

Acho que são muitas as razões para a reviravolta. O que era visto de forma negativa há pouco tempo virou um grande trunfo: O foco nos modelos pequenos, a presença nos mercados emergentes e alguns centros de produção extremamente competitivos, como a sua base industrial na Polônia, rivalizando com qualquer montadora nipônica. Foi uma matéria do NY Times sobre a base polaca da Fiat que me inspirou a escrever este post.

O problema de confiabilidade dos seus automóveis é coisa do passado. Hoje, a empresa faz carros corretos, sem sofisticação, sem charme e sem revoluções tecnológicas. Bons carrinhos.
 
 
Fotos: Falando em carros, um dos melhores programas de Munique é a visita da BMW, que fabrica carrões. Acima, o BMW Welt, onde podemos ver e testar os modelos mais novos, entender as últimas novidades tecnológicas e ainda retirar os BMW adquiridos. Na montagem abaixo, três modelos recentes e a visão do conjunto BMW Welt, sede e planta da BMW. A última foto foi tirada a partir do alto da torre. Não é qualquer fábrica que tem todas as paredes revestidas de alumínio. Tal carro, tal fábrica.