Saturday, May 28, 2011

Os aliados

A última semana política brasileira foi no mínimo marcante. Não foi inesperada, pois voltamos à vida normal da política brasileira, o bom e velho toma-lá-dá-cá. Não foi um desastre, pois não há nada irreversível. Talvez, tenha sido um desastre para a Dilma, que teve apenas cinco meses de governo. Durou pouco.

Entre o ex-presidente e os caciques do PMDB & Cia, o poder político está difuso. O sistema de governo brasileiro é mesmo inédito, mistura "EXpresidencialismo" com "praLAMENTARismo".

Dilma e o PT tomaram do próprio veneno. Pela ampla tolerância à corrupção e pela ambição de extinguir a oposição. A permanência de Palocci vai custar muito caro para o governo - ou seja, para nós. Dilma será chantageada até o final do seu mandato.

Diminuir a oposição e criar uma base aliada gigante é mera ilusão. Está claro que o governo não consegue fazer o que quer. PMDB & Cia não tem qualquer compromisso com o Brasil, apenas com seus bolsos. Cada deputado a mais na base do governo é um chantagista a mais, é mais uma mesada para se pagar ou a obrigação de se nomear um incompetente para algum cargo público.

Seria melhor para o próprio governo ter uma oposição mais viril e uma base aliada menos venal.



Foto: Mais uma tomada da bela Annecy, na Savóia

Saturday, May 21, 2011

DSK, uma semana depois

Não garanto que seja meu último post sobre o caso DSK, mas acho que vale a pena fazer um balanço do que li nos últimos dias. Para americanos e franceses, a cobertura foi um verdadeiro festival de horrores, com acusações de ambas as partes.

Os colunistas do Estadão, Gilles Lapouge e Gustavo Chacra, descreveram bem as diferenças básicas. Os americanos apresentaram DSK como um criminoso, antes de qualquer apuração. Além do mais, houve aquela humilhação tradicional das algemas, entre tantos outros rituais da cinematográfica polícia americana. Já os franceses pecaram pela rápida divulgação do nome da camareira do Sofitel e, principalmente, pela excessiva tolerância à investida do presidenciável, que pode ter cometido um crime gravíssimo.

Excelentes artigos sobre as diferenças culturais entre os dois povos apareceram em várias publicações. Surgiram motivos de monte para se reabrir uma temporada de deboches mútuos. O filósofo Bernard-Henri Lévy, entre outros, foi ironizado pela sua forte defesa da "presunção de inocência" de DSK.

Vamos deixar de lado as subjetividades culturais, sociais, comportamentais, sexuais, machistas e feministas. Foi no Economist que eu achei aquela pergunta que não quer calar. Afinal, se o incidente tivesse ocorrido em Paris, DSK estaria em cana?

Certamente não. Nem em Paris, nem em Roma, nem em São Paulo. Todo mundo sabe disso. Depois de alguns dias, o Le Monde finalmente reconheceu o banho de democracia dado pelos EUA, destacando a sua Polícia e Justiça como uma entidade realmente independente, a altura dos poderes político e econômico, e não subordinada a eles, ao contrário do Brasil e da própria França, suposto país da liberdade, igualdade e fraternidade. O Le Monde ainda separa o puritanismo anglo-saxão, tão ridicularizado pelos europeus, de um verdadeiro caso de polícia.

Enfim, a poeira baixou. DSK já saiu do FMI e, provavelmente, não sairá dos EUA tão cedo. O PS deve erguer a cabeça e buscar um novo candidato. Caberá ao povo francês fazer a sua escolha e, mais do que isso, inspirar-se no exemplo daqueles grandalhões, beligerantes e ignorantes do outro lado do Atlântico ;-)


Fotos: Voltando à França, uma foto de Annecy, na Savóia.

Thursday, May 19, 2011

Não é o que você está pensando

Se DSK está numa péssima situação, aqui no Brasil, Palocci não chega a tanto. Afinal, em menos de duas semanas, é o segundo ministro "blindado" por Dilma. Livre do fogo da classe política, dominada pelo governo, resta à imprensa o papel de desmascará-lo. Mais uma vez.

Flagrado pela milagrosa multiplicação do seu patrimônio, as desculpas do Palocci são cômicas. Parece aquela cena clássica, na qual um marido chega em casa, surpreende a esposa com outro homem na cama, e aí, ela diz: Não é o que você está pensando!

Aprecio o governo da Dilma, mas lamento a persistência no mesmo erro do seu antecessor, de ampla tolerância à corrupção. A corrupção no primeiro escalão do governo é especialmente perversa, pois serve de exemplo a toda uma classe de servidores públicos.

Lula e Dilma tinham cacife para dar um basta neste comportamento histórico dos nossos políticos. É claro que se trata de uma longa caminhada. Mas, alguém precisa dar o primeiro passo.


Foto: Uma outra tomada do resort na praia do Forte (Bahia).

Monday, May 16, 2011

Entre mortos e feridos

As forças e fraquezas de DSK são velhas conhecidas dos franceses. Para os socialistas, ele representava uma esperança de pacificação e unificação do partido, preparando para a vitória em 2012. O bom trabalho diante do FMI só reforçou a sua imagem de competência, apesar dos escândalos que marcaram sua carreira.

DSK já morreu e renasceu várias vezes. Um escândalo sexual a mais não faz diferença. A França já tolerou muita coisa estranha aos bons costumes debaixo dos lençóis do Eliseu. Um presidente tarado é mais bem aceito do que um casamento de fachada com uma modelo italiana.

Se DSK for inocentado, ainda pode voltar como herói. Principalmente, se for provado que tudo foi armado pela direita. Entretanto, o seu maior problema está do outro lado do Atlântico. Será que ele se livra dessa? Será que vai ficar uma temporada nos EUA, mas não exatamente nos escritórios do FMI? Não conheço bem a justiça norte-americana, mas as perspectivas não são boas. Dizem por aí, que os EUA não querem outro Roman Polanski.

Ainda falta muito tempo para a eleição francesa. Em tese, Sarkozy e Le Pen são beneficiados com a possível morte política de DSK. Mas, se ficar a menor dúvida de armação para o DSK, quem morre é o baixinho.


Foto: Mais uma foto da Praia do Forte, no último feriado.

Saturday, May 14, 2011

Dura lex gallica

Nesta semana, o governo francês apertou as regras do trânsito em nome da segurança. Serão extintas as placas que avisam quando entramos numa zona sujeita a controles por radar e todos os aparelhos antirradar serão proibidos, inclusive o popular Coyote.

O Coyote não é um detector de radar, mas um sistema de alerta cooperativo, como descrevi há pouco mais de um ano. Há também sistemas de alerta via celular, que foram igualmente proibidos.

As novas punições são exemplares. Por exemplo, o motorista flagrado a uma velocidade 50km/h superior ao limite permitido, receberá uma pena quádrupla: 1) Multa de 3750 euros; 2) Três meses de prisão; 3) Confisco do veículo; e 4) Seis pontos na carteira. Duríssima mesmo!

A medida não foi muito bem recebida, o que já era esperado. O castigo aplicado ao caso acima foi relativamente compreendido. Entretanto, a multiplicação de radares escondidos e sem qualquer indicação é o que mais assusta. No que se refere às duras penalidades aos infratores alcoolizados, a aceitação foi plena.

Apesar das excelentes auto-estradas francesas, onde a velocidade é limitada a 130 km/h, creio que serão raros aqueles que ousarão ultrapassar os 180 km/h. Por outro lado, as multas em perímetro urbano, menos graves e mais frequentes, crescerão exponencialmente.

Quando voltei à São Paulo, demorei a me habituar com os diferentes limites de velocidade: 50, 60 e 70 km/h. De qualquer forma, poder ser multado em São Paulo é uma dádiva. Afinal, passamos boa parte do tempo dirigindo pelas nossas ruas a cerca de 20 km/h, quando não estamos parados.


Foto: Depois de vários longos e tenebrosos invernos, coloquei o pé na praia. Com certeza, visitei várias cidades litorâneas na Europa, mas fazia tempo que não mergulhava no mar. Passei o último feriado na Praia do Forte, daí a foto diferente da paisagem típica deste blog.

Saturday, May 7, 2011

Apple made in Brazil

Se dependesse de Terry Gou, proprietário taiwanês da Foxconn, o seu exército de um milhão empregados estaria numa única planta em algum lugar da China. Talvez até no mesmo pavilhão. Lá, ele se julga o mais rápido e mais barato do mundo. Terry já não usa chicote, porém, seus métodos de gestão de pessoal nos lembram mais o século XIX do que o atual.

Por diversas razões, a Foxconn descentraliza a sua produção pelo mundo:

1- Ela atende quase todos os grandes nomes da eletrônica, concorrentes entre si, que exigem plantas isoladas para melhor proteger suas inovações. Exemplo: A Apple, que protege suas criações mais do que ninguém.

2- Para otimizar o transporte, é mais interessante levar as peças de produtos mais volumosos para o Ocidente e montá-las perto do consumidor final. Exemplo: TVs de tela muito grande.

3- Como muitos países possuem restrições à entrada de eletrônicos, a Foxconn não hesita em instalar filiais para contorná-las. A entrada da Foxconn nesses países é simplesmente uma otimização tarifária. Exemplo: Brasil!

Enfim, a discussão em torno da fabricação dos produtos da Apple no Brasil é exatamente este terceiro caso. Considerando-se o contexto brasileiro - econômico, legal, cambial e trabalhista - jamais poderíamos competir em custos com a China. Jamais poderíamos fabricar um produto que chegasse ao consumidor a um preço comparável. A mágica do iPad nacional é exclusivamente uma manipulação fiscal.

Mesmo com uma nova fábrica aqui no Brasil, a Foxconn ainda precisa de uma série extra de isenções tributárias e favores públicos. Vai receber favores municipais, estaduais e federais por anos. E quem garante que o iPad brasileiro será mais barato? Provavelmente, a classe média continuará comprando iPads e iPods nos EUA.

Finalmente, ter os produtos da Apple made in Brazil pode ser visto como um ato político simbólico, um ato de "soberania". Não tenho nada contra, pois todos países fazem um pouco disso. Só não podemos esquecer que todo mundo paga essa conta, mesmo aqueles que nem sonham com um iPad.


Foto: Última foto de Nîmes, no Jardin de la Fontaine.

Thursday, May 5, 2011

Enemy Killed in Action

A morte de Bin Laden foi merecidamente comemorada por quase todos nós. Ainda não pude ler tudo que gostaria sobre a caça ao Gerônimo, mas a operação me decepcionou pelos seguintes motivos:

1) Bin Laden foi claramente executado. Sem dúvidas, trata-se de um procedimento de exceção. A reação da comunidade não foi hostil ao assassinato, mas algumas vozes começam a se manifestar.

2) O Paquistão foi humilhado. Está certo que o jogo duplo daquele país é revoltante, mas esta ação colocou o seu povo contra os EUA e o Ocidente. Colocaram mais lenha na fogueira.

3) A operação foi tomada por muitos como golpe eleitoral. Outros, nem ainda acreditam na sua veracidade.

4) Meses e meses de espionagem antecederam a eliminação de Bin Laden. Quantas vezes o rei dos terroristas esteve na mira dos EUA e escapou? Foi tudo muito lento.


Enfim, vida de agência de inteligência é assim mesmo. A gente só sabe o que dá errado. Quero crer que a CIA tem feito muita coisa pela segurança dos EUA depois da queda da URSS. De lá para cá, o inimigo mudou, as regras do jogo mudaram.



Foto: Fim de tarde no canal de Nîmes, próximo ao Jardin de la Fontaine, onde tivemos um torneio de "pétanque", versão francesa do jogo de bochas. O mais difícil não foi acertar as bolinhas, mas aguentar o frio daquele fim de tarde.