Saturday, December 29, 2012

2012 - Epílogo


O português estava atrasado para sua reunião das 10 horas. Apressado e esbaforido, finalmente, entra no elevador.  Diz o ascensorista: Qual andar? O português responde: Qualquer um, já errei de prédio mesmo!

A piada pode parecer absurda, mas encontra paralelos na vida real. São aqueles erros em cima de erros, decisões infundadas, arbitrariedades, precipitações, etc. Vão desde as situações mais corriqueiras até as decisões profissionais mais importantes. Portanto, cuidado!


Já tive meu dia de português. Havia um evento de informática às 9 horas num famoso hotel parisiense. Estava uns poucos minutos atrasado. Entrei no saguão do hotel e notei a aglomeração em torno da recepção do evento. Sem perder tempo, fui para lá pegar meu crachá. Para minha surpresa, não estava lá. A recepcionista foi gentil e fez um provisório para que eu não perdesse a abertura.

As primeiras palestras foram bem razoáveis, mas uma dúvida pairava no ar. Por que estava assistindo àquelas apresentações, interessantes mas distantes do meu foco de atuação? No intervalo, a ficha caiu. Percebi que havia dois eventos de TI no mesmo hotel. Evidentemente, encontrei meu crachá na recepção do outro evento.

Já no evento correto, assisti a outras apresentações. O tema era mais relevante, mas eram apenas alguns casos expostos a fim de se alavancar vendas de consultorias locais. Muito chato. Ainda pior, estou no "mailing" deles até hoje. Voltei para o evento "errado", pois era mais instrutivo e divertido.


Mesmo que 2013 seja o ano errado, que todos nós sejamos sábios para aproveitar as peças pregadas pelo destino da melhor maneira possível. Feliz Ano Novo!



Foto: Conforme comentado no post "Lumières", de 21/12, publicarei algumas imagens da área de Lyon totalmente renovada. Conhecida como Confluences, trata-se da parte sul da "península" delimitada pelos rios Rhône e Saône. Pelas fotos, vocês terão a impressão de um verdadeiro laboratório arquitetônico.

Monday, December 24, 2012

Revista do cinema S2/2012


Ao longo do segundo semestre, comentei sobre cinema em quatro posts. As produções de Hollywood "Argo" e "Ted" mereceram posts exclusivos. Abordei o argentino "Elefante Branco" e fiz justiça a "Intocáveis", filme francês que já alcançou os 50 milhões de espectadores no mundo inteiro.

Dois filmes em cartaz merecem menção. Gosto de "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" e estou pronto para os dois próximos filmes. Entretanto, depois de "O Senhor dos Anéis", me parece mais um caça-níqueis. Não surpreende. Não encanta.

"A Vida de Pi", de Ang Lee, é justamente o oposto. O uso de 3D e computação gráfica deu mais um salto. O filme é muito bom. Poderia ser melhor, se fosse mais aberto e não tentasse induzir demais a interpretação do público. Não vou falar mais, para não estragar. Imperdível.

Fora do cinemão, gostei do brasileiro "Gonzaga: De Pai pra Filho". Filme muito bem feito e com Brasil na medida certa.

Entre as muitas produções francesas que assisti, destaco "Le prénom" e "Le magasin des suicides". Se aparecerem no circuito nacional nos próximos meses, não percam. O primeiro tem jeitão de teatro. O debate familiar sobre o nome de um filho vindouro viaja pela História e Literatura e descamba nos conflitos pessoais. O segundo é uma animação musicada. Muito criativa e bem feita, apesar do desfecho bem bobinho.

Se não me engano, "The Angel's Share", de Ken Loach, só apareceu nos festivais ou num circuito muito reduzido. O filme merece estar entre os melhores do semestre. À época, escrevi no Twitter que desafiava os brasileiros a abrir mão da legenda. De fato, o pronunciado sotaque escocês faz parte do filme.

E por falar em Escócia, terra da infância de James Bond, fecho esta revista com "Operação Skyfall". Devo reconhecer que sempre considerei os filmes de 007 muito ruins, daqueles que nem justificam os nossos preciosos 120 minutos. Skyfall está bem longe disso.

Mais uma vez, Boas Festas!


Foto: Em noite de Fête des Lumières (Lyon), a estátua equestre de Luís XIV na Praça Bellecour. Ao fundo, a roda gigante e um restinho de fogos de artifício.

Friday, December 21, 2012

Lumières 2012


Fazia algum tempo que não passava um final de semana completo em Lyon. Dessa vez, não tive como escapar, pois a "Fête des Lumières" coincidia com minha passagem pela cidade. A festa está consagrada como o melhor evento de Lyon, atraindo gente da Europa inteira. A iluminação da Catedral de Saint-Jean é um dos seus pontos altos. Se você estiver lendo este texto num computador, veja ao lado algumas fotos que tirei da Catedral de Saint-Jean.

Várias cidades europeias têm usado recursos de projeção digital como espetáculos culturais. Em abril, assisti a um ótimo show nos Invalides (Paris). Taí uma ótima dica para São Paulo, que não tem nenhuma beleza natural, mas poderia fazer um esforço para ficar mais atraente.

O pouco tempo distante de Lyon foi suficiente para que pudesse encontrar muitas novidades. A mais impressionante foi a reconstrução da área conhecida como Confluence. É mais ou menos o que São Paulo quer fazer na Santa Ifigênia: Demolir a cracolândia e reconstruí-la por completo. Foi um dos maiores canteiros de obras da Europa enquanto morava na cidade. Está quase pronto, só falta mesmo o grande Museu. Lyon fez.

Nas últimas duas semanas, me desconectei do Brasil. Não vi os momentos finais do mensalão nem as denúncias mais recentes contra o lulismo. Em compensação, mergulhei nos assuntos europeus e franceses. Por lá, além da eterna crise, fala-se da fraqueza de Hollande, do casamento gay e da mudança de Gérard Depardieu para a Bélgica.

Cá entre nós, enquanto muitos outros saíram de fininho, Depardieu assumiu publicamente a sua indignação contra a gula do fisco francês com a sua alíquota de IR de 75%. Apesar da perseguição aos traidores da Gália, há algum apoio ao veterano ator. Depardieu fará uma boa economia de impostos. Entretanto, duro mesmo é sair do seu apartamento parisiense - à venda por 50 milhões de euros - e ir morar numa cidadezinha belga. Sem glamour, sem vida cultural e com chuva quase todo dia :(

Interrompo a série de fotos de Londres para compartilhar algumas dessas novidades de Lyon. Acima, o dragão estilizado que decorava uma das ruas centrais de Lyon. Volto ainda em 2012 com novos posts e a revista de cinema do segundo semestre. Boas Festas!

Sunday, November 25, 2012

Help!


Fim de ano. Eventos de confraternização, congestionamentos, presentes, etc. Uma loucura! Sorte ou azar, tenho uma viagem de duas semanas pela frente. Vou curtir um friozinho europeu e me ausentar de muitas dessas celebrações. O melhor de tudo será rever a Fêtes des Lumières em Lyon.


Você ainda pensa em fazer alguma ação de caridade nesse final de ano? Pois bem, em 2012, eu fiz muita coisa interessante e compartilho com vocês, apenas como sugestão.

Talvez aquele chavão "o importante não é dar o peixe, mas ensinar a pescar" esteja meio gasto, mas ainda é o melhor caminho. Aliás, tem sido o melhor caminho há muito tempo. No século XII, Maimônides estabeleceu uma hierarquia para as caridades. Desculpem-me, vai em inglês mesmo:

8.  Giving money, a loan, your time or whatever else it takes to enable an individual to be self-reliant.
7.  Giving when neither the donor nor the recipient is aware of the other's identity.
6.  Giving when you know who is the individual benefiting, but the recipient does not know your identity.
5.  Giving when you do not know who is the individual benefiting, but the recipient knows your identity.
4.  Giving before being asked.
3.  Giving cheerfully and adequately but only after being asked.
2.  Giving cheerfully but giving too little.
1.  Giving begrudgingly and making the recipient feel disgraced or embarrassed.

O nível máximo (o 8) é justamente o conceito de "ensinar a pescar". Pode ser compreendido também como estabelecer uma parceria ou associação. O princípio é fazer algo para que o receptor não volte à sua condição anterior. É por isso que contribui com algumas ações ligadas à inclusão digital, estímulo ao pequeno empreendedor, bolsas para formação técnica e assim por diante. Vejam minhas escolhas:


Projeto 100% - "O Projeto 100% é uma iniciativa privada de micro-intervenções que visam apoiar a educaçao e o desenvolvimento de famílias vivendo abaixo da linha da pobreza, apoiando principalmente as crianças para que no futuro se tornem indivíduos produtivos e preparados para seguir a carreira que preferirem". Além de tudo, é coordenado diretamente pela minha amiga Adriana Beal.

Kiva - Descobri este projeto recentemente e me parece uma ideia genial. Não se trata de doação, são empréstimos para pessoas pobres, sem acesso ao sistema bancário, que querem empreender. O Kiva faz a ponte entre quem pode emprestar e eles. Podemos ajudá-los com apenas 25 dólares!

EsperanSAP - De alguma forma, estou associado profissionalmente a este Instituto. O EsperanSAP não lida com pessoas abaixo da linha da pobreza, mas tem o potencial de dar uma especialização fantástica (nos produtos da SAP) para quem não teria acesso à tal formação. É mais uma forma de ajudar algumas pessoas e formar uma comunidade de profissionais forte.


Já comentei com vocês que compensei parte das minhas emissões de carbono pela Action Carbone, doei dinheiro e milhas para os Médicos Sem Fronteiras e ainda contribuo diretamente com o apoio direto a um atleta de origem muito humilde. Enfim, gostei muito do mix de projetos deste ano. Certamente, repetirei a dose em 2013 e convido vocês a aderirem.



Foto: De volta a Londres, num dos cantinhos charmosos da cidade, Little Venice, encontro dos canais Regent e Grand Union.

Saturday, November 17, 2012

A ponte


Professora: O que existe entre o Dia da Proclamação da República e o Dia da Consciência Negra?
Joãozinho: Seis dias de férias, oba!

Ah, esse Joãozinho sempre nos surpreendendo! Inventei essa para introduzir o post, até por que todas as outras historinhas que eu conheço do Joãozinho e da professora são impublicáveis ;-)

De fato, existe algo entre as duas datas além da casualidade gregoriana. Vinte de Novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares. A data convida a uma reflexão sobre a participação dos negros na sociedade brasileira. Quinze de Novembro é uma espécie de segunda data nacional, depois do Sete de Setembro.

 "Proclamação da República" esconde o real caráter de 15/11, o de golpe de estado. O sonho dos militares talvez fora concretizado décadas mais tarde. A verdade é que, sob o regime monárquico, o Brasil foi um país próspero, livre e democrático. Então por que derrubar o regime?

Uma das principais causas que determinaram a queda do Império foi a posição de Dom Pedro II em relação à escravidão. Nosso Imperador, divergindo da conservadora sociedade brasileira, atuou abertamente pela abolição da escravatura. Sim, ele conseguiu, mas a sua luta contra o interesse político e econômico vigente trouxe um desgaste contínuo e irreversível. A adesão às ideias republicanas teria sido mera conveniência para se dar o troco no Imperador. Enfim, esta é a verdadeira ponte entre 15/11 e 20/11.


Foto: Acima e abaixo, fim de tarde em Stonehenge, Inglaterra.



Friday, November 16, 2012

Hispânicos


É cada vez mais comum encontrar por aí vendedores e garçons vindos de outros países da América Latina. Em qualquer lugar do mundo, uma observação desse tipo nem seria digna de nota. Talvez, fosse até preconceituosa. Bem, no Brasil é diferente. Por algumas décadas, o único fluxo migratório relevante que vivemos foi o interno.

Sou absolutamente favorável a entrada dos "hermanos" e também de outros povos mais distantes. Acho até que deveríamos atrair mais intensamente profissionais especializados para alavancar nosso desenvolvimento.

A oportunidade de conviver com os imigrantes hispânicos em muitos lugares nos faz sentir como os brasileiros da virada do final do século XIX. À época, os imigrantes eram parte considerável da nossa pequena população de cerca de 15 milhões de habitantes. Ou, como os europeus e norte-americanos, tão habituados às imigrações, legais ou ilegais.

Há muitas causas para esse novo fluxo migratório em direção ao Brasil. Fundamentalmente, seguindo a própria história dos nossos antepassados, as perspectivas por aqui são melhores do que nos nossos vizinhos.



Voltando ao cinema, assisti ao filme argentino "Elefante Branco". Não é um filme agradável, mas o paralelismo entre as "villas" argentinas e as nossas favelas é impressionante. Me deu menos vontade de voltar a Buenos Aires, porém o recomendo como documentário. O crescimento recente da favelização na Argentina é trágico. Nossos vizinhos andam para trás, o que vem a reforçar o papel do Brasil como locomotiva regional.



Foto: Última foto de Bath, Inglaterra. Não me perguntem quantos dias tão ensolarados eles podem curtir por lá, pois o Parade Gardens estava lotado.

Sunday, November 11, 2012

Argo


Os primeiros minutos de "Argo" são essenciais para se contextualizar a aventura da libertação de seis reféns norte-americanos pela CIA. O prólogo histórico poderia até ser diferente, mas ele surpreende pela correção. É um espécie de "mea culpa".

Se o Irã de hoje é um regime teocrático com alguns propósitos insanos, o Ocidente teve o seu dedo. E a história não é diferente em outros países da região.

Ben Affleck conseguiu fazer um ótimo filme e está com a taça na mão. A história real nem foi tão eletrizante, como afirmam os próprios reféns. Argo é um ótimo thriller e tem muito de real. Pessoalmente, gosto muito desse tipo de filme.

O episódio mostra a sina dos serviços de inteligência. Os sucessos ficam escondidos, os fracassos são escancarados. A minha querida revista Wired trouxe o caso à tona em 2007. Imagino que fuçar os arquivos americanos ainda possa nos trazer muito mais histórias como esta.

Não poderia deixar de encerrar este post mandando um recado aos líderes do Irã com o mote do filme: Argo fuck yourself!



Foto: As termas romanas são a grande atração de Bath, Inglaterra. Achei exatamente a mesma foto num guia de turismo de prestígio. Problema é do guia, eu sou fotógrafo amador ;-)

Sunday, October 28, 2012

No Curdistão...


Lá no fim do mundo, ou melhor, no meio do mundo, onde vivem árabes, persas, curdos e turcos, a convivência entre o "atrasado" e o "avançado" é curiosa. Os conflitos nessa região de rico sub-solo aproximam a tecnologia militar de última geração à sociedade tribal.

Num passado recente, aprenderam a conviver com a inteligência ocidental e a sua espionagem via satélite. Qualquer tirano ou terrorista da região sabe disfarçar suas construções militares para enganar os satélites. Também sabem mudar a rotina para se adaptar à espiadinha espacial.

A tecnologia ocidental se modernizou. Hoje, estamos na era dos drones, aqueles aviões não tripulados. A resposta não tardou. Hackearam drones que transmitiam informações não criptografadas (pisada de bola dos EUA) e já capturaram um drone intacto (ainda acho que foi um Cavalo de Tróia).

O que eu li nos jornais de hoje foi ainda mais pitoresco. Os curdos do PKK fogem da espionagem dos drones turcos (sensíveis ao calor) distribuindo capas de chuva e guarda-chuvas. Simples assim.

Meu recado para a CIA e o Pentágono: Não desistam dos drones, mas façam coisa melhor.


Foto: Um belo domingo de verão em Bath, Inglaterra.

Sunday, October 21, 2012

Circenses


Em algum post remoto, já disse que não sou de longas conversas com motoristas de táxi. Nada pessoal, pura introspecção. Na França, é diferente. Lá, meu desafio é conversar bastante e ver quanto tempo resisto até que surja a fatídica pergunta: "Você é italiano?".

Já fui conduzido por ex-profissionais de informática algumas vezes. Pois esta é a realidade da França, Espanha e outros. Uma corrida do aeroporto ao centro de Lyon dava uma boa sessão de "coaching", caso algum dia, eles decidissem retornar à profissão. Nunca cobrei.

Da última vez, em Paris, peguei um táxi para Aubervilliers, um centro de pesquisas na periferia da cidade. Indagou o motorista: "E vocês têm equipamento para fazer datação por carbono 14?". Mudei de assunto. Melhor falar sobre informática.

No Brasil, meu último papo cabeça com motorista de praça foi sobre estádios de futebol, numa recente viagem de Cumbica para casa. Indignado, o taxista afirmou que o governo não deveria ajudar os clubes com "dinheiro do povo". A argumentação do ilustre condutor tem sido bastante comum, sobretudo entre palmeirenses e sãopaulinos.

Infelizmente, não temos bons exemplos no Brasil. Os estádios são péssimos e os clubes são endividados, entre tantos outros vícios. Uma coisa é certa, os ingressos são baratos. Muito baratos.

Não acho que isso seja a raiz de todos os problemas estruturais do esporte, mas há um subsídio informal. Os estádios atraem as massas. Nosso sistema é democrático e camarada, mas inviabiliza um modelo de negócios em torno do estádio.

Nos EUA, é o contrário. Fiz uma rápida pesquisa, comparando jogos do campeonato brasileiro e da NFL. A diferença é brutal. Com raras exceções, um jogo da NFL sai, pelo menos, 10 vezes mais caro.

A elitização dos estádios criaria um círculo virtuoso. O comércio hospedado no estádio prosperaria com a venda de produtos de maior valor agregado e prestação de melhores serviços. Os estádios deixariam de ser um fardo para os clubes e complementariam as únicas receitas que realmente importam hoje, os direitos cedidos à TV.

Para fechar a equação, ainda seria preciso acertar muitas outras coisas como o calendário, a distribuição das receitas entre os clubes, a própria gestão dos clubes, etc. Enfim, não tem milagre. Se queremos proporcionar circo para todos, o governo irá sempre pôr a mão no bolso e ajudar na construção e manutenção dos estádios.


Foto: Outra tomada interna do Castelo de Windsor. A St. George's Chapel no primeiro plano. Ao fundo, o corpo mais antigo do castelo de raízes normandas. A capela serve como necrópole na monarquia britânica.

Wednesday, October 17, 2012

No reino da Dinamarca


2014 só lembra a Copa do Mundo no Brasil? Espero que não. Será no período desta tão festejada competição, que o mundo se lembrará do centenário do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, que deflagrou a I Guerra Mundial. Podemos dizer que, com as duas grandes guerras, este triste período da história recente terminou há apenas 67 anos, ceifando a vida de 70 milhões de pessoas.

Deixei para escrever este post aqui, na Europa. Mesmo sabendo da cessão do Prêmio Nobel da Paz à União Europeia (UE) ainda no Brasil, optei por esperar alguns dias, para conversar com as pessoas e ler os jornais locais.

O Nobel da UE foi alvo de escárnio e protestos. É compreensível em face da enorme crise vivida pelo continente. É justamente aí que entra o prêmio. Antes que muitos se deixem seduzir pelos discursos oportunistas, que aquela memória curta interfira no pensamento coletivo, que o desespero se transforme numa crítica generalizada a todas as instituições, lembremo-nos do que foi conquistado. O projeto europeu é antes de tudo um projeto de paz, tendo a integração econômica como meio.

A piada é fácil. Entretanto, essa não foi a primeira e nem será a última crise. A Grécia não foi o primeiro e nem será o último país à beira do abismo. O Nobel serve de puxão de orelha na Alemanha e outros, para que se empenhem com mais determinação na solução da crise. O projeto de união monetária, que inclui alguns países da UE, foi no mínimo ousado. Talvez, errado.

O Nobel e as futuras celebrações em torno do centenário dos episódios chaves das duas grandes guerras são essenciais para lembrar às novas gerações do sombrio passado não tão remoto. Felizmente, a paz é um dos valores mais prezados num continente tão traumatizado pela guerra. Por isso, a grande maioria reconhece o mérito da honrosa premiação.

Bernard Tapie mencionou no Figaro de hoje um discurso de Mitterrand no Parlamento Europeu: “Durante a sua história, a França já fez guerra com todos seus parceiros do bloco, exceto a Dinamarca. Bem, sem dúvidas, é um pouco tarde para se entrar em guerra contra os dinamarqueses...”


Foto: Um cantinho de paz no Castelo de Windsor, o “Moat Garden”.

Friday, October 12, 2012

Intocáveis


Comentei sobre o filme "Intouchables" na revista do cinema do primeiro semestre. O texto mostra que não apostei no sucesso internacional do filme. Entretanto, as bilheterias confirmam a sua aceitação pelo mundo.

O filme conseguiu fugir do pequeno circuito tradicionalmente reservado ao cinema europeu. Se meu post original foi um pouco frio com esta ótima produção francesa, então fica aqui a correção e recomendação. Eu já o assisti duas vezes!


O nome do filme me faz lembrar o julgamento do mensalão. O grande legado desse processo não é a prisão de alguns corruptos, mas um recado muito claro para os políticos de hoje e do amanhã: Já não são mais intocáveis!

O julgamento tem sido uma grata surpresa. Temia que mais membros do STF se alinhassem ao "estilo Lewandowski". Felizmente, é a figura de Joaquim Barbosa que se impõe. Mais para frente, volto ao tema. Assim como muitos brasileiros, espero ansiosamente pela hora da dosimetria ;-)



Foto: Começando uma série de imagens sobre o Castelo de Windsor. Essa residência oficial da monarquia britânica é o maior castelo ocupado do mundo. As partes mais antigas remontam a 1070, época de Guilherme, o Conquistador.

Monday, October 8, 2012

Fenômeno


Ufa! Quase escrevi um post sobre o fenômeno Russomanno há uns 15 dias. Se não tivesse desistido, seria um dos maiores fiascos deste despretensioso blog. Estava pronto a perdoar os paulistanos por elegerem um candidato oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe. Diria que é parte do lento aprendizado da vida democrática.

A ascensão e queda do Russomanno tem vários aspectos. Do lado positivo, a sociedade percebeu que se tratava de um candidato oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe, e conseguiu descartá-lo. Com mais alguns dias, Russomanno chegaria no "traço".

O lado negativo é que para um candidato oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe, foi longe demais. Seu destino teria sido outro, não fosse o erro grosseiro na proposta de transporte público, a exploração da sua aliança com a Igreja Universal e a enorme desvantagem no tempo de televisão.

Enfim, estamos novamente diante de uma disputa de PT X PSDB. Nenhum dos candidatos é oportunista, despreparado, sem programa e sem equipe. Bom para São Paulo.

Será que o fenômeno Russomanno teria sido uma tentativa de fugir desta duradoura rivalidade, que opõe as áreas centrais e periféricas da capital? Ou será mesmo que o Lula está certo, ao dizer que o povo está mais preocupado em saber se o Palmeiras cai ou não cai?


Foto: Às margens do Tâmisa, na região da Hampton Court.

Tuesday, October 2, 2012

Ted


Seth MacFarlane será o mestre de cerimônias do Oscar 2013. Confesso que não conhecia esse nome até o último final de semana, quando assisti seu filme "Ted". E tudo graças ao Protógenes Queiroz!

Acho que o leitor soube do episódio protagonizado pelo deputado. Levou seu filho de 11 anos para ver o filme do ursinho de pelúcia falante e saiu chocado, querendo baní-lo do circuito nacional. Seu argumento: "O filme faz apologia às drogas".

Deixando de lado a sua vocação de censor, o deputado cometeu um erro grosseiro não seguindo à classificação indicativa do filme: "Para maiores de 16 anos por abordagem de drogas conteúdo sexual e linguagem imprópria". Nos EUA, ele é classificado como "R" (restricted), fato que inibe sua exibição em muitos cinemas.

Eu teria deixado o filme de lado, senão fosse a promoção feita pelo deputado. Fui conferir.

Falarei sobre o filme sem contar tudo.

Pense na pessoa com a boca mais suja que você conhece. Aquele que chega até causar certo constrangimento. Então, coloque todo seu vocabulário indecente na boca de um inocente ursinho de pelúcia. Pois é, Ted nos surpreende do começo ao fim. Duas horas não são suficientes para nos acostumarmos com um ursinho falando tanta bobagem.

Obviamente, o ursinho é uma metáfora para retratar parte do mundo masculino. Imaturidade temperada com muito preconceito e vulgaridade. E coloque muito preconceito nisso. E as drogas estão presentes do começo ao fim.

A questão é fazer uma crítica social e ao mesmo tempo se aproveitar dos vícios da sociedade, fazendo graça com piadas inaceitáveis fora das telas. É por isso que o filme divide opiniões. Uns acham que MacFarlane passou da linha. Outros, que o contexto permite o abuso. Porém, é bem verdade que todos concordam que algumas cenas são hilárias.

Enfim, é divertido e é para maiores, a menos que você insista em mostrar para seus filhos como somos babacas.


Foto: Uma outra fachada da Hampton Court, em Londres.

Sunday, September 23, 2012

Fúria


O post anterior parece ridículo diante da explosão de fúria islâmica contra o filme e o cartoon ocidentais. Enquanto gastamos nosso tempo discutindo as sutilezas do "politicamente correto", esforçando-nos para evitar constrangimento desnecessário a quaisquer minorias, do outro lado do mundo, as coisas ainda são bem diferentes.

Aprendemos a respeitar a liberdade, a democracia e sobretudo a igualdade. O respeito ao ser humano prevalece sobre o respeito às crenças e seus personagens mitológicos. Devemos respeitar as religiões, não por que elas mereçam, mas por que seus seguidores merecem. É sutil, mas é diferente.

Ninguém faz guerra por religião. Pouquíssimos se ofendem realmente quando sua religião é criticada. Porém, a religião continua sendo o instrumento de manipulação favorito dos ditadores, terroristas, políticos oportunistas, extremistas, etc.

Leitura adicional:
É o amor!
Why is the Arab world so easily offended?
Exploiting the Prophet


Foto: Fachada sul da Hampton Court, palácio situado na periferia de Londres. Esta ala foi construída durante os reinados de Guilherme III e Maria II, no final do século XVII, assinada por um dos grandes arquitetos da época Sir Christopher Wren.

Sunday, September 16, 2012

Cassando as Caçadas


O debate sobre a censura à obra « Caçadas de Pedrinho » ganhou força. Foi um dos primeiros livros que li ainda criança. Àquela época, não percebi seu caráter racista, assim como muitos milhares de leitores. Eram outros tempos. Hoje, os termos usados por Monteiro Lobato para descrever a Tia Nastácia podem chocar.

O politicamente correto levado ao extremo poderia banir tantas obras, que o seu efeito seria ainda mais perverso. Se tirarmos de circulação todas as obras racistas, antissemitas, machistas, homofóbicas, preconceituosas ou ofensivas, não sobrará muita coisa. Nem a Bíblia.

Melhor mesmo é que todos sejam expostos às mais variadas ideias, podendo discernir o que é bom e o que é ruim. “Caçadas de Pedrinho” e “Tintin no Congo” não são responsáveis pelo preconceito aos negros. Assim como “O Mercador de Veneza” e “Oliver Twist” não inventaram o antissemitismo.

Em 2011, fiz um post análogo sobre o escritor francês Céline. Retomo uma citação de Bernard-Henri Levy: “É preciso mostrar o mistério que faz de uma pessoa um grande escritor e um perfeito canalha ao mesmo tempo.” Canalha? Talvez. Não precisamos festejar Monteiro Lobato, apenas lê-lo.

Leia também: Céline e "80 anos de Tintin"


Foto: Começo a minha série londrina, com algumas fotos da “Hampton Court”, uma das mais belas residências históricas da monarquia inglesa.

Wednesday, September 12, 2012

Londres 2012


Voltei. Apesar das facilidades tecnológicas, mal acompanhei as notícias do Brasil e não escrevi nenhum post. Estava conectado, mas nem tanto. Percebi que o julgamento do Mensalão avança devagar, porém as primeiras condenações são animadoras.

Estive em Londres entre os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos. Foi mais ou menos intencional. Na minha terceira passagem pela cidade, quis aproveitar e conhecer um pouco mais. A relativa calma entre os dois eventos foi ótima. Além de tudo, fez um tempo muito melhor do que eu esperava: "Tempo firme com chuvas em pontos isolados". É bem verdade que, em algumas vezes, o ponto isolado era eu mesmo. Murphy 1 X 0.

Temendo o mau tempo, havia reduzido minha estadia em Londres e planejado alguns dias na Côte d'Azur. Foi uma tática para proteger as férias. Agosto na Côte é certeza de tempo bom. Quer dizer, era. Durante minhas férias, aconteceu uma inversão histórica. A França inteira com tempo bom e a Córsega e a Côte d'Azur sob tempestade. Murphy 2 X 0.

Como viajei de férias e também a trabalho por três semanas, levei uma mala avantajada. Malas pesadas chamam atenção da segurança e despertam a ira dos carregadores sindicalizados, que dominam os aeroportos europeus. As estatísticas podem consolar, mas desconfio de que o sumiço da minha mala por quatro dias não tenha sido casual. De qualquer modo, Murphy 3 X 0.

A viagem foi ótima e conheci muitos lugares, que comentarei mais para frente. Pelo menos, nas fotos que ilustrarão os próximos posts. Valeu muito a pena! Murphy 3 X 4.

Não é preciso dizer que fiquei impressionado com a preparação de Londres para os eventos esportivos. Fantástica! Se as instalações não são tão suntuosas como as chinesas, a integração do projeto olímpico ao planejamento urbano é notória. A cidade estava limpa, organizada e não faltavam voluntários tirando quaisquer dúvidas.

Um aspecto marcante é o peso dos Jogos Paralímpicos. Nos dias em que visitei as instalações esportivas, a organização estava adaptando a comunicação visual para os padrões exclusivos dos Jogos Paralímpicos. No parque olímpico, havia novos ensaios de desfiles ao som dos hinos nacionais. A imprensa inglesa dedicava diariamente páginas inteiras aos seus atletas paralímpicos. A cobertura dos dois eventos tinha a mesma intensidade.

Não sei se sempre foi assim, mas havia uma clara preocupação de se deixar as duas competições no mesmo nível. A proposta é mostrar que os Paralímpicos não são um sub-produto das Olimpíadas, mas um grande evento em si mesmo. Ou, como vi numa propaganda, é a competição dos verdadeiros heróis.    


Foto: Última tomada nos arredores do "Templo do Buda de Esmeralda", em Bangkok.

Saturday, August 18, 2012

Mensalão


As Olimpíadas abafaram as fases mais chatas do julgamento do mensalão. O melhor começa nesta segunda-feira. Na última semana, consegui acompanhar algumas discussões e posso antecipar um intenso debate. As divergências entre o relator e o revisor são sinais da complexidade da matéria. Ficarei três semanas fora do Brasil, então deixo algumas poucas palavras sobre um assunto tão relevante.

Mesmo torcendo por uma condenação exemplar de todos os réus, entenderei se eles escaparem deste julgamento inocentados. Acho que a ideia de "pizza" não é apropriada nesse contexto. Por mais evidente que seja o crime cometido, prová-lo de forma definitiva é muito difícil. Ainda mais quando uma centena dos mais prestigiados advogados do Brasil estão do mesmo lado. São cem contra um!

A situação me lembra o clássico filme "Reverso da Fortuna", baseado na história real do envenenamento da esposa do milionário Claus Von Büllow. Condenado num primeiro julgamento, ele recorre a um dos ícones do Direito americano, Alan Dershowitz. Até mesmo o célebre advogado desconfiava de Claus. Porém, quando percebeu uma grave falha na acusação, não hesitou em defendê-lo. De graça.

O réu foi inocentado. Julgamentos justos estão entre os pilares da democracia. Por mais evidente que um crime possa parecer, não podemos nos deixar levar pela condenação prévia, pela manipulação ou pelo preconceito.

Voltando ao mensalão. O aspecto mais preocupante da não condenação é o sinal verde para operações desse tipo, que voltarão ainda mais sofisticadas. Afinal, o mercado financeiro é pródigo em criar soluções para disfarçar as mais "tenebrosas transações".

É por essas e outras que afirmo: O mensalão não é a doença em si, mas um sintoma. Pouco importa como se compra um deputado, se ele já chegou em Brasília para se vender. Então, depois do julgamento e independentemente do seu resultado, é preciso se discutir a reforma política.

Precisamos acabar com os partidos de ocasião, estabelecer a fidelidade partidária, discutir o financiamento de campanha, ampliar o ficha limpa, revisar o número de cadeiras de todo Legislativo e, mais importante, adotar o voto distrital.


Foto: O Grande Palácio abrigava a antiga sede administrativa (foto) do Reino do Sião, nome da Tailândia até 1932. O "Templo do Buda de Esmeralda" integra o mesmo complexo.

Monday, August 13, 2012

Notas Olímpicas 3


Ainda é muito cedo para se avaliar os resultados dos Jogos para a cidade de Londres. Certo é que a Grã-Bretanha mostrou que tinha um projeto olímpico, transformando-se numa potência esportiva. Vale notar que essa importante ascensão começou bem antes. Vejam a evolução do seu total de medalhas de 2000 a 2012: 28->30->47->65.

Jogos Olímpicos nem sempre dão certo. O exemplo grego é trágico. O país não digeriu o custo do investimento, não virou uma potência olímpica e tampouco transformou a sua capital. Não é fácil fazer algo pior do que Atenas 2004!

Os jogos de Barcelona 1992 não fizeram da Espanha uma campeã olímpica, mas alavancaram o progresso e o turismo da capital catalã. O renascimento de Barcelona através dos Jogos é um dos melhores exemplos de legado olímpico.

Como nem tudo é perfeito, houve um efeito social perverso. A valorização imobiliária acabou expulsando muita gente para a periferia. Se fosse no Brasil, as encostas do Montjuic estariam devidamente ocupadas ;-)

E os jogos do Rio em 2016?

Em termos esportivos, estamos no pior dos mundos. Melhoramos o nosso desempenho, passando de 15 para 17 medalhas. Porém, nesse período, nosso o governo colocou 100 milhões a mais no bolso do COB. Eu escrevi A MAIS! Aparentemente, o Irã, a Coreia do Norte e o país do Borat foram mais sábios.

Se o investimento em medalhas é duvidoso por si só, pior é gastar e nem obtê-las. A conversa entre Dilma e os dirigentes do COB não será das mais amistosas.

Fica a esperança de uma grande contribuição das Olimpíadas para o Rio de Janeiro. É claro que o investimento direto na infraestrutura da cidade é um real benefício, o difícil é alavancar os bilhões que vão para o circo olímpico. Deixo a reflexão para o leitor.


Foto: Outra tomada do conjunto do "Templo do Buda de Esmeralda" em Bangkok, Tailândia.

Saturday, August 11, 2012

Notas Olímpicas 2


As Olimpíadas dominaram as conversas dos últimos dias. O espetáculo grandioso, a beleza do esporte e a nossa torcida ofuscam quaisquer outros assuntos, até mesmo o julgamento do mensalão. Entre tantas discussões, uma se destaca: Afinal, os brasileiros amarelam mais do que os outros?

Para explicar a percepção de amarelada geral, poderíamos recorrer às mais sofisticadas teses sociais e antropológicas, a um certo complexo terceiromundista (complexo de vira-lata, para alguns). Porém, acredito que seja muito mais simples do que isso.

Todo mundo amarela: Americanos, chineses e ingleses. A diferença é que os americanos e chineses possuem tantos aspirantes às medalhas, que os fracassos passam batidos. Nós, brasileiros, temos apenas uma dúzia de favoritos. E, é claro, seus eventuais insucessos pesam muito. Num ambiente extremamente competitivo, isso é natural. Um mínimo detalhe pode roubar a vitória de alguém que tanto se dedicou para aquele momento.

Bolt não costuma amarelar, por que é muito melhor do que seus concorrentes. Mesmo assim, queimou a largada no Campeonado Mundial e saiu sem nada nos 100m. Federer e Sharapova foram surrados pelos seus adversários nas finais individuais de tênis. Amarelaram?

Enfim, é muito mais uma questão de expectativas do que um acovardamento generalizado da classe esportiva nacional. Torça pelo Brasil, mas com moderação!    


Foto: Nova tomada do conjunto do "Templo do Buda de Esmeralda" em Bangkok, Tailândia.

Thursday, August 9, 2012

Notas Olímpicas 1


A organização dos Jogos Olímpicos londrinos é notável. Assistí-los pela TV tem sido muito bom. Em tempos de HD e vários canais simultâneos, a experiência de acompanhá-los melhorou muito: Um festival de tomadas diferentes, câmera lenta e muitos outros recursos técnicos. Imperdível!

Pensando nos Jogos em si e considerando o esporte como um eixo de confraternização universal, acho que poderíamos melhorar as próximas edições. Pela paz e pela sustentabilidade.

Aí vão minhas reflexões:

1)  Sustentabilidade: É uma exigência básica para os dias de hoje. Significa deixar de fazer elefantes brancos que ganhem prêmios de arquitetura, mas construções que propiciem economia de energia, maximizando a iluminação e a ventilação natural. Dar preferência às cidades médias e não às megalópoles, permitindo uma melhor integração das sedes dos Jogos com os núcleos urbanos, sem o risco de colapso do transporte público. Zerar as emissões de carbono, considerando-se o deslocamento de todo público (não vale plantar árvores na Guatemala para compensar). Ideias não faltam.

2) Artes Marciais: Sei que o tema é polêmico. Meu saudoso "sensei" sempre enalteceu os valores espirituais do judô e eu acreditava piamente. Porém, confesso que não vejo nenhuma graça nesse jogo de agarra-e-solta-quimono que é o judô olímpico. Ainda assim, é melhor do que o chuta-chuta do taekwondo. Eu suprimiria todas as lutas das Olimpíadas: Judô, taekwondo, boxe, luta livre e greco-romana. Eu sei que são tradicionais, que têm toda uma tecnicidade, que são voltadas à defesa pessoal, que envolvem valores espirituais, etc, etc. Mas, em nome da era de Aquário, que caiam fora.

3) Quadro de Medalhas: A ênfase dada no quadro de medalhas não é muito compatível com o espírito olímpico. Devemos celebrar os melhores atletas, mas não fazer uma competição entre nações. Montar fábricas de medalhas não é difícil, basta desviar dinheiro da saúde e educação para o esporte. É só percorrer o quadro de medalhas, que vemos alguns países de terceira categoria fazendo "mais bonito" do que o Brasil. Uma nação deve permitir que seus cidadãos tenham pleno acesso ao esporte, como meio de saúde, recreação e educação. Medalhas não são nem meio nem fim.

4) Fair play: Os Jogos de 2012 estão chegando ao fim e o doping não roubou a cena. O COI certamente vai comemorar, mas fica uma leve desconfiança de que há novas técnicas por aí. O mais importante é manter a determinação de se combater o doping bem como todas as manipulações anti-esportivas. Em nome do fair play, deve-se aplicar penas cada vez mais rigorosas aos atletas e às delegações. A desclassificação sumária de oito jogadoras de badmington da China, Coreia e Indonésia foi excelente.


Foto: O templo mais importante de Bangkok é o "Templo do Buda de Esmeralda" (Wat Phra Si Rattana Satsadaram), um conjunto de prédios magníficos que ilustram este e os próximos posts.

Saturday, July 28, 2012

Hotel 2


2008 foi meu ano de hotel. Passei 80% das noites daquele ano fora de casa - à época, em Lyon. Já no começo de 2009, era "Platinum" e "Diamond" em vários dos quase inúteis programas de fidelidade das companhias hoteleiras.

Felizmente, foram viagens bem organizadas, com uma certa antecipação e duração média de uma semana. Digo isso, pois 80% das noites pulando de um hotel para o outro poderia estressar qualquer um.

Foi justamente no período 2008-2009, que experimentei três vezes a sensação de acordar e não saber onde estar. Abrir os olhos e não reconhecer o lugar. É estranho, mas não é ruim. Possivelmente, devo ter dormido muito bem. Como uma pedra.

Eram feriados, quando eu fugia para não ficar em Lyon, onde tudo fechava. Preferia aproveitar para conhecer algum canto da França ou da Europa. A sequência de viagens e o cansaço natural devem ter propiciado as condições para dormir daquela forma e levar alguns segundos a mais para reconhecer onde estava.

Precisaria de muitas páginas para contar momentos pitorescos passados em hotéis ao longo dos últimos anos. Como por exemplo:

- Um dia de poltergeist em Punta del Este: Em cerca de 20 minutos, queimaram-se duas luminárias, a TV e a fonte do meu computador. A essa altura, nem arrisquei a pegar o telefone para pedir ajuda.

- A sinfonia do amor em Londres: Não estava num motel, mas num classudo hotel londrino. E justo na noite na qual precisava dormir bem, os casais dos quartos vizinhos estavam inspiradíssimos e sonoros. Quarto da direita, quarto da esquerda e o de cima também. Pegar o telefone para reclamar? Não, isso é sacanagem!

- Dia de DSK às aversas em Paris: Foram vários, sobretudo em Paris. Naqueles poucos segundos exatamente antes ou depois do banho, quando estamos desprevenidos, o quarto é invadido por algum funcionário do hotel. Me lembro de três situações em que os invasores eram mulheres. O pior de tudo é que elas nunca mais ligaram nem mandaram e-mail... Snif... Snif...


Foto: Última tomada no Templo de Mármore de Bangkok.

Tuesday, July 24, 2012

Hotel 1


Ontem, um dia depois de ter chegado da Europa, passei numa lavanderia paulistana para pegar um pacote de roupas deixado uma quinzena antes. Sabia que deveria pagar R$ 56,80. Separei de antemão uma nota de cinquenta, uma de cinco e 1,80 em moedas. Mais tarde, no estabelecimento, a gentil atendente reagiu: "Sr., essas moedas são de euros!".

Tenho viajado muito. E, por falar em viagem, além de somar milhas, conheci muitos hotéis. Neste post, comento três problemas comuns, que encontro por aí.

1) Wi-fi 

Qualquer espelunca oferece conexão wi-fi, o problema é a banda disponível para cada hóspede. Numa época em que facilmente conectamos até três aparelhos na rede do hotel, é preciso se rever os conceitos. Bons hotéis precisam de conexões poderosas. Já foi o tempo em que o serviço de acesso à Internet era um luxo, dirigido para executivos estressados ou nerds solitários. Hoje, é um serviço essencial.

Já vi hotéis que recebem convenções e eventos profissionais falharem nesse quesito. Aquela rede compartilhada por centenas de pessoas nos faz lembrar do já extinto acesso discado. Imperdoável! Mereceriam perder uma estrela!

Mesmo um hotel voltado ao turismo deve proporcionar uma conexão razoável. Tarefas como falar com a família pelo Skype, fazer check-in no próximo vôo ou buscar as informações sobre os locais a serem visitados são rotineiras.

Um dia (e esse dia está chegando) ainda pagaremos para ficar completamente desconectados. Será uma espécie de tratamento de choque contra o excesso de conectividade. Mas, não é o caso deste comentário.

2) Ar condicionado

Já encontrei muitos brasileiros na Europa questionando o funcionamento do sistema de ar condicionado em certos hotéis.

Começo esclarecendo que o gosto europeu pelo condicionamento é diferente do nosso e, sobretudo, dos americanos. É algo que varia de pessoa para pessoa, mas, em média, eles preferem ambientes com temperaturas bem mais elevadas, tanto no verão como no inverno.

Inúmeros hotéis, bem razoáveis por sinal, têm sistema único de aquecimento e refrigeração. Assim, no inverno, a tubulação espalha ar quente. No verão, ar frio. Sim, é só um de cada vez! E não adianta reclamar pois, em alguns lugares, a mudança quente/frio e vice-versa é feita apenas duas vezes por ano.

Outros hotéis são mais flexíveis. Basta pegar o gerente do hotel delicadamente pelo pescoço e gritar que não está pagando 200 euros por dia para dormir na sauna!

3) Check-out

As redes de hotéis brasileiras e europeias precisam copiar as americanas, que aboliram o check-out há tempos. Para ser justo, há umas poucas exceções.

Estou reclamando por 10 minutos de espera? Para mim, aqueles minutos em pé na hora de ir embora parecem uma eternidade. De qualquer modo, se o hotel pode fazer seu cliente ganhar esses minutos, então, por que não?


Foto: Ainda passeando pelo Templo de Mármore de Bangkok.

Sunday, July 15, 2012

Revista do Cinema S1/2012


Durante o primeiro semestre, comentei sobre “A separação” e “Jogos vorazes”. “The artist”, vencedor do Oscar, esteve nos meus posts do ano passado.

Entre os dois filmes que homenageiam o cinema, “The artist” e “A Invenção de Hugo Cabret”, gostei mais do último. Fui ao cinema duas vezes para curtí-lo, pois raramente um filme em 3D é tão bom. Para quem gostou do filme, saiba que George Méliès é tema de uma mostra do MIS, em São Paulo.

Não vi grandes filmes neste semestre, mas achei “Os descendentes” e “O exótico Hotel Marigold” bem razoáveis. O último filme de Woody Allen, “Para Roma, com amor”, é muito pior do que seu anterior, “Meia-noite em Paris”, apesar do superelenco e da própria presença do diretor.

Mudando para o cinema francês. Só pude ver o blockbuster “Intouchables” (2011) no começo deste semestre. Entra na esteira dos sucessos franceses pouco exportáveis (“The artist” é uma história à parte).  É notável abocanhar 20 milhões de entradas num país de 65 milhões de habitantes. O filme é baseado numa história real sobre a relação de um empresário tetraplégico e seu acompanhante faz-tudo de origem humilde.  Uma comédia dramática, como diz a crítica.

A cadeira de rodas também foi a estrela do filme francês que balançou Cannes, “De rouille et d'os”. Este sim, muito mais dramático e com show de interpretação de Marion Cotillard. Recomendo para quem gosta da atriz e do cinema francês. Caso contrário, fique com a comédia.

Estou botando mais fé no próximo semestre. Teremos o remake de “Total Recall”, o “Hobbit” de Peter Jackson e “Les Misérables”. Também tem novos Batman e 007. Para fechar, o vencedor da Palma de Ouro, “Amour” de Michael Haneke. O diretor austríaco não faz filmes tão chatos como a maioria dos premiados em Cannes.


Foto: Mais uma tomada do complexo que inclui o Templo de Mármore de Bangkok. O céu pode estar meio cinzento, mas a temperatura passava dos 35.

Tuesday, July 10, 2012

Bangkok


Assim como no último post, ilustratrei os próximos com fotos dos templos de Bangkok visitados no final de junho. Também estive numa cidade balneária da Tailândia, mas sem grandes fotos. Estou numa intensa sequência de viagens até o início de setembro. Espero que, pelo menos em agosto, uma dessas viagens seja de férias. Enfim, minha viagem à Tailândia foi centrada numa convenção, sem Phuket nem Koh Lanta.

Nem por isso foi ruim. Nossos anfitriões garantiram uma semana plena em termos gastronômicos e de entretenimento. Entre alguns restaurantes turísticos e outros mais locais, foi excepcional. Apesar de ter frequentado restaurantes tailandêses algumas vezes, não imaginava que me daria tão bem almoçando e jantando aquela comida especialmente saborosa todos os dias. Quando no Extremo Oriente, siga o conselho: Coma tudo e, só depois, pergunte o que era. Ou nem pergunte. A semana foi 100% thai. Bem, é verdade que tomei alguns sorvetes. Ninguém é de ferro!

Para compensar as calorias, deu para malhar bastante. Com a diferença de fuso horário, acordava muito cedo. Ao invés de ficar rolando na cama, levantava e começava o dia, nem que fosse às 4 da manhã: Ler os e-mails do Brasil, corrida na praia, malhação na academia, banho, um bom café da manhã, etc. Parece óbvio, mas eu mesmo já insisti muito em tentar dormir em viagens anteriores.

Bangkok serviu para reviver o caos paulistano. Os templos são lindos, mas o resto... Congestionamento, rio imundo, viadutos cortando a cidade, inúmeros shoppings e uma infinidade de novas construções. A relativa "prosperidade" impressionava ao mesmo tempo que descobríamos outros aspectos da sociedade local.

As aventuras de táxi e tuk-tuk foram hilárias, com os motoristas fazendo de tudo para ganhar comissão de algumas lojas. Um deles, percebendo que estávamos lá para conhecer e não para comprar, simplesmente nos abandonou. Para falar a verdade, cansei de ficar "negociando" com esses motoristas. Também cansei de tirar os sapatos para visitar os templos.
 
Muita gente quer tirar uns bahts a mais quando vê um branquela ocidental boquiaberto. O consolo é que, mesmo sendo roubado, ainda sai barato. E, como diz a propaganda, conhecer um país tão diferente não tem preço.


Foto: O mesmo templo de mármore do post anterior, visto de fora. No post anterior, a tomada foi feita do seu páteo interno. (Wat Benchamabophit)

Saturday, July 7, 2012

Oxymoron


Entre correntes e modismos que surgem no Twitter, alguns são interessantes. Os 140 caractéres propiciam muita prosa, poesia e bom jornalismo. Muitos americanos escreveram tweets dignos de nota utilizando o recurso do oxímoro. Oxímoro?!

A Wikipedia responde: Oxímoro ou oximóron ou paradoxismo é uma figura de linguagem que harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando assim um terceiro conceito que dependerá da interpretação do leitor. Trata-se duma figura da retórica clássica.

Nos últimos dias, coletei alguns tweets com este recurso de linguagem:

- I have a twin brother; he's identical, but I'm not.
- Tweeting about "unplugging" is an oxymoron.
- My aim in life is to die young when I'm very old.
- Dad, thanks for always helping me out financially, so I can focus on being independent.
- Depressing oxymoron: "Please print out your e-ticket".
- Clean politics is perhaps an oxymoron.
- Stop using the phrase "God particle" in physics articles. It's trite, annoying, and an oxymoron.
- A transition plan for Syria that leaves Assad in place is an oxymoron.

Google's top references for "oxymoron":
- Military intelligence
- Rap music
- Business ethics
- Microsoft Works

Há oxímoros politicamente incorretos, mas há também pura poesia, como destaca a Wikipedia, lembrando o soneto de Camões, "Amor é fogo que arde sem se ver".

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Foto: Ainda tenho muitas fotos de Chicago separadas para este blog. Mas, para mudar de ares, vamos mostrar algumas da Tailândia, onde estive recentemente. Acima, o belíssimo templo de mármore de Bangkok (Wat Benchamabophit).

Friday, June 22, 2012

Euro 2012

Pelo bem do esporte, nos torneios europeus, é melhor se evitar quaisquer metáforas históricas ou abstrações que fujam da prática desportiva. Depois de tanto sangue derramado, nada como a competição saudável para confraternizar e semear a paz.

A imprensa europeia costuma resistir às piadas fáceis nesses tempos de Euro 2012 - a Copa do Mundo sem o Brasil e a Argentina. Ou melhor, resistia. A partida desta noite (quartas de final) entre Grécia e Alemanha está tirando a imprensa da linha.

As graves circunstâncias econômicas que abalam o continente opõem claramente os dois países. Dizem por aí: “Se a Alemanha quer tirar a Grécia do Euro, a Grécia pode tirar a Alemanha da Euro”.

Para um país economicamente arrasado, a partida desta noite é simbólica. Um comentarista grego prefere lembrar a Batalha de Creta (1941). Os nazistas tomaram a ilha grega, mas com o custo de mais de 3200 mortos. O futebol grego não é grande coisa, mas com este espírito heroico, o jogo promete.

Estou acompanhando a Euro 2012 na Europa, onde os jogos são transmitidos à noite. Nesta semana, estive num importante evento de informática. O coquetel / jantar de abertura foi simultâneo às partidas França X Suécia e Inglaterra X Ucrânia.

Alguém já disse que o europeu não é tão ligado no futebol quanto o brasileiro? A organização do evento trouxe duas TVs de grande formato, que ficaram em dois cantos do imenso salão. Quando os jogos começaram, metade do público dividiu-se entre ambos.

Entre tantas nacionalidades, inclusive coadjuvantes ucranianos e suecos, como era de se esperar, os ingleses foram os mais ruidosos. Não só torciam pela Inglaterra, como se manifestavam contra a França, mesmo estando em Paris. Os franceses estavam excessivamente intimidados pela derrota perante a medíocre Suécia. O Le Monde diz tudo: “La débâcle de Kiev”.

Aproveitei boa parte do jogo para comer e conversar com uma panelinha de brasileiros da Brasscom e Softex, que promoviam a nossa informática aqui na Europa. Mais comia do que conversava. Afinal, eu fui lá para comer, conversar ou assistir ao jogo?


Foto: Centro de Chicago.

Sunday, June 10, 2012

Airframe

 
"Armadilha Aérea" (1996) não é dos livros mais conhecidos do finado Michael Crichton, mas tem uma trama envolvente e extremamente realista. A investigação de um acidente aéreo mistura a tecnologia, os interesses corporativos, as relações com a China, a ação dos sindicatos, a cobertura da imprensa e a natureza dos acidentes. Sim, a verdadeira natureza dos grandes acidentes, quando acumulam-se falhas técnicas e erros humanos. 

Ainda recomendo a leitura do livro e não quero estragar a surpresa do leitor, pois é só nas últimas páginas, que a "significativa contribuição" do piloto para o acidente é revelada. 

O acidente fictício de Crichton foi menos trágico do que aquele do vôo Rio-Paris (AF 447). Na vida real, não houve sobreviventes e restaram poucos destroços para análise. Na vida real, nada se compara ao drama dos parentes das vítimas. Em comum, a investigação pelas autoridades, a cobertura da imprensa, os interesses dos fabricantes, da companhia aérea e da seguradora.

As falhas na medição de velocidade do Airbus são conhecidas. Também sabemos que já não se fazem mais pilotos como antigamente. Entretanto, tudo isso não convence. É aí que aparece o furo da TV americana: No momento do incidente, quando a experiência do piloto era essencial, o comandante Marc Dubois não estaria na cabine, mas com sua amante, uma comissária da companhia. 

Talvez, o detalhe jamais seja provado. As autoridades francesas já anteciparam que o relatório final não inclui a intimidade dos funcionários. Entretanto, é justamente esse tipo de detalhe que deixa tudo mais consistente. É a famigerada sequência de erros que transformam um incidente num grave acidente. 

Pelo fato de ser passageiro habitual da companhia, fiquei muito chocado à época da queda do avião. A inexistência de uma explicação convincente incomodava. A ideia de um piloto tarado pode deixar muita gente indignada, mas explica. Afinal, faltava justamente alguma coisa mais humana para compreendê-lo. Mais humana do que uma sonda Pitot.


Foto: Acima e abaixo, a residência e estúdio de Frank Lloyd Wright em Oak Park, Chicago. Projeto de 1909. O tour pelas casas do arquiteto em Oak Park sai de lá.



Wednesday, May 30, 2012

Geography for dummies

Há poucos anos, a Turquia implorava para entrar na União Europeia. Queria seguir os passos de outros países do velho mundo, que desfrutavam de certa prosperidade (PIGS). Entrar na Zona do Euro seria o máximo!

O ex-presidente Sarkozy, no entanto, estava determinado a barrar os planos turcos. Muito antes do agravamento da crise, ele disse: "A Turquia não entra na União Europeia, por que não é um país europeu".

A Turquia agradece à geografia de conveniência do Sarkozy. O país se salvou das ingerências de Bruxelas e a sua arquirrival Grécia está em plena desintegração. Se não fossem as divergências em torno do genocídio armênio, o ex-presidente seria um ídolo na Turquia.

Nesta semana, Angela Merkel mostrou que geografia não é seu forte. Numa sala de aula, ela foi convidada a mostrar a cidade de Hamburgo num mapa mundi. Seu raciocínio foi lógico, localizaria primeiro Berlim e, depois, a sua cidade natal. O problema é que ela procurou por Berlim na Rússia. Alertada pela professora, exclamou: "O que? A Rússia? Tão perto?". Os alunos gargalhavam.

Decepcionante. Seria estresse? Ignorância? Ato falho? Difícil de se explicar. Se no seu mapa mental, Berlim está dentro da Rússia, onde estaria a adorada Grécia? Talvez, no Irã.

Quando se fala de geografia, é claro que ninguém supera George W. Bush. Entre algumas das suas célebres citações:

"Do you have blacks, too? (2001, para FHC)
"Border relations between Canada and Mexico have never been better" (2001)
"Wow! Brazil is big!" (2005, para Lula) 


Fotos: Acima e abaixo, a famosa Robie House de Hyde Park, na periferia de Chicago. A casa de 1909 é considerada símbolo da escola arquitetônica liderada por Frank Lloyd Wright, primeiro estilo genuinamente americano.



Sunday, May 20, 2012

Die Meister, Die Besten


Cada vez mais, estamos ligados na Liga dos Campeões.
Vi muita gente dando uma escapadinha do trabalho para ver as suas semifinais, quando da eliminação dos times espanhois.


A Liga tem sido o sonho dos tempos europeus, assim como a Libertadores por aqui. No campeonato europeu, sobra organização, dinheiro e um grupo de talentosos jogadores comprados do mundo inteiro. É por tamanha concentração de craques, que o torneio só perde em prestígio para a Copa do Mundo.

Quando posso assistir a um jogo deste super campeonato da UEFA, faço a questão de fazê-lo desde o começo, para não perder a vinheta de abertura. O hino da Liga arrepia torcedores e jogadores .

A música de Tony Britten, inspirada em Handel, está ali para reverenciar os maiores craques do planeta. Sua letra diz (alemão, francês e inglês): "Die Meister / Die Besten / Les grandes équipes / Os campeões".

Muito dinheiro. Muitos craques. Muita organização. Hino maravilhoso. E o futebol? Bem, vamos com calma, por que nada é perfeito. Há controvérsias.

Quando eu era mais jovem, jogar como o Chelsea, num esquema defensivo 4-5-1, era visto como antifutebol. Não é nem apostar no contra-ataque, é um esquema covarde mesmo, contando com o acaso, com o erro alheio. Tem dado certo.

O futebol mudou muito nos últimos anos. Os esquemas defensivos superam os ofensivos, os jogadores são os mais exigidos fisicamente, uma guerra de talentos virou guerra de nervos e até o Brasil joga "feio". Enfim, considerando-se esta nova realidade, o Barcelona é que joga o antifutebol. 



Foto: Acima, a casa Arthur Heurtley, projeto de Frank Lloyd Wright, de 1902. Dá para entendre o arrojo do arquiteto pelo estilo que dominava Oak Park à sua época, como mostra a foto abaixo.




Saturday, May 12, 2012

Compensação


Fiquem tranquilos, pois já compensei as emissões de carbono associadas à leitura deste post (e dos próximos), através da Action Carbone, da Fundação Good Planet. Agora, vocês podem ler mais relaxados ;-)

Muita gente anda compensando as suas emissões de carbono ou equivalente por aí. Tem várias ONGs sérias envolvidas no processo. Se todo mundo fizer o mesmo, salvamos o Planeta?

Obviamente, não. Mesmo considerando que todos os agentes envolvidos sejam honestos.

"Plantar árvores para compensar as emissões de gases de efeito estufa e não tomar ações concretas para reduzí-las na fonte é como pedir um refrigerante light para acompanhar um duplo cheese bacon" (Joel Makower)

Fico especialmente irritado quando uma empresa apresenta-se como "verde" graças ao seu programa de compensação através de reflorestamento. Enganação.

1 - O reflorestamento é um atenuante louvável, mas não pode compensar processos obsoletos, poluidores ou ineficientes. Cabe a todos nós revê-los, buscar caminhos alternativos e mais eficientes para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

2 - O mundo está trabalhando há anos com o conceito de sustentabilidade, que envolve muito mais do que as emissões de carbono. O Pacto do Milênio da ONU é uma boa referência para o assunto.

Enfim, da próxima vez que um fornecedor apresentar-se como "verde", por causa do bosque plantado por ele, ria!


Veja também: Saco! (13/10/2009)


Foto: Acima e abaixo, o Unity Temple (1908) de Frank Lloyd Wright, em Oak Park, nos arredores de Chicago. O arquiteto frequentava a Congregação Universalista e ainda habitava em Oak Park. Este arrojado projeto colocou FLW definitivamente no topo da arquitetura mundial do começo do século XX.



Saturday, May 5, 2012

Choque

França, 2 de maio de 2012. Ao entrar no no escritório da Rhodia em Aubervilliers, periferia de Paris, um colega foi vítima de furto, daqueles bem conhecidos no Brasil: Quebra-se o vidro e leva-se a bolsa. Nenhum dano pessoal, apenas o choque.

Diante de uma situação tão incomum, a administração do prédio, sede de P&D e Informática emitiu um alerta. Entre outras recomendações:

- Travar as portas do carro enquanto dirigir;
- Não deixar bolsas ou objetos de valor visíveis no seu veículo;
- Não deixar a chave no contato mesmo que sair do veículo por um instante;
- Não deixar os documentos no carro.

Para os brasileiros, tais orientações parecem piada, afinal convivemos com a insegurança pública há muitos anos. Se esse tipo de orientação é cada vez mais frequente na França e na Europa, vale ainda algumas ressalvas:

- Foi um furto e não um assalto. Os episódios com armas de fogo são raríssimos.
- Aubervilliers é uma área periférica. Conhecido como subúrbio ruim de Paris, palco de rebeliões e carros queimados, aguardou por muitos anos a definição da sede dos Jogos Olímpicos. A reurbanização da área estaria associada aos Jogos. Com a derrota para Londres, o projeto atrasou. Hoje, o bairro está em plena transformação.
- As poucas ocorrências merecem a devida atenção. Envolvimento de todos e da Polícia garantem que a banalização da violência pela sociedade ainda esteja muito distante.

Com os quatro anos de França, tenho uma coleção de casos de falcatruas e pequenas violências para contar. Algumas delas testemunhadas por brasileiros. Mesmo com a chamada decadência europeia, viver no "rico" Brasil continua muitíssimo mais perigoso.


Foto: Na tomada do lago Michigan, destaque para a Willis Tower (ex-Sears), que ainda é o mais alto dos EUA.

Sunday, April 22, 2012

Picolé de escargot

Comecei a escrever neste blog (e no antigo fotolog) na ocasião da minha mudança para a França, pouco antes do Sarkô assumir o primeiro mandato. Ao longo desses anos, mostrei o que o Presidente tinha de pior. Excepcionalmente, reconheci algumas qualidades.

Apesar de tanto ter insistido na rejeição popular ao Presidente, confesso que sempre acreditei na sua capacidade de virar o jogo e conquistar a reeleição. Nem sempre pelos seus méritos, mas pelos deméritos dos concorrentes.

O único nome que escapava desta incompetência generalizada era DSK, cujo destino é bem conhecido de todos. Se François Hollande (FH) estivesse no Brasil, não seria chamado de "picolé de chuchu", pois este apelido já tem dono. Talvez, "picolé de escargot". Alguns jornalistas da imprensa anglo-saxônica o chamam de "Mr. Normal". Não sei se alguém que proponha um aumento de imposto de renda para 75% possa ser considerado normal.

Plantu lembrou uma velha piada, comparando FH com o maior socialista da História, Cristóvão Colombo: Quando partiu, não sabia para onde ia. Quando chegou, não sabia onde estava. E tudo isso com o dinheiro dos outros!

Agora só um milagre tira a vitória de Hollande no segundo turno. Não foi FH que venceu. Foi Nicolas Sarkozy que perdeu. Perdeu pela imagem de esnobe e elitista que construiu. Pelas reformas prometidas, que deixou de fazer. Pela duvidosa liderança da União Europeia exercida junto com a Alemanha. Pela situação em que deixa o país.

Antes de tudo, a França enfrenta uma crise de sociedade. Há uma dúvida profunda sobre o modelo do país, este Estado tão generoso inserido num capitalismo competitivo, dominado pelos "mercados". E, como se não bastasse, a integração interna (imigrantes) e externa (Europa) são dois problemas cruciais para o futuro deste país. Enfim, não eleger Sarkô é dar uma chance para os ventos da mudança. A virtual eleição de Hollande no segundo turno é acreditar na exceção francesa.


Foto: Um dos cartões postais do Navy Pier (Chicago), a escultura "Crack the Whip" de  Jo Saylors.

Wednesday, April 18, 2012

Louvre Jr.

A abertura de filiais do Louvre sempre suscitou polêmica. É compreensível, pois o apreço pelo tesouro ali guardado é imenso. No final do ano, será inaugurada a filial de Lens (quase na Bélgica) e, mais tarde, a de Abu Dhabi.

O Emirado Árabe receberá pequenos lotes para exposições curtas. Já em Lens, algumas centenas de obras ficarão por meses ou até anos. Lens pediu a Mona Lisa. A resposta foi óbvia: Non!

O Louvre de Lens terá uma diferença em relação à matriz, não será departamentalizado. Em Paris, o museu é dividido em alas: Egito, Roma, Pinturas italianas, etc. Em Lens, prevalecerá uma organização cronológica, onde poderemos ter uma visão mais ampla da Arte, comparando o que era feito em diferentes lugares do mundo à mesma época. Pessoalmente, prefiro assim.

Na realidade, museus menores podem ter uma dimensão mais humana. Talvez com menos obras e mais informações, a experiência da visita possa ser ainda mais rica. Felizmente, pude ir muitas vezes ao Louvre. Devido às suas dimensões gigantescas, sempre acabo pulando muitas coisas.

Uma outra questão com relação ao grandes museus é que grande parte do acervo nem chega a ser exibida. Neste aspecto, o museu deixa de cumprir a sua função social. Um museu não é um cofre, é um canal que permite contato da população com a Arte de todos os tempos. É um espaço de aprendizado, de convívio, de troca e assim por diante. Enfim, mais um ponto a favor da filialização.


Foto: Skyline do centro de Chicago, visto do Millenium Park.

Tuesday, April 10, 2012

Consulado

Quem não conhece o Consulado dos Estados Unidos em São Paulo? Nas três vezes em que lá estive, fiquei impressionado com a sua máquina burocrática, uma super-estrutura para atender milhares de viajantes. Cheguei a pensar se manter aquilo tudo, inclusive a propriedade do tamanho de um quarteirão, valia a pena. Hoje, está claro: Vale e muito.

As matérias recentes sobre o encontro de Dilma e Obama mencionam a flexibilização da concessão do visto americano aos turistas brasileiros. Em tese, já poderíamos estar isentos desta exigência, graças ao bom balanço das viagens dos brasileiros aos EUA.

Entretanto, na prática, a máquina de vistos é uma fonte de arrecadação considerável do Departamento de Estado dos EUA. Não dá para abrir mão dessa receita. Pelo contrário, agilizar a máquina e inaugurar mais dois consulados no Brasil significa aumentá-la ainda mais.

Bom para os brasileiros que querem viajar, bom para o comércio da Flórida e bom para a Hillary Clinton cumprir seu orçamento.


Foto: Em Chicago, na eclusa entre o Rio Chicago e o Lago Michigan.

Tuesday, April 3, 2012

Jogos Vorazes

Já fiz alguns posts sobre filmes. Em sua maior parte, fiz recomendações sobre os filmes de que gostei. Desta vez, meu intuito é outro. Falo sobre "Jogos Vorazes" ("The Hunger Games"), sucesso de crítica e público. A surpresa é justamente essa, um tema recorrente do acervo da ficção científica (FC) e dos “filmes B” virando "blockbuster" e ainda agradando a crítica. Como pode?

Não contarei muito sobre o filme, a fim de não estragar o programa daqueles que ainda querem vê-lo. A obra é baseada na trilogia de Suzanne Collins - Não li os livros, porém prestigiarei os próximos filmes - Como dizem os especialistas, o cenário é uma Terra “pós-apocalíptica” ou “distópica”, onde as desigualdades sociais são ainda maiores e a repressão faz os autocratas de hoje parecerem amadores. Jovens enfrentam-se num “reality show”, onde vence aquele sobreviver.

Longe de falar em plágio, as semelhanças com outras histórias, especialmente de FC, são consideráveis, mas sem grande ambição e sofisticação. O percurso da heroína Katniss Everdeenbem interpretada por Jennifer Lawrence, segue precisamente a receita clássica de Joseph Campbell.

Metáfora ao alcance de todos, a carapuça dessa sociedade fictícia, desigual, violenta e invasiva, serve ao nosso mundinho. A força do filme é a simplicidade, que combina uma boa produção, clichês da FC, associação íntima com os populares "reality shows" e a redentora jornada do heroi.

Os protagonistas do filme são pobres, mas são limpinhos. O filme é bobinho, mas é bem feitinho.


Foto: Contrastes de estilos arquitetônicos em Chicago.

Saturday, March 24, 2012

O infiel da balança - Continuação

O impacto eleitoral do episódio de Toulouse ainda é indefinido. Apesar do cuidado inicial, agora, ouvimos asneiras de todos os lados.

Sarkozy teria tudo para tirar maior proveito. Se o assassino não era um imigrante, era um francês de origem árabe mal integrado à sociedade. O Presidente usou a sua energia característica para anunciar um pacote anti-terror com medidas de bisbilhotagem cibernética pouco eficazes e pouco apreciadas.

François Hollande soube aproveitar o episódio, criticando o serviço secreto. Entre os dois atentados, houve um intervalo suficiente para se chegar ao criminoso. Boa parte da esquerda, assim como a extrema esquerda, denuncia a teatralização do crime de Toulouse e o risco de disseminação da islamofobia. Na minha opinião, eles o fazem com tanta insistência, que parece islamofilia.

A extrema direita deve estar rindo à toa. Nos anos em que vivi por lá, quase todas as agressões aos judeus vieram de muçulmanos. São inúmeras agressões físicas, pichações e ameaças, que não chegam a ser notícia no Brasil. Neo-nazistas nem precisam se preocupar com judeus. Às vezes, eles atacam muçulmanos, que são milhões e incomodam muito mais.

A maioria esmagadora dos muçulmanos está totalmente integrada à sociedade secular. Entretanto, existem pouco mais de 10 mil fanáticos, com valores muito diferentes. Por razões óbvias, a própria comunidade islâmica não aprecia essa pequena minoria, que faz tanto barulho e estigmatiza a maioria.

Não apenas a França, mas muitos países estão diante de um terrível dilema. Como controlar esse tipo de gente sem violar os princípios que defendemos para todo o resto da sociedade? O colunista de religiões do Le Monde, o ótimo Henri Tincq, postula a mesma questão de forma diferente: "A república laica é suficientemente aparelhada para enfrentar uma tal concepção da religião como ideologia assassina?"

Procuram-se respostas.


Foto: A escultura "Cloud Gate" ou "The Bean" é uma das atrações do Millenium Park, em Chicago. Seu autor é Anish Kapoor.