Friday, December 26, 2014

Detetives

Agredeço a todos que escreveram sobre o meu último post. Não imaginava despertar tamanha solidariedade, era para ser um post apenas engraçadinho. Não fosse o furto, seria mais um daqueles posts sobre as greves europeias.

Ainda sobre o triste incidente, pensei várias vezes no desafio daqueles dois que invadiram meu apartamento para fazer a “limpeza”. O que roubar?

A pergunta parece simples, mas só ladrões experientes fazem as escolhas certas. Afinal, eles precisam carregar as coisas roubadas mantendo uma certa agilidade durante a fuga. Há uma combinação de fatores como valor de mercado, volume e peso.

Enquanto o policial belga caçava digitais no meu apartamento, eu pensava - caríssimos leitores, não pensem em Hercule Poirot. Jacques Clouseau é bem mais realista - Eu só queria entender o que tinha acontecido. 

Percebi que os bandidos revistaram todo apartamento, selecionaram o que interessava e, antes da saída, fizeram a triagem. Levaram tudo para a mesa de jantar e lá escolheram o que seria furtado.

- Entre um Blackberry e um aparelho de barbear da Gilette, optaram pelo último.
- Entre um vidrinho de perfume da Armani e um GPS, escolheram o frasquinho.
- Entre um leitor de livros Kindle e um porta moedas com alguns poucos euros, ficaram com o dinheirinho vivo. Será que eles não gostam dos meus livros? Snif snif...  

Enfim, os gatunos sabem das coisas ;-)

Como provavelmente não terei tempo para escrever um novo post nos próximos dias, deixo os meus votos de Boas Festas e Ótimo Ano Novo. E se der alguma coisa errada em 2015, que seja matéria prima para novos posts. Afinal, a gente perde um monte de coisas, mas não perde a piada.


Foto: Como “post cartão de Natal”, aí vai este GIF animado montado sobre fotos recentes da fonte de Evian Les Bains, ao pé dos Alpes e às margens do Lago Leman.

Saturday, December 20, 2014

Perdas e danos

Nas últimas semanas, percebi que greve é coisa profissional aqui na Bélgica. Não é algo para atrapalhar nossas vidas só um pouquinho, é parada geral mesmo!

Sabendo da greve geral prevista para o último dia 15, remanejei meus compromissos para Paris. Até aí, foi fácil.  O problema é que, antes da greve em si, há “ensaios”. O movimento começou em novembro, com episódios de greves parciais semanais.

Num desses dias de greve parcial, por exemplo, fui ao aeroporto a fim de embarcar para Lyon, onde ficaria uma semana. A mocinha do balcão: “Não estamos despachando malas, por que não veio ninguém para manuseá-las”. Perguntei se o vôo estava garantido, mas ela não soube informar :(

Felizmente, deu tudo certo. O maior contratempo foi entrar com uma mala – muito longe de ser de bordo – num avião tipo Embraer.

Novembro e dezembro foram meses de manifestações, reuniões da Comunidade Europeia e da OTAN. Tudo isso significa ter um gostinho do trânsito paulistano - só um gostinho - pois quase todos os órgãos internacionais e locais estão entre a minha casa e o trabalho.

É muito comum cruzar com policiais batedores que bloqueiam totalmente o trânsito para carros oficiais. Diplomatas e burocratas costumam usar os hotéis perto de casa. Alguns figurões precisam das avenidas só para eles, e olha que as avenidas já não são tão largas. A Polícia daqui parece ser especialista nisso. Aparentemente, só nisso.

Quem não fez greve nem corpo mole na última semana foram os bandidos. Não estou falando do padrão de bandidos brasileiros: sequestradores, assassinos e deputados. Falo de gatunos.

Enquanto estava em Lyon, um par deles fez uma limpa lá em casa. A lista de perdas é enorme, mas como a gente sempre diz, são perdas materiais. A sensação de chegar em casa e encontrar tudo revirado e jogado no chão não é nada agradável. Que seja a última vez!

A única contribuição da Polícia local para este breve relato foi a dedução de que eram dois furtadores. O “CSI Bruxelas” encontrou duas pegadas diferentes. Sabe até a marca dos sapatos. Por outro lado, depois de emporcalhar ainda mais o meu apartamento com pós pretos e brancos, não achou nenhuma digital.

A verdade é que esse tipo de crime é muito mais comum do que imaginava. Basta comentar o ocorrido entre colegas, que acabamos descobrindo quão comum são tais furtos. Se a Polícia local não pode ajudar, a maioria das pessoas já tem seus suspeitos: os ciganos. Segundo a sabedoria popular belga, são os únicos que levam os seus melhores jeans.

Ciganos ou não, tem alguém abafando por aí nesta noite de sábado em Bruxelas: Calça nova, camisa nova, casaco novo, tablet novo, celular novo, relógio novo e até perfume novo. Como consolo, só me resta escrever um post novo.


Foto: A Place des Jacobins em Lyon e seu abat-jour gigante na Fête des Lumières 2014. Eu estava lá, enquanto...

Sunday, December 7, 2014

Pomba e circunstância

A Bélgica tenta inscrever a batata frita no Patrimônio Cultural da Unesco. Apesar de serem reconhecidas como “French Fries”, sua origem é provavelmente belga, embora  Espanha e França também disputem a paternidade. 

Pouco importa a história da batata frita. O fato é que, morando-se em Bruxelas, não dá para evitá-las, pois acompanham uma grande diversidade de pratos, dos mais simples aos mais sofisticados.

Jantar de trabalho num elegante restaurante de Bruxelas. Para variar, as fritas estavam em todos os pratos. Assim que comuniquei minha escolha para o maître, um colega fez uma ressalva: “Almôndegas? Você vem num restaurante desses e pede almôndegas!?”

Respondi: “Bom, se fosse tão inapropriado, não estaria no cardápio”. Se a discussão fosse em português, caberia ainda um “ora bolas”! 

Almôndegas podem ser gostosas, mas sofrem de certo preconceito. Algo para se comer em casa. De qualquer modo, fiz o que sempre faço. Peço o  que tenho vontade, aquilo que desperta o apetite. O molho estava tão bom, que não tardou para meu colega emprestá-lo para temperar suas fritas ;-)

Nos quatro anos passados na França, a saudade da comidinha brasileira sempre apertou. A diversidade gastronômica europeia é ótima, mas nem todo dia quero comer uma boa caça. Anos atrás, estive num estrelado restaurante francês, daqueles que o menu é escolhido pelo chef. O prato daquela noite era pombo, algo muito mais sofisticado do que um reles galináceo. Entretanto, naquele dia, eu não queria pombo, pombas!
   
Quando perguntei – com toda delicadeza possível - se havia alternativa, todos olharam para mim. Espanto geral. Aqueles dois segundos até o maître responder pareceram uma eternidade, mas o chef, como de hábito, tem sempre uma alternativa. Havia uma carninha deliciosa. Não me lembro muito bem do corte nem do preparo, mas, com certeza, não foram almôndegas.



Foto: Fechando as fotos de Biarritz, o entardecer na Grande Plage.

Sunday, November 30, 2014

Um dia de call

O plano era voltar de viagem na quinta e deixar a sexta livre para resolver os pequenos problemas do dia a dia. Ao longo da viagem, a cada um que solicitava um horário, dizia: marca na sexta! O resultado era previsível.

Quinta à noite, buscando saber o que teria de fazer no dia seguinte, olhei desconfiado para o celular. Eram uma dúzia de reuniões! Ao examinar a atribulada agenda, concluí que nem valeria a pena sair de casa. Todas as reuniões eram áudio-conferências ou chamadas simples, a partir das 7:30. Olhando pelo lado positivo, se estivesse no Brasil, começaria às 4:30.

Graças ao cansaço da viagem anterior, cometi um deslize (e não foi a primeira vez). Caí da cama e pulei para a primeira áudio. Não teria nenhum problema se alguns dos interlocutores daquela sexta-feira não insistissem em fazer a chamada com imagem.

Sim, eu sabia que teria duas vídeo-conferências, via Skype e Hangout. Entretanto, achei que daria para tomar um banho, barbear-me e trocar de roupa. Não deu! Como já está frio por aqui, coloquei  uma malha em cima do pijama e encarei a câmera.

De resto, foi tudo como previsto. O mais interessante foi chegar ao final do dia e apreciar a variedade linguística daquela longa jornada ao telefone: duas em português do Brasil, uma em português de Portugal, uma em inglês britânico, duas em francês, uma em francês belga e cinco no melhor inglês macarrônico. Isso sim é ser poliglota!


Foto:  Em Biarritz, a antiga residencia imperial de Napoleão III, convertida em hotel.


Wednesday, October 15, 2014

MOOC

Comecei o último post explicando os motivos de estar escrevendo menos. Aí vai mais um deles. Do começo de agosto até ontem, participei de um MOOC. MOOC???

Talvez você não conheça o acrônimo. Então, que tal “Massive Open Online Course”?  Há algum tempo, um colega mostrou-me as ofertas da plataforma Coursera. Fiquei impressionado. Universidades e professores de renome assinando inúmeros cursos interessantes. Deixei de lado pela habitual falta de tempo.

Nunca fui entusiasta desses programas educacionais.Acreditava que eles tinham um papel relevante. Principalmente para os outros. Mudei de opinião.

Quando cheguei  em Bruxelas, começou a sobrar aquele tempo que eu perdia no trânsito de Sâo Paulo. Poderia ter lido alguns livros a mais, no entanto, resolvi encarar um MOOC. Procurei por algo bem interessante, mesmo que fora do contexto profissional.

Num post futuro, voltarei para falar sobre o curso que escolhi (História da Civilização). Foi uma boa aposta, pois o livro texto do curso está ganhando grande repercussão.

A cada semana, recebia uma hora e meia de aulas em  vídeo. Em agosto funcionou bem. Já em setembro, em pleno ciclo orçamentário, foi difícil acompanhar. Nessas horas, fazer a coisa por prazer, sem obrigação, foi essencial para que chegasse até o fim.

Uma das principais deficiências desse tipo de formação é a impossibilidade de interação com o mestre. Para um MOOC de sucesso como este - 30.000 participantes! - é inviável. As discussões no fórum, quando não descambam como qualquer outra rede social, não substituem a experiência da sala de aula. Enfim, isso não invalida o mérito dos MOOC que merecem a nossa atenção como cidadãos ou profissionais.

Graças à tecnologia, pude assistir as aulas nas viagens de trem e avião. O melhor mesmo foram as aulas assistidas pela televisão (Chromecast) lá no sofá de casa. Enfim, um show de tecnologia. Já as minhas anotações consumiram um bom e velho Moleskine e algumas dezenas de post-its.


Foto: Vista dos rochedos diante das praias principais de Biarritz.

Sunday, October 5, 2014

Segundo turno

Como disse no último post, os compromissos por aqui impediram-me de ficar conectado com o Brasil. Acompanhei muito pouco o que aconteceu depois de julho, nem mesmo a campanha. 

O mais curioso é que as últimas pesquisas de intenção de voto da eleição presidencial dão mais ou menos o placar do começo de julho, quando a Dilma estava um pouco abaixo dos 40% e o Aécio, em segundo, um pouco acima dos 20%. Parece que não aconteceu nada nesse intervalo!

Porém, mesmo se quisesse, não daria para ignorar os fatos. A meteórica ascensão e queda da Marina Silva foi manchete no mundo inteiro. Nos países que visitei, Bélgica, França e Portugal, todos perguntavam: quem é essa Marina?

Talvez a minha dificuldade de explicar aos estrangeiros quem é a Marina seja uma das razões que vai tirá-la do segundo turno. Conhecia algumas passagens da sua biografia e nada mais. A um ou outro francês que torceu o nariz para a nossa Marina, respondi: cada país tem a Marina que merece (“chacun sa Marine”).  

O segundo turno será Aécio X Dilma. O mesmo duelo das cinco últimas eleições. Frustração para quem quer novidade. Preocupação para quem quer se livrar da Dilma. Não vou usar este blog para criticar a abominável presidente pelos motivos que expliquei num post anterior. Quase todos meus leitores não votam nela. 

Espero que a equipe do Aécio traga argumentos convincentes para abocanhar grande parte dos votos da Marina, manter os seus e ainda convencer muitos daqueles que votaram em branco ou nulo a mudarem de opinião. Alea jacta est!


Foto: Biarritz, verão de 2013. A “Plage de la Côte des Basques”, a escola do surfe.

Sunday, September 28, 2014

Low-cost

Estou de volta. Ufa!  Foi uma longa sequência de eventos e reuniões, dentro e fora de Bruxelas e, como ninguém é de ferro, também teve férias. Com certeza, voltarei a falar delas, quando ilustrar este blog com fotos tiradas nesse período.

A greve de Air France foi encerrada há poucas horas.  Após duas semanas de paralização, o braço de ferro entre os pilotos e seu empregador custou cerca de 300 milhões de euros para a companhia. Dessa vez, a greve não chegou a perturbar meus deslocamentos, mas infernizou a vida de muitos colegas.

Como vocês sabem, o motivo da greve foi a opção da empresa por desenvolver sua filial low-cost, a Transavia. A Air France e suas congêneres europeias perdem continuamente espaço para as low-cost como Easyjet e Ryanair. Não é só isso. Elas também perdem espaço para as empresas premium como Cathay, Singapore Airlines e Emirates.

Existe algo em comum entre as empresas que comem o mercado das companhias tradicionais tanto no mercado low-cost como no “high-cost”: uma folha de pagamento menos polpuda.

Vocês conhecem muitas das práticas que fazem as low-cost mais competitivas. A passagem é quase de graça, mas os opcionais. Ah, os opcionais... Entre a transformação de alguns serviços antes essenciais em opcionais e algumas práticas administrativas e industriais realmente mais modernas, o principal recurso de competitividade das low-cost é mesmo pagar menos para os seus empregados.

Comparados aos seus pares, os pilotos da Air France são verdadeiros marajás e não querem abrir mão dos seus direitos. Nos seus lugares, faríamos o mesmo! Resta à empresa administrar suas finanças até que toda uma geração de pilotos aposente-se e morra. Simples assim.  O desafio da Air France não é incomum nos dias de hoje.

Acredita em milagre? É bom lembrar de outras companhias aéreas europeias que afundaram com o fardo trabalhista. Alitalia, SABENA (hoje Brussels Airlines) e Swissair (hoje Swiss) foram à bancarrota em 2013, 2001 e 2002 respectivamente. Após a recomposição do quadro de acionistas e novos estatutos, elas renasceram contratando pessoal mais barato. Pois é, o mundo da aviação já foi mais charmoso.


Foto: Em 2013, depois das férias no País Basco espanhol, atravessei a fronteira e fui para uma convenção em Biarritz. A cidade já ilustrou este blog, mas merece bis. Na foto, a “Grande Plage”.

Thursday, August 14, 2014

Nós e as máquinas

No último sábado, fui a um supermercado de Bruxelas. Estava cheio, mas quase todos os caixas estavam fechados. Havia apenas um funcionário trabalhando e os clientes eram dirigidos ao auto-serviço. Acostumado a tais máquinas desde a passagem pela França, senti que o “faça você mesmo” está ainda mais forte por aqui.

Os caixas de auto-serviço dos supermercados são bem completos. Basta escanear todas as compras, pesar o que for necessário, ter o cartão de fidelidade, o cartão de crédito e o ticket de estacionamento à mão e pronto. Tudo muito fácil. Principalmente se você for uma daquelas divindades hindus com muitos braços. Brincadeiras à parte, essas máquinas funcionam mesmo e, em teoria, são a prova de idiotas. Em teoria.


Domingão, saindo do cinema, onde assisti “LUCY”, fui validar o ticket de estacionamento. Havia dois tipos de máquinas, uma grande, cheia de botões e aberturas, e uma outra menorzinha. A princípio, dirigi-me para a maior, que oferecia mais recursos. Bati o olho na máquina e pulei fora, fui para a menor.  Já o casal de belgas que estava atrás de mim ficou procurando onde se colocava o ticket por algum tempo. Não sei quanto, pois fui embora.


Na semana passada, fui ao banco pegar meu cartão e registrar a senha. O banco é holandês, a agência fica na comuna de Neder-Over-Heembeek, mas estamos em  Bruxelas, uma região francofônica.  A gerente da agência, uma senhora muito simpática e gentil, falava comigo. A poucos metros dali, uma cliente usava a máquina de auto-atendimento. Ela virou-se para a gerente e berrou: “Pô, essa máquina só fala holandês!”

Com ar de reprovação e esquecendo a sua delicadeza por alguns segundos, a gerente retrucou: “Estou ocupada.” A cliente insistiu e ela, irada, repetiu: “Estou ocupada.” Percebendo a situação constrangedora, ela voltou-se para mim e desculpou-se. Bem, aí chegou a minha vez: “Nem precisa se desculpar. A senhora foi muito gentil. Poderia ter respondido que estava ocupada em holandês!”


Já levei canseira de uma máquina na primeira vez que passei por um pedágio francês. Por ser a primeira vez, precisava de apenas uns poucos segundos para entender onde colocar o ticket,  o cartão de crédito e obter o recibo. Porém, o troglodita que vinha atrás não esperou. Meteu a mão na buzina!

No susto, deixei o ticket cair na via. Tinha alinhado o carro tão próximo ao caixa, que não conseguia abrir a porta. A essa altura, o cara de trás beirava a histeria. Felizmente, aquele pedágio ainda empregava seres-humanos. Pelo alto-falante, perguntaram qual tinha sido meu ponto de entrada na estrada e calcularam a tarifa. Aí sim, coloquei o cartão, paguei e fui embora.  Aquele gaulês apressado teve que esperar uns bons minutos. Já o ticket caído no chão, o vento levou.



Foto: Para fechar as fotos de Bilbao, o Teatro Arriaga.

Sunday, August 10, 2014

Singin’ in the rain

É verão por aqui, mas parece que entramos num círculo vicioso. Durante a semana, tempo firme. Chega o final de semana, um desastre. Para variar, o Weather Channel já informou que, neste domingo à noite, o tempo reabre.

Estou sempre de olho na previsão. Nesse canto da Europa, meteorologia não é moleza. Falar que vai chover é fácil, o duro é acertar a hora. Lá no meião da França, o clima era bem mais estável e as previsões pareciam mais confiáveis. O jeito foi comprar quatro guarda-chuvas: um fica em casa, um no carro, um no trabalho e outro sempre à mão.

Na última semana, encontrei um colega inglês, que atravessa o Canal com frequência para participar de reuniões por aqui. Ele diz que o tempo de Bruxelas nunca o surpreendeu. Sempre chega e encontra o mesmo tempo que fazia lá de onde veio. Bom, era o “incentivo” de que eu precisava.

Em pouco menos de um mês e em pleno verão, já inaugurei os quatro guarda-chuvas. Mas, isso não é grande coisa. O bom mesmo é acostumar-se a encarar a chuva sem eles. A gente entra no clima da cidade quando começa a dispensá-los.

I'm singing in the rain
Just singing in the rain
What a glorious feelin'
I'm happy again...


Foto: Fachadas de Bilbao.

Sunday, August 3, 2014

Vem pra caixa!

Passeando por supermercados belgas e franceses, notei o avanço dos vinhos embalados em caixas, substituindo as tradicionais garrafas. Há poucos anos, os vinhos desses cubos de papelão tinham um mercado muito restrito. Eram os vinhos mais acessíveis e, por isso mesmo, vistos com ressalvas pelos apreciadores da bebida. Isso tudo mudou.

Mesmo sem saber, você já pode ter tomado vinho de caixa de passagem pela Europa. O “vinho da casa” de muitos restaurantes costuma ser um desses, como constatei em várias ocasiões. A novidade é que cada vez mais rótulos mais qualificados adotam a embalagem.

O cubo de papelão é bom para todo mundo. É menos embalagem para mais vinho (3 a 5 litros), mais prático (não quebra) e, principalmente, conserva melhor. Adeus às rolhas! Adeus às bombinhas de vácuo! A vantagem prática e econômica para os consumidores e produtores derruba qualquer preconceito. Para os últimos, é uma questão de sobrevivência.

No mundo encantado do vinho, uns poucos e renomados “châteaux” têm mais demanda do que a sua capacidade de produção. Novos ricos do Brasil, China, Índia e Rússia juntam-se aos americanos e outros abastados para pressionar o mercado de vinhos nobres. Com a demanda largamente superior à oferta, os preços vão às alturas, enchendo os cofres dessas poucas vinícolas.

A realidade da imensa maioria de produtores de vinho é muito diferente. Ali na gôndola, a briga é por centavos de euros. Nos supermercados, centenas de rótulos ocupam a faixa de 5 a 10 euros, valor pouco superior a um suco de fruta “premium”. Não precisa fazer muita conta para perceber que a margem é mínima.

Produzir vinho pode parecer muito charmoso, mas dá tanto dinheiro quanto cultivar bananas. Por essas e outras, o vinho em caixa ainda vai chegar à sua casa.


Leia também: Réquiem ao Baco (o primeiro post deste blog)


Fotos: Acima, fecho a série de fotos do imponente Guggenheim de Bilbao. Abaixo, uma gôndola da seção de vinhos do Carrefour de Lyon, onde estive neste sábado.


Monday, July 28, 2014

Ursos

A queda do vôo AH 5017, com muitos franceses a bordo, tirou Gaza da primeira página do noticiário. Isso não foi suficiente para acalmar as diversas mobilizações de solidariedade à causa palestina e nem evitar que algumas delas acabassem em pancadaria.

A dinâmica das manifestações segue aquele velho modelo: um punhado de pessoas com uma causa, um monte de desocupados e uns arruaceiros. Tudo articulado pela extrema esquerda. Até os socialistas com algum bom senso (sim, eles existem) estão chocados com o desenrolar dos fatos. Afinal, os insultos e agressões à comunidade judaica francesa não são nada republicanos.

Apesar dos inúmeros conflitos tão ou mais letais do que Gaza, por que eles não despertam qualquer mobilização? Para alguns articulistas entre o centro e a direita, Israel representa um inimigo comum de uma geração de fracassados a procura de uma causa. Os comunas viram seu modelo sucumbir e os desempregados da periferia não conseguem se colocar na economia. Dentre eles, muitos descendentes de imigrantes, muçulmanos que perderam suas raízes.

Indo da França para o Brasil, não pude deixar de reparar nas notícias publicadas nas redes sociais e seus respectivos comentários. Seria muito bom se fossem comentários de verdade: tentativas de melhor compreender o conflito, perguntas aos estudiosos ou até mesmo sugestões para se resolver o conflito. Entretanto, há muita baixaria.

Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso quer a paz ou, pelo menos, uma trégua. Acho razoável e aceitável simpatizar com um dos lados, desde que o outro não seja ignorado. Expressar a opinião e argumentar é parte do jogo democrático. Entretanto, quando tantos opinam sobre um problema tão complexo, erros históricos, simplificações exageradas e arbitrariedades estão por todos os lados. “Faz parte!”

Acho lamentável o comportamento dos incontáveis “humanistas de última hora". São aqueles que estiveram quietos diante dos demais conflitos do Oriente, da questão da Ucrânia ou até mesmo da tragédia social brasileira. Hibernavam. Basta o conflito israelo-palestino entrar para o noticiário, que eles acordam esbravejando e expressando seu ódio. Não estou falando de muçulmanos nem de comunas. Esse sentimento tem nome e não é humanismo nem pacifismo.



Foto: Mais um detalhe do Guggenheim de Bilbao. A silhueta deste blogueiro é visível no reflexo ;-)

Monday, July 21, 2014

Mudança

Enquanto a Copa capturava nossas atenções, nossos partidos políticos confirmaram seus candidatos e fizeram alianças daquele velho jeitinho. Nada de discussões programáticas, apenas o velho toma-lá-dá-cá de olho no tempo na TV. No plano internacional, a crise da Ucrânia e os conflitos do Oriente Médio só pioraram. Enfim, seria melhor voltar para a Copa...

Nesse mesmo período, estava ocupado com minha mudança. Uma expatriação sempre dá trabalho. Certamente, vou compartilhar muitas coisas vividas aqui na Europa neste blog, assim como fiz anteriormente.

Moro na parte central de Bruxelas. Já conhecia o “caminho da roça”, mas ainda não a ponto de dispensar o Waze. Por via das dúvidas, estou com Waze em dois celulares com duas operadoras distintas, caso um falhe.

Mais uma vez, cheguei a Bruxelas sob céu azul. Baseado na fama da cidade, já estourei minha cota de tempo bom. Conferi com os locais e tirei mesmo a sorte grande: 2014 tem sido um ano excepcional.

Escrevendo este pequeno texto com um olho no computador e outro na TV, percebo que ainda estou ligado na TV francesa. Também continuo lendo os jornais franceses. Peço aos belgas, que leem meu post com a ajuda do Google, algumas dicas. Que não seja em flamengo, é claro.

A mudança em si não tem data para chegar. Da outra vez foi a mesma coisa. Se o pessoal das alfândegas brasileira e belga não fizer greve, ainda estou no lucro. O importante é que o wifi aqui de casa está funcionando desde o primeiro dia.



Foto: O Guggenheim de Bilbao merece mais de uma foto neste blog. Na foto, a sua entrada.

Thursday, July 17, 2014

Copa - Epílogo

A minha mudança para a Europa, um dia depois do final da Copa, foi programada há algum tempo. Imaginei uma chegada triunfal. Com a camisa da seleção, envolto numa bandeira ou com uma réplica da tão desejada taça. Bem, vocês podem imaginar que houve uma pequena mudança de planos. Pois é, felizmente, conheço a porta dos fundos lá do meu novo escritório em Bruxelas.

Estou com saudades daquelas provocações, que os franceses ainda fazem sobre os 3X0 de 1998. É uma brincadeira saudável. O silêncio é muito pior. As pessoas fazem uma volta tremenda para falar comigo sobre a Copa a fim de se evitar constrangimento. Isso sim é humilhante!

Até tive tempo para escrever mais um post sobre a Copa. Porém, assim como vocês, amarguei a derrota. Vocês já devem ter lido um monte de artigos sobre o trágico desempenho do Brasil. Acho que muitos exageraram nas conclusões. Nem um jogo nem um torneio “mata-mata” podem servir de base para as inúmeras teorias que surgiram por aí, que extrapolam o universo futebolístico. Vamos com calma!

Quero crer que a derrota acachapante da seleção traga alguns frutos. Talvez possa alavancar uma reforma na gestão do nosso futebol. Não precisamos voltar para o futebol-arte do Telê, mas precisamos sair do futebol-lixo do Felipão.

A derrota humilhante também afastou qualquer possibilidade de uso político do evento. A Copa fez muita gente acordar para a irresponsabilidade da gestão pública e a mentira do seu legado. O questionamento chegou tarde. Bem, antes tarde...

Por ironia do destino, a máfia dos ingressos, que passou incólume por outras Copas, foi desbaratada no Brasil. A FIFA sai arranhada da Copa. Embora a fórmula do torneio seja muito sólida, funcionaria até no Iraque, tudo que está a sua volta fede. Fede muito.



Foto: A atração turística número um de Bilbao, o Guggenheim. Não preciso dizer que o prédio em si - projetado por Frank Gehry - atrai mais gente do que o acervo do museu.

Monday, July 7, 2014

Xilindró


Desculpe-me por interrompê-los em plena Copa do Mundo para tratar de banalidades, mas não poderia deixar de falar de uma das personalidades mais citadas neste blog.

O ex-presidente francês, que está no xilindró, foi assunto deste blog por muito tempo. A minha expatriação na França coincidiu com a sua gestão. Enquanto vocês viviam os anos Lula, escrevia inúmeros posts sobre Sarkozy. O meu preferido é a segunda parte de "The Ugly, The Bad and The Worse". Recomendo a sua leitura para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade.

Como administrador, ele não foi tão ruim. Pelo contrário, tinha um programa bem adequado para modernizar o país. Pagou caro por ser arrogante e esnobe. Desafiando o bom senso, não fazia nenhum esforço para mostrar que gostava do seu povo. Tal comportamento passa em períodos de prosperidade, mas veio a crise de 2008 e a sua popularidade mergulhou fundo.

Como todo político que acaba punido, diz que é vítima de perseguição. Jura inocência e promete apelar para todas as instâncias possíveis. Se ele é perseguido ou não, tanto faz. Uma vez que as evidências de corrupção tenham sido encontradas, a sociedade deve mesmo puni-lo.

Enfim, Sarkozy foi competente como administrador, derrapou na ética e perdeu muita popularidade. Portanto, a diferença dele para a Dilma é basicamente a competência ;-)


Leia também: "The Ugly, The Bad and The Worse"


Foto: Ainda no País Basco, mudando de San Sebastian para Bilbao.

Sunday, July 6, 2014

Ainda sobre a Copa

A Copa é um espetáculo grandioso com partidas disputadíssimas e repletas de emoções. Entretanto, se havia um futebol alegre, gols em abundância e algumas surpresas, tudo isso ficou na primeira etapa.

Entre as oitavas e quartas, valeu a velha máxima “jogaram como nunca, perderam como sempre”. É mais ou menos o que disse no último post. Alemanha, Argentina, Brasil e Holanda eram barbadas. Se quiser apostar na Copa da Rússia, não tenha dúvidas, mantenha os três primeiros e troque a Holanda por outro país europeu.

O “mata-mata” trouxe um futebol burocrático e defensivo. O suspense é garantido, pois as partidas vão para prorrogação, quando não são decididas nos penalties. Podemos dizer que é outro futebol!

Estava preparado para fazer um post contra o “mata-mata”, mas fui traído pelos resultados desta Copa. Nenhuma zebra entre as quartas e oitavas. Os primeiros lugares de cada grupo foram os oito finalistas. Valeu o mérito. A FIFA venceu!

No entanto, se por alguma casualidade, a Holanda tivesse caído diante do México (como quase aconteceu) ou o Brasil diante do Chile (como quase aconteceu), ninguém poderia reclamar. Afinal, nesta Copa, ninguém está batendo um bolão.

A festejada Costa Rica saiu da Copa invicta. Melhor defesa, linha de impedimento impecável, só sofreu dois gols. Por outro lado, com exceção da vitória sobre o Uruguai, é um time que quase não fez gols. Enfim, se todos os times fossem a Costa Rica, o futebol estaria perdido.

Na fórmula da FIFA, o futebol é globalizado e pasteurizado. Dizer que nivelou por baixo talvez seja um exagero. Contudo, depois que o Brasil abriu mão do “futebol-arte”, qualquer equipe é dispensável. Usando a linguagem dos comentaristas, a Copa é “rifada” entre um grupo seleto de países e a FIFA é quem sempre ganha.

Torço para que a final da Copa seja Brasil X Argentina, como previram cerca de 180 milhões de comentaristas esportivos do Brasil. O futebol europeu já manda demais. Acho sempre bom lembrar que os talentos nascem deste lado do Atlântico.



Foto: Mais um pôr do sol em San Sebastian, País Basco.

Thursday, June 26, 2014

Profecias

Depois do último post, assisti a alguns jogos e acompanhei todos os resultados. Estou bem informado e tão bom de previsões como o Felipão, mas ainda muito longe da dona Maria, a faxineira.

Os próximos adversários do Brasil serão o Chile e o vencedor de Colômbia X Uruguai. O Felipão, cheio de assessores e respirando futebol o dia inteiro, havia previsto Holanda e Itália.  Errou feio. Assim como muita gente.

O emparelhamento do Brasil, Chile, Colômbia e Uruguai acaba com a “Copa América”. Dos quatro, sobrará apenas um semifinalista. Muito provavelmente, entre todos os semifinalistas teremos uma distribuição mais tradicional de europeus e latino-americanos.

Voltando ao Felipão, o sábio. Ele previu a final da Copa entre Brasil e Argentina, assim como toda a torcida do Flamengo e a dona Maria. A diferença é que a dona Maria nem olhou para a tabela da Copa para fazer sua profecia.

Copa do Mundo é assim mesmo, a gente sabe (mais ou menos) o final, mas não tem a menor ideia de como se vai chegar lá. E que vengam los Hermanos!



Foto: As esculturas de Eduardo Chillida ornam a orla de San Sebastian, mais especificamente ao final da praia de Ondarreta.

Friday, June 20, 2014

Eu e a Copa

Até agora, só pude ver o jogo de abertura da Copa. Depois disso, mais nada! Mesmo assim, eu e meus colegas continuamos acompanhando. Uma janelinha aberta com o placar do jogo, uma ligadinha na televisão no intervalo das reuniões, uma olhadela na TV de um bar indo para o jantar e assim por diante. Sempre tem um jeitinho de saber o que está acontecendo.

A essa altura do campeonato, os comentários sobre o Brasil e a organização do evento são raros. Meus colegas europeus surpreendem-se com o desempenho das equipes latino-americanas. Os franceses saíram da apatia habitual e começam a ver a competição com outros olhos depois da surra aplicada na Suíça nesta tarde. Os belgas estavam muito otimistas, mas depois da vitória suada sobre a Argélia, estão mais comedidos.  E, finalmente, todos nós festejamos a eliminação precoce da Espanha e da Inglaterra.

Enfim, vista de fora, a nossa Copa parece como todas as outras. Tudo padrão FIFA. A única anormalidade transmitida para o mundo foi aquela bagunça do jogo Espanha X Chile.  Nem sem direito o que aconteceu, tudo indica que foi exceção e não regra.

A Copa é o que passa na TV. Se a imprensa não falar de quantos estrangeiros foram assaltados ou perderam-se por aí, ninguém vai saber.  Nessas horas, um pouco de distância é ótimo. Afinal, vai saber o que pode ter acontecido na África do Sul!

Se o meu último post foi escrito no lounge da Air France, este está sendo redigido no da United. Estou voltando para ver dois jogos ao vivo, um em São Paulo e um no Rio. Agora sim, chegou a hora de ver a Copa de perto. Até breve!



Foto: Pôr do sol em San Sebastian, País Basco.

Wednesday, June 11, 2014

É amanhã!


Voltei! 

A minha série de viagens ainda vai até julho. Sem tréguas. Passo por Guarulhos todo fim de semana. Ou estou indo ou voltando. Até mesmo voltando e indo num mesmo fim de  semana!

Nessa longa ausência, pensei em escrever muita coisa do que vi na Europa e no Brasil. 

Quase escrevi um post sobre as eleições europeias. Vocês viram que a forte abstenção do eleitorado permitiu a eleição de mais representantes da extrema direita. O pior de tudo é que a imprensa dá muita atenção a eles. Eles falam barbaridades. Na lógica populista, estão no lucro. Lamento pelo espaço que recebem: “Falem mal, mas falem de mim”.

Quase escrevi um post sobre o atentado terrorista ocorrido em Bruxelas. O suspeito já foi detido. Como se não bastasse o baile que deu no serviço secreto francês, só agora o governo admitiu que suas prisões sejam academias de terrorismo islâmico. Eu e toda a torcida do PSG, do Lyon e do Marseille já sabíamos. Tem até filmes com essa temática. 

Quase escrevi sobre a Alstom. Nada a ver com as investigações em curso no Brasil. A empresa esteve no centro das atenções. Primeiro, foi a mega encomenda de trens do governo francês dividida entre Alstom e Bombardier. Trens novíssimos. Tão novos que nem passam pelas estações existentes! 

Depois, diante de uma tentativa de aquisição da Alstom pela americana GE, a classe política e empresarial gaulesa uniu-se para mantê-la sob controle nacional. Cá entre nós, a GE deveria agradecê-los!

Finalmente, a Copa, um assunto onipresente. Aqui na Europa, o envolvimento da população não chega ao mesmo patamar do Brasil, mas estão todos ligados. Já me convidaram até para participar de alguns bolões.

Ontem à noite, rodando pelos canais das TVs europeias, passei por três documentários sobre o Brasil e a sua Copa. Cheios de clichês sobre favelas, mas ainda assim muito interessantes. Apesar de mostrar algumas das mazelas brasileiras, a visão é mais otimista do que a nossa. 

Comentei sobre o ressentimento dos brasileiros contra a FIFA num post anterior. A imprensa mundial pegou o gancho dos protestos brasileiros para também atacar a entidade, com um histórico pouco invejável de denúncias de corrupção. A batalha da crítica internacional é outra, por transparência e governança. O que importa é que estão todos contra a FIFA e esta Copa deve balançar as coisas na Suíça.

Às vésperas do Mundial, lembro dos inúmeros artigos que apareceram na imprensa e blogosfera sobre o entusiasmo de parte da população com a Copa. Confesso que, em outras Copas, comecei com indiferença, mas acabei contagiado. Não tem como!

Cada um que torça ou não torça do seu jeito. Não faço a menor ideia do que vai acontecer nos próximos dias do ponto de vista esportivo, organizacional, institucional ou social. Que seja o melhor para o Brasil. Alea jacta est!



Foto: Entre as ruelas do centro velho de San Sebastian, o esplendor barroco.

Sunday, May 18, 2014

#bringbackourgirls

O sequestro das estudantes nigerianas causou grande comoção mundial. O grupo terrorista Boko Haram finalmente conseguiu a sua glória. Glória?! Como assim?

Para os bons observadores, os terroristas islâmicos do norte da Nigéria aparecem regularmente nos jornais: sequestros, assassinatos, igrejas incendiadas, etc. Tudo em doses homeopáticas, assim ninguém liga.

Nem o próprio governo da Nigéria liga. Diga-se de passagem, um governo muito mais corrupto e incompetente do que o nosso. Sim, isso é possível!

Provavelmente, se os terroristas tivessem sequestrado uma garota por dia durante um ano, não estaríamos falando sobre eles. Na nossa lógica ocidental, o Boko Haram cometeu um erro. Conseguiu nos unir contra eles. Serão caçados e exterminados mais uma vez. Mais uma vez, por que, segundo o governo da Nigéria, eles já haviam sido eliminados!

Atacar um grupo assim é muito complicado. Como outros fanáticos, veneram o martírio, fazendo da sua morte a maior das vitórias. Como disse um jornalista nigeriano, podemos matar seus homens, mas não suas ideias.

Os 15 minutos de fama do Boko Haram proporcionam muita exposição às suas ideias absurdas.  O que é absurdo para nós, cola muito bem em outras regiões miseráveis do planeta. Enfim, para nosso desespero, esse tipo de grupo terrorista parece sempre ganhar.

A miséria absoluta somada ao descaso do governo e à trágica história de rivalidades tribais da Nigéria forma uma mistura explosiva. A interpretação tortuosa do Corão é só a centelha. 


Foto: Enfim praia, em San Sebastian.

Sunday, May 11, 2014

¡Aupa Atleti!

Meu sobrinho pediu a camisa do Ibrahimovic, o craque do PSG. Então, durante a próxima viagem à França, passarei na loja do clube para presenteá-lo. Devo reconhecer que esse time árabe radicado em Paris tem subido de produção. Suas camisas conquistam espaço entre aquelas do Barcelona, Real Madrid, Bayern e Manchester.

Por incrível que pareça, os uniformes estrangeiros estão cada vez mais populares aqui no Brasil. Até a Globo rendeu-se à Champions League, transmitindo suas partidas decisivas ao vivo.

Depois do "equilibradíssimo" Campeonato Brasileiro de 2013 e do Paulistinha de 2014, vencido pelo Ituano, entre outros sinais da decadência dos grandes clubes nacionais, só nos resta apreciar os campeonatos europeus.

O Brasil é o maior celeiro de craques do mundo e pode ganhar a Copa que quiser, mas o futebol daqui vai muito mal. Vivemos em função de exportar jovens potenciais para a Europa. Tudo o que importa acontece por lá. Nossos campeonatos locais são marginais. De várzea mesmo!

Poderíamos ter evitado esse quadro colonial? Talvez, se os clubes fossem bem geridos. Não apenas um ou dois clubes, mas a maior parte deles. Entretanto, seus dirigentes preferem locupletar-se em tenebrosas transações deixando-os no caos.

A classe futebolística nacional foi brindada pela sociedade com os novos estádios. Quem sabe possa retribuir tamanha generosidade com gestões mais profissionais, competentes e éticas. Seria um primeiro passo.

O exemplo de esperança vem do próprio futebol europeu. Entre tantos times "imbatíveis" e milionários, o destaque da temporada foi o modesto Atlético de Madrid, a um passo do título da Champions e do Campeonato Espanhol. É uma mostra de que o dinheiro sozinho nem sempre resolve.

Este outro time de Madrid, assim como quase todos os times espanhóis, tem mais obstáculos fora do campo do que dentro dele. Lá na Espanha, tudo favorece o Barcelona e o Real Madrid, que abocanham sozinhos a maior parte da receita da TV e ainda dispõem de status diferenciado, que permite grande endividamento para comprar os melhores jogadores do mundo. E com os melhores jogadores, tudo fica mais fácil.

Enfim, antes de querer ser um Barcelona, os clubes brasileiros precisam inspirar-se no Atlético de Madrid.

¡Aupa Atleti !

Leia também:
Post sobre o caso Neymar (2014)
Post sobre a Champions League (2012)
Post sobre o campeonato brasileiro (2013)


Foto: A sede do governo municipal de San Sebastian, no País Basco (Espanha).

Sunday, April 27, 2014

Bode

Todos os problemas da nação são mais graves em ano de eleições. Entretanto, 2014 parece ser um ano especial. Vivemos uma estagnação econômica, a iminência do apagão, o risco de falta d’água e até uma epidemia de dengue, coisas que acontecem de tempos em tempos, mas não no mesmo ano.

A avalanche de denúncias de corrupção, propícia do clima pré-eleitoral, está indo mais longe do que o habitual. A nação está mais dividida do que nunca.

Diante de tantas evidências de um Brasil que não dá certo, o clima de revolta com a Copa do Mundo tende a piorar. Escrevi em janeiro que o tempo de protestar contra a Copa já passou. Quem quiser protestar contra a situação, que escolha um alvo mais adequado e, no mínimo, que vote melhor em outubro.

Nesse ambiente nada motivador, fico espantado com a parcela da população que escolheu a FIFA como grande vilã, causadora dos nossos males. A moda pegou.  Parece bobagem, mas não é. Trata-se de um problema recorrente, o bode expiatório. Esquece-se das seculares mazelas brasileiras e elege-se um culpado. Muito simples.

 A FIFA paga pelo sucesso com que gere o futebol, o esporte número um do mundo. Organiza campeonatos milionários e movimenta bilhões, fazendo inveja a qualquer outra organização mundial. No sistema do Futebol, a FIFA é tão vilã quanto nossos craques, times, televisões, federações e outras entidades. Um depende do outro.

O aspecto discutível é se o padrão imposto pela FIFA não obriga a um país pobre desviar gastos sociais para a organização do evento. A resposta da FIFA: “Foi o Brasil que pediu para realizar a Copa”.  Dá para discordar?  Cá entre nós, sem roubalheira e com um pouco mais de planejamento, a Copa não seria tão intragável.

O apito inicial está próximo. Fica a dúvida se a Copa entra ou não para o rol de tragédias de 2014, seja pelo sucesso do evento ou pelo desempenho da Seleção. A proximidade com a Páscoa sugere que só mesmo uma sequência de pragas de proporções bíblicas seja capaz de derrubar a nossa Faraó. Ou seria Faraôa?


Leiatambém: #NãoVaiTerCopa


Foto: O velho porto de San Sebastian ganha um colorido especial em dia de regata de pesqueiros.

Saturday, April 19, 2014

Tiradentes “for dummies”

É sabido que o personagem Tiradentes encontrava-se abandonado pela História até a sua adoção pelos fundadores da República. Na falta de heróis autênticos e diante de um golpe contra o Império sem o clamor das massas, criou-se um símbolo republicano. Até mesmo a semelhança com Jesus foi parte dessa manipulação.

Vale também lembrar que houve inúmeros movimentos contra a monarquia luso-brasileira, mais fortes e mais sanguinários, sendo que a Inconfidência Mineira não figura entre os mais importantes.

À época de Tiradentes, a maior parte da elite era composta de portugueses, que, nem por isso, simpatizava com o pagamento de tributos aos seus conterrâneos. Bem, para falar a verdade, ninguém queria saber de pagar impostos. Com a sonegação generalizada, os portugueses apertaram o cerco.

Quem sofreu com a vingança arrecadatória da metrópole (derrama) foi a própria elite, aqueles chamados “homens-bons”, brancos e ricos, que induziram os inconfidentes à rebelião. Talvez seja exagero dizer que Tiradentes tenha sido um boi de piranha, mas não está longe disso.  O personagem real foi tão manipulado quanto o mito.

Há muita coisa daquele Brasil remoto, que ainda é sentida nos dias de hoje: o povo abandonado à própria sorte, a arrecadação predatória, a elite egoísta e ninguém preocupado com a coisa pública. É por essas e outras que, mesmo após a Proclamação da República, somos regidos por dirigentes pouco republicanos.


Leia também: A ponte



Foto: A sala de concertos de San Sebastian ao entardecer.

Sunday, April 13, 2014

Aeroportos e outros nós

Bem que gostaria de escrever sobre assuntos mais amenos. Devido às nossas eleições gerais, os próximos meses continuarão muito quentes no Brasil. Só mesmo lá de fora, dá para se desligar um pouco de todos esses casos de corrupção e da política de baixíssimo nível.

Naquele final de semana, em que escrevi “Voando”, passei um tempão no aeroporto parisiense devido a um incidente aéreo. Além de ter escrito o post, antecipei as seguintes linhas:


A Air France completa 80 anos e o seu hub, o Aeroporto Charles de Gaulle (CDG), 40 anos. Não menciono tais fatos ao acaso. Nos últimos 28 anos, usei prioritariamente a companhia e a sua base. Exagerando-se um pouco, é a minha segunda casa.

O CDG não está entre os cinco primeiros do mundo em volume de passageiros. Perde em suntuosidade para os novíssimos congêneres asiáticos. É apenas um grande e bem administrado aeroporto, em expansão contínua nessas quatro décadas. Bravo!

Quem conhece o CDG percebe facilmente tal expansão. Os terminais têm estilos arquitetônicos totalmente diferentes, incorporando aquilo que foi o mais arrojado em cada década.

Os dois terminais mais recentes assemelham-se a shoppings envidraçados, uma tendência mundial, que parece ser a inspiração do tão esperado Terminal 3 de Guarulhos.

Os terminais mais antigos foram uma ousadia dos anos 70, ao encurtar a distância da porta do aeroporto ao avião. Ficaram para trás com o crescimento exponencial da aviação civil e serão reformados.

Em quase três décadas, testemunhei a inauguração de 6 terminais do CDG e o início de um ciclo de renovação. Este é justamente o ponto deste texto, o contraste com o aeroporto internacional de São Paulo, vergonhosamente parado no mesmo período.

Mas, é pior do que isso. Mesmo que houvesse uma chuva de dinheiro em GRU, as expansões seriam limitadíssimas. Seu terreno está completamente imerso na mancha urbana da capital. Nem a pista principal poderá ser reformada para receber um A-380.

Enquanto isso, o CDG tem terreno de sobra. Além da reforma dos terminais mais antigos, planeja-se mais um terminal e novas linhas férreas integrando o complexo. Existem planos até 2030, independentemente de quem ganhe as eleições. Seja de direita ou de esquerda, o plano de expansão é bom para o aeroporto, para a companhia aérea, para Paris e para a França.

Enfim, é um pequeno exemplo de uma grande diferença. Infraestrutura não se constrói em ciclos de quatro anos. A visão de futuro deve ser perseguida pela sociedade, seja quem estiver no poder. É um grande compromisso coletivo.

Por outro lado, é difícil priorizar-se a infraestrutura quando o povo não tem as suas necessidades básicas satisfeitas. Existem paliativos como a privatização ou a redução de gastos públicos, mas é preciso reconhecer que o Brasil tem um grande nó.  


Foto:  Uma das ruas estreitas do centro de San Sebastian (País Basco).

Saturday, April 5, 2014

IPEA & Cia

Foi por muito pouco que não escrevi um post sobre a famigerada pesquisa do IPEA durante a última semana. Até mesmo quando escrevia sobre a Petrobrás, pensava naquela pesquisa, que tanto repercutiu.

O relatório do IPEA sobre "Tolerância social à violência contra as mulheres" foi tomado como fidedigno e imparcial. Poucas entidades no Brasil mereceriam tamanha confiança. Se tivesse escrito um post, teria feito como todos os jornalistas, que dedicaram seu tempo à análise da pesquisa, tentaria compreender os resultados sem questioná-los.

Sob a premissa da retidão do relatório do IPEA, a última semana foi marcada por manifestações, artigos, declarações e reflexões sobre o povo brasileiro. Dessa forma, o erro e o pedido de desculpas do IPEA provocaram um grande constrangimento.

Sob os holofotes, a pesquisa está sendo desafiada. Questiona-se o método, a amostragem, a formulação das questões e, principalmente, as suas conclusões. Enfim, havia mesmo algo em comum com o post sobre a Petrobrás, uma desagradável mistura de incompetência e falta de ética.

Não podemos desprezar o grave problema brasileiro no campo da tolerância à violência contra as mulheres, mesmo sem estatísticas confiáveis. Entretanto, o ponto é que um dos nossos únicos institutos com alguma reputação, mostra-se falho e incompetente.

Governos, empresas e cidadãos precisam conhecer o país para planejar, agir e empreender programas econômicos e sociais. Não dá para se gerir um país de 200 milhões no "chutômetro" ou  no "feeling". Pesquisas e estatísticas confiáveis são essenciais para qualquer atividade organizada, sobretudo quando se trata de políticas públicas.

Devemos reconhecer que o brasileiro é um ilustre desconhecido. Não sabemos como ele vê a violência contra as mulheres. Também não sabemos o que ele pensa da Justiça, da corrupção, da criminalidade, da democracia, dos seus direitos e deveres, da religião, da sua Pátria, etc. Não sabemos quase nada!

Quero crer que o censo demográfico seja bem feito, mas o resto não merece credibilidade. Talvez seja por isso que a política esteja num nível tão ruim. Assim como a educação, a saúde e a ciência. Não duvido de que, num futuro próximo, tenhamos que recorrer a estrangeiros para entender o nosso próprio país.


Foto: Inaugurando a série de San Sebástian (País Basco), ainda das últimas férias de verão.

Saturday, March 29, 2014

Ouro negro

Enquanto estava fora, a discussão sobre a gestão da Petrobrás pegou fogo. Sempre é positivo que a realidade venha à tona, mas a reação geral é um pouco surpreendente. Explico melhor a seguir.

Um bom pedaço do rombo da Petrobrás está no nosso próprio bolso. É o controle de preços imposto pelo governo, que usa a empresa como seu braço. A tão amada Petrobrás ajuda a controlar inflação, fazer política industrial e até cultural. Pode ser legal, mas é imoral, sobretudo com os demais acionistas. Estes sim, são prejudicados e desrespeitados continuamente. São os grandes perdedores.

Com relação à corrupção, ora bolas, o governo petista mete as mãos em tudo o que é possível, por que deixaria a Petrobrás de fora? Roubar na saúde e na educação não é pior? Depois da Copa e das Olimpíadas, o que é uma mera refinaria?

Vejo certa incoerência daqueles que clamam: "roubem tudo menos a Petrobrás". Seriam  liberais de verdade? O verdadeiro liberal está entre aqueles que dizem: "vendam a Petrobrás!"

Os casos de corrupção e incompetência em voga são escandalosos. Não vou comentá-los individualmente por falta de informações. Tenho certeza de que existem muitos outros.

Se tudo isso for munição para a campanha eleitoral e vier para abalar a Dilma e sua corja, que seja bem vindo! Afinal, esse é o destino dos maus governantes e dos bandidos mais célebres: são punidos pelos motivos errados.


Foto: Na última foto de Amsterdam, o Nemo, o Museu de Ciências.

Saturday, March 22, 2014

Voando

Não! Este não é mais um texto sobre o sumiço do avião da Malásia.

Não pude acompanhar o trágico evento como gostaria. Na Europa, todos os holofotes estão sobre a Rússia. Nem por isso, fui poupado de ouvir as mais absurdas teorias sobre o destino do vôo MH370. Sem comentários.

Este post só está saindo por causa de outro incidente aéreo. Sobrevoava o Atlântico a caminho do Brasil, quando o piloto percebeu algo errado. Meia volta volver! De volta para o ponto de partida. Tudo bem, não foi a minha primeira vez e nem será a última.

A tripulação sabia que era muito provavelmente um alarme falso. Mesmo assim, seguindo as normas de segurança, passamos por um  daqueles pousos de emergência cinematográficos.

Passado o susto, o castigo é voltar para um hotel de aeroporto sem as malas e esperar pela liberação da aeronave. Disse para uma família brasileira: melhor assim do que no vôo MH370!

O castigo é relativo. Depois de duas semanas em hotéis centrais de Paris e Bruxelas, hotel de aeroporto chega a ser um alívio: quartos maiores e mais modernos, isolamento acústico e térmico, etc. Nas últimas duas semanas, vivi aquelas situações típicas das cidades do Velho Mundo:

1) Quartos pequenos - Entra você ou a mala!
2) Ar condicionado só funciona no verão -  Se esquentar um pouco mais no final do inverno, azar seu!
3) Banheiros europeus são planejados para os comedidos banhos europeus. Banho de brasileiro significa inundação total!

Depois de acabar esse texto, ainda terei um tempinho para trabalhar e assistir ao noticiário local. A coisa está quente por aqui. Amanhã tem eleições municipais na França e a questão russa inspira muita discussão.

Os debates na TV tem sido ótimos. Num deles, a conversa começou na Criméia, passou pelo Kosovo, entrou na Catalunha e terminou na Escócia. Mais ou menos como este post, que começou na Malásia, passou por Paris e Bruxelas, e termina na Rússia. Falando sério, é fácil entender por que essas questões de soberania e secessão assustam muita gente por aqui.


Foto: O Rijksmuseum de Amsterdam visto por trás, onde uma grande praça integra outros espaços culturais como o Museu Van Gogh.

Monday, March 17, 2014

Criméia

Estou em viagem, daí a dificuldade de escrever novos posts. Entretanto, daqui de Paris, não dá para ignorar a Criméia. Se você não sabia nada sobre a Criméia, não se envergonhe. Muita gente também não sabia!

Na França, tem que ser muito tapado para ignorá-la. Em Paris, há várias referências à região, palco de uma das guerras do século XIX: Boulevard de Sébastopol, Pont de l’Alma, Malakoff (comuna), Estação Criméia (metrô) e ainda a Avenue de Mac-Mahon, em homenagem ao comandante da campanha francesa.

Na Guerra da Criméia, o Império Russo foi derrotado pela França e seus aliados: Reino Unido, Império Otomano e Reino da Sardenha. Os militares consideram-na como a primeira guerra moderna. Ainda não havia aviões, mas a artilharia se tornou muito mais eficaz do que as armas brancas. Foi também a primeira guerra com extensa cobertura jornalística.

A transmissão das imagens da guerra direto do front causou impacto. Lamentavelmente, sabemos que a comoção não foi suficiente para se evitar novas guerras e a grande tragédia do começo do século passado.

Nesse aspecto, a Europa mudou. Ninguém mais quer morrer pela Criméia. Isso é ótimo! Por outro lado, temo que reajamos tardiamente diante de autocratas assassinos. E se a Rússia não se contentar apenas com a Criméia?

A história da Criméia, da Ucrânia e de vários países próximos é especialmente complicada. Desde os tempos mais remotos, a região ficou à margem dos grandes impérios, virando saco de pancadas de todos eles. Até o século passado, qualquer mudança de poder, assim como essa que presenciamos agora, era acompanhada de vingança, para não dizer limpeza étnica.

Ao longo da história tão turbulenta desses países da Europa Oriental, as maiores vítimas foram as suas minorias, sempre usadas como bodes expiatórios na briga de cachorros grandes: Judeus, tártaros, ciganos, armênios, etc.

Desejo melhor sorte a elas e os russos que se danem!


Leia também: É o amor!


Foto: A réplica do “Amsterdam” no Museu Marítimo. Trata-se de um cargueiro do século XVIII da Cia. Holandesa Das Índias Orientais.

Tuesday, February 25, 2014

Neymar

Demoraram, mas acordaram. A blogosfera e a imprensa finalmente perceberam que o caso  Neymar não é apenas um escândalo catalão. Aleluia!

Desde o primeiro dia, soube que fomos lesados. Nós?! Claro, não se rouba o governo, roubamos uns aos outros. Acho que não preciso explicar isso para o leitor deste blog.

A sonegação do craque deve ser da ordem de dezenas de milhões de reais. Muitos políticos já foram crucificados por muito menos. São dois pesos e duas medidas?

Se quisermos ser um país sério, a regra deve valer para todos: estrelas do esporte, astros da televisão e até os mais renomados profissionais liberais.

A verdade é que existe uma classe de celebridades, acima do bem e do mal, que sonega descaradamente. Relação trabalhista vira contrato empresarial, CPF vira CNPJ, salário vira royalty, o banco da esquina vira banco uruguaio, etc. Tudo na maior cara de pau!

O povão entendeu com muito custo a injustiça da Copa. Talvez não entenda o caso Neymar. De qualquer modo, quem carrega nas costas a maior parte da carga tributária não é o povão, somos nós. Sim, vamos pagar tudo o que o Neymar sonegou. E existem vários Neymars por aí.


Foto: Museu Marítimo de Amsterdam (ótimo programa) e a réplica do velho Amsterdam.

Saturday, February 22, 2014

Mercado

Geralmente associamos os cartéis às grandes corporações. O recente imbróglio ferroviário paulista é mostra disso. Entretanto, a manipulação do mercado, o cerceamento da concorrência e a imposição de barreiras de entrada são mais banais do que parecem.

Tomo dois exemplos recentes de coisas que estão mais perto da gente do que a contratação de trens, um caso francês e outro brasileiro.

Paris é conhecida pela falta de táxis. Se você não estiver a fim de usar o transporte público, vai depender da loteria que é achar um táxi livre pelas ruas da cidade. Quando achar, ainda existe a chance de que o motorista recuse a viagem. Ah, sim! Isso é muito comum por lá.

O preço do táxi francês é controlado, como em muitos lugares do mundo. O problema está na oferta. A união dos taxistas transformou aquilo num clube fechado. O número total de veículos permanece o mesmo há muito tempo. Um novo motorista só entra se um outro sair e ainda pagando um prêmio de 200 mil euros. Apesar das investidas do governo, a categoria resistiu e não deixou aumentar a frota.

A saída do governo foi criar o serviço de locação de carros de turismo com motorista. Parece complicado? Na prática, é quase a mesma coisa do que o bom e velho táxi. A diferença é que não existe a possibilidade de chamá-los sinalizando-se para o motorista, usa-se exclusivamente a Internet, algo que, por sinal, também tem se tornado comum entre os táxis. Vários serviços como Allocab e Snapcar começam a comer o mercado pelas bordas e transformar Paris numa cidade tão boa para os negócios como é para o turismo.

Já o governo brasileiro tem uma mentalidade diferente. Todos estão alarmados com o aumento dos custos de hotéis e restaurantes em algumas sedes da Copa. Nosso governo está aparelhando-se para o controle de preços ao invés de ter trabalhado para aumentar a oferta há alguns anos. Tarde demais para revogar a lei da oferta e da procura!

Vou ao Maracanã participar da grande festa. Tive que me contentar com um bate e volta de São Paulo. Achei absurdo pagar bem mais de mil reais por noite em hotéis de segunda.

O Rio é mesmo um caso à parte, mas não precisava ser o lugar mais caro do mundo. Mesmo sem Copa e sem Olimpíadas, a cidade já tinha diárias monegascas. Não é novidade para ninguém que existe um cartel de hotelaria na cidade.

Enfim, os grandes cartéis corporativos são manchetes de jornais e alvos de multas milionárias. Mas, no dia a dia, são os pequenos cartéis que nos esfolam.


“People of the same trade seldom meet together, even for merriment and diversion, but the conversation ends in a conspiracy against the public, or in some contrivance to raise prices.”
Adam Smith (A riqueza das nações, 1776)



Foto: Outro cantinho de Amsterdam, foto tirada nas minhas férias de 2013.

Thursday, February 20, 2014

Esquerda

O termo "esquerda caviar" surgiu na França para designar aqueles socialistas que não abrem mão de uma vida de muito conforto. Uma vez no poder, esquerdistas daqui e dali apegaram-se ao luxo. Entretanto, devemos reconhecer, que essa geração foi às ruas e combateu pelos seus ideais.

É o caso dos líderes do PT - presidiários ou não -  e dos franceses, que quebraram tudo em 1968. No poder, são um péssimo exemplo para os comunas de hoje. Esses sim são diferentes. E como!

Os comunas de hoje terceirizam a bagunça. Para horror de Trotski, contratam pobres coitados e não-tão-pobres-assim para representá-los nas praças públicas das nossas capitais. Pedra pra cá, porrada pra lá, bala de borracha pra cá, rojão pra lá. Marx não imaginaria tão vil exploração do proletariado.

Mas nem tudo é decepção no mundo da luta contra as classes opressoras. Os trabalhadores estão mais unidos e não se dão por vencidos. Fizeram até um "rebranding" da baderna através do Black Bloc.

Eu sou do tempo em que um coitado fazia uma manifestação apenas por um lanchinho. Uma vez, cruzei com uma passeata na Paulista. Parecia um bando de zumbis, que mal sabiam repetir aquilo que o homem do megafone esbravejava. Como disse o poeta: "Que tétricas figuras!"

A remuneração dos manifestantes subiu de zero para 150. Imagina na Copa!

Enfim, já não se fazem mais comunas como antigamente. Qualquer hora eu volto para avacalhar com a nova direita brasileira.



Foto: Um canto de tranquilidade no zôo de Amsterdam.

Sunday, February 16, 2014

Alçapão

Fico perplexo com algumas bobagens que circulam pela Internet. Artigos falsos ou imagens manipuladas passam por milhões e muitos desses são bem intencionados. Ainda pior, são meus amigos no Facebook!

Poucas dicas são suficientes para poupar qualquer um do constrangimento de espalhar notícias falsas. Por exemplo, se encontrar uma matéria dizendo que a Dilma quer revogar a Lei da Gravidade, não repasse de imediato. Desconfie! Se a matéria for atribuída ao Globo, vá ao site do mesmo e confira. Senão, use o Google e busque “Dilma Revogação Lei da Gravidade”.

Redistribuir informações diretamente das páginas de fontes consagradas oferece menos riscos. Evite aqueles blogs quase desconhecidos ou textos copiados e colados no Facebook. Mesmo com todos os cuidados, o risco de retransmissão de algo ruim sempre existe.

Recentemente, também fui vítima de um golpe jornalístico. Nos primeiros dias de Sochi, a NBC publicou um “scoop”. Sua matéria alertava que, chegando-se à sede dos Jogos, todo celular era instantaneamente "hackeado”. Retransmiti a matéria pelo Twitter. Eu e milhares de pessoas.

Achei a notícia interessante, pois serve de alerta para o potencial de bisbilhotagem possibilitado pela tecnologia, sobretudo quando está nas mãos de um governo muito mais bandido do que aquele que patrocina a NSA. 

Os smartphones realmente podem ser violados dessa forma. Já foi o tempo em que para ter seu celular invadido era necessário baixar um aplicativo podre ou clicar num endereço suspeito. Basta receber um torpedo camarada e PUFF, já era! Se você for escolhido como alvo dos hackers, a invasão pode vir pelo wifi, bluetooth ou pela porta dos fundos

Ficou preocupado? Ótimo, era isso mesmo que eu queria. Siga os conselhos do seu consultor de TI preferido e não transforme seu aparelho num repositório de intimidades. 

Voltando aos Jogos. Alguns jornalistas mais sérios perceberam os erros e a manipulação escancarada da NBC. Nas horas seguintes, todos desmentiam - e eu também - o alçapão digital de Sochi. 

Entretanto, não devemos nos iludir: 1) A Rússia monitora tudo o que se passa em Sochi de uma forma muito mais brutal do que a NSA. 2) Usando a velha máxima dos computadores, celular seguro é celular desligado.


Foto: Outra cena de Amsterdam.