Thursday, December 30, 2010

Translate the Fockers

Preparando um dos meus recentes posts sobre cinema, cruzei com o trailer do filme "Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família" ou "Little Fockers", segundo seu título original. Não sei se esse tipo de humor satisfaz o leitor deste blog, porém eu me diverti com as versões dos títulos da série estrelada por Ben Stiller em diversas línguas latinas, português do Brasil (BR) e Portugal (PT), francês (FR), italiano (IT) e espanhol (ES). Vejamos:

Meet the parents (2000)
BR: Entrando Numa Fria
PT: Um sogro do pior
FR: Mon beau-père et moi
IT: Ti presento i miei
ES: Los padres de ella

Meet the Fockers (2004)
BR: Entrando Numa Fria Maior Ainda
PT: Uns Compadres do Pior
FR: Mon beau-père, mes parents et moi
IT: Mi presenti i tuoi?
ES: Los padres de él

Little Fockers (2010)
BR: Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família
PT: Não Há Família Pior!
FR: Mon beau-père et nous
IT: Vi presento i nostri
ES: Ahora los padres son ellos

O melhor de tudo é a tradução do sobrenome Focker. Vejam o que eles têm usado por aí:

BR: Fornicas (às vezes com k) e Pinto
PT: Respeita-se o original Focker
FR: Furnicker na versão dublada e Focker na legendada
IT: Fotter
ES: Follen

Não escrevi este post tão sugestivo hoje pensando em f.... o seu reveillon. Pelo contrário, desejo a todos um ótimo e divertido 2011!


Foto: Para fechar a série do Château de Bussy-Rabutin, na Borgonha, uma tomada um pouco mais próxima da sua entrada.

Tuesday, December 28, 2010

Pavão misterioso, pássaro formoso

O governo Lula termina sem tomar a tão aguardada decisão relativa à compra dos novos caças. Corrigindo, os dois governos de Lula terminam sem a esperada decisão. Ainda melhor, Lula e FHC terminaram seus quatro mandatos sem nada decidir a respeito da renovação da nossa frota de caças.

Dentro do governo, pouco se desafia a necessidade desse lote de aviões. Se existir algum debate, ele é muitíssimo reservado. O xis da questão é mesmo a escolha do fornecedor. As opções francesa, americana e sueca estão na "short-list" há tempos.

Quais seriam as reais razões de tamanha demora? Por que Lula, um dos políticos mais prestigiados do planeta, hesitaria tanto? Algumas alternativas:

A) Um racha interno no governo, opondo um governo anti-americano e uma aeronáutica mais pragmática.

B) A percepção de desequilíbrio na relação cliente/fornecedor. Considerando-se o cenário mundial, as boas perspectivas brasileiras e as incertezas do primeiro mundo, o Brasil poderia obter condições muito mais vantajosas.

C) A pressão dos EUA, discreta e intensa, ameaçando com alguma espécie de retaliação muito temida pelo governo. Algo como: Avião francês, conselho de segurança sem vocês.

D) Por uma série de razões, conhecidas ou não, o governo sabe que se trata de um grande abacaxi. Portanto, nada melhor do que deixar a decisão para o sucessor.

E) Ou seria apenas uma questão de bola mesmo?


Provavelmente, nunca saberemos a resposta. Algum palpite diferente?



PS - O Lula tem três dias para fazer o autor deste blog queimar a sua língua.


Foto: A vista lateral do Château de Bussy-Rabutin lembra mais uma mansão rural do que um castelo.

Monday, December 27, 2010

Revista do cinema - S2/2010

Neste segundo semestre, entre tantas viagens, minha frequência ao cinema foi sacrificada. De qualquer forma, o melhor da temporada, "Des hommes et des dieux", já inspirou dois posts e dispensa novos comentários. Aproveito para lembrar que a produção franco-russa "O concerto", presente na minha seleção de 2009, está em cartaz nos cinemas paulistanos. O filme é uma das melhores opções do momento.

Além de "Des hommes et des dieux", dei a minha classificação máxima a "Inception" (No Brasil, "A origem"). Talvez tenha sido generoso, pois gosto muito da temática do filme. Não o considero como complexo, pelo contrário, ainda teria espaço para maior sofisticação, com evidente sacrifício de público. Gosto dos filmes abertos, com margem para diversas interpretações. Estava na França quando do seu lançamento, onde foi muito bem avaliado, o que é raríssimo para produções desse tipo.

Contrastando com a dramaticidade de "Des hommes et des dieux" e a imaginação de "Inception", cito duas produções mais modestas, porém bem dirigidas: "You Will Meet a Tall Dark Stranger", de Woody Allen, me decepcionou. Apesar dos bons atores, o enredo é bobo demais. "Tamara Drewe", de Stephen Frears, é muito mais eficaz em transformar uma idéia simples num ótimo filme, mesmo com um elenco quase que desconhecido. Fica a dica.


*** Des hommes et des dieux - FRA - Xavier Beauvois
*** Inception - USA/UK - Christopher Nolan

** The Social Network - USA - David Fincher
** Tamara Drewe - UK - Stephen Frears

* You Will Meet a Tall Dark Stranger - USA - Woody Allen
* Dinner for Schmucks - USA - Jay Roach
* Crime d'amour - FRA - Alain Corneau
* Eat Pray Love - USA - Ryan Murphy
* L'italien - FRA - Olivier Baroux
* L'autre monde - FRA - Gilles Marchand


Foto: Vista da entrada do Château de Bussy-Rabutin, na Borgonha. O castelo é originário do século XII, mas foi totalmente reformado a partir do século XV.

Friday, December 24, 2010

Cons & schmucks

E por falar em humor, volto à melhor comédia do cinema francês dos últimos anos, "Le dîner de cons", tema de um post de julho de 2009. À época, eu antecipava que Sasha Baron Cohen estava no time que adaptava o filme para Hollywood. De fato, Sasha produziu "Dinner for schmucks" e a estrela do filme é Steve Carell, no papel de idiota. O filme já estreou em quase todo mundo, menos no Brasil. Talvez, estejam dando mais tempo para o pessoal fazer download ilegal do mesmo.

Daquele post em diante, revi diversas vezes algumas das cenas mais hilárias do filme francês. Felizmente, também tive a oportunidade de assistir a peça original de Francis Veber no teatro da Bourse du Travail em Lyon. Esta sala é tão perto de onde morava que, no intervalo da peça, voltei para casa a fim de usar o meu próprio toilette.

A peça e o filme francês são muito próximos. O impagável Jacques Villeret protagonizou ambos e ficou eternizado como o melhor imbecil de todos os tempos. Coitado, morreu de desgosto. A comédia francesa prima pelos diálogos, pelo jogo de palavras e pela exploração da idiotice alheia com uma certa elegância.

Já a recente versão americana é tudo menos elegante. Algumas cenas de Steve Carell são realmente engraçadas, mas o filme é uma palhaçada com tipos muito exagerados. Na versão original, o famoso jantar dos idiotas é mencionado, mas fica na imaginação do espectador. A versão americana o coloca no clímax do filme, conforme mostra o clipe. A cena é grotesca.

Recomendo assistir ao DVD brasileiro "Jantar dos malas" (versão francesa legendada) e dispensar a adaptação americana, a ser lançada como "Um jantar para idiotas". Se estiver em Portugal, o encontrará como "Jantar de palermas". A única grosseria no filme francês é o título. Segundo os filólogos mais conceituados, "con" é muito mais ofensivo que "schmuck", palavra que ilustra uma contribuição do iídiche para a cultura norte-americana.


Foto: As fotos dos próximos posts, ainda são da Borgonha, um pouco mais ao norte, perto de Dijon. Começamos pelo belíssimo Château de Bussy-Rabutin.

Wednesday, December 22, 2010

Humor viaja?

A britânica Economist publicou uma nota sobre a boa fase do humor francês dos últimos anos. A revista não é de desperdiçar elogios, especialmente aqueles destinados ao povo do outro lado da Mancha. Não posso concordar nem discordar da revista. Pude sim, aproveitar, pois tive o privilégio de conhecer a boa fase.

Entre cinema, televisão, teatro e rádio, chamo atenção dos leitores brasileiros para a importância do último. Os grandes nomes do humor francês (Nicolas Canteloup, Florence Foresti, etc) obtêm audiência e prestígio no rádio, o que é bastante diferente do Brasil, onde a TV é dominante.

Endosso plenamente uma das explicações da Economist para essa revolução francesa da comédia: O escapismo. A crise gera a demanda por momentos de relaxamento. A incompetência em lidar com a crise gera a oferta de piadas. Sejamos justos, incompetência à direita e à esquerda.

Os ingleses ainda comentam que o humor francês nunca viajou bem. Eu pergunto se algum humor viaja bem? Não seria a presença dos comediantes franceses no exterior proporcional a decadente presença da cultura francesa?

O eixo anglo-saxão domina o mercado cultural internacional, por que possui uma avassaladora máquina de produção e exportação. No pacotão: A música, o cinema, a televisão e assim por diante. E o humor vai junto.

Tomando-se o cinema como exemplo, mesmo que os grandes clássicos do gênero tenham vindo dos EUA, italianos e franceses colocaram algumas boas comédias entre as melhores. Não acredito que haja uma relação com a origem, mas apenas com a qualidade da obra. Para minha surpresa, no ranking popular do IMDB, Amélie Poulain aparece como uma das melhores de todos os tempos.

No universo da televisão, o eixo anglo-saxão monopoliza a comédia através das onipresentes sitcoms, as vacas leiteiras dos canais pagos. Poderíamos concluir que nenhum outro humor viaja bem. Pensando com os meus botões, deixo algumas perguntas: Seria esse humor de tanto sucesso genuinamente americano ou inglês? Nós gostamos disso tudo ou faltam alternativas? Não seriam os produtos de sucesso - esses que viajam tão bem - a expressão mais simplista do humor universal?


Foto: A última foto de Autun, na Borgonha. Caminhando do teatro romano até o centro da cidade, encontrei a pracinha que proporcionou a tomada acima.

Sunday, December 12, 2010

Altruísmo

Entre as pérolas do Wikileaks, chama atenção a brilhante conclusão de um diplomata americano sobre a imensa investida chinesa na África. "A China não está na África por razões altruísticas", afirmou o gênio da política internacional. Será que eu e os caríssimos leitores deste blog teremos algum dia tamanha lucidez?

Talvez tudo não passe de um engano. O cara pode ser um tremendo gozador, ironizando os seus superiores da diplomacia americana. Como defende uma teoria conspiratória recente, o Wikileaks pode fazer parte de uma grande encenação.

Ainda resta-nos uma terceira hipótese. O tal diplomata não é nem gênio nem gozador, mas um simples burocrata contaminado pela arrogância que impregna qualquer superpotência econômica e militar. Simples assim: O imperialismo ocidental é bom. O oriental é ruim.


Foto: Ainda em Autun, a misteriosa pedra de Couhard, resto de uma pirâmide romana do primeiro século.

Saturday, December 4, 2010

Vazamento

Estava no Brasil, quando os documentos da diplomacia norte-americana foram publicados pelo Wikileaks. Chegando à França, fiquei impressionado com a cobertura local. O Le Monde, por exemplo, dedica três a quatro páginas diárias ao assunto, publicando e analisando diversos documentos. Infelizmente, não dá para ler tudo.

Bisbilhotices à parte, as tais revelações permitiram-nos descobrir que os diplomatas americanos pensam exatamente como nós mortais. Quanta racionalidade! Hillary Clinton e seus assessores passam por um momento delicado. A sua incapacidade de proteger tamanho lote de informações confidenciais é mais um vexame dos EUA. Porém, o constrangimento reservado às mais polêmicas figuras da cena internacional (Ahmadinejad, Kim Jon Il, Putin, etc) é bastante significativo.

O mar de obviedades, sem grandes ofensas ou indiscrições, decepciona um pouco. Nem por isso, deixa de representar uma nova página nas relações internacionais. As poucas verdades que vazaram poderão dar um empurrãozinho nas mais complexas encruzilhadas do planeta (Irã, Coréias, Afeganistão, etc). Uns pensam que poderá ajudar. Outros são pessimistas.

A maior polêmica fica em torno da diplomacia do futuro. Será que a chave é a transparência? Um mundo com menos segredos, menos acordos obscuros e sem o toma-lá-dá-cá internacional poderia ser melhor? Muita gente torce por isso. Há também os que temem o contrário, que o efeito Wikileaks provoque uma grande reação de proteção e censura.

Acredito que a repercussão do caso vá gerar uma grande onda de vazamentos. Vai virar moda. Não apenas na diplomacia, mas em inúmeros setores. No prelo, documentos sobre bancos, grandes corporações e até OVNIs. Opa! Se tiver um dossiê sobre o segredo de Roswell, eu pago pra ver.



Fotos: Praça central de Autun, em dois momentos diferentes: Bem antes e um pouco antes da chuva. No momento da chuva rápida, estava almoçando no restaurante sob o toldo amarelo.




Tuesday, November 30, 2010

Alésia

No verão de 2011, os visitantes da Borgonha terão mais uma atração. Trata-se do Museu e Parque de Alésia, que relembrará o confronto entre gauleses e romanos, liderados respectivamente por Vercingétorix e Júlio César, no ano de 52 AC.

A cidade de Alise-Sainte-Reine, sede do empreendimento, é um dos supostos locais da batalha. Na verdade, ninguém pode determiná-lo com precisão. Como destacou a matéria especial do jornal da TF1, há quem acredite que a batalha tenha sido travada em outra região francesa, precisamente, no departamento do Jura.

Estive muito próximo de Alise-Sainte-Reine, quando da minha visita a Flavigny-sur-Ozerain, em 2008, relatada no antigo fotolog, como cidade cenário do filme "Chocolat".

Enquanto Alésia não é recriada, visitei um outro Museu e Parque sobre a civilização galo-romana, localizado em Bibracte (foto). Para quem gosta de sítios arqueológicos, é programa para um dia inteiro. Bibracte também está na Borgonha, a uma hora da estação de TGV de Le Creusot (linha Paris-Lyon).

Bibracte foi uma grande cidade gaulesa, capital dos eduos, mas que perdeu força com a ascensão da Autun (Augustodunum, nome original romano), cujas imagens ilustraram os posts anteriores.

Se você é avesso aos hyperlinks deste post, pelo menos visite http://www.alesia.com/

Sunday, November 28, 2010

Integrar, entregar e intrigar

Fora do Brasil, a repercussão dos recentes acontecimentos do Rio é enorme. Como a maioria das pessoas restringe-se às manchetes e primeiras linhas dos artigos, fica a impressão de que o caos impera. Na Europa, pensam que a Copa e as Olimpíadas estão ameaçadas. Resta-me explicar que se trata do contrário. Finalmente, é a ordem que se impõe. Como os estrangeiros nos vêem como otimistas inveterados, o argumento gera uma certa desconfiança.

Algumas multinacionais apavoradas já estão impedindo as viagens dos seus executivos para o Rio. É verdade que tal embargo não é uma tragédia para o Brasil. Esse procedimento é praxe, acontece muitas vezes, ao sabor dos atentados. Eu mesmo já fui impedido de viajar para muitos lugares por causa dessas práticas de segurança.

Pelo que tenho lido na imprensa brasileira, o apoio à ação dos Governos do Rio e do Brasil é generalizado. Sabemos que a Copa e as Olimpíadas representarão um grande assalto ao erário público. Porém, se os dois eventos foram os motivadores da ocupação do nosso próprio território, valeu à pena.

O lema rondoniano da ditadura "integrar para não entregar" inspirou grandes obras para a ocupação da Amazônia. Enquanto desperdiçávamos bilhões no norte e nordeste, entregávamos lentamente pedaços das nossas mais caras metrópoles. Está na hora de retomá-los.


Foto: Em Autun, a porta de Santo-André, construída entre os séculos I e III.

Sunday, November 21, 2010

Retrocomissão

Agora que o escândalo Bettencourt está perdendo força, o atentado de Karachi volta à cena. Leiam o meu post "The Ugly, The Bad and The Worse - Parte II" para compreendê-lo. O processo tem sido lento, mas as famílias das vítimas estão cada vez mais próximas de uma resposta oficial do Governo.

Com essa notícia requentada, pelo menos pude aprender uma palavra essencial para os nossos dias: Retrocomissão. A palavra não existe na língua portuguesa, mas, em compensação, a prática é deveras conhecida. Digamos que é uma das formas mais elementares de corrupção e financiamento de campanhas. Exemplificando, imaginem uma transação comercial, onde o comprador de um produto ou serviço exige uma comissão do vendedor. O vendedor, ainda mais malandro do que o comprador, não só concorda em pagá-la, como paga a mais, solicitando que a diferença seja creditada numa conta secreta. Esta é a tal da retrocomissão.

Existem muitas variantes para receber a retrocomissão, envolvendo-se paraísos fiscais, ONGs, laranjas e, acredite se quiser, filhos e parentes próximos. (Ah, não diga!)

Esse velho novo escândalo de comissões e retrocomissões coloca em choque uma série de políticos da direita francesa (UMP), opondo, sobretudo, Sarkozy e os políticos que ele esmagou para galgar ao Eliseu. Nessa história, não tem santo, como sugere o meu post anterior. Em todo caso, o articulado e refinado Dominique de Villepin, outrora humilhado por Sarkô, terá sua pequena chance de vingança.


Foto: Os próximos posts são ilustrados com fotos recentes da parte norte da Borgonha. Acima, o teatro romano de Autun.

Saturday, November 20, 2010

Cadeirinha

Lamento pela longa ausência. Não posso dizer que estive embriagado com o lançamento do Beaujolais Nouveau 2010, pois estava em São Paulo, após tantos anos acompanhando a festa francesa em torno da bebida. Lembrando que a maioria dos franceses comemora o fato da bebida deixar o seu país ;-)

Entre idas e vindas, posso assegurar que estive em São Paulo no segundo turno das eleições, mas não no primeiro. Estive também quando o uso de cadeirinhas para as crianças se tornou compulsório na frota nacional, ou mais precisamente, quando da obrigatoriedade dos "sistemas de retenção para o transporte de crianças". Não dá para criticar iniciativas como essa. Qualquer melhoria de segurança é sempre bem recebida. Pena que os políticos que tomam este tipo de iniciativa, geralmente, estão pensando mais nos seus bolsos.

O lobby que une políticos e empresários em torno dessas oportunidades é evidente e igual em todo lugar. Na França, a cadeirinha não vingou, nem menos o saudoso kit de primeiros socorros. Em compensação, tive que comprar um belo colete amarelo de material bem reflexivo. Em caso de acidente e parada na estrada, o uso é obrigatório.

Deixando o mundo do automóvel, após ter visitado alguns amigos em Lyon, percebi que suas piscinas possuíam o mesmo tipo de cobertura, uma espécie de persiana que se enrola e desenrola sobre a superfície da piscina. Explicaram-me que há uma lei exigindo a tal cobertura, com o intuito de se minimizar o risco de afogamento de crianças. Os pais brasileiros certamente acham mais prático ficar de olho nas suas crianças.


Foto: Fecho as fotos de Viena (Áustria), com mais uma tomada do Belvedere.

Saturday, November 6, 2010

Bugre do chuchu ou chuchu do bugre?

O Le Monde publicou o artigo "Dilma, a búlgara" neste primeiro de novembro. Não tem nada de especial, é apenas um pouco a mais de informação para os franceses que se interessam pelo pleito brasileiro.

O melhor do artigo são os comentários. Pela primeira vez, vi o site do Monde virar uma sala de discussão de brasileiros francófonos (ou nem tanto). Os primeiros comentários referem-se ao peso da origem na sociedade brasileira, uma discussão interessante. Os últimos retratam a divisão da nossa sociedade em torno da futura Presidente e do seu mentor.

O genitivo búlgaro me leva a tecer outros comentários de natureza linguística. Na França, muitas vezes ouvi a expressão "bougre", com múltiplos significados: Um cara normal, um cara um pouco estranho, um estrangeiro e, até mesmo, um homossexual. Descobri que o "bugre" do nosso português - relativo aos indígenas - é originário da palavra francesa. E afinal de onde vem o "bugre" ou "bougre"? Vem do latim "bulgarus" - búlgaro em português - no sentido de herege, quando o cristianismo praticado na Europa ocidental e oriental divergiam.

Lembro de mais outra contribuição francesa à nossa cultura. Quem nunca ouviu as expressões "chuchuzinho", "chuchu beleza" ou "meu chuchu"? Com certeza, elas não têm nada a ver com o chuchu. A origem é a palavra francesa "chouchou", que significa: Queridinho, preferido ou favorito. É bem verdade que "chou" significa couve, mas não se sabe quando o vocábulo saiu da horta e entrou no coração das pessoas.

Enfim, na França, dá para falar que a Dilma é o chuchu do bugre, que não precisa de tradução. E a pronúncia é praticamente a mesma. Ou seria a bugre do chuchu?


Foto: Três tomadas da Ópera de Viena. Acima, uma vista lateral. Abaixo, a vista frontal. E, ainda abaixo, uma tomada do seu interior.


Sunday, October 31, 2010

Conversa de bonde

Há alguns meses, em Lyon, estava voltando de tramway do trabalho para casa. A distância não é grande, mas nos dias muito frios ou muito quentes, a climatização é sempre um conforto. Encontrei um outro executivo da empresa no mesmo vagão, um francês que já havia vivido no Brasil. Em menos de dez minutos de viagem, falamos sobre nossas missões e, também, sobre o Brasil e a França.

A nossa conversa privativa - em voz baixa - estava sendo discretamente observada. Na metade da curta viagem, um gaulês anônimo nos abordou. Se apresentou como francês desempregado e do "métier" (informática). Disse que compreendeu que eu era um expatriado brasileiro. Também percebeu que o meu colega tinha uma elevada posição hierárquica no grupo. Com a rudeza peculiar da Gália, ele nos questionou sobre o porquê da França "importar" um profissional como eu.

Sou do tipo que já fica incomodado com alguém prestando atenção na minha conversa. Porém, esta situação foi ímpar. O cara nos observou, entrou na conversa e ainda nos desafiou. Após uns instantes de choque, meu colega resolveu responder. Os franceses adoram um debate. A conversa parecia promissora, mas era o meu ponto. Desejei "bonne soirée" a ambos e fui. Um pouco surpreso com as circunstâncias, mas certo de que quem perdeu o bonde da história não foi eu.


Fotos: Fechando as fotos do magnífico castelo de Schönbrunn. Acima, a fonte. Abaixo, a vista a partir da Gloriette.

Wednesday, October 27, 2010

Envelhecendo

Na semana do meu aniversário, o post não poderia ser sobre outro assunto. O efeito mecânico do envelhecimento populacional é muito relevante para se compreender o que acontece no mundo. A parte mais óbvia é a onda de ajustes fiscais na Europa e a consequente resistência popular.

Enquanto lá, o efeito é cada vez mais perverso, no Brasil, estamos na fase boa da curva. Ou seja, aqui, o processo de envelhecimento é recente. Com a população relativamente estável, a pressão para se proporcionar mais escolas, casas e empregos diminui. O próprio FHC reconheceu tal impacto positivo quando deixou o cargo.

Com a bomba populacional desativada, poderemos melhorar a educação e reduzir o alto grau de favelização do nosso país. Se não fizermos nas duas próximas décadas, nunca mais o faremos. Alguns economistas dizem que, em trinta anos, o Brasil terá uma estrutura populacional como a Europa, onde o fardo das aposentadorias e despesas médicas é uma grande ameaça.

Mudando de continente, a sociedade que mais se transforma é, sem dúvidas, a chinesa. Lá, o envelhecimento foi acelerado pelo controle rigoroso da natalidade. Com a política de filho único, cada chinês trabalha para sustentar seus pais e seus quatro avós. Por enquanto, os chineses não se arriscam a gritar. Em compensação, mudam de emprego por qualquer aumento de salário. Enfim, talvez não seja uma questão de falta de lealdade, como atribuem preconceituosamente os europeus, mas uma simples questão de sobrevivência.


Fotos: Ainda no castelo de Schönbrunn, em Viena. Uma das estruturas mais elegantes do castelo é a Gloriette, destruída na Segunda Guerra e restaurada logo depois, em 1947. Acima, uma tomada próxima. Abaixo, a visão a partir do castelo.

Friday, October 22, 2010

É o amor!

Pense rápido e cite cinco filósofos brasileiros. Que tal três? Dois? Um? Se você não se lembrou de ninguém, não fique envergonhado. O Brasil não é a França, que festeja seus filósofos, como já havia comentado em 01/03/10. Também citei Bernard-Henri Lévy (BHL), o filósofo mais popular da atualidade, algumas vezes.

O assunto deste post é Luc Ferry, outra estrela da filosofia 'pop' francesa. Ao contrário de BHL, Luc joga no time do Sarkô, sendo um dos intelectuais mais prestigiados da direita. A novidade da semana é o lançamento do seu livro "A revolução do amor". Não lerei o livro, mas tive a oportunidade de assistir uma longa - e excelente - apresentação do autor, durante a cerimônia de aniversário da ADIRA, a associação dos dirigentes de informática de Rhône-Alpes (região que tem Lyon como capital). Pelo que eu pude pesquisar no Youtube, ele vem repetindo o discurso há algum tempo.

Luc Ferry é de um otimismo peculiar. Afirma que vivemos (os europeus) num momento muito especial da História, onde o amor do Homem pela própria vida bem como a vida dos seus entes queridos nos lança numa nova era de humanismo. Nem sempre foi assim.

Durante séculos, os casais formavam-se por inúmeros fatores, menos pela atração ou respeito mútuo. Os casais possuíam muitos filhos, nem sempre tão amados. A perda de um cavalo era um golpe mais duro do que a perda de um filho. O casamento por amor mudou tudo.

A partir do momento em que passamos a amar o cônjuge de verdade, também amamos os filhos e a família como um todo. Essa lenta transformação, colocando a família como peça central, muda a forma com que nos relacionamos com o Estado, a Religião e a Sociedade. Com a família mais sólida, passamos a procurar a justiça, a fraternidade e a verdade. O conceito de sagrado é outro.

Luc usa a acepção original de sagrado, ou seja, aquilo pelo qual estaríamos dispostos a nos sacrificar. Durante séculos, o sagrado foi reservado à Pátria, a Deus ou à Revolução. Hoje em dia, qual europeu está disposto a se sacrificar por tais abstrações? Felizmente, cada vez menos pessoas.


Fotos: Acima e abaixo, as duas tomadas laterais do magnífico castelo de Schönbrunn.

Tuesday, October 19, 2010

Bagunça

Não! Não queria escrever mais sobre as manifestações que acontecem na França, pois já está tudo nos posts anteriores. Mas, atendendo a pedidos, aí vai mais um texto.

Ninguém sabe como acabará este movimento contra a reforma do sistema de aposentadorias. A bagunça pode terminar amanhã ou se intensificar ainda mais. A tradicional queima de Renaults e Peugeots já começou. E não se trata de queima de estoques!

Vale relembrar que a reforma proposta pelo governo Sarkozy é correta e que o problema das aposentadorias é estrutural, associado à maior longevidade da nossa espécie. Outros países enfrentarão o mesmo problema, se quiserem sanear as suas contas. O governo tem maioria no Parlamento e fatalmente vai aprová-la.

O povo francês é bem mais politizado e culto que o brasileiro. Eles realmente acreditam no Estado provedor e querem continuar gozando dos benefícios conquistados ao longo das últimas décadas. Por outro lado, em 2007, elegeram Sarkô, que nunca escondeu a sua ambição reformista. Também elegeram uma maioria parlamentar liderada pela UMP, o principal partido de direita.

A manifestação é portanto fruto de muitos fatores: O descontentamento com a economia como um todo, com a deterioração do tão festejado padrão de vida francês, com a gestão de Sarkozy e, de uma forma bastante significativa, contra a personalidade do Presidente: Esnobe, arrogante e vaidoso.

A França ainda tem uma vantagem em relação ao Brasil. Lá, a capacidade de mobilização, organização de greves e protestos está sob comando da oposição. No Brasil, o governo tem tudo.


Foto: Uma das jóias de Viena, o majestoso castelo de Schönbrunn foi residência de verão dos Habsburgos. Hoje, é a maior atração turística da cidade e destaque do patrimônio mundial da UNESCO.

Sunday, October 17, 2010

Golpe baixo

Um dos piores golpes baixos das eleições brasileiras é fazê-la parecer uma luta de classes. Como se um candidato representasse os "ricos" e o outro, os "pobres".

Se isto fosse verdadeiro, o Brasil não estaria tão dividido. Não haveria uma diferença de apenas 8 pontos percentuais entre Dilma e Serra. Se todos os eleitores do Serra fossem ricos, o Brasil seria uma super-potência econômica, talvez maior do que a Alemanha.

Pode ser que os extremamente pobres sejam pró-Dilma e os muitíssimo ricos, pró-Serra. Mas entre essas duas classes existem dezenas de milhões de eleitores cujos votos estão associados a diversos outros fatores. Parece óbvio. Mas, infelizmente, a manipulação funciona.


Fotos: Em Viena, a praça Maria Teresa é sede de dois museus instalados em prédios simétricos, o de Belas Artes e o de História Natural. Acima, uma outra tomada da praça. Abaixo, no interior do Museu de História Natural, que abrigava uma mostra especial sobre Darwin. Lembrando que a foto é de maio de 2010.

Wednesday, October 13, 2010

Cascata

Pelo menos para mim, o estado de alerta com relação ao terrorismo causou mais impacto do que a greve geral em si. Sabendo da greve, as pessoas buscam alternativas. Meus colegas de Lyon foram de carro para a nossa convenção em Gerland, descartando o eficiente transporte público da cidade.

O que me fez atrasar e andar além do planejado não foi a greve. Foram alguns pequenos deslizes sobre as linhas férreas gaulesas. Uma simples sacola abandonada num vagão de trem ou metrô provoca um efeito cascata inigualável. Isola-se um vagão, uma composição, uma estação, o trem que se aproxima e assim por diante. Dependendo das circunstâncias, uma linha inteira. Nas duas últimas semanas, sofri alguns atrasos por causa desses cuidados.

Além do risco iminente de atentado dentro do território francês, ressalto o número crescente de franceses sob domínio de terroristas na África. A Al-Qaeda tem se espalhado facilmente pelo Magreb e pelo Sahel (Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, etc), áreas onde a França possui vários interesses.

O histórico do governo francês nesses casos é uma vergonha. Todas as operações especiais de resgate fracassaram. Vários franceses têm sido libertados após negociações que incluem somas vultosas e a libertação de terroristas perigosos. A maioria dessas transações envergonharam o Ocidente. Se eu fosse terrorista, procurava mesmo um alvo francês.


Foto: Museu de Belas Artes de Viena. No primeiro plano, a homenagem a Maria Teresa. Tanto a praça e o monumento levam o nome de uma das soberanas mais importante da casa dos Habsburgos.

Sunday, October 10, 2010

Para maiores

A Europa continua em alerta vermelho face às ameaças terroristas. França, Inglaterra e Alemanha estão no grau máximo vigilância. Considerando-se que os terroristas costumam preparar as suas ações por meses, deduzo que esperariam mais alguns dias, até que o nível de alerta baixasse. Não precisa ir muito longe, para se concluir que a vigilância permanente é a única saída. Pelo menos, a "mise-en-scène" é didática.

Semana que vem, temos mais uma greve geral por aqui. Estarei em Lyon, mas um pouco longe do centro. Meu ‘Plano B’ será levar um par de tênis. Uma hora de corrida é suficiente para se atravessar a cidade.

A cena hilária da semana foi o lapso da ex-ministra Rachida Dati. Num programa de televisão, ao invés de falar inflação, pronunciou felação. Talvez, ela tenha visto a charge publicada no semanário Charlie Hebdo, onde o pequeno Sarkô está bem encaixado entre as pernas e sob o manto de Bento XVI. Alguém diz ao Papa: ‘Não se preocupe, ele é maior’.

Sarkozy foi a Roma para agradar os católicos praticantes franceses, que representam menos de 15% da população. É muito pouco, mas o cara está desesperado.

Em matéria de religião, a imprensa francesa, fiel defensora da laicidade, não poupa ninguém. Voltando ao tema do post anterior, o editorial do Monde (capa de 8/10/10) comenta o impacto do assunto aborto no Brasil: “O Brasil, primeira nação católica do mundo, tem seus arcaísmos e tabus, que nós podemos, segundo o ponto de vista de cada um, aceitar ou criticar. O aborto faz parte deles. É lamentável que este grave problema da sociedade, ao invés de suscitar um verdadeiro debate, seja usado como máquina de guerra eleitoral”. O Monde está certo. Mas, a vontade de abortar a Dilma é tanta...


Foto: O Rathaus de Viena em dia de festa.

Tuesday, October 5, 2010

Primeiro turno


Comparando com o quadro desenhado há um mês, não podemos reclamar do resultado das eleições. Só o fato de ter um segundo turno já é fantástico. Fora do Brasil, fala-se muito na eleição presidencial, deixando-se muita coisa importante de lado. Afinal, ser governador não é tão ruim assim!

Nas semanas que antecederam as eleições, a imprensa francesa deu grande destaque às conquistas brasileiras dos Anos Lula. Revistas e programas especiais em todos os lugares. Normalmente, jogando confete. A biografia da Dilma ganhou notoriedade e a sua vitória no primeiro turno foi dada como certa.

A ascensão de Marina Silva também foi bastante festejada na Europa, onde os verdes detêm uma grande força política. Vale lembrar que um típico ecologista europeu certamente se chocaria com algumas das posições da candidata, sobretudo pela sua oposição ao aborto. Lamento dizer, mas ecologista evangélico e esquerdista católico são conceitos estranhos por aqui.

Finalmente, surgiram algumas notas esporádicas sobre o fenômeno Tiririca. Contundo, não li nada que fosse mais a fundo no nosso sistema eleitoral e explicasse o porquê dos palhaços puxadores de votos.

Com ou sem Tiriricas, a base governista no Congresso é enorme. Assustadora, talvez. E ainda teremos a temporada de compras de deputados, que vai engordá-la ainda mais. Se a Dilma ganhar, fará o que quiser. Se o Serra ganhar, será mais difícil. Não impossível. Pois quem se vende para o PT, também se vende para os tucanos.

Volto a São Paulo para o segundo turno.



Foto: Mais uma tomada do belíssimo Belvedere, em Viena.

Tuesday, September 28, 2010

Sarkoberlusconismo

Fiz um pit-stop no Brasil, mas não ficarei para as eleições. Mesmo antes da expatriação, costumava faltar. Para mim, começo de outubro sempre foi sinônimo de convenção mundial. Resta-me ir ao cartório eleitoral e pagar a multa. Prometo a vocês que estarei torcendo para que tenhamos um segundo turno nas eleições presidenciais. Aí, eu estarei de volta.

Mudando de assunto, indo do Brasil para a Europa, retomo um artigo muito bom do Estadão de domingo, que trata do populismo de Sarkozy e Berlusconi, líderes da guinada à direita do velho mundo. O artigo é uma entrevista do filósofo francês Pierre Musso concedida a Andrei Netto. Gostei da matéria, que nos ajuda a ligar muito dos fatos relatados neste blog. Eis alguns trechos:

“Sarkozy e Berlusconi tomam emprestado muito da linguagem da TV contemporânea. Como em um sitcom, nós seguimos as aventuras do herói político, suas relações com amigos e inimigos, com as mulheres, com os filhos.”

“A nova forma de fazer política se funda sob um modelo passional, emocional. Produzir eventos, sendo mestre da agenda da mídia, propondo temas – como os ciganos, a burca, a identidade nacional, o imposto sobre o sistema financeiro -, é mais importante que ter o controle da mídia.”

“O sarkoberlusconismo traz consigo uma espécie de cesarismo, no qual o tema segurança volta ao centro do debate público, para fazer do líder um salvador. Na neopolítica se governa pela fascinação e pelo medo.”

“A estratégia do sarkoberlusconismo é cavar um fosso usando símbolos. Na maior parte dos países do mundo, os fossos ideológicos, como o capitalismo e o socialismo, desapareceram. Novos fossos estão em construção em torno de valores e símbolos, por falta de sistemas políticos alternativos à esquerda, pela ausência de projetos políticos novos. Vivemos uma espécie de refeudalização, um retorno ao passado.”


O que é pior? Sarkoberlusconismo ou lulismo?



Foto: Em Viena, o belo palácio Belvedere (século XVIII), uma jóia do barroco. O destaque do seu museu é o inigualável acervo de obras de Gustav Klimt.

Sunday, September 26, 2010

Plantu

O cartunista do Le Monde passou pelo Brasil nos últimos dias. Jean Plantureux, mais conhecido como Plantu, tem alguns dos seus desenhos expostos no Sesc Vila Nova (SP) até 30 de outubro.

Tenho acompanhado a sua obra há alguns anos, afinal suas charges estão invariavelmente na capa do jornal. Se o seu foco principal é a política francesa, alguns temas são acessíveis aos brasileiros. Um deles é religião.

Plantu não poupa a sua ironia mesmo com assuntos que são considerados delicados a oeste do Atlântico. Cutucou Maomé com vara curta. Para surpresa geral, foi o desenho abaixo que despertou a maior polêmica da sua carreira, gerando milhares de protestos contra o Le Monde. A ira não era de franceses, mas de cristãos norte-americanos. Plantu foi ameaçado e dado como morto na Wikipedia.

Nota: O desenho foi feito depois da crise da reintegração dos bispos negacionistas ao Vaticano. Jesus distribui camisinhas na África. O bispo nega a existência da AIDS e o Papa...Coitado do Papa!


Foto: O Parlamento austríaco em Viena. O prédio em estilo clássico grego é no mínimo majestoso. A estátua a sua frente representa Palas Atena.

Saturday, September 25, 2010

Viena

Os próximos posts serão ilustrados com fotos da minha passagem por Viena em maio último. Não tive muita sorte com o tempo, o que me induziu a permanecer mais tempo dentro dos museus, castelos, teatros, restaurantes, etc. Chuva e vento forte fizeram com que três guarda-chuvas fossem inutilizados numa mesma manhã. Não desisti. Prossegui o passeio com um guarda-chuva danificado na mão esquerda (o quarto) e a máquina fotográfica na direita.

A suntuosidade dos edifícios deixados pela Casa dos Habsburgos, o patrimônio artístico, a programação cultural, a gastronomia (ah, as sobremesas!) fazem da cidade uma das melhores para se viver em todo o mundo. A capital austríaca é é realmente fantástica e tenho vontade de voltar. Antes, precisarei ficar dois a três quilos abaixo do meu peso.


Thursday, September 23, 2010

Pré-história

Basta ficar alguns dias fora do Brasil, que eu chego no meio de outro escândalo. E dos graves. Nada a ver com aqueles que quase imobilizam o governo francês. Fazendo uma analogia simplista: Na França, os escândalos de corrupção são eróticos. No Brasil, são pornográficos.

Esta quinta-feira foi dia de greve geral na França. Mais uma. Não perdi nada. Já no Brasil, vejo uma minoria cada vez mais indignada com a virtual vitória do PT, da Dilma e sua trupe. Não tive tempo de aprofundar a leitura sobre o esquemão da Casa Civil. Confesso que a minha expectativa com relação a Dilma não era muito grande.

Na semana passada, a imprensa pegou no pé do Sarkô. Ele deu uma de George Bush. Ao referir-se aos homens primitivos, que deixaram as célebres pinturas rupestres na caverna de Lascaux há 17 mil anos, chamou-os de Neandertais. Errou por alguns milhares de anos e, principalmente, por que os Neandertais não são homens. Os primeiros grupos de Homo sapiens sapiens que habitaram a região de Lascaux são conhecidos como homens de Cro-Magnon.

O papelão mesmo foi outro. A gruta está fechada há anos, pois a proliferação de fungos ameaça as pinturas, consideradas um patrimônio da humanidade. O acesso é extremamente controlado e as condições no interior de Lascaux são monitoradas por cientistas. No máximo oito pessoas de cada vez podem entrar na caverna e sempre com roupas especiais. Usando as suas prerrogativas presidenciais, Sarkô entrou com toda sua comitiva e foi o único que não usou a famigerada touquinha. Por essas e outras, mudaram o nome do Presidente para Sarkô-Magnon.

Em termos de escândalos políticos, a França está na pré-história.


Foto: Para fechar esta rodada de fotos na Provence, uma nova tomada do núcleo de Gordes, um pouco mais próxima que a anterior.

Saturday, September 18, 2010

Lapso

Nos vôos curtos que cruzam a França, a Air France oferce um serviço de bordo bastante modesto. Nada de refeições completas, apenas bebidas simples e um biscoito, salgado ou doce, a escolher. Na última sexta-feira, como previsto, a aeromoça dirigiu-se a mim e perguntou: "Sucré ou salé?"

Apesar de ter respondido à mesma pergunta dezenas de vezes, não é automático. Sempre penso alguns poucos segundos antes de pedir aquilo que mais quero no momento. E sempre pinta uma dúvida. Com respeito à Air France, talvez a escolha seja pelo biscoito menos ruim. Desta vez, diante das alternativas "sucré" ou "salé", respondi: Sacré!

A aeromoça não entendeu nada. Bloqueou por um instante. Antes que ela providenciasse uma hóstia ou matzá, eu corrigi a minha resposta. Ela prosseguiu seu trabalho e eu continuei rindo sozinho.

Para meu consolo, uma cena ainda mais estranha aconteceu diante da mesma aeromoça. Um cara (mais novo) colocava as suas duas malas no compartimento de bagagens. Como não havia muito espaço, colocou a primeira mala sobre quinta fileira de poltronas. Poucos segundos depois, colocou a segunda mala sobre a primeira fileira. Ao fechar o último bagageiro, fez uma cara apavorado e perguntou: "Onde deixei a outra mala?". A aeromoça estava atenta e indicou o bagageiro sobre a quinta fila. Como observador, fiquei impressionado com o lapso de memória em tão curto espaço de tempo.

Consolo ainda melhor foi a piada que um colega havia contado no dia anterior. Um cinquentão, preocupado com os pequenos lapsos de memória cotidianos vai ao médico. "Doutor, por várias vezes, esqueci de fechar o zíper depois de urinar". O médico respondeu: "Não se preocupe. O problema mesmo é quando você começar a esquecer de abrir o zíper antes de urinar".



Foto: Um close da Abadia de Sénanque. O símbolo da Provence não é mais o mesmo. O campo de lavanda anexo à mesma não existe mais. Ainda existe um grande campo bem próximo, mas não permite aquela foto de cartão postal tão famosa.

Monday, September 13, 2010

Sobre homens e deuses 2

O filme ‘Des hommes et des dieux’ deixa no ar a autoria do massacre de Tibhirine. Com elegância, entre o governo da Argélia e a milícia islâmica, não há heróis nem vilões. Infelizmente, as coisas nem sempre são tratadas desta maneira.

Não é preciso muito esforço para perceber que muitos dos grandes conflitos atuais da Humanidade têm uma das partes ligadas ao Islã: As guerras do Oriente, as insurreições africanas, as discussões européias sobre burcas e minaretes, o debate americano em torno da mesquita de Manhattan e assim por diante.

Diante de tantos fatos, qualquer desavisado pode cair na tentação de associá-los indevidamente. E, com certeza, muita gente usa essa forma de manipulação. Islamofobia pura.

No dia 5 de setembro, o Gustavo Chacra comentou em seu blog o livro ‘A World Without Islam’ de Graham Fuller. Recomendo a leitura do artigo. O livro mostra que, se por um capricho da história, o Islã não existisse, este mundo hipotético não seria muito diferente, sendo que os mesmos conflitos seriam travados entre outras religiões. Possivelmente, a rivalidade entre cristãos e muçulmanos poderia ser convertida num grande racha do mundo cristão, opondo os ortodoxos aos demais.

O livro é extremamente oportuno para os nossos dias. Ele reforça a velha máxima de que nunca existiu guerra de religiões. Os homens brigam por poder. A religião é a forma de manipulação preferida daqueles que o detém.

Fico por aqui. Meu exemplar de ‘A World Without Islam’ chega amanhã, se a Amazon.fr não falhar. Quem sabe, continuemos a conversa. Pessoalmente.


Foto: A última tomada de L'Isle-sur-la-Sorgue, na Provence. A cidade e suas praças espalham-se ao longo dos canais do Sorgue.

Friday, September 10, 2010

Sobre homens e deuses 1

O filme francês mais comentado do momento é ‘Des hommes et des dieux’, vencedor do Grand Prix do júri do último festival de Cannes, dirigido por Xavier Beauvois e estrelado por Lambert Wilson. Ele explora o assassinato de sete monges trapistas do Monastério de Tibhirine, ocorrido em 1996 na Argélia. Veja o clipe oficial e a ficha do IMDB.

Quem espera um filme sobre a vida monástica certamente vai se surpreender. Os religiosos, conscientes do risco oriundo da instabilidade crescente na Argélia, conversam muito entre si. O debate entre ficar e fugir é inteligente, belo e universal. Teria sido um ato de martírio? Bem, a resposta está no final do filme.

As imagens não ficam atrás. Embora tenha sido realizado no Marrocos, ele é ambientado numa área muito bela do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia), nas proximidades da cadeia de montanhas Atlas. Nada de deserto, no filme tem muita neve. Na minha opinião, a sua melhor cena é a última ceia, embalada ao som de Tchaikovski. Infelizmente, ela não está no Youtube, senão compartilharia com vocês.

Saindo do filme e voltando ao tema que o inspirou, lembro que esse crime terrível jamais foi esclarecido. Segundo a versão oficial, os monges foram assassinados por um grupo islâmico armado. Posteriormente, surgiram duas outras hipóteses: 1) Os monges teriam sido eliminados pelo próprio exército da Argélia 2) Pelo serviço secreto do país, com o intuito de se culpar e desmoralizar a milícia islâmica.

A investigação ainda está aberta. Talvez jamais conheçamos a verdade, porém, hoje, acredita-se muito mais na hipótese manipulatória. Não teria sido a primeira nem a última vez que a História fora distorcida.


Foto: Ainda em L'Isle-sur-la-Sorgue, na Provence. Na foto, o rio Sorgue (na prática, um de seus canais). Aspecto comum das minhas duas passagens pela cidade: Levei um tempão para achar um lugar para estacionar. Assim como muitas cidades francesas, não é impossível, mas não é automático.

Tuesday, September 7, 2010

Espiral

Depois de um mês no Brasil, minha permanência recorde desde o final de 2006, estou de volta à França. Sem muitas mudanças por aqui e, para variar, uma greve geral.

Nesta terça-feira, muitos colegas nem foram ao trabalho. Ficaram em casa, participando de reuniões por telefone e Internet. O Le Monde também não foi às casas dos seus assinantes, distribuiu a versão PDF gratuitamente.

Muito se comenta sobre o trabalho dos pesquisadores franceses, que explicaram a trajetória da bola do famoso gol do Roberto Carlos contra a França em 2007. Não deixe de ver o vídeo. Se quiser, veja também o artigo ‘The spinning ball spiral’ do New Journal of Physics.

Na França, os amantes do futebol costumam se lembrar dos jogos contra o Brasil, especialmente aquele de 12/07/98. Um ano antes, num amistoso entre os dois países que terminou empatado, houve um momento histórico, através da cobrança de falta do nosso lateral.

O cronista do Le Monde, Franck Nouchi, fez uma analogia da incrível trajetória da bola com a política. Mais precisamente, com a decadente curva de popularidade de Sarkozy, contrastando com a possível ascensão do ainda indefinido Dominique Strauss-Kahn (PS), potencial candidato da esquerda. Diz ele: “DSK teria todo interesse em observar o gol do Roberto Carlos. Ele verá que podemos contornar uma barreira, engatando uma boa corrida de aproximação e batendo na bola com a parte exterior do pé esquerdo”. Digamos que seja uma metáfora futebolística um pouco melhor do que aquelas do nosso Presidente.


Foto: Outra tomada de L'Isle-sur-la-Sorgue, em dia de feira livre e de artesanato. A cidade é repleta de antiquários. Aos domingos, a feira domina a cidade, que atrai milhares de turistas e habitantes das cidades vizinhas.

Wednesday, September 1, 2010

A profecia

Na passagem pelo Brasil, pude conferir a campanha eleitoral. Mesmo fazendo força para evitá-lo, assisti até mesmo ao horário eleitoral gratuito na TV. Os meus comentários e apelos seriam desnecessários, pois os leitores deste blog não são uma boa amostra da população brasileira. Que pena! Se pudesse ao menos tirar um voto da Dilma, escreveria muito mais.

A eleição da nossa primeira presidente não surpreende. Fico mais assustado com a maioria esmagadora que a base governista fará no Senado e, provavelmente, na Câmara. Não sei se a Dilma tem intenção de fazer algo diferente, além de continuar o que Lula começou, mas ela não encontrará qualquer resistência do Legislativo. Que a nossa república democrática sobreviva!

Meus leitores também devem estar boquiabertos com o nível de algumas candidaturas, cristalizadas na figura do Tiririca. Possivelmente, receberá uma votação expressiva, podendo eleger consigo alguns deputados. O problema desse tipo de candidatura é que o seu efeito é o contrário do desejado. Acaba-se engordando a base governista, como aconteceu com o fenômeno Enéas de anos atrás.

A oposição brasileira está em frangalhos. Ou, talvez, tucanalhos. Pior do que a francesa. Na França, o PS sofre pela falta de um líder, mas possui um ideário bem definido e uma grande base eleitoral. Aqui, com raras exceções, o PSDB é motivo de chacota, o João Bobo do PT. Se continuar assim, a profecia dos 20 anos de PT no poder vai se realizar com facilidade.


Foto: A charmosa L'Isle-sur-la-Sorgue na Provence. Cidade de canais, antiquários e restaurantes.

Saturday, August 28, 2010

Todos querem a lavanda


Sempre me perguntam sobre os campos de lavanda da Provence. Em 2008, publiquei duas fotos no antigo fotoblog do Terra (post #500 e #494). Meses mais tarde, imprimi fotos dos campos e as coloquei nos meus álbuns de fotografias. Certamente, estão entre as fotos preferidas dos leitores. Há quem prefira os campos de girassóis, porém esses são bem mais comuns.

Para quem quiser conhecer os campos de lavanda, indico, além da Provence, as regiões da Ardèche e Drôme. A época é muito bem definida: Meados de junho até o começo de agosto. Em 2007, cheguei ao campo mais famoso da França no dia 16/8, sendo que a última data de corte da lavanda é 15/8. Por isso, voltei em 2008, 2009 e 2010!

Depois de algumas passagens pela Provence, em julho último, fiz um bate e volta até três lugares muito especiais: L'Isle-sur-la-Sorgue, Gordes e a Abadia de Sénanque. Passar um domingão por lá é privilégio de quem mora em Lyon. Usei o TGV para encurtar a viagem. Fiz Lyon-Avignon de trem e o resto de carro.

As fotos desta jornada Provence-bis ilustrarão os próximos posts.


Foto: Começo com a vista do núcleo de Gordes a partir da estrada. Na minha primeira visita à cidade, uma foto como essa exigiria uma certa ginástica. Três anos depois, alargaram o trecho que dá acesso a cidade, permitindo que estacionemos o veículo e nos deslumbremos com o cenário. De fato, em 2007, a minha tomada da cidade não foi muito feliz.

Sunday, August 22, 2010

Boulangerie

A panificação francesa já recebeu um post neste blog. Escrevi que a venda de sanduíches de baguete supera o Mc Donalds local. Além do sanduíche da hora do almoço, tem aquela baguete para ser compartilhada pela família na hora do jantar.

A tradição de se levar a baguete para casa após o trabalho ainda está muito viva. Tem aqueles que fazem questão de colocá-la encaixada entre os braços. Tem outros que preferem carregá-la na pasta ou bolsa. Com o pão à altura da boca, muitos não resistem e começam a mordiscá-la ainda na rua ou no metrô.

Curiosidades à parte, a "boulangerie" é uma das marcas registradas da França. Eu e meus colegas brasileiros adoramos brioches, baguetes, croissants, etc. Com certeza, é parte da explicação do meu sobrepeso, adquirido nos últimos anos.

E por falar em boulangerie, o telejornal da TF1 - equivalente ao Jornal Nacional - fez uma matéria sobre o sucesso do empreendimento de Olivier Anquier no Brasil. Segundo eles, tão popular quanto o samba (!).


Foto: Templo de Augusto e Lívia (20-10 AC) em Vienne, no Departamento de Isère. A cidade é famosa pelo seu festival de Jazz anual, que se realiza no teatro romano.

Thursday, August 19, 2010

Deportados

Eu sei que muitos leitores deste blog estão surpresos com a provável eleição da Dilma, ainda no primeiro turno. Eu apostei neste cenário no começo do ano, quando ela ainda encostava no Serra. Divergências à parte, respeitemos as urnas. Estou muito mais incomodado com os últimos acontecimentos da França.

Refiro-me à deportação em massa dos ciganos radicados na França. A polícia começou a desmantelar seus acampamentos e embarcá-los para Romênia e Bulgária. Tudo com uma delicadeza do tipo Gestapo. Nesse assunto, confesso que errei. Não escrevi antes, pois achei que a ação seria interrompida. Acreditei que fosse apenas uma encenação macabra do sarcástico presidente. Como metade da população francesa aprova a medida, Sarkô - movido à urna - não teve dúvidas. Vai amealhar votos da extrema direita e ainda abafar as notícias ruins sobre a economia e os escândalos de corrupção.

A França foi o país que exportou os ideais de democracia e igualdade para o Ocidente. Ela jogou tudo no lixo durante a Segunda Guerra, ao deportar os judeus para a Alemanha. Depois de algumas poucas décadas e muitas promessas de que isso jamais se repetiria, lá estão eles dizendo que existem franceses mais franceses do que os outros, deportando os ciganos sem piedade. Dois comentários: 1) Hoje, não existe nenhum Hitler ameaçando Sarkô; 2) A Europa unificada derrubou as fronteiras entre os seus países membros e os ciganos já estão por lá há séculos.

Muita gente está indignada na França e na Europa. Há inúmeras pessoas e ONGs salvando ciganos. Sarkô, que se declara um bom católico, possui vários vínculos familiares com a comunidade judaica. Poderia ter mais noção do que está fazendo. Que todas as minorias fiquem alertas.


Foto: Visitando os Châteaux de Isère, não pude deixar de passar mais uma vez em Vienne, uma das primeiras cidades que conheci na França. Acima, o seu Hôtel de Ville.

Tuesday, August 17, 2010

Guerra 2.0

Obama quer chamar seus homens de volta. A notícia é boa. Principalmente, para Bin Laden e seus asseclas.

Depois dos bilhões gastos no Iraque e no Afeganistão, a situação ainda está muito longe da ideal. Pior ainda, o embate contra milícias islâmicas, espalha-se pelo Iêmen, Somália e, muito provavelmente, por vários países africanos. A África, ícone da nossa indiferença face à desgraça alheia, é um terreno ainda mais fértil para a proliferação desta grande guerra de guerrilhas do século XXI.

Uma coisa está clara: As guerras convencionais estão descartadas. Poucos estadistas ocidentais têm respaldo para tal, inclusive Obama. Daqui para frente, os meios serão mais sofisticados: Aviões não pilotados, patrulhas de elite e muitas ações de inteligência.

A preferência por esse tipo de atuação parece ser majoritária no Ocidente. Acho que deveríamos ter começado assim há muito tempo. Agora é um pouco tarde. A nova estratégia tem suas limitações:

1) A ação inteligente pode ser mais eficiente, porém não suficiente. Impossível cobrir todo o território onde prolifera a jihad, da Ásia à África.

2) Rambo só existe no cinema. Pequenos contingentes são vulneráveis, podem ser cercados ou emboscados. Os inimigos estão prontos para morrer pela causa.

3) 007 também só existe no cinema. Acreditem se quiser, o Paquistão - que joga descaradamente dos dois lados - é um dos países mais "confiáveis". Imaginem os demais.

Enfim, estancaremos as hemorragias dos dois lados, mas continuaremos a sangrar. Vamos empurrar o problema com a barriga até que, um dia, possamos combater as causas da doença e não os seus sintomas.


Foto: Outro castelo do Departamento de Isère, o Château de Longpra. A aparência atual vem da última reforma no século XVIII. O castelo pertence à família Franclieu desde 1536.

Saturday, August 14, 2010

Atalhos

Depois de três anos e meio, voltei a dirigir em São Paulo. Nas minhas passagens anteriores pela capital paulista, usava táxi e dirigia muito pouco. Desta vez, foi diferente. Repeti o meu velho caminho de Higienópolis ao Centro Empresarial por duas semanas seguidas.

Como fazia antes da expatriação, escolho um caminho diferente todo dia. São Paulo fica menos monótona, pois cada dia eu encontro um gargalo diferente. Todas as quebradas e atalhos que usava até 2006 ainda estão por aí. Por dentro de Pinheiros, por dentro dos Jardins, do Itaim, do Campo Belo, do Morumbi, de Santo Amaro e assim por diante. A diferença é que mais alguns milhares de motoristas também estão usando os mesmos atalhos. Sem saída!

Nesse segundo semestre, passarei metade do tempo em São Paulo e metade na França. Poderei me recuperar.


Foto: O Château de Roussillon não tem nada de impressionante, mas a sua visita é interessante. O édito de Roussillon (1564), anunciado na passagem do Rei Charles IX pelo Château, instituiu o início do ano no dia primeiro de janeiro. Parece bobagem, mas não era evidente à época, quando as festividades variavam de dezembro a abril. Uma possível origem das piadas de primeiro de abril provém da associação da data ao ano novo em muitas partes do Ocidente. Trecho do édito em francês da época: " l'année commence doresénavant et soit comptée du premier jour de ce moys de janvier".

Tuesday, August 10, 2010

Ramadã

Amanhã, começa o Ramadã. Nos últimos anos, conheci inúmeros muçulmanos, entre eles, vários colegas de trabalho. A grande maioria da comunidade islâmica francesa está muito bem integrada aos padrões republicanos e laicos do país. Nem por isso, deixam de lado as suas tradições. 70% dos 5 milhões de muçulmanos franceses respeitam as regras religiosas impostas nesse período. Trata-se apenas de uma tradição, assim como cristãos e judeus têm as suas.

Entretanto, Ramadã em agosto, em pleno verão europeu, é um desafio à parte. Dá para ficar sem beber água o dia inteiro com o termômetro beirando os quarenta graus?

Não sei. De qualquer forma, em 1940, dois músicos brasileiros (Haroldo Lobo-Nássara) já diziam:
 
Alá-la-ô ô ô,
mas que calor ô ô.
Atravessando o deserto do Saara,
o sol estava quente
e queimou a nossa cara,
Alá-la-ô ô ô.

Viemos do Egito
e muitas vezes nós tivemos que rezar:
Alá, Alá Alá,
Meu bom Alá,
mande água para ioiô,
mande água para iaiá,
Alá, meu bom Alá...


Foto: Mais uma tomada do Château de Septème, em Isère.

Sunday, August 8, 2010

Camping


Comenta-se muito sobre o sucesso dos campings na França. Com o orçamento apertado, as famílias francesas buscam programas alternativos e deixam os seus estabelecimentos mais sofisticados para os endinheirados turistas estrangeiros. Além disso, os pacotes para as ex-colônias francesas são muito interesantes. Uma semana nas exóticas Ilhas Reunião sai bem mais em conta que uma passagem pela Côte d'Azur. Uma semana num Club Med tunisiano cabe no bolso de qualquer um.

O cinema e a mídia tem ajudado a amenizar o estigma do camping como alternativa turística muito popular (como se diz no Brasil, coisa de farofeiro). O filme "Camping", sucesso local de 2006, projetou o carismático comediante Franck Dubosc. Desde então, uma série de programas exploram a temática, sempre em torno do espírito de camaradagem entre aqueles dividem as suas férias num camping.

Fenômeno mais recente é a multiplicação dos campings '4 estrelas'. Nada de barracas ou trailers, mas longe dos serviços de um bom hotel. Com uma melhor infraestrutura e muito mais atividades de lazer, a classe média entrou de cabeça.



Fotos: Iniciando uma série de fotos oriundas dos meus passeios dominicais da última primavera, eis o Château de Septème, no Departamento de Isère. O castelo atual data do século XVI e está em ótimo estado de conservação. Trata-se de uma propriedade privada da família de Kergolay. O primeiro castelo do local é do século X. O nome Septème vem de Roma, pois o local era a sétima marca na ligação Milão-Vienne.



Friday, August 6, 2010

Gargalo

Assim como São Paulo, Lyon não concluiu seu rodoanel. Entretanto, há uma grande diferença entre a cidade francesa e a brasileira: O tamanho da frota. São Paulo tem mais veículos parados diariamente no rodízio do que aqueles que circulam em Lyon.

O maior problema do gargalo rodoviário gaulês fica para os parisienses, obrigados a passar por dentro de Lyon (Túnel da Fouvière), quando deslocam-se para a costa mediterrânea. Para o prefeito socialista de Lyon, esse não é um grande problema.

Um fato recente ilustra a gestão dos transportes na cidade. Nas próximas semanas, começa a circular o tramway que ligará o centro da cidade (Part-Dieu) ao seu aeroporto (Saint-Exupéry) em pouco menos de meia hora. A cidade não perdeu tempo. Mesmo antes de inaugurá-lo, impôs obstáculos aos motoristas. Uma avenida vital na ligação com o aeroporto perdeu faixas e um viaduto está sendo destruído. O caminho do bonde, uma nova ciclovia e uma calçada mais larga são prioritários. Os motoristas que se virem.

A abordagem de Lyon é correta. Antes de se pensar na punição aos condutores de automóveis, oferece-se alternativas.


Foto: Fechando a série de fotos da Alsácia, mais uma foto da área central de Colmar.

Thursday, July 29, 2010

Adiós los toros


A Catalúnia já possui tantas glórias esportivas, que pode abrir mão das touradas. Vocês viram que a votação no parlamento catalão foi apertada. A briga é antiga, mas a tradição também.

Muitas cidades francesas e espanholas têm as touradas como pilar da vida cultural e turística. Mesmo que a opinião pública européia seja majoritariamente contrária à prática, as lideranças locais conseguem preservá-la. "Panem et circenses".

A TV francesa entrevistou alguns habitantes de Nîmes, tradicional pólo de "corridas" do sul do país. Um deles resumiu: "Sem as touradas, não somos nada". Este era o espírito da maioria das respostas. Não seria exagero comparar Nîmes sem touradas com o Rio sem as Escolas de Samba.

Os políticos da França estão divididos. Uns não sabem o que fazer para segurar a onda protetora dos animais. Outros, na melhor das hipóteses, serão seguidores. Parabéns à Catalúnia! Parabéns à Espanha por esse seu "vizinho" tão brilhante. Olé!


Foto: Mais duas fotos da Petite Venise de Colmar, Alsácia.

Friday, July 23, 2010

Hamburger da vovó

Quando fui expatriado, tive direito a um prêmio devido a diferença de custo de vida entre o Brasil e a França. A cada ano que passa, o prêmio diminui. Do jeito que as coisas vão, eu e todos os expatriados brasileiros veremos o bônus virar malus.

A Economist mostra isso de outra forma, através do famoso índice Big Mac. O Brasil possui o quarto Big Mac mais caro do mundo, juntando-se a países como Noruega, Suécia e Suíça. Pelo menos, em alguma coisa, a gente alcança eles!

Um colega alertou há uns bons anos: "No Brasil que dá certo, as coisas ficarão caras". Ainda não chegamos lá, mas essa sobrevalorização da nossa moeda pode ser longa. Diz a Economist: "Burgernomics suggests that the Real is overvalued by 31%". Bom para comprar no exterior, mas limita a competitividade de vários setores da Economia. Muita gente deve estar sentindo o aperto no bolso mesmo com o país crescendo.

Recado para Serra e Dilma: A cura dessa distorção não requer mágicas nem manipulações. Usem a receita da vovó: Redução de déficit público, melhor infra-estrutura, estímulo ao investimento e competição, sistema de tributação mais justo, mais crédito, taxa de juros normais, etc.


Foto: Voltando a Colmar, a foto mostra o Museu Bartholdi, antiga residência de Auguste Bartholdi, o célebre escultor da Estátua da Liberdade. Passeando pela França, cruzei com diversas criações do escultor, mas nenhuma a altura do famoso presente francês aos EUA. Sem duplo sentido.

Tuesday, July 20, 2010

Viva España

Viva España (ou "Todo Zapatero tem seu dia de Médici")


Os espanhóis desesperam-se por empregos,

Pior que eles, só os gregos.

Nunca houve tanto tempo para siesta!

Mas eles têm Nadal, Contador e Iniesta.

Cantar "Viva España" lava as almas,

somente por uma ou duas semanas.

Sem nada na panela e muito mimo,

o espanhol é apenas um argentino.



Foto: Praça central de Mulhouse. A cidade é "muito grande" (estou ficando mal acostumado) comparada com as mostradas nos posts anteriores. De qualquer forma, vale pelo Museu do Automóvel e do Trem. Nada mais.